sexta-feira, setembro 30, 2011

"recursos como esses terão o destino que a sociedade autorizar"

Onde a sociedade quer mais saúde?
"A sociedade precisa acompanhar atentamente a discussão sobre a saúde pública, uma das que mais lhe interessam. Recursos podem surgir - basta lembrar que o governo federal paga em juros da dívida pública entre R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões/ano (por causa da mais alta taxa de juros no mundo); em subsídios a vários setores econômicos, R$ 30 bilhões; em ajuda a mutuários, R$ 32 bilhões".
por Washington Novaes
Reacende-se o debate sobre a situação calamitosa da saúde pública na maior parte do País - e até já se prevê que será esse o tema principal na campanha eleitoral de 2012. O governo federal, por intermédio de suas lideranças, admite que precisará criar algum imposto que acrescente R$ 45 bilhões anuais ao setor (o ministro da Saúde fala em mais R$ 41 bilhões para igualar o nível da saúde no País ao da Argentina e do Chile). Em 2010 investiu o nosso governo central R$ 61,9 bilhões - mas as despesas da União no setor, segundo Ricardo Bergamini, caíram de 1,88% do PIB, entre 1995 e 2002, para 1,80%, entre 2003 e 2010; a tendência até aqui é de 1,56% do PIB em 2011.
Mas a oposição e até parte dos governistas já dizem que não concordam com um novo imposto, embora haja quem fale em taxar, para isso, grandes fortunas, legalizar o jogo (cobrando altas taxas), aumentar os impostos sobre o fumo e reservas no exterior, além de destinar à saúde parte dos royalties decorrentes da exploração do petróleo.
Até se registram alguns avanços importantes no Estado de São Paulo, como o da redução da mortalidade infantil, que em 20 anos caiu 61,8%, passando de 31,2 mortes de crianças em 1.000 nascidas vivas para 11,9 - e isso se deveu em grande parte aos avanços no setor de saneamento. Também influíram o aumento da vacinação, os cuidados na fase pré-natal, a assistência às gestantes (Estado, 27/8). Em contrapartida, cresceram os índices de poluição do ar nas maiores cidades, que já produzem 23,7 mil mortes por ano. O Rio de Janeiro está com índice três vezes acima do máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS); São Paulo e Campinas, com o dobro (o melhor índice é o de Curitiba). E o Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (Unodc) alerta para o consumo abusivo de medicamentos no Brasil, sobretudo emagrecedores (Envolverde, 27/6).
A questão brasileira na área da saúde parece ainda mais preocupante quando colocada diante de outros relatórios internacionais. Como o do World Cancer Research Fund(BBC Brasil, 17/9), que aponta um aumento da incidência de câncer no mundo da ordem de 20% na última década, quando se registraram 12 milhões de casos novos; 1,8 milhão estavam relacionados com má alimentação, deficiências de atividade física e aumento de peso - e esse número "deve crescer dramaticamente na atual década". Além do câncer, diz a ONU em outros documentos, também crescem muito doenças não transmissíveis, como as cardiovasculares, respiratórias crônicas e diabetes. No Brasil, segundo a OMS, os casos de câncer de próstata (41,6 mil em um ano) e de pulmão (16,3 mil) são os mais frequentes entre homens; na mulher, câncer de mama (42,5 mil) e de colo do útero (24,5 mil). Já o IBGE diz que 16% dos meninos brasileiros e 12% das meninas de 5 a 9 anos sofrem com obesidade, sedentarismo e estresse deles decorrente.
Outro alerta da OMS é para a ameaça de recrudescimento da gripe aviária (vírus H5N1), principalmente na Ásia e em regiões mais próximas, embora possa expandir-se. Desde 2003, o combate à gripe exigiu o sacrifício de 400 mil aves confinadas em 63 países, com prejuízos de US$ 20 bilhões. Em 2010-2011 já surgiram 800 casos e há vírus endêmicos em seis países. Como grande exportador de carne de aves, o Brasil precisa se precaver.
Chega-se, então, ao terreno dos medicamentos. Há progressos na cooperação da indústria farmacêutica com a OMS e outros organismos, que permitirá a produção de medicamentos antirretrovirais em versão genérica por um consórcio internacional que os fornecerá a 111 países mais pobres, com economia de US$ 1 bilhão (o Brasil já quebrou a patente em 2001). Também haverá redução dos royalties em patentes de medicamentos para hepatite (Estado, 13/7). Na verdade, os ministros da Saúde do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul - o Brics - querem mudanças na legislação sobre medicamentos e patentes para ampliar o acesso das pessoas mais pobres e baratear custos. A resistência é forte. Mas a própria presidente Dilma Rousseff defendeu na recente reunião da ONU a que esteve presente a quebra de patentes de remédios para doenças não terminais (Estado, 20/9), como diabetes, hipertensão e outras. Segundo ela, trata-se de um "elemento da estratégia para aumentar a inclusão social".
É um tema antigo e difícil. Quando era secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (1991-1992), o autor destas linhas e o então presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti, tentaram evitar que o Congresso Nacional incluísse na  Lei da Propriedade Industrial, que então discutia, o reconhecimento de pipelines para medicamentos com patente já vencida no exterior - quando, na verdade, deveriam passar a ser fabricados aqui sem pagar royalties, como já ocorria em tantos países. Até ao então presidente Itamar Franco foi uma delegação com representantes da SBPC em todos os Estados. O chefe do governo aderiu imediatamente à reivindicação. Mas seus líderes no Congresso impediram qualquer avanço. E os pipelines prevalecem até hoje, embora haja ações de inconstitucionalidade tramitando no Supremo Tribunal Federal.
Prevenida quanto ao avanço de certas reivindicações, a indústria farmacêutica transnacional já domina 40% do mercado de medicamentos genéricos (Folha de S.Paulo, 28/8), quando há três anos só tinha 12%: muitas patentes poderão cair em domínio público em prazos curtos.
Com tudo isso, a sociedade precisa acompanhar atentamente a discussão sobre a saúde pública, uma das que mais lhe interessam. Recursos podem surgir - basta lembrar o que já se citou num dos últimos textos nesta página: o governo federal paga em juros da dívida pública entre R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões/ano (por causa da mais alta taxa de juros no mundo); em subsídios a vários setores econômicos, R$ 30 bilhões; em ajuda a mutuários, R$ 32 bilhões (Agência Estado, 8/8). Recursos como esses terão o destino que a sociedade autorizar.
Fonte: IHU, 30/09/2011
Washington Novaes, jornalista.
(*) Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 30-09-2011.

quinta-feira, setembro 29, 2011

os objetivos da justiça social, do crescimento e da estabilidade não são contraditórios

Saúde: orçamento e financiamento

O gasto com saúde no Brasil é inferior a 4% do seu PIB. Países que possuem um sistema de saúde semelhante ao SUS brasileiro gastam pelo menos 6% do PIB. Tais países, como o Reino Unido e a Alemanha, ademais, possuem uma população menor que a do Brasil. A pergunta é: quantos bilhões de reais devemos acrescentar ao orçamento público da saúde?

A justiça social, ou seja, a redução de desigualdades, também deve ser promovida por intermédio do gasto do orçamento público. Além disso, o gasto público pode ser utilizado para promover a melhoria da qualidade de vida ao gerar crescimento e estabilidade macroeconômica. Os objetivos da justiça social, do crescimento e da estabilidade não são contraditórios.
O gasto público pode promover justiça social e melhoria da qualidade de vida da população quando é distributivo de renda, de bens e de serviços para aqueles que não teriam condições de adquiri-los quando disponíveis em mercados comandados pela lei da oferta e da procura. Esperar que a justiça social seja encontrada em competição no livre jogo de mercado é equivalente a esperar pelo “dia de são nunca”.
Pode-se, então, analisar os gastos públicos federais no Brasil sob a ótica distributivista e de justiça social descritas. Objetiva-se analisar, mais especificamente, as possibilidades de financiamento e o gasto com a saúde pública. Em 2010, o Governo Federal gastou apenas R$ 54,5 bilhões nessa rubrica. Gastou, no mesmo ano, em educação, R$ 40,2 bi e com o pagamento de juros referentes ao serviço da dívida pública, R$ 195 bi. Em 2008, último ano em que os dados sobre municípios e estados estão disponíveis, o gasto total das três esferas de governo em saúde, foi de R$ 109 bilhões. 
O gasto total com saúde no Brasil é, portanto, inferior a 4% do seu PIB. Países que possuem um sistema de saúde gratuito semelhante ao SUS brasileiro gastam pelo menos 6% do PIB. Tais países, como o Reino Unido e a Alemanha, ademais, possuem uma população menor que a do Brasil. Maior orçamento público da saúde em relação ao PIB, economias maiores e populações menores são fatores que explicam a qualidade desses sistemas de saúde. 
A economia tem crescido nos últimos anos, a população brasileira está aumentando a taxas mais reduzidas, mas o orçamento público para a saúde é limitado. Portanto, o desafio é aumentar o gasto com a saúde pública. 
A pergunta é: quantos bilhões de reais devemos acrescentar ao orçamento público da saúde? Um amigo sugeriu uma “conta de padaria”: um plano de saúde privado voltado para a classe média C cobra mensalidade de R$ 90 (e promete um “paraíso” aos seus potenciais clientes), multiplique-se este valor pela população (194 milhões de habitantes), multiplique-se por 12, e encontra-se o gasto total anual necessário mínimo – (mínimo porque a população sabe que promessas de planos de saúde privados não são críveis). Feita a “conta de padaria”, chega-se ao valor aproximado de R$ 90 bilhões adicionais.
Não é possível transferir esse montante das demais rubricas do orçamento para a saúde. Somente uma delas é passível e necessária de ser reduzida: serviço da dívida pública mobiliária federal (ou seja, o pagamento de juros por parte do governo federal). Mas, outras fontes de financiamento para a saúde devem ser acionadas: a carga tributária sobre os pobres e a classe média é alta quando comparada com a carga da altíssima classe média, dos ricos e das grandes corporações financeiras e não-financeiras. 
Portanto, o óbvio pode ser feito: reduzir a remuneração dos títulos da dívida pública e tributar, elevar alíquotas e estabelecer novas contribuições para os segmentos que têm feito pouco sacrifício contributivo. 
Seguem abaixo algumas sugestões, que poderiam ser combinadas e utilizadas em conjunto:
(a) aumentar a alíquota de Contribuição Sobre o Lucro Líquido (CSLL) paga por instituições financeiras; em 2008, o Governo aumentou esta alíquota de 9 para 15%; quando o governo fez a majoração através de uma Medida Provisória, o DEM (partido político) apresentou ao STF uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI); o governo para rebater a ADI informou ao STF que “... não pode haver dúvidas de que, se há um setor econômico, no Brasil, que caberia ser o destinatário de alíquota majorada da CSLL (...), este setor é o setor financeiro, que, a cada ano, bate novos recordes, a nível mundial em relação a esse setor econômico, em matéria de lucros”; mais ainda, em 2007, o senador tucano Álvaro Dias apresentou projeto de lei para estabelecer alíquota de 18% para a CSLL paga pelos bancos e demais instituições financeiras;
(b) tributar lucros remetidos ao exterior por parte de multinacionais (bancos e empresas), que pela legislação em vigor são isentos de imposto de renda; o valor dos recursos remetidos às matrizes nos doze meses compreendidos entre agosto de 2010 e julho de 2011 alcançou US$ 34,19 bilhões; no mês de agosto, o setor financeiro multinacional remeteu quase US$ 1 bilhão ao exterior; a remessa total nesse mês foi superior a US$ 5 bilhões;
(c) tributar a propriedade de jatinhos, helicópteros, iates e lanchas, que pela legislação atual não pagam imposto; diferentemente da propriedade de carros populares, que pagam IPVA;
(d) apurar as formas de fiscalização do pagamento do imposto territorial rural (ITR), que contribuiu somente com 0,07% do total arrecadado pela União em 2010, ou seja, apenas R$ 526 milhões; uma forma de aumentar a arrecadação desse imposto seria estabelecer em lei que o valor declarado da terra pelo proprietário para efeito de pagamento do ITR deveria ser utilizado pela União em processos de desapropriação;
(e) Criar um IGMF, imposto sobre as grandes movimentações financeiras, que tributaria aqueles (pessoa física ou jurídica) que movimentassem mensalmente valores superiores a R$ 2 milhões. 
Por último, é importante reconhecer que a gestão do orçamento da saúde deve ser aprimorada para que sejam evitados desperdícios e desvios de recursos. Entretanto, também é importante reconhecer que os recursos atuais são nitidamente insuficientes. O caminho ideal seria iniciar, de forma simultânea, um processo de auditoria, melhoria de gestão e ampliação das fontes de financiamento para a saúde pública no Brasil.
(*) Professor-Doutor do Instituto de Economia do Rio de Janeiro.
Fonte: Carta Maior | Debate Aberto, 28/09/2011

terça-feira, setembro 27, 2011

palavras de Saramago

Os abismos que nos separam

por Fundação José Saramago
Estava claríssimo que as desigualdades se iriam intensificar, que um abismo nos ia separar. E não é só o abismo do ter: é, também, o abismo do saber. Porque o saber está a concentrar-se numa minoria escassíssima. Estamos a repetir, mutatis mutandis, o modelo da Idade Média, em que o saber disponível estava concentrado numa gruta de teólogos, uns poucos mais, o resto era uma massa ignorante.
Seara Nova, Lisboa, nº 72, Abril-Junho de 2001

Perante um mundo destroçado

por Fundação José Saramago
É preocupante ver que a sociedade inteira é uma sociedade amorfa, abúlica. As camadas médias e altas só se preocupam com suas próprias satisfações, perante um mundo destroçado, onde a diferença entre os que têm e os que não têm, os que sabem e os que não sabem, é cada vez maior.
O Globo, Rio de Janeiro, 14 de Agosto de 1999

Deserto de ideias

por Fundação José Saramago
Jamais na história da Humanidade estivemos tanto numa caverna olhando sombras como agora mesmo. Não tem tanto a ver com o fato de a imagem predominar sobre a palavra, mas estamos a viver totalmente em algo a que se pode chamar cultura da banalidade, da frivolidade, e nenhuma delas deve ser usada para isso. Há uma espécie de deserto no que tem a ver com as ideias.
La Provincia, Las Palmas de Gran Canaria, 7 de Janeiro de 1999

Final de uma civilização

por Fundação José Saramago
O problema não é que acabe um século, o problema é que está a acabar uma civilização. O século é um convencionalismo, como o é o milênio, porque para uma quantidade de seres humanos que se regem por outros calendários, o milênio não tem nenhum sentido. O que, sim, está claro é que chegamos ao final de uma civilização. Nós somos os últimos de uma forma de viver, de entender o mundo, de entender as relações humanas, que chegou ao fim.
José Saramago: El amor posible, Barcelona, Planeta, 1998

Novas universidades

por Fundação José Saramago
Os hipermercados não tomaram apenas o lugar das catedrais, eles são também as novas escolas e as novas universidades, abertas a maiores e a menores sem distinção, com vantagem de não existirem exames à entrada ou notas máximas, salvo aquelas que na carteira se contenham e que o cartão de crédito cubra.
Visão, Lisboa, 9 de Outubro de 1998

Globalização e fragmentação

por Fundação José Saramago
[O mundo do fim de milênio é] um mundo com duas tendências contraditórias: a globalização e a fragmentação. Um homem está em sua casa, afastado de todo o contato humano, podendo chegar pelo computador, o modem, o fax, a todos os lugares. Cada vez mais perto de tudo e mais longe de tudo. A tecnologia permite-nos ter tudo dentro de casa sem sair dela. E, se eu não estiver satisfeito com a realidade, posso viver noutra realidade, a virtual.
Expresso, Lisboa, 28 de Outubro de 1995

os governos não controlam o mundo, os bancos controlam o mundo

'Nosso trabalho é ganhar dinheiro com crise', diz operador de mercados
O mercado financeiro não liga para o novo plano de resgate preparado para tentar salvar a economia da zona do euro e se interessa apenas em faturar com uma eventual nova recessão, revelou um operador de mercado independente entrevistado pela BBC.
"Sonho com esse momento (de declínio econômico) há três anos. Vou confessar: sonho diariamente com uma nova recessão. Se você tem o plano certo, pode fazer muito dinheiro com isso", declarou Alessio Rastani, em entrevista na última segunda-feira.
Questionado a respeito de o que faria o mercado confiar nos planos orquestrados para salvar economias em perigo, como a da Grécia, Rastani disse que, como operador, não se importa.
"Não ligamos muito para como vão consertar a economia. Nosso trabalho é ganhar dinheiro com isso", afirmou.
"Os governos não controlam o mundo. O (banco) Goldman Sachs controla o mundo. O Goldman Sachs não liga para esse resgate, nem os grandes fundos."
A entrevista, ainda que revele apenas a opinião individual de um operador, mostra que nem sempre o funcionamento dos mercados financeiros está em sintonia com o crescimento econômico.
Segundo Rastani, os grandes fundos e investidores não acreditam nas novas propostas – as quais, segundo informações preliminares, preveem a injeção de recursos em um fundo europeu de resgate e um possível calote parcial da Grécia – e estão tirando seu dinheiro da economia do euro e investindo-o em ativos mais seguros, como dólar e títulos de Tesouro.
“Essa crise é como um câncer. Se esperarmos, vai ser tarde demais. O que digo para as pessoas é: preparem-se. Não pensem que o governo vai consertar. Quero ajudar as pessoas, elas precisam aprender a fazer dinheiro com isso. Primeiro, protegendo seus ativos. Em menos de 12 meses, ativos de milhões de pessoas vão desaparecer.
Alessio Rastani, operador independente do mercado financeiro, em entrevista à BBC
Na opinião do operador, "qualquer um pode fazer dinheiro" com a crise, agindo no mercado de hedge e investindo em títulos de Tesouro.
'Governados pelo medo'
"Estou confiante que esse plano não vai funcionar, independentemente de quanto dinheiro (os governos) puserem. O euro vai desabar", afirmou ele. "Os mercados estão sendo governados pelo medo."
A âncora da BBC Martine Croxall disse que todos no estúdio estavam surpresos com as declarações. "Agradecemos sua sinceridade, mas (a atitude dos mercados) não nos ajuda muito, não?"
Rastani respondeu: "Essa crise é como um câncer. Se esperarmos, vai ser tarde demais. O que digo para as pessoas é: preparem-se. Não pensem que o governo vai consertar. Quero ajudar as pessoas, elas precisam aprender a fazer dinheiro com isso. Primeiro, protegendo seus ativos. Em menos de 12 meses, ativos de milhões de pessoas vão desaparecer".
Fonte: BBC Brasil | Economia, 27/09/2011 - 09:35 (Brasília) 12:35 GMT

“a rede de controle global das transnacionais”

737 donos do mundo controlam 80% do valor das empresas mundiais
Um estudo de economistas e estatísticos, publicado na Suíça neste Verão, traz ao conhecimento as interligações entre as multinacionais mundiais. E revela que um pequeno grupo de atores econômicos – sociedades financeiras ou grupos industriais – domina a grande maioria do capital de dezenas de milhares de empresas no mundo.
por Ivan du Roy
O seu estudo, na fronteira da economia, da finança, das matemáticas e da estatística, é arrepiante. Três jovens investigadores do Instituto federal de tecnologia de Zurique examinaram as interações financeiras entre multinacionais do mundo inteiro. O seu trabalho - “The network of global corporate control” (“a rede de controle global das transnacionais”) - examina um painel de 43.000 empresas transnacionais (“transnacional corporations”) selecionadas na lista da OCDE. Eles dão a conhecer as interligações financeiras complexas entre estas “entidades” econômicas: parte do capital detido, inclusive nas filiais ou nas holdings, participação cruzada, participação indireta no capital... 
Resultado: 80% do valor do conjunto das 43.000 multinacionais estudadas é controlado por 737 “entidades”: bancos, companhias de seguros ou grandes grupos industriais. O monopólio da posse capital não fica por aí. “Por uma rede complexa de participações”, 147 multinacionais, controlando-se entre si, possuem 40% do valor econômico e financeiro de todas as multinacionais do mundo inteiro.
Uma super entidade de 50 grandes detentores de capitais
Por fim, neste grupo de 147 multinacionais, 50 grandes detentores de capital formam o que os autores chamam uma “super entidade”. Nela encontram-se principalmente bancos: o britânico Barclays na cabeça, assim como as “stars” de Wall Street (JP Morgan, Merrill Lynch, Goldman Sachs, Morgan Stanley...). Mas também seguradoras e grupos bancários franceses: Axa, Natixis, Société générale, o grupo Banque populaire-Caisse d'épargne ou BNP-Paribas. Os principais clientes dos hedge funds e outras carteiras de investimentos geridos por estas instituições são por conseguinte, mecanicamente, os donos do mundo.
Esta concentração levanta questões sérias. Para os autores, “uma rede financeira densamente ligada torna-se muito sensível ao risco sistêmico”. Alguns recuam perante esta “super entidade”, e é o mundo que treme, como o provou a crise do subprime. Por outro lado, os autores levantam o problema das graves consequências que põe uma tal concentração. Que um punhado de fundos de investimento e de detentores de capital, situados no coração destas interligações, decidam, por via das assembléias gerais de acionistas ou pela sua presença nos conselhos de administração, impor reestruturações nas empresas que eles controlam... e os efeitos poderão ser devastadores. Por fim, que influência poderão exercer sobre os Estados e as políticas públicas se adotarem uma estratégia comum? A resposta encontra-se provavelmente nos atuais planos de austeridade.

1 O italiano Stefano Battiston, que passou pelo laboratório de física estatística da École normale supérieure, o suíço James B. Glattfelder, especialista em redes complexas, e a economista italiana Stefania Vitali.
Artigo de Ivan du Roy, publicado em Basta!
Tradução de Carlos Santos para  esquerda.net
O estudo em inglês pode ser descarregado aqui
Fonte: Esquerda.net, 26/09/2011

segunda-feira, setembro 26, 2011

um fim de semana de desopilar o fígado



Cheers (Drink To That) 
Rihanna
Hey yeah yeah yeah yeah
Hey yeah yeah yeah yeah
Cheers
To the freakin 'weekend
I drink to that, yeah yeah
Oh let the Jamesons sink in
I drink to that, yeah yeah
Don't let the bastards get down and turn it around
With another round
There's a party at the bar
Everybody put your glasses up
And I drink to that
Hey yeah yeah yeah yeah
I drink to that
Hey yeah yeah yeah yeah
Life's too short to be sitting 'round miserable
And people gonna talk wheter you doing bad or good, yeah
Got a drink on my mind and my mind on my money, yeah
Looking so bomb gonna find me a honey
Got my Ray-Ban and I'm feeling
Hello cool tonight, yeah
Everybody's vibing So don't nobody start a fight, yeah
Cheers
To the freakin 'weekend
I drink to that, yeah yeah
Oh let the Jamesons sink in
I drink to that, yeah yeah
Don't let the bastards get down and turn it around
With another round
There's a party at the bar
Everybody put your glasses up
And I drink to that
Hey yeah yeah yeah yeah
I drink to that
Hey yeah yeah yeah yeah
'Bout to hop on the bar
Put it all on my card tonight, yeah
Might be mad In the morning
But you know We're going hard tonight
It's getting Coyote Ugly up in here, no Tyra
It's only up from here no downward spiral
Got my Ray-Bans on
And I'm feeling
Hello cool tonight, yeah
Everybody's vibing
So don't nobody
Start a fight
Cheers
To the freakin 'weekend
I drink to that, yeah yeah
Oh let the Jamesons sink in
I drink to that, yeah yeah
Don't let the bastards get down and turn it around
With another round
There's a party at the bar
Everybody put your glasses up
And I drink to that
Hey yeah yeah yeah yeah
I drink to that
Hey yeah yeah yeah yeah
And I drink to that
Hey yeah yeah yeah yeah
I drink to that
Cheers
To the freakin 'weekend
I drink to that, yeah yeah
Oh let the Jamesons sink in
I drink to that, yeah yeah
Don't let the bastards get down and turn it around
With another round
There's a party at the bar
Everybody put your glasses up
And I drink to that
Hey yeah yeah yeah yeah
I drink to that
Hey yeah yeah yeah yeah
And I drink to that
Hey yeah yeah yeah yeah
I drink to that
Hey yeah yeah yeah yeah
And I drink to that


sexta-feira, setembro 23, 2011

como esquecer?

Coração Rebelde
(Afranio Campos)

Quando você me beija, simplesmente sei de muitas coisas.
Quando você me olha, vejo as coisas de outra maneira.
Quando você diz que é possível, sinto que o futuro existe.

Quando não se sabe quem é, a alma humana desaparece.
Quando se conhece a quem ama, o coração acorda leve.
Se amar é um risco, sorte de quem estar disposto a correr.

Quando estar no sonho do outro é ter algo bom na vida,
Se disser não faço mais isso, isso só te faz perder o sorriso.
Porque evitar o céu da boca e suas estrelas, é esquecer-se.

intervalo para leitura... a biodança

 A Dança da Vida
(Afranio Campos)

Na dança da vida não sou mais um ser qualquer
Achei-me em um a mais que nós dois somente
Pela identidade encontrada em conchas e algas
Sou miríades de cerejas minando de estojos

Cascas que desfolham bailarinas entre sóis
Uma linguagem de nossos átomos em conexão
Dançamos serpenteando embolados e certeiros
Despojados como hipopótamos em altura e peso

Até nos sentirmos à vontade num vôo com o outro
Suamos em tranças de distintas e claras percepções
Quase retos na difícil arte dentre muitas a despertar
Ao largar os cacos das louças internamente quebradas

Tendência em existir num sentido incomensurável
No melhor dos tempos se permitindo durar no pouco
Outros são desenhos que se desfazem desbotados
Justo por não aceitar o real presente do bordado novo

Acertamos o que as horas a passos largos trazem do dia
Percebendo as qualidades e virtudes que nos invadem
Conhecendo tensões e matérias que nos impedem
Dançar a vida que nos atrai por relações diversas

Como animais imersos no viço da emoção humana
E erros por não fazer o que é próprio a natureza
Mesmo sabendo que o tempo é uma coisa viva
Que não deixa confundi-lo com o relógio que criamos

Nossas vivências provam o que o corpo encobre
Quer se estender no mesmo espaço raro dos atos
Dando voltas de costas no dorso de suas costas
Quando a cabeça deita no ombro uma linda lua

''Who's in charge?''

Belluzzo e o pânico na beira do abismo: Quem é o encarregado?
Antes de mais nada o professor da Unicamp, Luiz Gonza Belluzzo, intelectual do ano em 2005 (Prêmio Juca Pato), um dos mais argutos analistas do capitalismo, faz questão de ressaltar que o Brasil não vive uma fuga de capitais no sentido clássico. “Isso ocorre quando o alvo é um país com dificuldades pronunciadas, marcado por reputação vulnerável nos mercados. Não é o caso do Brasil, naturalmente, que tem posições muito mais sólidas do que no passado. O que vivemos nesse momento é uma fuga global de capitais em busca de segurança e isso ainda significa dólar e títulos do Tesouro dos EUA. Portanto, isso não tem nada a ver especificamente com o Brasil”, enfatiza o economista que foi professor da Presidenta  Dilma Rousseff e hoje constitui um dos seus principais interlocutores, a exemplo do que ocorreu com Lula. ”Mas”, capricha na adversativa, “o Brasil tem a ver com tudo o que acontece no mundo. Estamos sendo atingidos. O dólar bateu em R$ 1,90 hoje e só recuou um pouco com desdobrados esforços do BC”.
A reportagem é publicada por Carta Maior, 22-09-2011.
Um traço que faz de Belluzzo um interlocutor requisitado é a rara capacidade que tem – exceto quando o assunto é Palmeiras -- de ser assertivo e ao mesmo tempo sereno. Mesmo em momentos críticos como agora, ele sinaliza sem alterar a voz : “Esses movimentos de capitais são avassaladores. São massas monstruosas de riquezas que mudam de direção juntas, de uma vez. Para evitar o rastro de destruição a sua passagem é preciso uma intervenção do Estado”.
O que o professor da Unicamp está dizendo carrega certa urgência. Assim como os bancos ganharam muito em operações de carry trade especulando com a valorização do Real, agora vão tentar ganhar no sentido inverso, especulando com a desvalorização cambial. O lado assertivo do economista se expressa sem hesitação: ‘O governo deve proibir essas operações. Os bancos já ganharam muito dinheiro nesse mercado. Essas operações devem ser coibidas”.
Belluzzo compreende a lógica do poder; a força inercial que faz governos preferirem sempre contemporizar a decidir, acomodar a arbitrar. Compreende, mas não sanciona nada parecido na esfera cambial nesse momento tenso e delicado. Os motivos são contundentes.
De 2003 até meados de 2011, o passivo externo do país, ou seja, o estoque de investimentos estrangeiros diretos e fluxos de portfólio (aplicações curtas, voláteis, tipo entra-e-sai) somou mais de US$ 615 bilhões. “Mas o estoque total, adicionando-se o volume anterior a 2003, vai a mais de US$ 1 trilhão”, lembra adicionando gravidade à urgência.
As reservas brasileiras são robustas, da ordem de US$ 350 bi. Mas representam pouco mais que 1/3 dessa massa contagiável pelo tropel da manada, que agora inverteu o rumo em fuga pelo planeta.Não é apenas fuga. Mas também remessas que se avolumam. Na crise de 2008, por exemplo, elas aumentaram em 51% em relaçao a 2007. Agora em 2011, mais de US$ 37 bi foram transferidos em lucros e outras contas. “Getúlio Vargas numa situação similar de fuga global de capitais não teve dúvida: centralizou o câmbio e fez o que tinha que ser feito”, sinaliza Belluzzo ao responder sobre qual deveria ser a atitude do governo brasileiro diante do tropel que já range os assoalhos do mercado cambial.
Não se trata de um rompante. Tampouco de conclusão baseada em um dia de destempero dos mercados globais. Trata-se de um diagnóstico ponderado de um dos mais respeitados economistas brasileiros que não enxerga contrapesos institucionais para deter o ajuste selvagem em curso no cenário mundial.
A gigantesca massa de ativos e passivos financeiros, capitais fictícios proliferados no fastígio neoliberal, congestiona agora a saída do baile. Investidores ariscos se amarrotam no declive das bolsas assoalhando o caminho para o abismo recessivo. A desabalada fuga para a liquidez esfarela tudo o que encontra pela frente, valores tangíveis e intangíveis. Os bancos, integrados mundialmente por uma rede de ativos e passivos, formam o entreposto do duelo sangrento entre as carcaças que ficarão pelo caminho e as que sobreviverão. Nessa contabilidade decidem também a sua própria sobrevivência.
“Who’s in charge?”, ironiza Belluzzo ao arguir a ausência de lideranças políticas à altura do colapso em curso no mundo das finanças desreguladas. “Quem é o encarregado?”, repete a pergunta para responder em seguida: ”Não há”. Se a política só produz vácuo, os mercados cuidam de produzir o que sabem. Um ajuste selvagem entre ativos e passivos. Deslocamentos abruptos e maciços de portifólios que esfarelam governos e nações a sua passagem estão na ordem do dia. “O que estão fazendo com a Grécia, por exemplo, é isso, e é de uma perversidade inútil”, desabafa Belluzzo que endossa a receita de Nouriel Roubini para os países falidos, os semi-falidos e aqueles candidatos à falência: uma depreciação contundente de passivos; o alongamento generoso dos prazos; incentivos para que voltem a crescer e possam sanear sua economia.
Os bancos sabem o que os aguarda, confidencia Belluzzo. Os espanhóis, por exemplo, que incluem o poderoso Santander, precificaram em 30% o calote-potencial na Espanha. A Alemanha de Angela Merkel não aceita fazer as contas porque não quer largar o osso; "não quer devolver um pedaço do muito que ganhou com a União Européia”, critica Belluzzo. Mas os bancos americanos tem US$ 600 bi incrustrados na decadência europeia sabem o que os aguarda. Por isso mesmo Belluzzo não esconde a decepção com a tíbia atuação do governo Obama: “Está aquém do que poderia diante da inquietação de uma opinião pública açoitada por índices de desemprego da ordem de 9% e que não cedem. Até quando vão suportar isso?”, questiona. Obama, na opinião de Belluzzo, teria que acionar uma política fiscal corajosa, sem medo de afrontar a cegueira republicana." O resto é inócuo", condena. “Isso que estão fazendo agora, o ‘swing’ anunciado pelo Fed é assustador pela insuficiência e os efeitos colaterais que envolve”, adverte.
Ao anunciar a compra de US$ 400 bi em títulos de longo prazo, trocando-os por papéis de curto prazo, segundo Belluzzo, “os EUA estão estreitando perigosamente o perfil de sua dívida”. Pior que isso. Remam na mesma direção dos mercados. Alimentam a obsessão mórbida pela liquidez. Insuflam a manada em fuga pelo planeta, quando o que mais se necessita nesse momento é de investimentos que reordenem, disciplinem e conduzam os cascos de volta aos currais da produção.
“Será uma crise longa”, conclui o economista, mas sem entregar terreno à desesperança. “Há muito a ser feito” observa. Ele chama a atenção para desequilíbrios que extrapolam o horizonte imediato da crise financeira, mas que estão indissociavelmente ligados a ela, adicionando-lhe uma dimensão geopolítica pouco lembrada na vigília nervosa dos pregões. “O caso da China, por exemplo”, cobra de novo em tom mais assertivo: ”Até quando eles acham que vão poder se dissociar das soluções globais”.
Belluzzo deixa claro nesse comentário que considera a crise atual muito mais grave do que o capítulo da mesma cepa vivido em 2008. “Todas as ferramentas já foram usadas e não funcionaram. Só os tolos podem considerar que a situação agora é melhor”, retruca antes de retomar o caminho da esperança crítica e engajada. “Temos que agir com as forças disponíveis, com os partidos existentes. E, sobretudo”, finaliza, “garantir recursos à formação das novas gerações. É crucial formar cidadãos dotados de capacidade de discernimento democrático. Homens e mulheres preparados para exercer a liberdade humana, não apenas o ofício de especialistas blindados no seu campo. Caso contrário, como estamos vendo nesta crise, continuaremos sendo governados por idiotas sociais”.
Fonte: IHU, 23/09/2011

quinta-feira, setembro 22, 2011

"Até que ponto este tipo de medida pode surtir efeito?"

Bah – um termo para expressar a frustração
por Paul Krugman
Está bem, o Fed agiu. E foi um pouco mais enérgico do que o esperado – Ben Bernanke e sua turma peitaram o Partido Republicano.
Falando sério, eles estão tentando usar uma pistola d’água para deter um rinoceronte desembestado.
A política monetária convencional atua por meio de alterações na oferta da base monetária, que é um ativo único, de liquidez sem igual. Se aumentarmos a oferta de pedacinhos verdes de papel estampados com os rostos de presidentes mortos tem início um processo semelhante a um jogo de batata quente no qual as pessoas tentam se livrar deste ativo trocando-o por ativos de maior rendimento e menor liquidez, levando a uma queda generalizada nos juros e possibilitando certas coisas bastante reais e substanciais.
No momento, as pessoas estão se atendo à base monetária na margem simplesmente por causa da sua função enquanto representação de valor, e por isso a política monetária convencional não surte efeito nenhum. O Fed está, portanto, tentando operar numa margem diferente, trocando valores mobiliários de curto prazo por outros de prazo mais dilatado. O problema neste caso é que não há nada indicando que haja tração suficiente nisto. Numa primeira aproximação, os juros para o longo prazo são determinados pela expectativa dos juros futuros para o curto prazo e, se isto bastasse para resumir a questão, o Fed não estaria realizando absolutamente nada com estas medidas.
Ora, numa segunda aproximação, o risco desempenha um papel; e o que o Fed está tentando fazer é jogar com a margem criada pela diferença entre a primeira aproximação e a segunda. Está certo. Mas estamos falando de mercados imensos. O endividamento total nos Estados Unidos excluído o setor financeiro é de aproximadamente US$ 36 trilhões, e o Fed está falando em jogar US$ 400 bilhões deste montante para ativos de longo prazo em vez de curto prazo. Até que ponto este tipo de medida pode surtir efeito?
A principal forma por meio da qual as medidas pouco convencionais do Fed podem funcionar é provocando uma mudança nas expectativas – principalmente as previsões para a inflação futura. E isto não está ocorrendo. Na verdade, as expectativas para a inflação nos próximos 15 anos têm caído rapidamente:

Assim sendo, parabenizo o Fed por ter desafiado as ameaças de morte, e acho que as medidas anunciadas são melhores do que nada. Mas será que são remotamente suficientes? Não.
Fonte: Estadão | Economia | Blogs, 22/09/2011

o grau de incerteza – no longo e no curto prazo – elevou-se acentuadamente

''Que substituirá a social-democracia ?”
por Immanuel Wallerstein
A social-democracia teve seu apogeu no período entre 1945 e o final dos anos 1960. Naquele momento, representou uma ideologia e um movimento que lutaram pelo uso dos recursos do Estado para assegurar alguma distribuição em favor das maiorias, de distintas formas concretas. Expansão dos sistemas de Saúde e Educação. Garantia de níveis de renda ao longo da vida, por meio de programas que atenderam às necessidades dos sem-emprego, particularmente as crianças e idosos. Programas para reduzir o desemprego. A social-democracia prometeu um futuro sempre melhor para as gerações seguintes, algo como a elevação permanente da renda nacional e das famílias. Chamou-se isso de “estado do bem-estar social”. Era uma ideologia que refletia o ponto de vista segundo o qual o capitalismo poderia ser “reformado” e assumir uma face mais humana.
Os social-democratas foram particularmente poderosos na Europa Ocidental, Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos (onde eram chamados Democratas do New Deal). Em outras palavras, nos países ricos do sistema-mundo, aqueles que poderiam ser chamados de integrantes do mundo pan-europeu. Seu sucesso foi tão vasto que seus oponentes à direita também adotaram o conceito de estado do bem-estar social, limitando-se a reduzir sua abrangência e seus custos. No resto do mundo, os estados tentaram pular no bonde por meio de projetos de “desenvolvimento nacional”.
A social-democracia foi um projeto muito bem-sucedido durante este período. Tornou-se viável graças a duas realidades daquele tempo: a incrível expansão da economia-mundo criou os recursos que fizeram a redistribuição possível; e a hegemonia dos Estados Unidos no sistema-mundo assegurou relativa estabilidade e, em especial, a ausência de violência grave no interior desta zona rica.
O quadro cor-de-rosa não durou. Ambas as realidades se esgotaram. A economia-mundo deixou de se expandir e entrou em longa estagnação, na qual ainda vivemos; e os Estados Unidos iniciaram seu longo, ainda que lento, declínio enquanto potência hegemônica. Ambas realidades aceleraram-se consideravelmente no século 21.
A nova era iniciada nos anos 1970 viu o fim do consenso centrista em torndo das virtudes do estado de bem-estar social e do “desenvolvimento” estimulado pelo Estado. Tal consenso foi substituído por um nova ideologia mais à direita — chamada de neoliberalismo, ou Consenso de Washington — que sustentava os méritos da gestão da sociedade pelos mercados, mais que pelos governos. Afirmou-se que este programa baseava-se na realidade, supostamente nova, da “globalização”, diante da qual “não havia alternativa”.
A implementação dos programas neoliberais parecia favorecer altos níveis de “crescimento” nos mercados de ações, mas ao mesmo tempo levou, em todo o mundo, a níveis crescentes de endividamento e desemprego – e a níveis mais baixos de renda para a vasta maioria das populações do planeta. Ainda assim, os partidos que haviam sido os pilares os programas social-democratas, à esquerda, moveram-se para a direita, retirando ou reduzindo o apoio ao estado do bem-estar social e aceitando que o papel dos governos reformistas deveria ser reduzido consideravelmente.
Embora os efeitos negativos sobre a maioria das populações fossem sentidos mesmo no interior do mundo pan-europeu rico, eles afetaram de modo mais agudo o resto do mundo. Que seus governos fizeram? Começaram a tirar partido do declínio relativo econômico e geopolítico dos Estados Unidos (e, mais amplamente, do mundo pan-europeu). Focaram em seu próprio “desenvolvimento nacional”. Usaram o poder de seus aparatos de estado e seus custos de produção mais baixos para se converter em nações “emergentes”. Quanto mais à esquerda estivesse sua retórica, e mesmo seu compromisso político, mais eles mostraram-se determinados a “desenvolver”.
Esta atitude poderá ajudá-los, como fez em relação aos países do mundo pan-europeu no período pós-1945? Não é nem um pouco certo que sim, apesar das impressionantes taxas de “crescimento” de algumas destas nações – particularmente os tão-falados BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China) – nos últimos cinco ou dez anos. Porque há sérias diferenças entre o atual estado do sistema-mundo e o vivido no imediato pós-1945.
Primeiro, os custos de produção são hoje, apesar dos esforços dos neoliberais, consideravelmente maiores que os do período pós-1945, o que ameaça as possibilidades reais de acumulação de capital. Isso torna o capitalismo um sistema menos atraente para os capitalistas. Os mais sagazes, dentre estes, estão procurando meios alternativos de assegurar seus privilégios.
Segundo, a capacidade das nações emergentes para ampliar, a curto prazo, sua riqueza exerce grande pressão sobre os recursos necessários para atender suas necessidades. Surgiu, em consequência, uma corrida sempre crescente por terras, água, alimentos e recursos energéticos. Ela está levando a lutas ferozes e, ao mesmo tempo, reduzindo a capacidade global dos capitalistas em acumular capital.
Terceiro, a enorme expansão da produção capitalista criou sérias pressões sobre a natureza em todo o mundo, a ponto de provocar uma crise climática, cujas consequências ameaçam a qualidade de vida em todo o mundo. Este processo desencadeou um movimento que busca questionar as virtudes do “crescimento” e do “desenvolvimento”, enquanto objetivos econômicos. A exigência crescente de uma perspectiva “civilizacional” diferente é o que está sendo chamado, em países da América Latina, de movimento pelo “bien vivir”.
Quarto, as demandas de grupos subalternos por participação real nos processos de tomada de decisões dirigem-se não apenas aos “capitalistas”, mas também aos governos de “esquerda” que estão promovendo o “desenvolvimento” nacional.
Quinto, a combinação de todos estes fatores, mais o declínio visível do antigo poder hegemônico gerou um clima de flutuações constantes e radicais, tanto na economia-mundo quando na situação geopolítica. O resultado foi a paralisia tanto dos empreendedores quanto dos governos do mundo. O grau de incerteza – no longo e no curto prazo – elevou-se acentuadamente, e com ele o nível real de violência.
A solução social-democrata tornou-se uma ilusão. A questão é: que irá tomar o seu lugar, para a vasta maioria das populações do planeta?
Immanuel Wallerstein é sociólogo.
(*) artigo publicado pelo sítio Outras Palavras, 19-09-2011, com tradução de Antônio Martins.
Fonte: IHU, 22/09/2011

quarta-feira, setembro 21, 2011

educação de qualidade é ter uma educação básica que lhes permita articular conhecimento, cultura, trabalho e vida

Enem: educação para quê e para quem
por Raquel Júnia – Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz)
MEC afirma que média geral dos alunos no Enem melhorou. Professores e pesquisadores discutem o que deve ser a qualidade buscada na escola pública.
A educação de qualidade é uma bandeira que mesmo pessoas que não fazem parte de nenhum movimento organizado levantam. Nesta semana, foram divulgados os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, no ranking de desempenho das escolas feito pela mídia, nos primeiros lugares estão instituições particulares e, nos últimos, públicas. Pesquisadores entrevistados pela EPSJV/Fiocruz alertam sobre os riscos dessa comparação e discutem: afinal, o que é uma formação de qualidade no ensino médio?
Em coletiva de imprensa logo após a divulgação dos resultados do Enem, o ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que houve um aumento de dez pontos na média geral dos estudantes do Enem, o que para o ministro, é um indicativo de melhora. Apesar disso, em todos os noticiários foi manchete o fraco desempenho das escolas públicas em comparação às privadas, apesar de o MEC afirmar que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) não concluiu os estudos que permitirão avaliar se a desigualdade entre as públicas e particulares diminuiu. O professor do Cefet-Rio e ex diretor de concepções e orientações curriculares para a educação básica do MEC, Carlos Artexes, avalia que é um equívoco comparar o desempenho das instituições. “A avaliação dos resultados de um exame sem considerar outras variáveis é um equívoco pedagógico. Não estamos avaliando as condições da própria escola, a melhora que essas escolas tiveram, nem o perfil dos estudantes que as escolas atendem”, alerta. Para Artexes, é preciso levar em consideração, por exemplo, que a grande maioria dos estudantes de ensino médio estudam em instituições públicas. “Das mil escolas com piores resultados, 30% são particulares e 70% são públicas. Nós sabemos que no Brasil temos mais de 85% das matrículas nas escolas públicas. É inegável que existe um conjunto de escolas que obtiveram bom desempenho, por várias razões, inclusive históricas. Seria um equívoco dizer que isso não é importante, porque essa é uma das funções centrais da escola, mas não é a única variável que pode ser considerada”, completa.
O professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e do Programa de Pós-graduação da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Gaudêncio Frigotto, afirma que um elemento importante na discussão é considerar as diferentes condições de investimento nas escolas particulares e nas públicas. “Isso não tem a ver com a inteligência das crianças, mas com as condições materiais objetivas, de tempo na escola, de acompanhamento da família, de tempo do professor. Outra questão é que as escolas particulares trabalham no sentido de ter notas altas porque elas fazem disso um marketing“, analisa.
No Enem de 2010, cujos resultados foram divulgados agora, o MEC adotou uma metodologia diferente para considerar o desempenho das escolas. As instituições foram separadas de acordo com o número de alunos que participaram do Exame. Assim, foram divulgados quatro grupos distintos de resultados – o das escolas que tiveram participação de mais de 75% dos estudantes, das escolas com participação entre 50% e 75%, um terceiro grupo com participação de 25% a 50%, e o último com instituições nas quais houve menos de 25% de taxa de participação. Frigotto considera positiva essa iniciativa do MEC para tentar impedir o marketing das escolas particulares com os resultados obtidos. “O MEC tenta com isso evitar esse tipo de manipulação por parte das escolas, porque algumas instituições incentivam apenas os melhores alunos a fazerem o Enem”, afirma. Artexes concorda: “Isso é um avanço, porque assim se faz o ranqueamento, sobretudo, das escolas que participam com mais de 75% de seus estudantes”. O professor pondera, entretanto, que a medida é insuficiente devido ao número crescente de estudantes que têm feito o Enem. “A tendência é ampliar esse número. Hoje, de um milhão e 800 mil alunos que concluem o ensino médio, mais de um milhão estão fazendo o exame. É importante mostrar também o perfil das escolas. O Inep tem inúmeros dados sobre as condições básicas das escolas e seria preciso dar visibilidade a algumas dessas características. É importante entender, por exemplo, que há escolas que fazem seleção para o acesso. Então, evidentemente, ela é diferente de outras. Há escolas em localizações territoriais diferenciadas. Então, quanto mais relacionarmos o resultado do exame com outros perfis das unidades escolares, mais avançaremos nas propostas de políticas públicas”, sugere.
Condições materiais da qualidade
Em greve há mais de cem dias, os professores de Minas Gerais afirmam que o baixo desempenho das escolas públicas no Enem não é nenhuma surpresa.  “Quando ficamos 100 dias em greve é sinal de que a escola pública não tem valor para ninguém. Quando o governador oferece R$ 712 de salário – não é nem de piso salarial -, é sinal de que os professores não representam nada”, desabafa a professora Monica de Souza, diretora estadual do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE). Apesar do apoio de diversos movimentos sociais e outras categorias de trabalhadores, o governo do estado de Minas cortou salários dos professores grevistas e demitiu contratados. As assembléias realizadas durante a greve chegam a reunir 9 mil professores e funcionários das escolas públicas estaduais.
No Rio de Janeiro, os trabalhadores da educação também recentemente estavam em greve e inclusive acamparam durante quase um mês na porta da Secretaria Estadual de Educação exigindo 26% de perdas salariais em caráter emergencial, já que, na realidade, a defasagem nos salários é de 80%. Para o professor Adriano Santos, diretor da Secretaria de Assuntos Educacionais e de Formação do Sindicato dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (Sepe) e diretor da coordenação nacional da Intersindical, também não é novidade o desempenho melhor das escolas particulares no Enem. “A lógica é que aqueles que têm melhores condições de aprendizado irão aprender mais”, salienta. Adriano ressalta que, sem prover as condições materiais e humanas, é impossível avançar na melhoria do ensino público. “Isso significa escolas com infraestrutura, professores e funcionários bem pagos e com planos de carreira, além de diversidade e profundidade curricular. Ainda não temos nem as condições básicas e por isso temos vários problemas na rede pública que vão desde falta de material, prédios ruins, até a qualidade no sentido mais amplo, que está relacionada com a concepção de educação que queremos”, afirma.
O professor lembra que em 2011 já ocorreram 20 greves de profissionais da educação, algumas simultaneamente, em todo o país. “A pauta é praticamente a mesma. Aqui no Rio, dos 26% que exigimos de reposição de perda salarial, o estado concedeu apenas 5%”, relata.
Gaudêncio Frigotto ressalta que o próprio ministro da educação, Fernando Haddad reconheceu durante a divulgação dos dados do Enem que o Brasil está longe de ter o investimento necessário em educação. O professor destaca uma pesquisa divulgada recentemente pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que situa o Brasil no contexto da educação mundial como um país que tem poucos jovens na universidade. “Há um dado nessa pesquisa que mostra a diferença de materialidade que tem um aluno de escola privada, especialmente de classe média, e um aluno de escola pública. O Brasil gasta em torno de R$ 3 mil por aluno ao ano na rede pública. O padrão de gasto dos países da OCDE é de R$ 13 mil. Portanto, estamos quatro vezes abaixo. Isso revela que de fato nenhum professor ou diretor faz milagre com escolas tão mal estruturadas”, diz.
O MEC afirma que o investimento na educação tem crescido. De acordo com o ministério, em 2000, o gasto em educação por aluno a cada ano no ensino médio, era de R$ 770. Em 2009, esse valor subiu para R$ 2.373. Frigotto destaca, entretanto, o quanto esses valores ainda estão muito distantes do ideal. Ele compara: “Nas escolas da rede privada, sobretudo aquelas que aparecem nos primeiros lugares do Enem, o custo direto por aluno é de R$ 8 mil a R$ 10 mil reais ao ano. Basta somar as mensalidades pagas”, reforça.
Para Artexes, de fato o custo por aluno ao ano no Brasil é um dos menores do mundo, particularmente no ensino médio. “Precisamos valorizar esse crescimento que houve. Mas ele não é suficiente, não podemos ficar satisfeitos. Comparado com países até vizinhos nossos, que têm um investimento médio no ensino médio em torno de R$ 6 mil, o Brasil está distante de uma média razoável, e por isso que é importante a luta pela ampliação dos recursos para a educação”, diz. O professor completa que as iniciativas de descentralização dos recursos para a educação ajudaram no crescimento obtido. “O Brasil tem uma estrutura tão burocrática e uma centralização de recursos tão significativa, que comemoramos quando criamos mecanismos de fazer com que esses recursos sejam aplicados diretamente na educação e nos lugares onde devem chegar, seja na unidade escolar, seja no pagamento de salário dos professores. O Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) ajudou nisso, assim como o repasse voluntário, e as iniciativas de cada vez mais exigir que se cumpra a legislação no que diz respeito ao investimento dos estados e municípios. Quanto mais monitoramos, mais os recursos vão sendo destinados e o investimento no aluno vai aumentando”, observa.
10% do PIB para a educação
A campanha ‘PNE pra Valer’ , organizada por vários movimentos sociais, quer que no novo Plano Nacional de Educação (PNE) fique garantida a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação. De acordo com o MEC, o Brasil investe hoje cerca de 5,3% do PIB. O ministro da Educação já deu declarações sinalizando a posição do governo de investir no mínimo 7% do PIB, entretanto, os movimentos argumentam que ainda é muito pouco. Frigotto concorda. “É unânime do ponto de vista das organizações científicas, culturais, sindicatos e até já é uma tendência dentro do próprio Congresso que 7% é absolutamente insuficiente, significa manter as coisas como estão.  Nós continuaremos tendo escolas sem professores nas condições ideais, porque eles vão trabalhar em três, quatro escolas. O PNE postula que o professor trabalhe em uma escola apenas, com metade do tempo em sala de aula e metade tendo formação e apoiando o aluno. E, para isso, o piso salarial tem que subir no mínimo até a mesma base que se paga aos profissionais liberais, administradores, engenheiros, advogados, algo em torno de R$ 3 mil”, explica. Segundo o professor, com o aumento de 7% só seria possível pagar o piso atual aos professores.
Os sindicatos dos professores e trabalhadores da educação de Minas Gerais (SindUTE) e do Rio de Janeiro (Sepe), além de vários outros sindicatos do país, também estão na campanha pelos 10% do PIB. “Esses 10% do PIB garantem o que queremos: respeito às condições de trabalho dentro da escola, salário decente, inclusive para no futuro termos professores. Além disso, que de fato tenhamos condições para atendermos à multiplicidade e pluralidade de alunos que temos na escola hoje. Isso seria um salto de qualidade”, afirma a diretora do Sind UTE, Mônica de Souza.
Carlos Artexes concorda com a campanha. Entretanto, para ele, garantir 7% do PIB para a educação é uma meta realista. “Sabemos que quando falamos em 7% é uma meta realista, mas lutar por 10% também é uma meta extremamente bem posicionada politicamente. Seria ingênuo acharmos que poderemos chegar a 10% do PIB na correlação de forças que está posta. Mas passarmos de cerca de 5% para 7% é um crescimento extraordinário, embora não suficiente para a tarefa e a dívida que nós temos. Lutar pelos 10%, pode nos ajudar a garantir 7% ou um pouco mais”, observa.  Artexes reforça que, além de aumentar os recursos, também é preciso garantir formas de corrigir outros problemas, como o não cumprimento da legislação por parte dos municípios e estados.
Concepção de educação
Além das condições materiais, discutir qualidade significa também debater a concepção da educação. Esta é a opinião de todos os entrevistados desta reportagem. “A maioria da classe trabalhadora se forma nas escolas públicas, então, precisamos saber que tipo de educação interessa para nós enquanto classe. Precisamos discutir se o que se pretende da educação é que ela seja apenas uma reprodutora dos mecanismos de opressão, exploração, preconceito e hierarquização da sociedade, ou uma educação que quer a libertação e a construção do projeto de uma nova sociedade”, reflete o diretor do Sepe, Adriano Santos.
Para Artexes, além da referência material, a definição de qualidade na educação tem pelo menos mais outras três dimensões. Todas elas, segundo o professor, se articulam. “Há uma dimensão organizativa. As escolas podem ter a mesma base material, mas um processo de organização e procedimentos que favoreçam o desempenho. Outra dimensão está nas relações. Quando se estabelece uma relação mais democrática, um processo que respeita o estudante e cria diálogos entre os professores, direção e estudantes, alcança-se um nível de qualidade. E a dimensão mais ampla está na identidade da escola, no projeto pedagógico com seus valores. Pode haver escolas com excelente desempenho no Enem e isso tem que ser valorizado, mas não é tudo. Muitas sociedades têm altos níveis de educação, mas não são capazes de estabelecer valores humanos dentro do processo social.  Isso também é educação e também é tarefa da escola compartilhar esse processo formativo dos valores humanos, daquilo que concebemos como avanço dos sujeitos, e seu desenvolvimento”, detalha.
Gaudêncio Frigotto destaca que a qualidade é um conceito extremamente disputado ideologicamente, e que a iniciativa de ranquear as instituições está dentro de uma perspectiva de qualidade mercantil, de entender a educação como uma mercadoria. “Para os filhos da classe trabalhadora, uma educação de qualidade é ter uma educação básica que lhes permita articular conhecimento, cultura, trabalho e vida. Portanto, o critério definidor da qualidade não pode ser o mercado de trabalho, ainda que seja importante esse jovem entender a base científica, tecnológica, política e cultural que rege o mundo da produção. É uma educação que está voltada ao sujeito educando, de forma que ele possa se apropriar dos conhecimentos da ciência humana e da natureza, para interpretar e analisar a realidade, para tornar-se não um sujeito alienado, manipulado, colonizado, mas um sujeito que analise, se posicione e tenha condições de interferir na realidade”, define. O professor analisa que a visão produtivista e mercantil de educação é, infelizmente, dominante hoje. “O indicador disso é que grande parte das escolas de ensino fundamental e médio são públicas, mas começam a ser administradas e dirigidas pelo setor privado. A tese dos empresários e da imprensa dominante é que as escolas só serão boas quando tiverem os critérios das escolas privadas. Hoje, no município do Rio, por exemplo, quem dirige o processo e a gestão pedagógica das escolas, é o Instituto Ayrton Senna”, exemplifica.
Fonte: EcoDebate, 21/09/2011

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