Trabalhei no DIEESE
Lá vivi uma experiência que me fez conhecer melhor a realidade do movimento sindical no Brasil e as propostas criadas na cabeça dos líderes das correntes políticas existentes, e que são balizadas por conhecimento técnico, intelectual. Havia uma grande efervecência de campanhas no movimento sindical, era final dos anos 80, o período do nascimento e crescimento do PT.
Naquela ocasião, exerci a função de técnico na área de TI, Analista de O&M. Colaborei na implantação do sistema ARPAN. Pude participar de reuniões de diretores técnicos do DIEESE com a equipe técnica, quando fazíamos o alinhamento de estudos para auxílio com informações para as campanhas salariais dos trabalhadores. Os diretores técnicos tinham a função de decisão técnica e orientadores na estrutura da entidade, debatiam com os técnicos assim como os diretores sindicais (diretoria política) para acordar e encaminhar o que era de interesse deles contando com o estudo de dados fornecidos pelo Departamento.
Fiz a implantação do sistema ARPAN, o sistema de controle de arrecadação das mensalidades sindicais e gestão. Essa mudança de tecnologia foi iniciada por mim, no Estado da Bahia. Fui ao escritório central do Departamento algumas vezes para reuniões com os analistas desenvolvedores do sistema (a linguagem era Clipper). Os técnicos ficavam no DIEESE do Parque da Água Branca. Conheci o atual Secretario de Gestão de Pessoas e Relação de Trabalho do governo petista, Sérgio Eduardo Arbulu Mendonça, o Serginho, técnico da área econômica. Na noite de São Paulo, fomos a um bar com outros colegas do Departamento, depois, a convite dele fui para um almoço no seu apartamento, onde comi um feijão com ele e sua companheira, tive de pedir a farinha, sou nordestino, porque na mesa em Sampa parece ser algo fora de uso. Também conheci e tive a oportunidade de realizar uma ou duas reuniões com o falecido Walter Bareli, diretor técnico na época.
Aqui em Salvador, cuidei da implantação no Sindicato dos Bancários (sob a direção do PCdoB) e depois no Sindicato dos Metalúrgicos (direção Petista), foram os primeiros que tiveram a gestão feita pelo ARPAN, sistema de controle de mensalidades sindicais desenvolvido pelo DIEESE. Meu trabalho durou menos de dois anos devido as mudanças nas condições financeiras da entidade (essa foi a razão informada aos que foram demitidos) que dependia dos recursos das contribuições sindicais em queda naquele momento, oriunda dos sindicatos que também tiveram uma queda de arrecadação pelo crescente desemprego no país, e pelas mudanças internas decorrentes desse movimento de crise, o Departamento iniciou o processo das demissões.
Chorei, sinceramente, ao ser comunicado da minha demissão. Havia espectativas, tinha uma esperança de seguir a carreira na área de TI dentro da entidade, aonde poderia continuar simultaneamente estudando economia, uma outra função disponível nos quadros do Departamento. Para mim era o emprego que, por um lado atendia meu propósito em seguir como analista de sistemas e encontrar uma oportunidade de conseguir retornar ao ambiente acadêmico na faculdade de Economia, minha formação original, que havia "perdido" quando estava envolvido numa pesquisa de Mestrado, abruptamente expulso, por ordem de um Secretário de Estado (Secretaria de Minas e Energia). Contar essa história é outra história, longa e infeliz, e o sistema se repete!
Não houve acordo possível, como muitos demitidos no Brasil, demitiam também no DIEESE, entidade defensora do trabalhador, por redução de custos, ou de gestão? O que os sindicatos passaram a fazer da mesma maneira, o que ocasionou os trabalhadores em sindicatos criarem o Sindicato dos trabalhadores em sindicatos. Com quem ferro fere com ferro será ferido!
Demitir. Era a ordem da diretoria política, com o aval da diretoria técnica. Embora soubesse que a necessidade da mudança informada eram os custos, claro, sabia que o que estava havendo era uma importante e drástica reorganização interna política, uma escolha seletiva, sob orientação rigorosa. E cá na terrinha baiana, que seguia diretamente as ordens e a dura orientação dos diretores políticos, não ficaram os críticos, nem os técnicos discordantes das demissões.
Nesse contexto, lembro uma reunião em que uma coordenadora, que na minha opinião tinha tudo de oligofrenia, porque apresentava atitudes muitas vezes autoritária em querer apresentar conhecimento sem ter, e até mostrar-se nada ética ao disputar numa discussão com uma colega, terminando em choro e nervosismo dela, descontrole emocional de quem não quer perder um ponto de pauta numa reunião de qualquer forma, óbvio que era apenas visando manter-se na coordenação. Nessa reunião estava presente o mediador da discussão entre as técnicas, futuro governador da Bahia (era diretor técnico do DIEESE, um sindicalista, diretor do Sindquímica-BA), com quem almocei em um restaurante de comida natural que ficava perto do escritório regional do DIEESE, na Avenida Joana Angélica.
Foi muito difícil a minha saída do DIEESE, e logo um tempo depois do "afastamento" da UFBa; essa é uma das vivências que impactou e fortaleceu os meus princípios e o melhor entendimento dos mecanismos que a esquerda utiliza e continua a operar para afastar incomodados com suas políticas e até mesmo cancelar quem se coloca no seu caminho, tomando-os como seus "inimigos".