O Paradoxo de Jevons e a questão da eficiência
por José Eustáquio Diniz Alves
A ecologia não é apenas a preocupação com as energias renováveis.Ela propõe também mudança de mentalidade, de vida”. Edgar Morin (FSP, 29/07/2011)
[EcoDebate] O Paradoxo de Jevons (ou efeito bumerangue – rebound effect) é uma expressão usada para descrever o fato de que o aperfeiçoamento tecnológico ao aumentar a eficiência com a qual se usa um recurso ou se produz um bem econômico, o mais provável é que aumente a demanda desse recurso ou produto. Este fenômeno foi observado pelo economista britânico William Stanley Jevons (1835-1882), que escreveu em 1865 o livro “O Problema do Carvão”, observando que os motores mais eficientes da Revolução Industrial ao invés de reduzir, aumentaram o uso total do carvão: “É um completo engano supor que um uso mais eficiente dos combustíveis implicará numa redução do seu consumo. A verdade é precisamente o oposto” (p. 123).
O Paradoxo de Jevons é útil para realçar o fato de que à medida que as novas tecnologias conseguem elevar a eficiência de um dado recurso natural, o seu uso total pode aumentar ao invés de diminuir. Um exemplo deste fenômeno está na maior eficiência dos motores a combustão da industria automobilística, já que os carros do século XXI são muito mais econômicos no uso do combustível do que os modelos da década de 1970, mas o consumo global de gasolina não parou de aumentar. O mesmo pode acontecer com os carros elétricos – que serão mais eficientes e menos poluidores – mas que podem fazer a demanda total de energia aumentar, mesmo no caso de se conseguir uma matriz energética baseada em fontes renováveis.
O Paradoxo de Jevons é também conhecido como Efeito Bumerangue (rebound effect), pois a maior eficiência energética estimula o crescimento econômico e as pessoas e as industrias passam a consumir mais energia.
Este é um grande problema a ser enfrentado na mudança da matriz energética mundial. Nas próximas décadas o mundo vai ter que fazer a transição do uso dos combustíveis fósseis para a energia renovável (solar, eólica, geotérmica, etc). Esta transição é fundamental para vencer a escassez do petróleo e para a redução da emissão dos gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global do Planeta.
Porém, ao mesmo tempo que a chamada “Era do Sol/Vento” pode ser uma grande solução para os problemas energéticos do mundo, pode provocar outros danos ecológicos de graves consequências. Isto porque, na medida em que a eficiência energética reduz o preço da energia e, consequentemente, o preço dos bens e serviços em geral, provoca um aumento do consumo agregado, devido ao “efeito riqueza” gerado neste processo. Ou seja, energia renovável, limpa e barata possibilita maior produtividade do trabalho, maior produção econômica e redução dos preços das mercadorias.
Estas são as bases do crescimento econômico e da geração de riqueza. Isto quer dizer que, no nível microeconômico, se produz uma mesma unidade (output) com menos insumos (input), mas no nível macroeconômico o resultado é um aumento da produção e do consumo, com crescimento do uso dos recursos naturais.
O Paradoxo de Jevons não se aplica apenas ao uso da energia, mas aparece toda vez que há aumento da eficiência econômica. Entretanto, a distribuição dos ganhos da eficiência depende do nível de controle social sobre o processo produtivo e do arcabouço institucional de defesa do meio ambiente.
Desta forma, há de se questionar: eficiência para que e para quem?
Os avanços tecnológicos podem ser um grande instrumento de libertação e bem-estar, mas também podem se tornar fontes de exploração e alienação, especialmente quando reforçam o monopólio da ciência e tecnologia nas mãos de poucos atores econômicos. Aumentos na eficiência energética e produtiva só contribuem para o avanço do processo civilizatório quando estiverem a serviço do conjunto da população, dos demais seres vivos do Planeta e da melhoria da qualidade de vida da Terra.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal.
E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate, 29/02/2012
por José Eustáquio Diniz Alves
A ecologia não é apenas a preocupação com as energias renováveis.Ela propõe também mudança de mentalidade, de vida”. Edgar Morin (FSP, 29/07/2011)
[EcoDebate] O Paradoxo de Jevons (ou efeito bumerangue – rebound effect) é uma expressão usada para descrever o fato de que o aperfeiçoamento tecnológico ao aumentar a eficiência com a qual se usa um recurso ou se produz um bem econômico, o mais provável é que aumente a demanda desse recurso ou produto. Este fenômeno foi observado pelo economista britânico William Stanley Jevons (1835-1882), que escreveu em 1865 o livro “O Problema do Carvão”, observando que os motores mais eficientes da Revolução Industrial ao invés de reduzir, aumentaram o uso total do carvão: “É um completo engano supor que um uso mais eficiente dos combustíveis implicará numa redução do seu consumo. A verdade é precisamente o oposto” (p. 123).
O Paradoxo de Jevons é útil para realçar o fato de que à medida que as novas tecnologias conseguem elevar a eficiência de um dado recurso natural, o seu uso total pode aumentar ao invés de diminuir. Um exemplo deste fenômeno está na maior eficiência dos motores a combustão da industria automobilística, já que os carros do século XXI são muito mais econômicos no uso do combustível do que os modelos da década de 1970, mas o consumo global de gasolina não parou de aumentar. O mesmo pode acontecer com os carros elétricos – que serão mais eficientes e menos poluidores – mas que podem fazer a demanda total de energia aumentar, mesmo no caso de se conseguir uma matriz energética baseada em fontes renováveis.
O Paradoxo de Jevons é também conhecido como Efeito Bumerangue (rebound effect), pois a maior eficiência energética estimula o crescimento econômico e as pessoas e as industrias passam a consumir mais energia.
Este é um grande problema a ser enfrentado na mudança da matriz energética mundial. Nas próximas décadas o mundo vai ter que fazer a transição do uso dos combustíveis fósseis para a energia renovável (solar, eólica, geotérmica, etc). Esta transição é fundamental para vencer a escassez do petróleo e para a redução da emissão dos gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global do Planeta.
Porém, ao mesmo tempo que a chamada “Era do Sol/Vento” pode ser uma grande solução para os problemas energéticos do mundo, pode provocar outros danos ecológicos de graves consequências. Isto porque, na medida em que a eficiência energética reduz o preço da energia e, consequentemente, o preço dos bens e serviços em geral, provoca um aumento do consumo agregado, devido ao “efeito riqueza” gerado neste processo. Ou seja, energia renovável, limpa e barata possibilita maior produtividade do trabalho, maior produção econômica e redução dos preços das mercadorias.
Estas são as bases do crescimento econômico e da geração de riqueza. Isto quer dizer que, no nível microeconômico, se produz uma mesma unidade (output) com menos insumos (input), mas no nível macroeconômico o resultado é um aumento da produção e do consumo, com crescimento do uso dos recursos naturais.
O Paradoxo de Jevons não se aplica apenas ao uso da energia, mas aparece toda vez que há aumento da eficiência econômica. Entretanto, a distribuição dos ganhos da eficiência depende do nível de controle social sobre o processo produtivo e do arcabouço institucional de defesa do meio ambiente.
Desta forma, há de se questionar: eficiência para que e para quem?
Os avanços tecnológicos podem ser um grande instrumento de libertação e bem-estar, mas também podem se tornar fontes de exploração e alienação, especialmente quando reforçam o monopólio da ciência e tecnologia nas mãos de poucos atores econômicos. Aumentos na eficiência energética e produtiva só contribuem para o avanço do processo civilizatório quando estiverem a serviço do conjunto da população, dos demais seres vivos do Planeta e da melhoria da qualidade de vida da Terra.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal.
E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate, 29/02/2012