segunda-feira, abril 27, 2009

mercado da água (III)

Os olhos dos capitais no mercado da água

Afranio Campos - 26/04/2009

O fato da crise financeira mundial se dá em uma dimensão nunca antes vista, numa dinâmica extremamente rápida, se tornou preocupante, tanto para grandes investidores privados, via setor financeiro-bancário, como para o mercado real ou produtivo; o que diferencia a situação atual da crise de 1929. Com a globalização tudo se interliga, de forma integrada e aceleradamente, o que “empurrou” os Estados nacionais e seus governos a colaborar entre si, através de um processo de discussão no tratamento das grandes questões econômicas e financeiras sob pressão da sociedade forçando a abrir espaços para o conhecimento do mundo e a intervenção concreta em problemas que antes não eram vistos ou eram relegados ao segundo plano, ou sem se dar a devida importância; abriu-se a caixa preta da "questão ambiental" para quem quer que seja, em sua grave situação.

A busca de nichos para investimentos proveitosos pelos capitais transnacionais que procuraram escapulir da crise financeira, definindo suas prioridades de lucro, já denotam interesses específicos pelos recursos ambientais que ofereçam segurança e permanência de retornos num horizonte de longo prazo; e que tragam a satisfação dos seus interesses, sobretudo, que estejam fora da malfadada área de abrangência dos mercados de dinheiro fictício (podres, derivativos), bastante abalados, mas sem fronteiras em sua amplitude sistêmica.

Os recursos hídricos, que há algum tempo já faz parte da agenda dos governos enquanto bem econômico, antes, um direito da humanidade, bem de uso comum, bem ambiental, bem essencial à vida; esse recursos, estão no centro das discussões sobre dominialidade, precificação, onde a sua tutela por parte do Estado se configurou como essencial na confiabilidade do modelo. A definição de instrumentos de gestão passa a sustentar-se sobre a teoria econômica tradicional e a valoração do tipo de uso, consumo e poluição dos recursos hídricos vem objetivando a sua preservação e formas de uso racionalmente sustentável que estabeleçam uma possível harmonia e eficiência do emprego desses recursos com o meio ambiente. O quadro que se firma torna-se cada vez mais favorável a consolidação desse mercado ainda que efetivamente não se enquadre nos padrões da economia de mercado.

A busca de mercados rentáveis e seguros a médio-longo prazos despertaram o interesse dos investidores especulativos em tempos de crise financeira. E o que parece obvio, não só para os mortais, mas fica patente para os “capitais à deriva” no mundo, é que eles partiram em busca de um outro tesouro no fim do arco-íris: os recursos hídricos, ou melhor, a água. Os olhos de cifrões estão voltados para o recente e imberbe mercado da água. Água, bem já escasso na maioria dos paises, em conseqüência do modelo de desenvolvimento e consumo excessivo adotados na extração dos recursos naturais, que foram utilizados em demasia, e inadequadamente, até a completa exaustão, diferentemente dos países que naturalmente possuem recursos hídricos ainda abundantes.  Particularmente, no caso de países como o Brasil, só na última década vem empregando esforços na regulamentação da exploração do meio ambiente e dos usos múltiplos dos seus recursos hídricos: através da criação de leis, da ação das agências reguladoras ou na aplicação de investimentos vultosos na formação do mercado da água.

Destarte, esse é justamente o tipo de mercado que parece contrariar os pressupostos da teoria econômica, apesar do Estado proporcionar legal e financeiramente sua ordenação, seja como gestor de políticas públicas e na implantação de projetos em tecnologias limpas para o setor, seja através das outorgas (concessões, permissões etc), delegatários agindo em parceria, usuários, representantes da comunidade das bacias (Parlamento das Águas). Entretanto, o que no mercado tradicional, o preço, se constitui como o termometro das preferências dos consumidores, e o fator importante na equação da valoração econômica dos recursos hídricos, nesse caso, se torna mais uma variável do modelo, embora sem o destaque costumeiro dos fundamentos da teoria neclássica:

"Está fora do interesse dos investidores assumir diretamente a responsabilidade por entregar a água e taxar o consumidor final. Isso porque, em geral, os governos subsidiam as tarifas, já que a água é um bem vital. 'O governo precisa da água, então pagará qualquer valor para quem a tornar disponível', avalia Tara[1]. 'Porém, a água em si continuará sob controle do governo. Então, o preço da água em si não é o melhor investimento'.

 As novas tecnologias devem oferecer ainda bons ganhos para tecnologia que ajudem a reduzir o consumo excessivo de algumas áreas da economia. É o caso da agricultura, o campeão setorial, que usa grandes volumes para irrigação. Um exemplo ilustra o desafio: para a produção de um bife de um quilo de carne bovina são necessários 16.000 litros de água,segundo dados do Instituto para Educação sobre a Água, da Unesco"[2].

Aqui, corre-se o grande risco desse empenho social e do Estado cair na desmoralização, ou até na grande perda dos frutos oriundos do processo de criação do mercado da água, representado por uma possível corrupção dos princípios originais, ou com a captura dessa estrutura por parte do lobby “privativista” dos grandes capitais, sobretudo sustentados pelos conhecidos fundamentos das leis de mercado de produtos e serviços.

O Estado ao criar as agências de água balizadas por regras pré-estabelecidas em critérios da economia de mercado, para o setor, tem buscado há mais de uma década (Política de Meio Ambiente e Política dos Recursos Hídricos) a obtenção de resultados que assegurem seu papel na estruturação do mercado da água, mercado esse, reconhecidamente singular diante das leis econômicas tradicionais; até então, as Agências de Água não tem demonstrado a eficiência esperada na consecução de seus objetivos: apresentam-se deficitárias diante da necessidade dos vultosos investimentos exigidos, bem como no controle efetivo dos conflitos sócio-ambientais entre os usuários dos recursos hídricos, o que ocorre em função da sua natureza de bem difuso, bem de múltiplo uso, etc.

Aparentemente, reconhece-se que o momento é bastante propício para capitais aventureiros se voltarem para o mercado da água, afinal, ao se criar a experiência de um “mercado misto” da água, isto é, nem privado nem público, sob a égide dos fundamentos das leis econômicas do mercado privado, e por outro lado tutelado pelo Estado através de leis específicas que dão credibilidade ao seu funcionamento, abriu-se um laboratório para o ensaio de algo inovador, sendo operacionalizado sobre princípios claros da preservação ambiental por intermédio das agencias reguladoras; a diferença para nós, é que talvez possa funcionar por mais algum tempo com seus objetivos ético-sócio-ambientais historicamente distintos dos mercados lucrativos, agora transacionando os recursos hídricos através de preços públicos; e que ainda logramos pensar, continuar intocado pelo inevitável "toque de midas" capitalista.

Uma questão fica para o debate: o que poderá evitar a socialização das externalidades negativas ou prejuízos sócio-ambientais, sem privatizar totalmente os benefícios?



[1] Kimberly Tara, da empresa que gerencia investimentos FourWinds Capital Management.

[2] Ciência e saúde, Planeta. Investidores já estão de olho no mercado da água. Veja On-line. 19 de março de 2008. http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia-saude/investidores-ja-estao-olho-mercado-agua-333262.shtml

quinta-feira, abril 23, 2009

mercado da água (II)

Investidores já estão de olho no mercado da água
19/03/2008 12:29

Os recursos que fugiram da crise internacional de mercados procuram novos investimentos de longo prazo e um deles é um velho conhecido do homem: a água. Com a crescente escassez mundial do produto - fruto do crescimento populacional, da poluição de fontes limpas e do aquecimento global -, investidores já se mobilizam para adquirir participações em companhias que controlam o uso da água e outras que desenvolvem tecnologias de tratamento, extração e transporte, especialmente em países em desenvolvimento - como a China.

'Muitas cidades triplicaram em tamanho nos últimos dez anos anos, então há uma demanda não atendida e uma oportunidade enorme de investimentos', disse à Reuters Kimberly Tara, da empresa que gerencia investimentos FourWinds Capital Management. Somente este ano, ela espera reunir cerca de 4,68 bilhões de dólares para apostar em projetos ligados ao setor.

Tecnologia - O fundo vai procurar projetos de tratamento de água e dessalinização, além de eventuais parceiros que produzam medidores, pipas para transporte e bombas para extração. Está fora do interesse dos investidores assumir diretamente a responsabilidade por entregar a água e taxar o consumidor final. Isso porque, em geral, os governos subsidiam as tarifas, já que a água é um bem vital. 'O governo precisa da água, então pagará qualquer valor para quem a tornar disponível', avalia Tara. 'Porém, a água em si continuará sob controle do governo. Então, o preço da água em si não é o melhor investimento'.

As novas tecnologias devem oferecer ainda bons ganhos para tecnologia que ajudem a reduzir o consumo excessivo de algumas áreas da economia. É o caso da agricultura, o campeão setorial, que usa grandes volumes para irrigação. Um exemplo ilustra o desafio: para a produção de um bife de um quilo de carne bovina são necessários 16.000 litros de água, segundo dados do Instituto para Educação sobre a Água, da Unesco.

Ameaça - A escassez de água já é um problema grave em várias partes do mundo. Isso inclui áreas do sul da Espanha, Oriente Médio, Ásia Central, Paquistão, sul da Índia e norte da China, além do meio-oeste americano, Andes e Austrália.

Na China, a questão é especialmente delicada, já que o país possui 20% da população mundial, mas apenas 7% da água. Além disso, as águas dos cinco maiores rios que cortam o território não são potáveis. O país terá de construir, então, 1.000 centros de tratamento até 2010. 'Tecnologia para isso existe. O problema, porém, é saber quem vai pagar pelo serviço', disse o analista da Merrill Lynch Robert Miller-Bakewell.

Atualmente, um europeu usa em média entre 150 e 400 litros de água ao dia para necessidades pessoais. Nos EUA, o consumo pode chegar ao dobro. Na China, 90 litros e, em outros países desenvolvidos, 50 litros.

Fonte: Veja On-Line.

quarta-feira, abril 22, 2009

mercado da água (I)

17/03/2009 - 00h01

Modelo de livre mercado para exploração de água destrói cidade chilena

NYT Alexei Barrionuevo - Em Quillagua (Chile)

Durante as últimas quatro décadas aqui em Quillagua, uma cidade registrada nos livros de recordes como o local mais seco da terra, os moradores algumas vezes enxergaram gotas de chuva sobre as montanhas à distância. Mas elas nunca atingiram o solo, tendo se evaporado como uma miragem ainda no ar. O que a cidade tinha era um rio, que alimentava um autêntico oásis no deserto de Atacama. Mas, segundo os moradores, as companhias mineradoras poluíram e compraram uma quantidade tão grande da água que durante vários meses por ano o rio transforma-se em apenas um filete imprestável.

Caminhão-tanque abastece caixa d'água usada por moradores de Quillagua, Chile Quillagua é uma das várias pequenas cidades que estão sendo engolidas em meio à cada vez mais intensa guerra pela água no país. De acordo com os especialistas, em nenhum outro lugar o sistema de compra e venda de água é mais permissivo do que no Chile, onde os direitos à água constituem-se em propriedade privada, e não em um recurso público, e podem ser comercializados como mercadorias, em um ambiente caracterizado por pouca fiscalização governamental e escassas salvaguardas do meio ambiente.

Em algumas áreas a propriedade privada é tão concentrada que uma única companhia de eletricidade da Espanha, a Endesa, comprou até 80% dos direitos à água em uma enorme região no sul do país, provocando uma onda de protestos. E no norte, os produtores rurais estão competindo com companhias de mineração pelo aproveitamento dos rios e exploração das escassas reservas de água, deixando cidades como estas completamente secas e definhando. "Parece que tudo está contra nós", lamenta Bartolome Vicentelo, 79, que no passado cultivava alimentos e pescava camarões no Rio Lova, que abastece Quillagua. A população caiu para cerca de um quinto do que era duas décadas atrás. Tanta gente saiu da cidade que hoje só restam 120 pessoas aqui.

Alguns economistas elogiam o sistema de comercialização de direitos à água no Chile, que foi criado em 1981, durante a ditadura militar, afirmando que se trata de um modelo de eficiência do livre mercado que permite que a água seja utilizada pelos projetos de maior valor econômico.

Mas outros acadêmicos e ambientalistas argumentam que o sistema do Chile é insustentável porque promove a especulação, coloca o meio ambiente em risco e permite que interesses menores sejam esmagados por forças poderosas, como a indústria mineradora chilena.

"O modelo chileno foi longe demais no rumo da regulação descontrolada", afirma Carl J. Bauer, especialistas nos mercados de água do Chile que leciona na Universidade do Arizona. "É um modelo que não levou em conta o interesse público". A Austrália e o oeste dos Estados Unidos têm sistemas um pouco semelhantes a este, mas, segundo Bauer, existe neles regulação ambiental e resolução de conflitos mais fortes do que no Chile. O Chile é um exemplo notável da polêmica sobre a crise da água em todo o mundo. Temores quanto à carência de água prejudicam a expansão econômica chilena em áreas de recursos naturais como a de cobre, de frutas e de pescados - todas elas conhecidas por necessitarem de muita água em um país que tem reservas aqüíferas limitadas.

"O dilema que estamos enfrentando é determinar se podemos continuar nos desenvolvendo com a mesma quantidade de água que possuímos hoje", explica Rodrigo Weisner, diretor do setor de recursos hídricos do Ministério de Obras Públicas. "Não existe um consenso político a respeito de como lidarmos com o desafio de explorarmos os recursos que temos - incluindo as maiores reservas de cobre do mundo - em um país que possui o deserto mais árido do planeta", afirma Weisner.

Fernando Dougnac, um advogado ambiental de Santiago, diz que o equilíbrio é especialmente difícil porque "o mercado é capaz de promover a regulação para que haja mais eficiência econômica, mas não promove mais eficiência sócio-econômica". Ultimamente, a abordagem do país quanto à questão dos direitos à água tem exibido algumas falhas. "Na cidade de Copiapo, no deserto de Atacama, a comercialização descontrolada e uma seca de dois anos fez com que a quantidade real de água contida no rio acabasse sendo muito menor do que aquela contida nas quotas de exploração da água", afirma Dougnac.

Quillagua é mencionada no livro Guiness de recordes mundiais como o "local mais seco da terra" há 37 anos, mas ela mesmo assim prosperou devido ao Rio Loa, chegando a ter uma população de 800 habitantes na década de 1940. Um trem de longo curso parava aqui - atualmente a estação está abandonada - e a escola municipal tinha capacidade para quase 120 alunos (hoje em dia há apenas 16 estudantes).

Segundo Raul Molina, geógrafo da Universidade do Chile, a prosperidade começou a desaparecer em 1987, quando o governo militar reduziu em mais de dois terços a quantidade de água para a cidade. Mas os maiores golpes ocorreram em 1997 e 2000, quando dois episódios de contaminação arruinaram o rio, impedindo que a sua água pudesse ser utilizada para a irrigação de culturas agrícolas ou para o fornecimento ao gado durante os críticos meses de verão. Um estudo inicial conduzido por um acadêmico resultou na conclusão de que a contaminação de 1997 foi provavelmente provocada por um projeto de mineração de cobre administrado pela Codelco, a gigantesca mineradora estatal. Depois do incidente o governo chileno contratou especialistas alemães, que afirmaram que a contaminação tinha uma origem natural.

Em 2000, o Serviço de Pecuária e Agricultura, que integra o Ministério da Agricultura do Chile, refutou essa conclusão, e afirmou em um relatório que a responsabilidade pela contaminação era de pessoas e não da natureza. Foram encontrados metais pesados e outras substâncias associadas ao processamento de minérios que mataram os camarões do rio e fizeram com que a sua água não pudesse ser consumida pelo gado (faz décadas que a água potável para os moradores é transportada de outras regiões).

A Codelco, a maior companhia mineradora de cobre do mundo, rejeita qualquer responsabilidade. Pablo Orozco, um porta-voz da companhia, diz que a água do rio é ruim há anos, e que chuvas pesadas ocorridas na época dos episódios de contaminação provocaram uma enchente de curto período no curso d'água, o que fez com que sedimentos e outras substâncias fossem arrastados para a água. Mas a natureza do debate é em grande parte acadêmica porque, sem água apropriada para irrigar as culturas, muitos moradores não veem motivo para continuar resistindo às ofertas externas de compra dos direitos à água da cidade. Uma companhia mineradora, a Soquimich, ou SQM, acabou comprando cerca de 75% dos direitos à água de Quillagua. A maioria dos moradores se mudou; aqueles que permaneceram na cidade tem em média 50 anos de idade.

"Quillagua não será capaz de resistir por muito mais tempo", adverte Alejandro Sanchez, 77, apontando com uma bengala para um campo completamente seco e desprovido de vegetação, onde antigamente ele plantava milho e alfafa. Em 2007, a agência nacional de água passou a investigar alegações de que a Soquimich estaria extraindo mais água do Rio Loa do que teria direito. As autoridades dizem que o inquérito ainda está em andamento, embora a companhia sustente que nunca retirou água além da quantidade que lhe foi designada. Mas no início do ano passado, a agência regional de água passou a fazer monitoramento por satélite do Rio Loa. Após não ter registrado fluxo algum em 2007, Quillagua de repente recebeu pequenas quantidades de água no ano passado, e novamente em janeiro deste ano.

Segundo Claudio Lam, diretor regional da agência chilena de água, isso fez com que as autoridades suspeitassem que as companhias estivessem drenando mais água do que o permitido.

Mesmo assim, a água que chegou à cidade no verão ainda não é suficiente para possibilitar o cultivo de lavouras, afirma Victor Palape, chefe dos índios aimara de Quillagua. A cidade só sobrevive devido aos caminhões pipa que chegam diariamente, e que são parcialmente financiados pela Codelco e pela Soquimich, as duas companhias que os moradores culpam pelos seus problemas.

Os moradores de Quillagua permanecem determinados. Palape, o dono do principal restaurante da cidade, ainda sonha em atrair turistas para a observação das 108 crateras formadas por meteoros. As crateras estão espalhadas por Quillagua e pelas redondezas. A irmã dele, Gloria, também se orgulha do lugar ocupado por Quillagua na história. "Para ser capaz de viver no local mais árido do mundo, com tudo o que aconteceu, o povo daqui precisa ser resistente e teimoso", diz ela. "Não vamos desistir".

© 1996-2009 UOL - Tradução: UOL

terça-feira, abril 14, 2009

momento

A conta gotas

Tem nenhum mistério os propósitos dos defensores do capitalismo em sua fase de agonia “globalitária” (Santos), nesse nosso velho e pós-moderno mundo. Em seus ataques de ansiedade, diante da situação de indiferença por pura ignorância diante da realidade, para muitos, e da apatia de certos intelectuais que se autodenominavam marxistas (vemos hoje, que muitos nem haviam lido o primeiro capítulo do "O Capital", ou nem mesmo terminado o prefácio dos Grundisse), um velho amigo repetia: "entre os capitalistas não existe contradição, mas, sim, contrariedades". Em outras palavras, querem que o mar pegue fogo para assar o leitão na própria banha!

Os episódios recentes demonstram apenas o “processo de conta gotas" (Tavares) em que a crise vem sendo postergada, administrada. É sabido que nenhum arauto desse sistema sabe exatamente aonde isso tudo vai dar, inclusive porque os paradigmas históricos, inclusive do "ecologismo", continuam a procurar “associar à ofensiva destruidora contra os povos esses mesmos povos e suas organizações”. A propalada "gestão da crise", a questão dos preços do petróleo e o desenvolvimento dos biocombustíveis, a questão da “escassez” (de qualidade) da água, o “ouro azul” do século XXI, um direito humano, bem universal; apenas definida como “necessidade humana” pelo V Fórum Mundial da Água recém realizado em Instambul  sob a pressão exercida pelo poderoso lobby privado do setor hídrico, que desconsiderou, mesmo em meio a presente crise econômica, que o peso de tal decisão atrasará em uma década o acesso à água potável para cerca de um bilhão de seres humanos, que ainda vivem sem ela, embora, seja de fato um bem essencial à vida na Terra.

A exportação da água virtual através do comércio de grãos e frutas para a China, União Européia e EUA, revela que onde a fome tem presença marcante também falta o uso adequado desse bem ambiental, e que o capital transformou através da criação dos mercados da água em um bem econômico (recurso hídrico). Tem um sentido fundamental toda a manobra dos governos do G7 frente a situação atual da economia mundial, em um quadro de crise gerada pela grande bolha originada de “capitais podres” e derivativos americanos, quando tangencia o problema da relação entre o tsunami da crise financeira e a questão climática global, que na verdade é propriamente ecossistêmica, partes que estão intrinsecamente relacionadas ao todo que não é somente uma expressão ou soma das partes e que não devem ser tratadas isoladamente, separadas, em qualquer tempo, pois, há um (des)equilíbrio vital por existir um inter-retro-relacionamento entre elas.

É de se questionar qualquer defesa desse quadro atual do capitalismo financeiro, transnacional, que se sustenta em fundamentos caducos ou "renovados" sobre um arcabouço teórico por demais testado e pouco criativo, que não engana mais ninguém (ou não?) em suas "repetições" e falsas crises de identidade que se reinventa, mas que não dura muito tempo em mostrar, a cada desmatamento, crime ambiental ou exploração do próprio homem, a sua direção: destruição da natureza e do ser humano. Fato é, que estamos frente a um momento de sérias mudanças (necessárias), não só de paradigmas relacionados ao que chamamos econômico, financeiro, mas, sobretudo, quanto à "teia da vida que não só humana", senão, da preservação da vida, em um sentido holístico, da percepção do "desenraizamento” da emoção humana, do ser da terra e da água, do ecossistema onde se insere o próprio homem.

Estamos no limiar de uma significativa ruptura de paradigmas, independente do que alguns iluminados achem, ou professem em suas "crenças" ou referências ideológicas.

O capitalismo já deu provas que tem limitações, e nos condiciona (a maioria da humanidade) a "sobreviver" como animais; seguindo as premissas darwinianas para "justificar a existência da concorrência e fazer da economia de mercado uma lei natural". Lembrando Engels: "Darwin não sabia que amarga sátira da humanidade, e especialmente de seus concidadãos, ele escrevia quando demonstrava que a livre concorrência, a luta pela vida, celebrada pelos economistas como a mais alta conquista da história, era o estado normal do reino animal".


pássaros

Os poemas...


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso 
nem porto; 
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes 
que o alimento deles já estava em ti... 

Mario Quintana - Esconderijos do Tempo

domingo, abril 12, 2009

vivência (permanente)

Permanecer

 

Até onde nosso olhar se estende

Inesperada dança viva de entregas

Ainda que pareça simples e singela

Vamos em passos que se aprende

 

Mãos entreabrem visões distintas

Nossos rostos se mostram profundos

Risos nascem de nossa cara criança

Por alguns minutos recriamos tudo

 

Somos transformação seguida em vida

Queremos limpar o musgo das unhas

Brilhar livres às ìntimas galáxias

Que permanecem internamente juntas

sexta-feira, abril 10, 2009

nu

Banho de rio

Amanhã, o movimento das águas será outro. As esperanças interiores são nítidas no ciclo da água. O que se enxerga de maneira diferente está lá, a um nariz de começar a querer o que a mudança oferece, e acontecer de ser como o rio. Entrar nele é o que ele sugere, molhar-se do fio do cabelo ao dedão do pé, se aproximar mais da margem desconhecida, caber dentro e fora dos limites, evitar estar só no querer, não esperar a hora que se vai, flutuar no banho ao seguir o fluxo corrente inteiro no respirar, daí chegar mais perto do outro lado sem previsão do efeito dessa renovação.  Isso é como se trouxesse uma corredeira para dentro de si (a rocha tornar-se a bacia de águas suavizando-se, e as pedras, também conseguem encontrar umas as outras moldando-se arredondadas), e vivenciar ser o rio indo para o mar.

Veja o plano: sinta o toque, se dobre na emoção, seja isso logo cedo; sinta-se na carícia da textura das águas, seja parte do cio da terra, com algum cuidado ou mesmo tímido ar de afeto, aproxime-se, mas, seja algo de verdade próximo disso. Agora, como água corrente seguindo o aconchego do leito, já não será o mesmo. Que se descubra o outro, sem sentir os próprios pés no chão! Aceitando inovar-se inteiramente no que se ganha em alegria pelo presente trazido no sentimento do mesmo rio diferente. Afinal, temos uma certa correnteza que nem damos mesmo conta.

Às coisas dizem em sinais silenciosos, muitas vezes ignorados, que há uma esperança permanente de voltarmos àquelas paisagens como se ainda fossem as mesmas. Mesmo com os motivos que temos, como recuperar a chance colocada no passado? O que jamais podemos fazer mesmo após o descanso da viagem. O que mudou não continua sob a sombra das árvores que recuaram na curva do rio lá atrás, segue sempre com a gente. O truque é achar a hora de plantar as sementes esquecidas na mão, no coração. Assim, chegamos a outra margem do rio.

Há uma força que equilibra essa viagem, ela se banha na energia que consumimos do rio. Ela é recriada constantemente nessa experiência transparente, quando cada casca se quebra pelos raios de um sol sem repouso (nem sempre de graça), expondo nossa alma intensa que queima ao renascer no denso sentido que instiga a experiência da vida, e nos faz subir nos ares de sua criação desenhando o alfabeto das trocas, nos esperados abraços e nas lembranças de carinho. Aqui expandimos em uma chuva doce batida no chão, indo como o orvalho dormir sobre ramos de tulipas nas bordas do horizonte. E como guerreiros após o êxtase da vitória caímos em sono na cama do mar dos símbolos.

É o que acontece no olhar que busca alcançar a terceira margem do rio. Olhares que se aproximam e se distanciam a cada vez que se dispõem seguir as curvas do rio sem se banhar, assim se desfolham no mergulho e cansam, mas logo se descobrem ainda mais envolvidos no curso dessa viagem. Essa é a parte mais profunda, viver ao navegar, é preciso.


na tela ou dvd

  • 12 Horas até o Amanhecer
  • 1408
  • 1922
  • 21 Gramas
  • 30 Minutos ou Menos
  • 8 Minutos
  • A Árvore da Vida
  • A Bússola de Ouro
  • A Chave Mestra
  • A Cura
  • A Endemoniada
  • A Espada e o Dragão
  • A Fita Branca
  • A Força de Um Sorriso
  • A Grande Ilusão
  • A Idade da Reflexão
  • A Ilha do Medo
  • A Intérprete
  • A Invenção de Hugo Cabret
  • A Janela Secreta
  • A Lista
  • A Lista de Schindler
  • A Livraria
  • A Loucura do Rei George
  • A Partida
  • A Pele
  • A Pele do Desejo
  • A Poeira do Tempo
  • A Praia
  • A Prostituta e a Baleia
  • A Prova
  • A Rainha
  • A Razão de Meu Afeto
  • A Ressaca
  • A Revelação
  • A Sombra e a Escuridão
  • A Suprema Felicidade
  • A Tempestade
  • A Trilha
  • A Troca
  • A Última Ceia
  • A Vantagem de Ser Invisível
  • A Vida de Gale
  • A Vida dos Outros
  • A Vida em uma Noite
  • A Vida Que Segue
  • Adaptation
  • Africa dos Meus Sonhos
  • Ágora
  • Alice Não Mora Mais Aqui
  • Amarcord
  • Amargo Pesadelo
  • Amigas com Dinheiro
  • Amor e outras drogas
  • Amores Possíveis
  • Ano Bissexto
  • Antes do Anoitecer
  • Antes que o Diabo Saiba que Voce está Morto
  • Apenas uma vez
  • Apocalipto
  • Arkansas
  • As Horas
  • As Idades de Lulu
  • As Invasões Bárbaras
  • Às Segundas ao Sol
  • Assassinato em Gosford Park
  • Ausência de Malícia
  • Australia
  • Avatar
  • Babel
  • Bastardos Inglórios
  • Battlestar Galactica
  • Bird Box
  • Biutiful
  • Bom Dia Vietnan
  • Boneco de Neve
  • Brasil Despedaçado
  • Budapeste
  • Butch Cassidy and the Sundance Kid
  • Caçada Final
  • Caçador de Recompensa
  • Cão de Briga
  • Carne Trêmula
  • Casablanca
  • Chamas da vingança
  • Chocolate
  • Circle
  • Cirkus Columbia
  • Close
  • Closer
  • Código 46
  • Coincidências do Amor
  • Coisas Belas e Sujas
  • Colateral
  • Com os Olhos Bem Fechados
  • Comer, Rezar, Amar
  • Como Enlouquecer Seu Chefe
  • Condessa de Sangue
  • Conduta de Risco
  • Contragolpe
  • Cópias De Volta À Vida
  • Coração Selvagem
  • Corre Lola Corre
  • Crash - no Limite
  • Crime de Amor
  • Dança com Lobos
  • Déjà Vu
  • Desert Flower
  • Destacamento Blood
  • Deus e o Diabo na Terra do Sol
  • Dia de Treinamento
  • Diamante 13
  • Diamante de Sangue
  • Diário de Motocicleta
  • Diário de uma Paixão
  • Disputa em Família
  • Dizem por Aí...
  • Django
  • Dois Papas
  • Dois Vendedores Numa Fria
  • Dr. Jivago
  • Duplicidade
  • Durante a Tormenta
  • Eduardo Mãos de Tesoura
  • Ele não está tão a fim de você
  • Em Nome do Jogo
  • Encontrando Forrester
  • Ensaio sobre a Cegueira
  • Entre Dois Amores
  • Entre o Céu e o Inferno
  • Escritores da Liberdade
  • Esperando um Milagre
  • Estrada para a Perdição
  • Excalibur
  • Fay Grim
  • Filhos da Liberdade
  • Flores de Aço
  • Flores do Outro Mundo
  • Fogo Contra Fogo
  • Fora de Rumo
  • Fuso Horário do Amor
  • Game of Thrones
  • Garota da Vitrine
  • Gata em Teto de Zinco Quente
  • Gigolo Americano
  • Goethe
  • Gran Torino
  • Guerra ao Terror
  • Guerrilha Sem Face
  • Hair
  • Hannah And Her Sisters
  • Henry's Crime
  • Hidden Life
  • História de Um Casamento
  • Horizonte Profundo
  • Hors de Prix (Amar não tem preço)
  • I Am Mother
  • Inferno na Torre
  • Invasores
  • Irmão Sol Irmã Lua
  • Jamón, Jamón
  • Janela Indiscreta
  • Jesus Cristo Superstar
  • Jogo Limpo
  • Jogos Patrióticos
  • Juno
  • King Kong
  • La Dolce Vitta
  • La Piel que Habito
  • Ladrões de Bicicleta
  • Land of the Blind
  • Las 13 Rosas
  • Latitude Zero
  • Lavanderia
  • Le Divorce (À Francesa)
  • Leningrado
  • Letra e Música
  • Lost Zweig
  • Lucy
  • Mar Adentro
  • Marco Zero
  • Marley e Eu
  • Maudie Sua Vida e Sua Arte
  • Meia Noite em Paris
  • Memórias de uma Gueixa
  • Menina de Ouro
  • Meninos não Choram
  • Milagre em Sta Anna
  • Mistério na Vila
  • Morangos Silvestres
  • Morto ao Chegar
  • Mudo
  • Muito Mais Que Um Crime
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