segunda-feira, dezembro 29, 2008

roteiros

Leituras de memórias

É espantoso o colorido da diversidade dos dizeres populares, do vocabulário presente no dia-a-dia das pessoas simples, as interpretações, as leituras feitas da realidade, muitas delas tem um significado impar.  Na real, algumas frases e construções de idéias chegam à memória nesse momento de escrever, são revelaçoes emblemáticas de nossa “cultura” popular pela expressividade nos sentimentos existentes nas palavras.

Do orgulho: “Se tivesse dois bicos de asas nem pisaria no chão sairia voando”.

O menino tem um irmão que teimosamente mantém um carro, mesmo sem renda regular. Um carro é como uma família, dá despesa. Mas sua mãe o ajuda, quando precisa de uma carona para ir ao médico ela paga a gasolina, é o preço "necessário" da corrida. Sua irmã vive presa a uma cadeira de rodas desde a adolescência, e sua a mãe só a vê quando ela encosta na frente de sua casa carregada pelo marido "dono" de um jipe rústico e de suspensão dura, que não faz bem nenhum as feridas da bunda dela. Elas tem entre si uma antiga mágoa que não cicatrizou, feridas no coração nunca perdoadas. 

A diarista que trabalha para a velha mãe deles fala com indignação sobre o bem vestido filho que "aluga" o carro, e acha graça irônica da senhora mãe deles, que tem de pagar pelos favores do filho, mas a "senhora" mãe tem uma grande paixão por ele. O sol da sua praia. Que orgulho tem asa, tem, mas só um bico de asa, o vício da acomodação também. Para muitos deixar ficar como está é muito confortável, as aparências sustentam as ilusões.

Da ignorância: “Quem não nasce pra sela serve pra cangalha”.

Por volta de abril 1964, o menino estudante ouviu o discurso do Golpe, na voz com sotaque claro nordestino do general Castello Branco; o pequeno "de cara de tamanca ralada" parou na passagem da porta do armazém, que ao mesmo tempo funcionava como padaria, bodega, tabacaria, armarinho, latrina de cachorro vira-latas e bêbados etc., pensou nas palavras do “cabeça chata” sem compreender o significado do verbo no futuro, e continuou olhando para seus tamancos, pouco suspeitando da gravidade daquele movimento de reação autoritária aos ventos das mudanças que começaram a se formar desde antes do governo Goulart.

A radicalização dos fatos falaria por si. Nenhuma publicação sobre as perseguições aos críticos do “modelo” imposto, comentários sobre as leis arbitrárias decorrentes da mentira chamada “revolução”, nada poderia ser ventilado da nova geopolítica ditada pelos interesses estadunidenses, o “projeto nacional” baixado pelo peso dos decretos das estrelas generais para o "país do futuro". O que sobreveio disso tudo caiu como chumbo grosso sobre a cabeça dos atores armados pelas idéias e também dos inocentes... Quem deve ter admirado o fato foi o pai do menino de cabeça raspada em cuia, um pai-militar, soldado de carreira sem muito estudo. Seus superiores o mandaram para por ordem em uma delegacia da pequena cidade do sertão alagoano, Colônia de Leopoldina. Lá chegou a presenciar umas seções de uso da palmatória de madeira, utilizada na tortura de presos, culpados humildes, ladrões de galinha.

O menino de calção caque e tamancos queria trancar os sentimentos, seus olhos, mas via tudo apertando as suas mãos que pareciam arder, juntas, trêmulas e avermelhadas, como se estivessem experimentando as mesmas dores do castigado pela perversidade do delegado. Um borra-botas, segundo sua avó.

Da curiosidade: “Pedra que rola não junta limo”.

A “secretária” da avó do menino pegava a vassoura de cabo comprido envernizado para limpar algumas pucumãs, que pairavam na cumeeira da casa de praia onde o "calça curta" junto com seus irmãos passavam as férias. Uma casa bonita, com um santo de azulejo na fachada, construída bem no meio de um loteamento na orla do Trapiche da Barra em Maceió. Tempos de alegria, das tardes de jogos e brincadeiras após a lição de casa feita com o mesmo interesse que tanto tinha pelos divertidos momentos de construir caminhões de lata de óleo e rodas de carretéis de madeira.


sexta-feira, dezembro 26, 2008

recriando

Ferramenta para mosquito

Mexo as pernas me afastando de um inconveniente mosquito zombeteiro. A tarde se estende cortada pelos meus deveres e passo o tempo recriando coisas nos pensamentos, o dia vai dando lugar às trocas de luzes do entardecer. Me acompanha um calor forte, clima estranho, que faz transpirar mais, dando a pele uma sensação de umidade viscosa, colante, anfíbia. Toda água do banho se evapora num minuto de mormaço, fico nu, o ar é quente, nem preciso usar a toalha para me enxugar. Arre égua!

O silêncio bordeja como uma companhia, inerente, contribuindo na dinâmica criativa, ele está comigo sem ser convidado. Só o que impressiona meus martelos e bigornas é o tal mosquito, me sinto quase um surdo no espaço que compartilho com o chatonildo, faço gestos indecifráveis sobre o teclado do desktop e num impulso começo a dançar no meio da sala. Um vôo sopitado, dá até para ouvir o zim zim do maldito mosquito que perturba em tréguas meu silencio interior. Reticente, ando devagar até o banheiro, molho as mãos numa sabida técnica infalível aprendida há poucos dias, não por acaso, retorno com as mãos cobertas de água, permitindo superfícies adequadas, aderentes, assim colidindo no extermínio, tornando mais rápida a ação de espremer o irritante inseto sugador de meu sangue, logo, lá está, então, ele entre os dedos, num rápido bote manual, o sucesso da captura, visivelmente eficaz, sem qualquer chance para o escape, nem pela usual mimetização com as variadas entranhas do ambiente, ou pelos vôos no invisível, nas entrelinhas das sombras, rasgos dos objetos ou passagens de cantos, escurinhos camuflantes. Essa foi uma descoberta de uma ferramenta para exterminar os meus mosquitos, só os que convivem no meu espaço. Agora continuo meu olhar na leitura e escrevendo escuto algo.

Estancada a caça ao pernilongo um lindo canto desperta a minha atenção, é clássico, acompanhado por uma música ao piano. Faz parte de um fundo musical de um documentário sobre o século XX. Que século! Diz-se que aconteceu por importância nos últimos 20 anos de uma só vez... Uma bomba tecnológica, incrível transformação do mundo, e ainda em expansão, com efeitos colaterais duradouros sem horizonte palpável de conclusão, pelas profundas alterações no meio ambiente e as incoerentes razões de continuidade dos padrões e contradições que mantém em seu movimento criador-destrutivo. Exegese, busca de paradigmas diferentes, descoberta de outro padrão de transformação da natureza, reaprendizado do viver entre si e para si, de novas formas de relações sociais essenciais a existência, de preservação da natureza vital? Ora, esqueci a água do café no fogo, espere que eu volto. Continue lendo...

Os homens criam as ferramentas as ferramentas recriam os homens. [McLuhan]
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olho vivo - resenha de livros

 “O Olho da Rua: Uma Repórter em Busca da Literatura da Vida Real”.
De Eliane Brum.
 
Globo, 422 págs., 2008

Se você procurar na grande imprensa quem está praticando a arte narrativa do real com regularidade, consistência e alta qualidade, no Brasil de hoje, será quase impossível não se deparar com o nome de Eliane Brum, repórter especial da revista “Época”. Há um bom tempo, Eliane vem escrevendo matérias com forte marca de trabalho autoral, num modo de olhar o mundo todo seu e num estilo narrativo muito próprio, optando na maioria das vezes por pautas que passam ao largo do interesse da mídia.

Este seu terceiro livro é uma excelente antologia da sua produção, reunindo dez dessas matérias. Dar-lhes o benefício de alcançar existência atemporal, superando a efemeridade do periódico, condição que o livro-reportagem oferece, já seria um grande mérito da autora. Mas, criteriosa e exigente consigo mesma, Eliane não se contenta apenas em reproduzir os textos originais. Pensando especialmente em estudantes de jornalismo – futuros praticantes da arte da qual ela é expoente, espero –, acrescenta um alentado making of a cada reportagem, comentando os bastidores de sua feitura, dissecando seus procedimentos, desnudando a alma, diante do leitor, quanto aos erros e acertos de percurso.

Todos os textos constroem-se em torno de personagens anônimos, numa tradição do Jornalismo Literário ao qual a autora chegou intuitivamente, preferindo colocar em primeiro plano as pessoas que quase nunca ocupam as páginas dos jornais, vivendo na marginalidade social de uma civilização profundamente injusta. Esquecidas pelo resto do mundo, ganham um tratamento exemplar de dignidade humana nas histórias que revelam a grandiosidade compassiva das parteiras do Amapá, a honrável luta contra o tempo dos idosos do asilo carioca, a batalha por uma vida cotidianamente normal dos habitantes da favela paulistana, as oscilações entre o céu e o inferno de um dono de garimpo no Norte, a coragem silenciosa da aposentada que está condenada pela doença a viver seus últimos dias sabendo que vai morrer.

Um dos segredos dessa arte é unir os conteúdos da realidade apurada com precisão à forma narrativa de requinte literário que diz muito à mente do leitor, mas particularmente transmite mais ainda ao seu coração. O uso de representação simbólica que condensa numa frase a essência de uma história, a alma de uma vida, é um dos instrumentos utilizados com maestria por Eliane. Assim, as parteiras “nasceram do ventre úmido da Amazônia”; o desempregado Hustene Alves Pereira, apenas um número nas estatísticas oficiais, está “debruçado sobre o abismo metropolitano”; e dona Noêmia é resgatada da velhice solitária pela filha que a faz atravessar o portão de ferro para fora do asilo, “a vida inteira espremida numa mala de mão”.

Ouvir, ver, cheirar, apalpar e sentir realidades, intensamente imersos no mundo dos outros, é um atributo dos praticantes da arte. Mas é também virtude, em ocasiões especiais, voltar-se para dentro, sem preconceitos, buscando com lâmpada de explorador de cavernas os próprios demônios dos subterrâneos escuros. Essa preciosidade absolutamente sincera a autora nos dá, em um de seus textos.

E confessa: “Sou alguém que tenta viver duvidando o tempo todo das certezas, das minhas e das alheias. E por isso estou sempre em carne viva. Neste livro, como na vida, tudo o que tenho a oferecer sou eu mesma. Espero que seja suficiente”. (EPL)

* texto publicado no site da ABJL – Associação Brasileira de Jornalismo Literário na seção Olho Vivo, resenha de livros.

terça-feira, dezembro 23, 2008

lembranças

Pedras de rio

Torcendo nossa boca aos cacos do ofício,
Por vezes engolindo sapo cansávamos.
Aos trancos do transito mal planejado
Grifados na pressa sem sentido horário.

Comentávamos a preguiça despejada ontem,
Domingo mormaço em onze-horas florindo.
Após uma chuva fina saída da lua plena
Que caía pintando de luz prateada de rio.

A meia banda da varanda era na esquina,
Toda nossa vista da rede de rendas
Cheia pela gente em silencio que sorria
Nas manhãs que nascíamos feito sementes.

Girando a cabeça buscávamos pirilampos
E muita coisa no céu até caírem as estrelas.
Um nó na garganta à colher nossa alegria
Chapada na íris azul do pé da página do dia.

domingo, dezembro 21, 2008

partindo

Anjos de Vidro

Olhei aquela mulher como se mirasse uma borboleta
Visão condensada de calor nos volteios de sua pele
Só por um momento invadi uns seus pensamentos
Depois disso cada hora de hoje abre-se como flores

Senti meu movimento transformar-se em um aviso
Indo me ver partir e agradecer o presente desse gesto
Convidando respostas por anjos de vidro em festa
Filhos e amores brilhando nos anéis de nossos dedos

Avancei em passos de uma dança ainda não passada
Certas palavras permaneceriam precisando serem ditas
Mais uma vez nossas asas deixavam no ar impressões
Donde saíam grãos de olhares acendendo nossas vidas

domingo, dezembro 14, 2008

poema que viaja

Ternário

 

Com passos mais ritmados salto o aroma levitado de fúcsias

Espalho sementes de sol pelas ranhuras de minha bagagem

Brincadeiras de roda desfazem as máscaras abrindo os sonhos

E as marcas apontam a direção nessa cidade de olhar distante

 

Sons de raios iluminam os amores que dobraram a esquina

Decerto para continuar caminhando mais perto da nova luz

Esqueço os pesos que me arrastavam para um passado cego

Ou me nego a enxergar além do corpo desse tempo incerto

 

Vaga-lumes e borboletas ensaiaram o concerto dentro de mim

Suporto a terra sob o ar em paixão de labareda tempestuosa

Beijando a boca molhada que diz ao vento a vela que permanece

Assim como dar a mão ao outro que se entrega quando pede


sexta-feira, dezembro 12, 2008

comportamentos

Uma crise "cultural"


Investidores tentam prever não a economia, mas o comportamento dos outros investidores
por Contardo Calligares

QUASE SEMPRE, antes de eu pegar no sono, o noticiário da CNN International anuncia a abertura dos mercados asiáticos; aprendo assim, por exemplo, que Tóquio, Seul, Hong Kong e os australianos abriram em forte queda.

Escuto essa notícia como ruído de fundo, enquanto leio; no entanto, se tivesse dinheiro investido em ações aqui no Brasil, nos Estados Unidos ou na Europa, seria diferente: eu prestaria a maior atenção, mas por razões que surpreenderiam um investidor de, digamos, 50 anos atrás. Explico:

O investidor de 50 anos atrás acharia ótimo saber com tamanha prontidão o que acontece nas Bolsas dos quatro cantos do mundo e, provavelmente, ele pensaria assim: "Se os asiáticos estão liqüidando suas posições é porque algo deve ter acontecido que afeta setores-chave das economias locais; vou tentar descobrir de que se trata e quais os efeitos para as empresas nas quais eu investi meu capital".

O investidor de hoje pensaria mais ou menos assim: "Daqui três, quatro ou cinco horas, segundo o fuso horário, de Connecticut à Califórnia, milhões de americanos ligarão seu notebook enquanto tomam o primeiro café do dia. Eles saberão da queda das bolsas asiáticas e logo digitarão as ordens de venda das principais posições de suas contas. Não lhes importará saber a razão pela qual as Bolsas asiáticas caíram e se isso tem ou não implicações imediatas para seus investimentos, só lhes importará estar entre os primeiros a vender. Pois bem, vou vender antes deles".

O protótipo do investidor moderno nasceu nos anos 90: era o "day-trader", o investidor-diarista. Em geral, não se tratava de profissionais do mercado financeiro, mas de pessoas que abandonavam seus vários ofícios para se dedicar a fazer frutificar o pequeno (ou grande) capital de sua poupança. Eram chamados diaristas, porque vendiam todas suas posições e voltavam para o dinheiro líquido ao fim de cada dia.

Eles trabalhavam em lan houses especializadas, que garantiam uma ligação à internet muito rápida, e se serviam de corretoras que ofereciam cotações em tempo real e operações a um custo fixo, entre US$ 10 e US$ 20. O "day trader", ao longo do dia, observava as flutuações do mercado e pegava breves caronas nas tendências ascendentes. Por isso, ele nem precisava saber o que produziam as empresas nas quais estava "investindo", pois, de fato, ele não investia em empresa alguma, ele apenas apostava que os investidores, comprando, sustentariam um movimento de alta o tempo suficiente para ele entrar e sair, realizando assim lucros rapidíssimos (embora, claro, pequenos).

Os diaristas sumiram da praça, mas seu espírito parece dominar os investidores desde então. Eis como: o saber que o investidor hodierno mais preza não é o saber sobre o andamento da economia produtiva, sobre as fusões, o comércio, as mudanças tecnológicas, os lucros das empresas etc. Para o investidor hodierno, tudo isso importa menos do que um saber, quase psicológico, sobre o comportamento do mercado, ou seja, sobre o comportamento dos próprios investidores -dele mesmo e de seus colegas.

Como é que se chegou a essa mudança, que separou de vez o mercado fincanceiro da dita "economia real"? Uma história explica qual é e como funciona o saber preferido por nós modernos (investidores ou não).

Em algum lugar da Nova Inglaterra, os colonos, recém-chegados e instalados no alto de uma colina, receavam que seu primeiro inverno em terra americana fosse muito frio. Eles cortaram bastante madeira e, enfim, recorrereram à sabedoria dos índios, que acampavam na colina em frente à deles. Foram consultar o xamã: "Como será o inverno?". "Será muito frio", respondeu o xamã. Os colonos cortaram mais madeira, aumentando seu estoque. No fim de novembro, eles decidiram consultar novamente o xamã, que desta vez respondeu: "Será muito, muito, muito frio". Os colonos não hesitaram: serraram e empilharam madeira até não poder mais. Já em dezembro, só para garantir, eles voltaram a interrogar o xamã, que desta vez respondeu que seria o inverno mais frio de todos os tempos. Os colonos iam voltar preocupados para suas barracas e, claro, amontoar mais madeira quando um deles perguntou para o xamã: "Mas como você faz para saber como será o inverno?". "É simples", respondeu o xamã, "olho para as casas dos colonos lá na colina em frente. Se eles cortam muita madeira, é que o inverno será frio".

quarta-feira, dezembro 10, 2008

fragmentos de uma crítica

O texto abaixo foi recortado de uma leitura feita nesse momento em que procuro me aprofundar sobre as visões e correntes da ética ambietal, sobre  "desenvolvimento sustentável" e meio ambiente. É um trecho do artigo "O marxismo e o 'desenvolvimento sustentável'" do Pierre Cise, escrito para a revista A Verdade nº 58/59 de abril de 2008, que tratou do tema O Ecologismo contra a Ecologia e Questões climáticas e o capitalismo.

Todo o discurso sobre o ecologismo e o “desenvolvimento sustentável” tende a demonstrar que a ação do homem sobre a natureza é a única responsável pelos danos que foram causados a esta última. Trata-se de uma visão deliberadamente estreita do problema.

O marxismo dá um lugar muito importante à relação do homem com a natureza e aos efeitos mútuos dessa relação. Desde o início dos tempos, o homem, ele próprio produto da natureza, confronta-se com ela para a sua sobrevivência e a reprodução de sua espécie, em uma relação a que se dá o nome de trabalho.

Engels indica em sua obra “A Dialética da Natureza”, principalmente no magnífico capitulo intitulado “O papel do trabalho na transformação do macaco em homem”, que “o trabalho é a condição fundamental primeira de toda vida humana, e o é a tal ponto que, em certo sentido, é preciso dizer: o trabalho, por si mesmo, criou o homem”. O que Marx igualmente diz em “O Capital”: “(...) o trabalho é a condição indispensável da existência do homem, uma necessidade eterna, o mediador da circulação material entre a natureza e o homem”.[1]

Com efeito, nessa relação, o homem utiliza as leis da natureza (da qual, lembremos, ele próprio é originário) para seus próprios fins, a saber, sua sobrevivência. Nesse processo, ele alarga seus horizontes, a percepção de seu meio ambiente, o conhecimento de propriedades e fenômenos novos que ele utiliza, por sua vez, para avançar no domínio de suas condições de subsistência e escapar às condições de seu meio ambiente.

Essa relação homem-natureza não é unilateral. Não se trata, de um lado, de um homem pré-existente, colocado ali por não se sabe qual mão invisível e encarregado de não se sabe qual missão divina, e, de outro lado, uma natureza também pré-existente, provida de quantidade limitada de meios, espécie de despensa de mantimentos na qual seria preciso retirar os produtos com parcimônia, a fim de que não se esvazie completamente. A relação homem-natureza é uma inter-relação. O homem age sobre a natureza, ação que por sua vez age sobre o homem e lhe abre novas perspectivas.

Em “O Capital”, Marx explica: “O trabalho é em primeiro lugar um ato que se passa entre o homem e a natureza. O homem desempenha ele próprio diante da natureza o papel de uma potência natural (...). Ao mesmo tempo que age por meio desse movimento sobre a natureza exterior e a modifica, ele modifica sua própria natureza, e desenvolve as faculdades que nele adormeciam”.

Essa ação do homem sobre a natureza é, portanto, também uma ação de transformação da natureza que tem necessariamente um impacto sobre o seu meio ambiente. A vocação do homem não é a de manter essa natureza que lhe foi dada, como querem nos fazer crer os dogmas religiosos[2], mas a de transformá-la para responder às suas necessidades de sobrevivência. Desde tempos imemoriais, o homem melhorou sua relação com a natureza, ao desenvolver técnicas de produção que modificaram profundamente o meio ambiente: agricultura (abrangendo o desmatamento, a irrigação etc.), a criação de animais (abrangendo a seleção de espécies), a pesca, a destruição de parasitas, a produção de ferramentas, a produção industrial, o comércio etc. Isso teve como conseqüência igualmente desenvolver, por meio da ciência, um melhor conhecimento sobre o meio ambiente, novas possibilidades de utilizá-lo e, portanto, de dominá-lo.

Nessa relação sempre renovada, o homem utiliza-se de meios de trabalho com os quais modifica os objetos segundo a sua vontade, segundo um caminho cada vez mais consciente, planificado. O objeto torna-se produto, ou seja, passa de um objeto natural a um objeto humano. Como disse Marx, “qualquer elemento da riqueza material não fornecido pela natureza deve sempre sua existência a um trabalho produtivo especial que teve por objetivo adaptar as matérias naturais às necessidades humanas”[3]. Mesmo o carvão e o petróleo, riquezas materiais dadas pela natureza, só se transformam em carvão e petróleo, ou seja, em matérias-primas, pelo trabalho do homem, e, por isso, tornam-se objetos humanos e não um dom de Deus.

O Relatório Brundtland e as encíclicas papais, ao insistir sobre o caráter definitivamente limitado, ou seja, pré-determinado de nossos conhecimentos, não levam em conta essa interação entre homem e a natureza. Nos anos 70, todos os especialistas asseguravam que o essencial das reservas de petróleo se esgotaria no decorrer dos anos 1990-2000. Hoje, nos dizem que isso ocorrerá daqui a 40 ou 50 anos. Por quê? Porque, confrontados a essa questão, pesquisadores e engenheiros desenvolveram novas técnicas que permitiram identificar melhor novos recursos e explorar da melhor maneira os recursos existentes. E isso ocorre em muitas outras áreas.

No entanto, apesar desses avanços da ciência no domínio da natureza, assiste-se a uma degradação generalizada das relações dos homens com a natureza, que se exprimem na presença persistente da fome, das epidemias, e também no recuo da pesquisa fundamental em favor da pesquisa aplicada à produção (ou seja, à realização do lucro), sem falar dos questionamentos de todas as conquistas da humanidade e, evidentemente, dos danos causados ao meio ambiente.

Por que tudo isso? Porque a relação do homem com a natureza evolui também e, sobretudo, em um contexto que é o das relações dos homens entre si.

Assim, Marx explica em “O Capital”: “Ao produzir, os homens não estão apenas em relação com a natureza. Eles só produzem se colaborarem de uma certa maneira e fizerem intercâmbio de suas atividades. Para produzir, estabelecem entre si ligações e relações bem determinadas: seu contato com a natureza, ou, dito de outra forma, a produção, se efetua unicamente no quadro dessas ligações e dessas relações sociais”.

Essa relação com a natureza se move no quadro de relações sociais, de estruturas que podem estimulá-las ou freá-las, ou até mesmo destruí-la. Para Marx, a produção é sempre social. Como ele indica em “Contribuição à Crítica da Economia Política”, ela é sempre “apropriação da natureza por parte do indivíduo no interior e por intermédio de uma forma social determinada”. E essa forma social são as relações sociais de produção.

O homem das cavernas e o cientista em seu laboratório desenvolvem ações sobre a natureza que têm uma base comum. A primeira é uma relação simples com a natureza, a outra uma relação muito mais complexa. Por que uma é simples e a outra complexa? Porque essa relação fundamental de ambos com a natureza realiza-se sob formas históricas diferentes, ou seja, no quadro de relações sociais diferentes, em um nível diferente de desenvolvimento das forças produtivas, de onde deriva que há diferentes capacidades de dominar a natureza. Em outras palavras, a qualidade da interação homem-natureza é totalmente marcada pelas relações de produção e integra seus desenvolvimentos e suas contradições.

Com efeito, se as relações de produção permitem o desenvolvimento das forças produtivas, o equilíbrio entre a sociedade e a natureza se restabelece no processo de reprodução num grau sempre renovado. Desde que essas relações de produção não permitem mais esse desenvolvimento das forças produtivas, e mesmo as transformam em forças destrutivas, a reprodução da sociedade se faz num nível mais degradado, em uma relação mais desequilibrada, mais destrutiva com a natureza, provocando uma desintegração parcial da própria sociedade.

O regime capitalista, como relação social de produção fundada sobre a propriedade privada dos meios de produção e sobre a exploração da força de trabalho, não escapa a essa situação.

Em “A Dialética da Natureza”, Engels explica: “Assim como o capitalista só se interessa pelo lucro obtido com a venda de suas mercadorias, sem se preocupar com o que ocorre com essa mercadoria após a venda, no regime capitalista, a busca do lucro imediato oculta os efeitos posteriores dessa busca. (...) A ciência social da burguesia, a economia política clássica, ocupa-se principalmente dos efeitos sociais imediatamente buscados pelas ações orientadas rumo à produção e à troca. (...) Diante da natureza, como da sociedade, só se considera, no modo de produção atual, o resultado mais próximo, mais tangível; e as conseqüências longínquas das ações que visam a esse resultado imediato são muito diferentes, e, mais freqüentemente de fato opostas.

Isso que Engels escreveu é muito importante. A dinâmica do capitalismo, no curso de sua emergência como modo de produção dominante, constituiu uma poderosa alavanca no processo de domínio da natureza, de submissão da natureza às necessidades do homem. Mas essa dinâmica era baseada no lucro, mais precisamente na busca do efeito imediato do processo de valorização do capital, sem ver seus efeitos posteriores sobre a relação homem-natureza. O progresso cientifico, que visa principalmente a conhecer as conseqüências a mais longo prazo de nossas ações imediatas sobre a natureza e a aprender a dominá-las, é cada vez mais submetido a essa exigência de lucro. A própria ciência dirige-se cada vez mais em direção à pesquisa desse efeito imediato. Em uma sociedade na qual como disse Engels, “o lucro a ser realizado pela venda torna-se o único motor”, então, nos diz Marx, “a ciência torna-se uma forma produtiva imediata”.

(...) A tendência fundamental do imperialismo de destruir as forças produtivas não pode permitir uma reprodução em um nível superior – e nem no mesmo nível – dessas forças produtivas, e portanto uma relação melhorada com a natureza. Isso se tornou uma realidade palpável nos últimos 50 anos, (...).

“O lucro a ser realizado pela venda torna-se o único motor”. Esse lucro tem por referência hoje a enorme rentabilidade exigida pelo capital financeiro, as taxas de rendimentos da especulação. A ciência, e a ciência da ecologia, em particular, só é tolerada se estiver totalmente compatível com esse quadro.

As estatísticas e os dados econômicos oficiais demonstram que o esforço de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em matéria de ciência do meio ambiente mantém-se constantemente marginal.

(...)

Assim, a pesquisa destinada a avaliar os efeitos a longo prazo das ações imediatas e, como dizia Engels, “a elucidar as conseqüências sociais indiretas e longínquas de nossa atividade produtiva, e com isso [nos dar a] possibilidade de dominar e de regular essas conseqüências”, é de fato sacrificada em favor do objetivo imediato que é o lucro, sabendo-se que este, na era imperialista, só se realiza por meio da destruição das forças produtivas, incluindo essa “força produtiva imediata” que é a ciência.

A poluição do ar, da água, dos solos e subsolos, a exploração extrema dos recursos naturais, a destruição de espécies vivas, a destruição das florestas etc. são uma expressão desse movimento à destruição das forças produtivas que integra o processo de conjunto da ofensiva generalizada contra o valor da força de trabalho, principal força produtiva, degradando suas condições de reprodução. Quando o homem tem cada vez menos condições de se alimentar, de ter cuidados médicos; quando ele não pode trabalhar porque é demitido ou o consideram “muito caro”; quando se empurram homens esfomeados e desprovidos de tudo a se matar entre si nas “guerras étnicas”; quando se destroem os meios de resistir aos ciclones e inundações em virtude das políticas de ajuste estrutural do Banco Mundial e do FMI ou da destruição dos serviços públicos; quando as verbas para pesquisa fundamental estão em baixa constante; não há deterioração da relação do homem com a natureza? O sistema capitalista e suas instituições não são os responsáveis?

(...)

“Desenvolvimento sustentável” e corporativismo

Ao ocultar de forma deliberada a questão das relações de produção, os defensores do ecologismo e do “desenvolvimento sustentável” querem apagar a luta de classes. Para eles, não há exploradores nem explorados, mas apenas homens em geral. Para eles, não há diferença entre o camponês expulso de sua terra que vai, com outros, afundar-se na mata e explorá-la de forma anárquica e destrutiva, para sobreviver, e a multinacional que vai pilhar essa mesma mata para suas necessidades de lucro. Todos são responsáveis? Na realidade, o camponês fustigado por nossos ecologistas pode muito bem morrer, desde que ele não toque nesse “bem comum” que é a natureza. Quanto à multinacional, poderá sempre continuar a obter lucros sob a cobertura de meios “ecologicamente responsáveis” abençoados por esses mesmos ecologistas. Eis aí o verdadeiro rosto da equidade no reino do “desenvolvimento sustentável”.

(...)

O “desenvolvimento sustentável” e os lucros, especulação e destruição

Sempre desempenhando seu papel na ofensiva corporativista do capital financeiro, o “desenvolvimento sustentável” é também uma fonte de lucro para este. E isso não data de hoje. Bem antes da “moda ecologista” atual, Marx dedicou várias páginas do Livro III, seção 1, de “O Capital” à questão da reutilização dos resíduos da produção e do consumo (em uma palavra, os dejetos) como meio para os capitalistas de economizar o capital constante e obter mais lucro.

O tratamento de águas usadas, de dejetos industriais e domésticos, a fabricação de aparelhos de filtragem de fumaça e de gás etc. estiveram na origem da constituição de poderosos grupos industriais e financeiros. Na França, isso diz respeito, por exemplo, aos grupos Suez (que, aliás, sob injunção da União Européia, deve ceder seu pólo ambiental para se fundir com a EDF) e Véolia (ex-Générale des Eaux).

Hoje os grandes grupos industriais e financeiros absorveram perfeitamente as questões ligadas ao meio ambiente e sua degradação, com a ajuda da economia política. Isso de maneira nenhuma desqualifica as preocupações legitimas que se exprimem a respeito dessas questões na população. Mas essas preocupações são diluídas em um quadro que, ao isolar cuidadosamente a questão do meio ambiente da do regime econômico e social que produz a sua destruição, ao reduzi-la a uma questão de comportamento individual, ao lhe dar nenhum caráter de classe e, ao contrário, ao fazer dela um quadro de associação capital-trabalho, fornece condições inteiramente satisfatórias aos capitalistas para desenvolver aquilo que já é designado como o “negócio verde”.

Na França, o total dos negócios do setor da ecologia industrial representa 30 bilhões de euros nos setores de recuperação dos dejetos, do tratamento das águas e das energias renováveis. Apenas no setor de coleta e tratamento de dejetos, os grupos Véolia e Suez fizeram negócios de 9 bilhões de euros em 2006, ou seja, dez vezes o orçamento do Ministério do Meio Ambiente. No setor de energias renováveis, houve o ingresso das maiores companhias petrolíferas, e o crescimento é tal que muitos observadores temem uma “bolha” do mesmo tipo da formada há menos de dez anos na internet.

Mas, depois de tudo, se poderia considerar (e alguns o consideram efetivamente) que se os capitalistas conseguem seu lucro nos setores que visam a “salvar o planeta” de desastres ecológicos, isso representa finalmente uma solução equitativa para todos, uma solução “ganhador-ganhador”, como se diz hoje. Mas na verdade não é nada disso. Apesar dos esforços da ecologia política, o capitalismo em seu estágio imperialista não pode esconder sua verdadeira natureza, inclusive quando investe nas questões do meio ambiente. Aqui, como em outras áreas, são a destruição e a especulação que dominam. Peguemos apenas dois exemplos para ilustrar isso.

O primeiro exemplo é o mercado de permissão de emissão de gases de efeito estufa, principalmente o CO2 (dióxido de carbono). O mercado de emissão foi criado no quadro do Protocolo de Kyoto, cujo objetivo era diminuir, até 2012, as emissões de gases do efeito estufa ao nível registrado em 1990. O princípio definido pra alcançar esse objetivo é a utilização de permissão de emissões negociáveis no mercado. No quadro de uma cota de emissões de gases de efeito estufa fixado pelo próprio Estado, permissões de emissões de gases de efeito estufa são distribuídas às empresas situadas em sítios industriais pré-selecionados. Essa permissão representa o direito de emitir na atmosfera uma certa quantidade de gases estufa (expressa em toneladas equivalentes de petróleo ou mais simplesmente em toneladas). Cada empresa tem a mesma cota. Se uma delas consegue emitir menos gás, e, portanto, não utiliza a totalidade de sua cota de permissão, pode revender essas permissões excedentes a uma outra empresa que tenha esgotado sua cota.

Para organizar e facilitar as negociações de permissão de emissões, bolsas foram criadas. Uma das principais foi criada pela própria União Européia em janeiro de 2005. Em 2006, 1 bilhão de toneladas de CO2, num valor total de 18 bilhões de euros, foram negociados nesse mercado, do qual participaram 10.600 empresas. Um mercado muito lucrativo porque, por exemplo, representa 16% do total dos lucros, antes dos impostos, do grupo químico francês Rhodia. Mas um mercado cuja eficácia no plano ambiental é mais do que contestada, mesmo entre seus mais fervorosos adeptos. Isso por uma razão simples: estando afastada qualquer regulamentação estatal, os mercados e seus atores ficam encarregados de fixar por si próprios suas regras. Ou seja, nunca vão fazer nada que altere seus lucros, muito pelo contrário!

Essa é a resposta que o imperialismo dá às questões do meio ambiente: a especulação financeira.

Um exemplo nos é dado pelos biocombustíveis, principalmente o mercado de etanol, fabricado a partir do milho (Estados Unidos) ou da cana-de-açúcar (Brasil). Os maiores grupos financeiros e industriais, em primeiro lugar as companhias petrolíferas, se atiram sobre esse nicho “ecológico-responsável” muito rentável e muito “promissor”. Diretamente, ou por meio de filiais, apropriam-se de amplas explorações agrícolas, expulsando os camponeses locais e obstruindo qualquer possibilidade de aquisições de terras para os camponeses sem terra. O grande especulador George Soros investiu 900 milhões de dólares  no Brasil na produção de etanol. “Eu sou um especulador do etanol, e digo isso, mesmo se a palavra é pejorativa no Brasil”, declarou Soros.

Mas os efeitos dessa investida são dramáticos. A cultura exclusiva de plantações destinadas aos biocombustíveis destrói as produções locais direcionadas às populações dos países concernidos e os transforma em importadores de produtos antes cultivados localmente. Ela submete ainda mais a economia desses países às ordens dos mercados de matérias-primas dominados pelas potências imperialistas. E, em termos estritamente ecológicos, os camponeses, principalmente os criadores de animais, expulsos de suas terras para que sejam plantados o milho ou a cana-de-açúcar, ou ainda as palmeiras (para a fabricação de biodiesel), não tem outra alternativa para sobreviver a não ser o desflorestamento para fazer pastar seu gado.

Quanto aos outros países, àqueles que não produzem essas matérias-primas para os biocombustíveis, as conseqüências também são terríveis. Um relatório do Banco Mundial publicado em maio de 2007 assinalava o fato de que o direcionamento da produção de milho e de outros cereais para a produção de biocombustíveis é um dos fatores determinantes para a alta de preços de cereais que vemos hoje. Um quarto da produção de milho dos Estados Unidos (primeiro produtor mundial) é destinado atualmente à produção de etanol. Uma situação que contribuiu amplamente par o aumento do preço do milho, que foi de 75% desde o verão de 2006, e que pesa de forma muito grande sobre os países, principalmente os africanos, onde esse cereal faz parte da alimentação de base da população.

Essa é a outra resposta do imperialismo: a destruição e a pilhagem.

(...)

O ecologismo e o “desenvolvimento sustentável” são um elo da ofensiva corporativista geral desenvolvida pelo capital financeiro contra tudo aquilo que funda a humanidade, inclusive, apesar das aparências, sua relação com a natureza.


[1] MARX, Karl. “O Capital”. Livro I, Seção 1, primeiro capítulo.

[2] Ver “Eglise et Ecologie” (“Igreja e Ecologia”), por Alain Demairé, em http://ecologiechretienne.free.fr, principalmente essa citação do professor Youli Schreider em 1995,...

[3] MARX, Karl. "O Capital". Livro I, Seção 1, primeiro capítulo.


terça-feira, dezembro 02, 2008

guerra contra Gaia

Eles não amam a vida
Leonardo Boff - 02/12/2008

Hoje assistimos algo absolutamente inédito e de extrema irracionalidade: a guerra contra a Terra. Sempre se faziam guerras entre exércitos, povos e nações. Agora, todos unidos, fazemos guerra contra Gaia: não deixamos um momento sem agredi-la, explorá-la até entregar todo seu sangue.

A busca de uma saída para a crise econômico-financeira mundial está cercada de riscos. O primeiro é que os países ricos busquem soluções que resolvam seus problemas, esquecendo do caráter interdependente de todas as economias. A inclusão dos países emergentes pouco significou, pois suas propostas mal foram consideradas. Prevaleceu ainda a lógica neoliberal que garante a parte leonina aos ricos. O segundo é perder de vista as demais crises, a ecológica, a climática, a energética e a alimentar. Concentrar-se apenas na questão econômica, sem considerar as outras, é jogar com a insustentabilidade a médio prazo. Cabe recordar o que diz a Carta da Terra: "nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções includentes" (Preâmbulo). O terceiro risco, mais grave, consiste em apenas melhorar as regulações existentes em vez de buscar alternativas, com a ilusão de que o velho paradigma neoliberal teria ainda a capacidade de tornar criativo o caos atual. O problema não é a Terra. Ela pode continuar sem nós e continuará. A magna quaesto, a questão maior, é o ser humano voraz e irresponsável que ama mais a morte que a vida, mais o lucro que a cooperação, mais seu bem estar individual que o bem geral de toda a comunidade de vida. Se os responsáveis pelas decisões globais não considerarem a inter-retro-dependência de todas estas questões e não forjarem uma coalizão de forças capaz de equacioná-las aí sim estaremos literalmente perdidos.
Na verdade, se houvesse um mínimo de bom senso, a solução do cataclismo econômico e dos principais problemas infra-estruturais da humanidade seria encontrada. Basta proceder a um amplo e geral desarmamento já que não há confrontos entre potências militares. A construção de armas, propiciada pelo complexo industrial-militar, é a segunda maior fonte de lucro do capital. O orçamento militar mundial é da ordem de um trilhão e cem bilhões de dólares/ano. Já se gastaram somente no Iraque dois trilhões de dólares. Para este ano, o governo norte-americano encomendou armas no valor de um trilhão e meio de dólares.
Estudos de organismos de paz revelaram que com 24 bilhões de dólares/ano - apenas 2,6% do orçamento militar total - poder-se-ia reduzir pela metade a fome do mundo. Com 12 bilhões - 1,3% do referido orçamento - poder-se-ia garantir a saúde reprodutiva de todas as mulheres da Terra.Com grande coragem, o atual Presidente da Assembléia da ONU, o padre nicaragüense Miguel d’Escoto, denunciava em seu discurso inaugural em meados de outubro: existem aproximadamente 31.000 ogivas nucleares em depósitos, 13.000 distribuidas em vários lugares no mundo e 4.600 em estado de alerta máximo, quer dizer, prontas para serem lançadas em poucos minutos.
A força destrutiva destas armas é aproximadamente de 5.000 megatons, força que é 200.000 vezes mais avassaladora que a bomba lançada sobre Hiroshima. Somadas com as armas químicas e biológicas, pode-se destruir por 25 formas diferentes toda a espécie humana. Postular o desarmamento não é ingenuidade, é ser racional e garantir a vida que ama a vida e que foge da morte. Aqui se ama a morte.
Só este fato mostra que a atual humanidade é feita, em grande parte, por gente irracional, violenta, obtusa, inimiga da vida e de si mesma. A natureza da guerra moderna mudou substancialmente. Outrora "morria quem ia para a guerra". Agora não, as principais vítimas são civis. De cada 100 mortos em guerra, 7 são soldados, 93 são civis, dos quais 34, crianças. Na guerra do Iraque já morreram 650.00 civis e apenas cerca de 3.000 soldados aliados. Hoje assistimos algo absolutamente inédito e de extrema irracionalidade: a guerra contra a Terra. Sempre se faziam guerras entre exércitos, povos e nações. Agora, todos unidos, fazemos guerra contra Gaia: não deixamos um momento sem agredi-la, explorá-la até entregar todo seu sangue. E ainda invocamos a legitimação divina para o nosso crime, pois cumprimos o mandato: "multiplicai-vos, enchei e subjugai a Terra"(Gen 1,28).Se assim é, para onde vamos?
Não para o reino da vida.

sábado, novembro 22, 2008

além da economia

A cara antidemocrática do capitalismo

A liberalização financeira teve efeitos para muito além da economia. Há muito que se compreendeu que era uma arma poderosa contra a democracia. O movimento livre dos capitais cria o que alguns chamaram um “parlamento virtual” de investidores e credores que controlam de perto os programas governamentais e “votam” contra eles, se os consideram “irracionais”, quer dizer, se são em benefício do povo e não do poder privado concentrado.

quinta-feira, novembro 20, 2008

pensar diferente e fazer diferente

"Você não pode resolver o problema com o mesmo tipo de pensamento que criou o problema." Albert Einstein

segunda-feira, novembro 17, 2008

Aprender

DEPOIS DE ALGUM TEMPO 
por William Shakespeare

"Você aprende. Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa aprender que beijos não são contratos, e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e os olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão”.

"Depois de um tempo, você aprende que o sol queima, se ficar a ele exposto por muito tempo. E aprende que, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que, não importam quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando, e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá para o resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer, mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos, se compreendemos que os amigos mudam. Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com que você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso, devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos."

"Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm muita influência sobre nós, mas que nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, que o tempo é curto. Aprende que não importa aonde já chegou mas aonde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados."

"Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute, quando você cai, é uma das poucas pessoas que o ajudam a levantar-se. Aprende que a maturidade tem mais a ver com os tipos de experiências que se teve e o que se aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais de seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes, e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva, tem direito de estar com raiva, mas isso não lhe dá a você o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama mais do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ame com todas as forças, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar a si mesmo."

"E que, com a mesma severidade com que julga, será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que se possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe, depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor. E que você tem valor diante da vida, nossas dádivas são traidoras, e nos fazem perder o bem que podíamos conquistar se não fosse o medo de tentar!"


sexta-feira, novembro 14, 2008

caos sereno

O outro lado da face

Certa vez me disseram que eu era um “homem puro” (e naquele momento eu estava enfrentado uma "barra danada"), desprovido de maldade, ou melhor, de malícia na vida, e essa interpretação de meu “eu” pelo “outro” me acompanhou por um tempo. Me vi diferente, pois nem eu mesmo acredito nisso, certamente tenho todos os defeitos que podem estar presente, conscientemente ou não, em qualquer um por esse mundo maluco e bonito, vivemos em um (in)completo caos, caos com imposta ordem, que diferente do meu caos, consegue ir sereno em boa parte dos (contra)tempos que enfrentei e enfrento.

É claro que diante de uma situação assim, sentimentos flutuaram, na hora, minha reação retive em silêncio e confesso, foi de surpresa, fiquei agradecido em ouvir que era “puro” em meio a uma realidade em que ninguém se sente seguro ou confiante em expressar algo com essa significação frente ao que se pode encontrar pela frente, o outro estava sendo generoso em seu gesto afetuoso? Refleti: se virarmos seres aparentemente blindados, querendo estar protegidos, vestidos em couraças múltiplas, hipócritas, muitos até perdidos numa selva incontrolável e sem valores reais há muito, aonde chegaremos, aonde já chegamos? Atualmente o medo de qualquer coisa está contagiante, até mesmo do conhecido, não mais só do desconhecido, parece tomar conta do inconsciente coletivo. Insônia, pânico do medo, crises de solidão, processos dolorosos, depressão, por que será que acontece tudo isso?

A bem da verdade, meus segredos, fraquezas, ou seja o “bicho” que for, e que não são poucos, perduram me fazendo criar internamente alguns compartimentos secretos onde vou pelos dias afora observando-os e até tento entendê-los de vez em quando. Mas, o que me importa seriamente, é retirá-los desses compartimentos, as vezes consigo, e muitos deles resgatá-los para o presente, me beneficiando do aprendizado, ou então compreender como experiências que serviram de algo e esquecer. Dane-se, dizer isso ajuda, dane-se!

Nessa caminhada, refletir e seguir a voz que vem do coração é tudo pra mim. Como sou trabalhador da ciência e da arte, na minha vida plena e curta me mantive laborando bastante, não quero parar jamais, amei quem amei, mas mantenho cada um desses amores dentro de mim, como esquecer? Ainda amo com todo prazer que houver nessa vida, com isso fiz tudo que desejei, nem faço sem desejar o que gosto de fazer, é óbvio que quero caminhar junto com o outro, mas com mais qualidade, de vida, o que, penso não necessáriamente está condicionada as coisas materiais ou aos poderes decorrentes de qualquer tipo de riqueza arrogante, ainda que os resultados dêem na cara. O meu outro lado da face parece estar jovem e a salvo, e é tudo que tenho, ninguém merece. Ainda aprendo.

quinta-feira, novembro 13, 2008

melhor lugar

A Casa

 

Hoje vou te amar como minha casa

Imagino que tens a Rosa-dos-Ventos

Ao entrar me sinto o morador antigo

Que todas as horas possíveis passem

Versos e cartas brinquem em seu tecido

 

Descalços no toque das texturas e folhas

O tempo em gotas servirá a nossa sede

Em jogos de sentir sorriremos outra vez

De toda posição saberemos ser um todo

Ao dia pedindo a noite outro entardecer



quarta-feira, novembro 12, 2008

dream is over

Veia Aberta

 Procurei e achei um motivo, bateu na veia. Queria escrever umas lembranças, assim, qualquer nesga do que passasse pelas minhas idéias em conflito com uma solidão presa na modernidade. Só um estímulo era o suficiente, e lá estava eu com as mãos sobre o teclado enquanto escutava uma entrevista com um ex-ministro da ditadura militar no Brasil, o Delfin Neto, o cara é o mesmo “funcionário da técnica” do século passado. Assistia uma parte do documentário sobre “1968, o ano que não acabou”, e veio até meu olhar criterioso um outro estimulo que passou vibrando no corpo das palavras que crescia na tela do monitor correndo entre virgulas e exclamações, pontuando uma a uma frases que continuava falando de algo sem um conteúdo maior, diante da interpretação televisiva dos fatos, mostrada pela entrevista, e ainda nem escorria uma linha para me fazer claro.

 Época cheia de lufadas de ventos transformadores, que trouxeram mudanças tão importantes para todos, inclusive para os passivos e contra a sanha dos reacionários, sem se importar com perguntas se depois de tudo os resultados durariam, até quando? A prova veio forte, até agora se percebe seu estalo inicial de força político-social e cultural. Quem viveu intensamente viu as cores do vermelho, dos poetas, do teatro popular, da mpb, ah tropicália pra que te quero? De todos os processos o que beneficiou indiscriminadamente: a liberdade conquistada.

 Para quem quer que fosse, para as mentes de todos os matizes ideológicos mostrou-se o poder da escolha de um povo trabalhador quando se faz, de fato, valer seus direitos que muitas vezes nem se tem consciência que se tem; e o “proibido proibir” se fez além da música e foi às ruas chegando depois ao parlamento pelo voto direto, se concretizaram novas conquistas e a liberdade de expressão, em grande parte os ideais pousaram na nova Carta Cidadã de 1988.

 O que veio depois se desdobrou em esforços continuados por mais direitos que reforçaram as necessidades de uma sociedade carente de leis ordinárias, de redistribuição de renda e de um forte mercado interno, além de um Estado presente no social, regulador econômico, pautado em referencias de desenvolvimento globais. O Brasil navegou por crises perversas recheadas de diagnósticos, mas sem efetivação dos propósitos constitucionais, e um pendular de poderes conservadores ainda moldado em modelos arcaicos de gestão. Ainda são necessárias muitas mais sacudidelas nessa nata de especuladores viciados em lucros exorbitantes, navegar é preciso! Abaixo o castelo de cartas do capitalismo financeiro. Água, trabalho e moradia para todos.


Que tempo!

Água de chuva


Descobri que ainda não te conheço,

mesmo assim respiro a sua companhia.

Enquanto venta o tempo de acontecer

caio em pingos quentes sobre o leito.


Somos asas estendidas entre distancias,

quero essa viagem mais que o destino,

afasto nuvens até onde vejo a sua torre,

carregando a vida na bagagem em silêncio.


Deveria parar nos sinais que desconheço,

certo de alcançar o que solta minha língua.

Dispo-me sob uma luz reta e generosa,

o que me guia afora de denso labirinto.

sexta-feira, novembro 07, 2008

novos ventos

106 anos by Jose Saramago, publicado no O Caderno de Saramago

Essa mulher de cento e seis anos, Ann Nixon Cooper, que Obama citou no seu primeiro discurso como presidente eleito dos Estados Unidos, talvez venha a ocupar um lugar na galeria das personagens literárias favoritas dos leitores norte-americanos, ao lado daquela outra que, viajando num auto-carro, se recusou a levantar-se para dar o lugar a um branco. Não se tem escrito muito sobre o heroísmo das mulheres. Entre o que Obama nos contou sobre Anne Nixon Cooper não havia actos heróicos, salvo os do viver quotidiano, mas as lições do silêncio podem não ser menos poderosas que as da palavra. Cento e seis anos a ver passar o mundo, com as suas convulsões, os seus logros e os seus fracassos, a falta de piedade ou a alegria de estar vivo, apesar de tudo. Na noite passada essa mulher viu a imagem de um dos seus em mil cartazes e compreendeu, não podia deixar de compreendê-lo, que algo novo estava acontecendo. Ou então guardou simplesmente no coração a imagem repetida, à espera de que a sua alegria recebesse justificação e confirmação. Os velhos têm destas coisas, de repente abandonam os lugares-comuns e avançam contra a corrente, fazendo perguntas impertinentes e mantendo silêncios obstinados que arrefecem a festa. Ann Nixon Cooper sofreu escravidões várias, por negra, por mulher, por pobre. Viveu submetida, as leis teriam mudado no exterior, mas não nos seus diversos medos, porque olhava à sua volta e via mulheres maltratadas, usadas, humilhadas, assassinadas, sempre por homens. Via que cobravam menos que eles pelos mesmos trabalhos, que tinham de assumir responsabilidades domésticas que iam ficar na sombra, apesar de necessárias, via como lhes travavam os passos decididos, e não obstante continuam a caminhar, ou não se levantando num autocarro, contemo-lo uma vez mais, como aquela outra mulher negra, Rose Banks*, que fez história, também

Cento e seis anos a ver passar o mundo. Talvez o veja bonito, como a minha avó, pouco antes de morrer, velha e formosa, pobre. Talvez a mulher de quem Obama nos falou ontem sentisse a serenidade da alegria perfeita, talvez o saibamos um dia. Entretanto felicitemos o presidente eleito por tê-la tirado da sua casa, por ter-lhe prestado uma homenagem que ela provavelmente não necessitaria, mas nós, sim. À medida que Obama ia falando de Ann Nixon Copper, percebemos que a cada palavra o exemplo nos tornava melhores, mais humanos, à beira de uma fraternidade total. De nós depende fazer durar este sentimento.

*Ver o link do post no caderno de Saramago esclarecendo sobre Rosa Parkshttp://caderno.josesaramago.org/2008/11/09/rosa-parks/.

no agora


Não tem datas.
Não tem tempo.
Só tem acontecer
cheio de magnificência.
E no acontecer tem
a nossa capacidade de sermos felizes
e de fazermos felizes os que se aproximam de nós.
Se perdermos isto
é sinal que saímos do acontecer
e entramos no tempo,
feito de procupações e ressentimentos.
O tempo é uma invenção da mente humana;
o acontecer não,
ele é verdadeiro.
O tempo é algo que pensamos;
o acontecer só pode ser vivido.
Não há o que pensar
quando se vive plenamente
porque a vida acontece aqui,
no agora,
toda inteira.
Se pararmos de pensar besteiras
vemos que a realidade se desplega
deslumbrante e magnífica,
cheia de luz,
e nós como parte dela
nos iluminamos também.
A realidade acontece no agora,
e só no agora.
Qualquer outra coisa é elucubração,
delírio, fantasia, construção mental
que nos tira do real
e nos leva a imaginar o futuro
através das preocupações ditadas pelo medo,
ou nos leva a repensar o passado
através do ressentimento e da culpa,
todas formas que a mente utiliza
para levar-nos a trocar o real pelo imaginário.
A própria idéia de tempo
é fuga do real.
Venha para o presente.
Seja plenamente feliz,
plenamente luminoso,
plenamente iluminado,
nesta realidade luminosa.
Agora.

Leo Toniolo
psicoterapeuta

segunda-feira, novembro 03, 2008

valor da vida

Valor no viver

 

Que valor tem a sua vida?

Que vida tem valor sem viver?

Viver é bom com que valor?

O que dá valor a sua vida?

 

De que valor extrai sua vida?

Você dá valor a que na sua vida?

Que vida se tem sem valor?

O que significa o valor da vida?

 

Qual é a vida que você valoriza?

Que sentido tem o valor de viver?

Em que vida o valor tem valor?

Como viver e dar valor a vida?

 

Existe vida no valor da sua vida?

Viver é valorizar o viver da vida?

Há vida só dando vida ao valor?

Há valor no viver ao se viver a vida?


quinta-feira, outubro 30, 2008

A poesia segue


Pela pele

Sem acaso na escolha do que somos, portanto...
Passamos pela via de uma entrega sem senão,
Até avistarmos pirilampos no seio de nossa pele.

Entes, olhares de esmeraldas, fibras do coração...
Peneiramos com alma sementes em estremeço,
Uma noção rara de sermos um todo sendo meios.

Inteiros sendo meios repicando nossos sinos
Bailamos formas onde nada exige a matéria
Fomos convidados por nossa energia como guia.

Dançamos na alegria da nossa busca pelo outro,
O mesmo espelho presente nesse contato etéreo,
Ainda presente por um triz de amor descoberto.

terça-feira, outubro 28, 2008

memória viva

    Consideração do poema  
    (Carlos Drummond de Andrade)

Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Uma pedra no meio do caminho
ou apenas um rastro, não importa.
Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
de toda a precisão se incorporam
ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius
sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
Que Neruda me dê sua gravata
chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski.
São todos meus irmãos, não são jornais
nem deslizar de lancha entre camélias:
é toda a minha vida que joguei.

Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
– Há mortos? há mercados? há doenças?
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
por que falsa mesquinhez me rasgaria?
Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas.
O beijo ainda é um sinal, perdido embora,
da ausência de comércio,
boiando em tempos sujos.

Poeta do finito e da matéria,
cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
boca tão seca, mas ardor tão casto.
Dar tudo pela presença dos longínquos,
sentir que há ecos, poucos, mas cristal,
não rocha apenas, peixes circulando
sob o navio que leva esta mensagem,
e aves de bico longo conferindo
sua derrota, e dois ou três faróis,
últimos! esperança do mar negro.
Essa viagem é mortal, e começa-la.
Saber que há tudo. E mover-se em meio
a milhões e milhões de formas raras,
secretas, duras. Eis aí meu canto.

Ele é tão baixo que sequer o escuta
ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
que as pedras o absorvem. Está na mesa
aberta em livros, cartas e remédios.
Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,
o uniforme de colégio se transformam,
são ondas de carinho te envolvendo.

Como fugir ao mínimo objeto
ou recusar-se ao grande? Os temas passam,
eu sei que passarão, mas tu resistes,
e cresces como fogo, como casa,
como orvalho entre dedos,
na grama, que repousam.

Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.

Valor Ambiental

O Valor da Natureza

Gustavo Souto Maior*

Qual o valor dos serviços prestados pela Natureza ? A princípio é infinito. A economia mundial entraria rapidamente em colapso sem a existência de solos férteis, água de boa qualidade e ar limpo. Porém, "infinito" muito rapidamente pode se transformar em "zero" nas equações utilizadas por administradores públicos e em decisões políticas. Assim, valores mais consistentes e concretos são necessários para se evitar decisões econômicas não sustentáveis, que possam degradar os recursos naturais e os serviços que os ecossistemas geram.

Com esse objetivo, uma equipe de treze pesquisadores, a frente o cientista Robert Costanza, da Universidade de Maryland, estimou o valor econômico de 17 serviços que o meio ambiente pode proporcionar (regulação hídrica, de gases, climática e de distúrbios físicos, abastecimento d' água, controle de erosão e retenção de sedimentos, formação de solos, ciclo de nutrientes, tratamento de detritos, polinização, controle biológico, refúgios de fauna, produção de alimentos, matéria-prima, recursos genéticos, recreação e cultura), em 16 biomas espalhados pelo mundo. Informações dispersas em mais de uma centena de estudos de valoração econômica de bens e serviços ambientais foram agrupadas e analisadas, e ao final o resultado encontrado para o valor médio dos serviços proporcionados pela Natureza, nos ecossistemas pesquisados, foi de US$ 33 trilhões ao ano.

A tentativa de se estimar o valor corrente total dos serviços ambientais em questão tem uma série de limitações, admitidas por Costanza e seus colaboradores. Primeiro, vários biomas e diversas categorias de serviços ambientais ficaram de fora do trabalho, já que não são ainda adequadamente pesquisados e objeto de valoração econômica. O próprio Cerrado, cujos estudos de valoração econômica ainda são muito recentes, não foi considerado. Mais estudos sendo disponibilizados, o valor total aumenta.

Segundo, em muitos casos os valores encontrados são baseados em levantamentos da "disposição a pagar" da sociedade por serviços ambientais, levantamentos esses nos quais se firmam alguns dos métodos de valoração econômica do meio ambiente. Aqui, o perigo é que os cidadãos possam estar desinformados quanto à importância dos bens e serviços ambientais, e assim suas preferências não incorporarem adequadamente preocupações sociais, econômicas e ecológicas, entre outras, o que pode resultar em valores inconsistentes.

Pode-se questionar a tentativa de dar um valor à atmosfera, ou às rochas e ao solo no suporte aos ecossistemas, pois sem dúvida alguma o valor, nesses casos, é incomensurável. Entretanto, como bem aponta o estudo, é de fundamental importância investigar como modificações na quantidade e qualidade dos vários tipos de capital natural e de serviços ambientais podem acarretar impactos no bem-estar humano.

Levanta-se a questão de que a valoração de bens e serviços ambientais é tampouco correta, já que não podemos dar valor a bens "intangíveis", como a vida humana, paisagens, ou benefícios ecológicos de longo prazo. Porém, na verdade valoramos bens e serviços "intangíveis" todos os dias, ao estabelecermos, por exemplo, padrões para construção de estradas, pontes, e similares: nesse caso valoramos a vida humana, já que estamos gastando mais dinheiro em construções que salvarão vidas. A realidade é que a sociedade valora o meio ambiente todos os dias. Qualquer decisão quanto ao uso da terra envolve estimativas de valor, mesmo quando valores monetários não são utilizados.

Argumenta-se que devemos preservar os ecossistemas por razões morais, não lhes cabendo atribuir nenhum tipo de valor econômico. A preservação seria uma questão afeta aos direitos de todas as espécies, tendo a ver com as nossas obrigações morais para com as futuras gerações. Os bens e serviços ambientais seriam fins em si próprios, e não um instrumental para se obter determinado objetivo, no caso o desenvolvimento. Ora, se todos os bens têm direito à existência, presume-se que não é possível optar por um em detrimento de outro, estando, assim, todas as perdas moralmente condenadas. Porém, a realidade é que a sociedade tem que fazer opções. Sendo assim, ciente de que nem tudo pode ser salvo e mantido intacto, é essencial optar entre formas de intervenção que tenham a melhor relação custo/benefício. Nesse ponto é que a valoração econômica de bens e serviços ambientais pode prestar um relevante papel.

Deve-se ter em vista que o desenvolvimento econômico está intimamente ligado a aumentos no nível de bem-estar da sociedade, resultantes da produção e consumo de bens e serviços tradicionais, os quais dependem de diversas funções dos recursos naturais, como matérias-primas, capacidade de suporte de ecossistemas, assimilação de resíduos e biodiversidade. O meio ambiente faz parte da função de produção de grande quantidade de bens econômicos, cuja obtenção seria impossível sem o seu concurso.

Cabe destacar que a economia de bens e serviços ambientais possui características diferentes da economia tradicional. O uso dos recursos ambientais, por exemplo, gera custos e benefícios que pouco são apreendidos em um sistema de mercado, muito embora os recursos tenham valor econômico. Embora o valor econômico dos recursos ambientais não seja observável no mercado por meio de preços, o meio ambiente tem um valor, na medida em que seu uso altera o nível de produção e consumo da sociedade, já que o bem-estar das pessoas é medido tanto pelo consumo de bens e serviços tradicionais, como pelo consumo de bens de origem recreacional, política, cultural e ambiental.

Pelo fato de não serem quantificados e transacionados em mercados, os bens e serviços ambientais têm muito pouco peso nas decisões políticas. Esta negligência pode ter como conseqüência o comprometimento da sustentabilidade da vida na Terra, já que os ativos ambientais não possuem substitutos.

Apesar dos diversos problemas de ordem conceitual e empírica inerentes à produção de uma estimativa dessa ordem, o trabalho de Costanza pode ser importante para se estabelecer uma primeira aproximação da magnitude relativa dos ecossistemas globais, e para estimular debates e pesquisas em valoração de bens e serviços ambientais. Contudo, talvez o maior mérito do trabalho é a comparação que permitiu ser feita entre os valores existentes do Produto Interno Bruto global e o valor econômico médio dos serviços ambientais prestados pelos 16 biomas pesquisados: para o meio ambiente o resultado encontrado foi de US$ 33 trilhões anuais, enquanto que no mesmo ano o PIB global somava cerca de US$ 18 trilhões. Ou seja, o valor dos serviços ambientais era quase o dobro do encontrado para o PIB. Conclusão: os serviços ambientais têm uma posição destacada na contribuição para o bem-estar humano no nosso planeta.

A economia não pode continuar a ser vista como um sistema fechado e isolado, no qual existem fontes inesgotáveis de matéria-prima e energia para alimentar o sistema, onde o processo de produção converte todos os insumos em produtos sem deixar resíduos indesejáveis, e no consumo todos os produtos desaparecem como num passe de mágica, sem deixar vestígios. Ou seja, a economia não pode insistir em considerar o meio ambiente como mero coadjuvante.

*Gustavo Souto Maior é mestrando em Gestão Econômica.

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