Nesta data que lembranças de quem viveu a ditadura militar e fez por onde fosse possível o resgate do Estado Democrático de Direito, uma conquista que se tornou realidade constituída através da Carta de 1988, tem-se obrigatoriamente de refletir sobre os fatos, que esteja sendo ignorada, fatiada por interpretações dos Supremos e ações autoritárias do desgoverno que transformou a Constituição numa caderneta de rascunhos jogados pra lixeira de uma democracia relativa, na qual o que vale é a vontade de um títere e seus puxa sacos, nada mais atual do que esse trecho ("60 anos esta noite: a ditadura militar foi o 'nazismo brasileiro'?") do Paulo Polzonoff Junior:
"De fato, se compararmos aquele tempo de repressão dos direitos civis com este nosso tempo de evidente repressão dos direitos civis, crise econômica, violência urbana descontrolada e imoralidade repugnante e explícita, não dá para negar que, em termos de liberdade, continuamos na mesma. Isto é, sem liberdade. Continuamos com medo, agora não só dos militares, mas também dos promotores, dos juízes e dos traficantes.
Tampouco dá para negar que perdemos a liberdade de nos expressar. A censura é uma realidade. Pode perguntar para a ministra Cármen Lúcia! Aliás, a “censura democrática” é um tantinho pior do que a censura da ditadura militar, que permitia a existência e a circulação de jornais como O Pasquim, ao passo que hoje qualquer piadinha com Alexandre de Moraes deixa meus editores de cabelos em pé.
Resta saber se, daqui a 60 anos, o regime atual, de característica inegavelmente autoritária, será submetido a uma análise rigorosa e honesta de seus erros e hipotéticos acertos. Ou se, à semelhança do que aconteceu com a ditadura militar, passará por um processo de idealização/nazificação: pela esquerda, como um regime de força (uma ditadura!) necessário para livrar o Brasil da ameaça fascista, da “extrema direita”; e pela direita como uma nova versão do nazismo à brasileira. Como o Mal Absoluto que simplesmente trocou a farda pela toga."