quinta-feira, março 31, 2011

Brasil: grande exportador de itens que precisam de muita água

USO RACIONAL DA ÁGUA PODE SER VANTAGEM PARA BRASIL

por Agência Brasil
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A utilização racional da água nos processos de produção pode ser uma vantagem competitiva para o Brasil, na avaliação de Arjen Hoekstra, professor de gestão dos recursos hídricos da universidade holandesa de Twente e criador do conceito de pegada hídrica.
Para Arjen, o país deverá atrair a atenção internacional, nos próximos anos, por ser um grande exportador de itens que precisam de muita água para serem elaborados, como as commodities agrícolas. Segundo o especialista, para produzir a soja que é exportada para o Reino Unido são consumidos 1,43 milhão de metros cúbicos (m³) de água por ano.
Mesmo com o grande impacto sobre os recursos hídricos, o professor destaca que o Brasil ainda é mais econômico do que outros países que vendem itens semelhantes. “Em muitos casos, a pegada hídrica do Brasil é muito menor do que a do Oriente Médio e a dos Estados Unidos”, ressaltou.
A pegada hídrica é um conceito desenvolvido por Arjen Hoekstra e difundido pela Water Footprint Network. A proposta é padronizar a quantificação da água usada e contaminada na elaboração de produtos. Com isso o consumidor pode saber quais itens são mais sustentáveis.
Adotar uma posição comercial que leve em consideração a redução do consumo de água na produção pode abrir espaço para o Brasil no mercado internacional, na opinião do coordenador de Estratégia de Água Doce da organização não governamental (ONG) The Nature Conservancy, Albano Araújo.
Ele lembra que a economia de recursos naturais é também uma maneira de as empresas reduzirem gastos. “Reduzir a pegada hídrica significa reduzir custos e consumo de energia e ainda ganhar em imagem.”
No Brasil, cerca de 95% da água são consumidos de forma indireta, por meio da compra de produtos. De acordo com a estimativa de Arjen, cada casa consome, em média, 3,4 mil litros por dia apenas com consumo de produtos agrícolas. O uso doméstico e os produtos industriais são responsáveis, cada um, por mais 190 litros diários.
Em um país mais industrializado, como o Reino Unido, os manufaturados representam um gasto ainda maior de água. Segundo o estudo, cada casa inglesa consome, em média, 1.110 litros diários com esse tipo de produtos, além dos mesmos 3, 4 mil com os itens agrícolas. O uso doméstico é responsável pelo gasto de 150 litros.
A diferença fundamental está no fato de que a pegada hídrica dos lares do Reino Unido está, principalmente, no exterior. O levantamento aponta que cerca de 60% da água consumida nos lares daquele país foram importados. Enquanto, no Brasil, esse índice é de apenas 8%.
(*) publicado por Agência Brasil, via Agência Carta Maior
Fonte: Fundação Perseu Abramo, 23/03/2011

soprando no seu próprio terreno e imprevisíveis...

OS VENTOS DA MUDANÇA

Os ventos da mudança são hoje verdadeiramente mundiais. Por enquanto, o epicentro é o mundo árabe, e os ventos ainda sopram ferozes por lá. A geopolítica desta região nunca mais será a mesma. Os EUA e a Europa Ocidental estão fazendo tudo o que está ao seu alcance para canalizar, limitar e redirecionar os ventos da mudança. Mas o seu poder já não é o que costumava ser. E os ventos da mudança estão soprando no seu próprio terreno. É a maneira de ser dos ventos. A sua direção e impulso não são constantes nem, portanto, previsíveis. Desta vez são muito fortes. Já não será fácil canalizá-los ou redireccioná-los.
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por Immanuel Wallerstein
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Há 51 anos, a 3 de Fevereiro de 1960, o então primeiro-ministro conservador da Grã-Bretanha, Harold Macmillan, dirigiu-se ao parlamento da África do Sul, cuja maioria era do partido que erigira o apartheid como base do seu governo. A sua intervenção ficaria conhecida como o discurso dos “ventos de mudança”. Vale a pena recordar as suas palavras:
“Os ventos da mudança estão a soprar neste continente, e o crescimento da consciência nacional é um fato político, queiramos ou não. Precisamos aceitá-lo como fato político, e as nossas políticas nacionais têm de levá-lo em conta”.
O primeiro-ministro da África do Sul, Hendrik Verwoerd, não gostou do discurso e rejeitou as suas premissas e o seu conselho. 1960 passou a ser conhecido como “O ano da África”, porque 16 colônias tornaram-se estados independentes. O discurso de Macmillan tinha como alvo, na verdade, os Estados do Sul da África que tinham grupos expressivos de colonizadores brancos (e, quase sempre, enormes riquezas minerais) e resistiam à simples ideia do sufrágio universal, na qual os negros constituiriam a esmagadora maioria dos eleitores.
Dificilmente Macmillan poderia ser considerado radical. Explicava o seu raciocínio em termos de conquistar as populações asiáticas e africanas para o lado do Ocidente, na Guerra Fria. O seu discurso foi significativo por ser um sinal de que os líderes da Grã-Bretanha (e, consequentemente, os dos Estados Unidos) viam como causa perdida o domínio eleitoral branco no Sul da África, que poderia arrastar o Ocidente para o abismo. O vento continuou a soprar, e num país após o outro as maiorias negras impuseram-se, até que, em 1994, a própria África do Sul sucumbiu ao voto universal e elegeu Nelson Mandela presidente. Neste processo, porém, os interesses econômicos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos foram de alguma forma preservados.
Há duas lições que podemos aprender deste episódio. A primeira é que os ventos da mudança são muito fortes e provavelmente irresistíveis. A segunda é que quando os ventos varrem os símbolos da tirania, não é certo o que virá a seguir. Quando os símbolos caem, todos, retrospectivamente, os denunciam. Mas todos querem também preservar os seus próprios interesses nas novas estruturas que emergem.
A segunda revolta árabe, que começou na Tunísia e no Egipto, está agora envolvendo mais e mais países. Não há dúvida de que outros símbolos da tirania vão cair, ou vão fazer grandes concessões e promover amplas mudanças nas suas estruturas estatais. Mas quem vai, então, deter o poder? Na Tunísia e no Egipto, os novos primeiros-ministros foram figuras-chave dos anteriores regimes. E o exército, em ambos países, parece estar dizendo às multidões para porem fim aos protestos. Nos dois países, há exilados que regressam, assumem cargos e procuram prosseguir, ou mesmo expandir, os laços com os mesmos países da Europa e da América do Norte que sustentavam os anteriores regimes. É claro que as forças populares estão reagindo e acabam de forçar a renúncia do primeiro-ministro tunisiano.
No meio da Revolução Francesa, Danton aconselhou “de l’audace, encore de l’audace, toujours de l’audace” (“audácia, mais audácia, sempre a audácia”). Ótimo conselho talvez, mas Danton foi guilhotinado não muito tempo depois. E os que o executaram foram guilhotinados em seguida. Depois, vieram Napoleão, a Restauração, 1848, a Comuna de Paris. Em 1989, no bicentenário, quase toda a gente era retrospectivamente a favor da Revolução Francesa, mas é razoável perguntar se a trindade da Revolução Francesa – liberdade, igualdade e fraternidade – foi realmente realizada.
Algumas coisas são diferentes, hoje. Os ventos da mudança são hoje verdadeiramente mundiais. Por enquanto, o epicentro é o mundo árabe, e os ventos ainda sopram ferozes por lá. A geopolítica desta região nunca mais será a mesma. Os pontos-chave a observar são a Arábia Saudita e a Palestina. Se a monarquia saudita for seriamente desafiada – e parece possível que isso aconteça – nenhum regime do mundo árabe vai se sentir seguro. E se os ventos da mudança levarem as duas maiores forças políticas da Palestina a dar-se as mãos, até mesmo Israel pode sentir que é preciso adaptar-se às novas realidades e levar em conta a consciência nacional palestiniana, queira ou não queira, para parafrasear Harold Macmillan.
Desnecessário dizer que os Estados Unidos e a Europa Ocidental estão fazendo tudo o que está ao seu alcance para canalizar, limitar e redirecionar os ventos da mudança. Mas o seu poder já não é o que costumava ser. E os ventos da mudança estão soprando no seu próprio terreno. É a maneira de ser dos ventos. A sua direção e impulso não são constantes nem, portanto, previsíveis. Desta vez são muito fortes. Já não será fácil canalizá-los, limitá-los ou redirecioná-los.
(*) Tradução, revista pelo autor, de Luis Leiria para o Esquerda.net
Fonte: Carta Maior | Internacional, 26/03/2011

quarta-feira, março 30, 2011

aquele momento memorável

NOTHING WILL GONNA CHANGE MY WORLD?
(lembretes ao vento)
a) "Existe uma sociedade que premia aquele que abre caminho para as alturas, e outra que reconhece o valor humano daquele que abandona o ego".
b) "O tempo serve para que se entenda aonde se está, não para que fique correndo para outro lugar".
c) Só pense em algo que consideraria absurdo, estranho, impossível, difícil de você acreditar, esperar, fazer, mudar, criar, entender, conquistar, ajudar, acredite ser capaz de se ver sob um outro ângulo, e ter encontrado uma solução. Extraordinário. Se dar ao momento, sem exigir ou esperar um retorno, aceitar receber menos do que pediu, ser semelhante ao outro carente, voltar à sua natureza; experimente sentir-se como parte do todo, pois na verdade ninguém é senhor de nada nem de ninguém. Então você já estará dando uma chance a uma possível mudança em você, sem perceber estará transformando o mundo.
JAMNOMAM – JAZZ NO “SOL(U)AR” DO UNHÃO
(coisas da música)
Aquela lua cheia, uma bem grande lua, um “sol(u)ar” prateando, lá por cima das palhas dos coqueiros entre as duas torres da igreja do Solar, banhava generosamente a todos; Ange dançando combinava com aquele momento memorável; curiosamente Horácio se concentrava no desempenho dos músicos, observava em flashes o movimento noturno dos assentados ouvintes em banquinhos de madeira, uns tantos em pé conversavam bebendo da penumbra, mas, assim mesmo, se olhando imóveis aos apelos do som que sobrava. A lua em cheia, a energia bem líquida perfumava o largo pátio, em todos os sentidos ocupava o espaço do jazz que os extasiava. 

necessidade da redução das desigualdades e do cuidado ao meio ambiente

CADÊ O SOCIAL DO BNDES?

Entrevista com Gabriel Strautman*
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O economista Gabriel Strautman é enfático ao criticar o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES às grandes obras de infraestrutura no país e, principalmente, os megaeventos planejados para acontecerem no Brasil nos próximos anos. A principal questão levantada por Strautman na entrevista que concedeu à IHU On-Line por telefone é a falta de transparência do banco quanto aos projetos que ele financia, tanto no que diz respeito aos juros aplicados quanto aos métodos de avaliação dos projetos aprovados. “O BNDES tem buscado fazer com que as indústrias que ele apoia se transformem em empresas orientadas para a globalização, com capacidade de disputar mercados globais. Portanto, não estamos falando de diversificação da economia doméstica, de maior integração regional dentro do país”, relatou.
IHU On-Line – Qual é o papel do BNDES no setor produtivo brasileiro de hoje? O banco tem cumprido seu papel social?
Gabriel Strautman – Não, ele não tem cumprido um papel social. O nome do bando é Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Embora incorpore o social na sua sigla, ele tem focado só no plano econômico. E tem agido num só sentido de desenvolvimento econômico que não privilegia um projeto de sociedade e economia redistributiva que reduza as desigualdades no Brasil. O BNDES hoje cumpre cada vez mais um papel importante no financiamento da política industrial brasileira e financia uma política econômica voltada apenas para o crescimento da economia a despeito dos direitos da população, da necessidade da redução das desigualdades e do cuidado e do zelo ao meio ambiente do Brasil.
IHU On-Line – Podemos dizer que o BNDES se tornou, nos últimos anos, o principal banco financiador dos grandes projetos no Brasil?
Gabriel Strautman – Certamente, e não apenas no Brasil como também na América Latina. O BNDES, desde 2003, se tornou uma ferramenta central no financiamento do desenvolvimento do Brasil, desbancando antigas instituições financeiras multilaterais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no papel de principais atores do financiamento do desenvolvimento. Isso, obviamente, do ponto de vista dos bancos.
“O BNDES a partir do governo Lula se tornou o segundo maior banco de desenvolvimento do mundo”
O BNDES a partir do governo Lula se tornou o segundo maior banco de desenvolvimento do mundo. Ele supera os financiamentos do BID e do Banco Mundial somados na América Latina. Então, o BNDES hoje está por trás dos grandes projetos energéticos, como as usinas hidrelétricas dos rios Madeira, Jirau e Santo Antônio, assim como o questionável projeto de Belo Monte. Além disso, está por trás dos principais projetos destruidores do meio ambiente do Brasil. Entre seus financiados ainda estão a Companhia Siderúrgica do Atlântico e a Vale. Hoje, o BNDES está preparado também para financiar a construção de seis usinas hidrelétricas na Amazônia Peruana.
IHU On-Line – Luciano Coutinho, presidente do BNDES, diz que muitos dos investimentos que o banco tem feito evitam, em diversos casos, que as empresas beneficiadas quebrem. O que seria da economia brasileira atual sem o BNDES?
Gabriel Strautman – Não há dúvida que o BNDES é uma ferramenta importante para o desenvolvimento da nossa economia. Mas o que questionamos é porque o banco financia um projeto tão polêmico quanto Belo Monte e não incentiva o avanço da pequena indústria, por exemplo? E mais do que isso: Por que o BNDES não apoia o desenvolvimento da economia solidária? Não há dúvida de que o BNDES é um ator importante no desenvolvimento econômico do país. Ponto. Mas ele precisa financiar outras coisas e não apenas os projetos cuja viabilidade econômica é questionável.
IHU On-Line – Como o senhor avalia a forma como as empresas se utilizam dos financiamentos promovidos pelo banco?
Gabriel Strautman – A estratégia do BNDES no apoio às indústrias no Brasil se dá de maneira concentrada e problemática. Isso porque não existe transparência na maneira como ele apoia esses projetos. Por exemplo: o banco, quando analisa um projeto como Belo Monte ou a própria Vale, não diz para a sociedade brasileira como faz essa avaliação; ele não apresenta como classifica esses projetos e empresas quanto ao risco ambiental; e não mostra a taxa de juros com a qual ele subsidia os financiados.
O BNDES não tem transparência. O banco sempre alega sigilo bancário para não repassar essas informações. E justamente por isso não temos elementos para entender a forma como o BNDES trata essas empresas e projetos. E isso demonstra que o banco trata de maneira privilegiada um pequeno grupo de grandes empresas que recebem verba do tesouro nacional a partir da emissão de títulos da dívida pública brasileira. Ou seja, são todos os brasileiros e brasileiras que beneficiam empresas concentradoras da atividade econômica e causam grandes impactos na vida das pessoas e também do meio ambiente.
IHU On-Line – Em relação à Copa do Mundo de Futebol de 2014, como avalia o apoio que o BNDES tem dado às obras produzidas para esse evento?
Gabriel Strautman – Com base nisso tudo que acabei de falar, que olhamos para a atuação do banco no que diz respeito aos financiamentos dos megaeventos e levantamos uma série de questionamentos. Quando olhamos o que o BNDES está fazendo, percebemos que ele está preparado para dar um apoio de 4,8 bilhões de reais apoiando ações de infraestrutura urbana, mas também na reforma de estádios.
Em termos de arenas esportivas, a nossa questão é a seguinte: em várias cidades questiona-se a construção de novos estádios quando o que poderia ser feito era justamente a reforma de arenas antigas. E o BNDES não explicita as razões pelas quais ele preferiu apostar na construção de uma nova arena em vez de reformar uma que já existe. Como o banco não tem transparência, não temos dados suficientes para cobrar esse tipo de questão.
No Rio de Janeiro vai ser construída uma grande via urbana que vai ligar a Tijuca ao aeroporto internacional da cidade. Ora, quando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) defenderam da Copa do Mundo de Futebol e dos Jogos Olímpicos eles falaram que as Olimpíadas trariam benefícios para a cidade e para o conjunto da sociedade como um todo. Então, por que apenas ligar uma zona da cidade que já é conhecida pela valorização imobiliária com o aeroporto internacional? Estamos falando que só uma parte da cidade pode receber melhoras em termos de infraestrutura urbana? Essas questões também valem para a Caixa Econômica Federal, que vai financiar todo tipo de mobilidade urbana necessária. Por que não consultaram a população como um todo? Por que só as intervenções defendidas pelo COB e CBF foram levadas adiante? É dinheiro público que estão usando!
O discurso do Sr. Carlos Arthur Nuzman e do Sr. Ricardo Teixeira, quando esses eventos foram anunciados para o Brasil, era de que as duas iniciativas seriam financiadas com dinheiro privado. E agora vemos que 98,5% do dinheiro que vai financiar as iniciativas para a Copa e para as Olimpíadas é público.
IHU On-Line – Quem sai beneficiado dessa aliança entre o BNDES e os megaeventos como a Copa e as Olimpíadas?
Gabriel Strautman – Em primeiro lugar, todo mundo que está associado a esse projeto. Comitê Olímpico Internacional (COI), Federação Internacional de Futebol (Fifa), CBF e COB, esses senhores que se intitulam donos dos jogos, são os principais responsáveis por se capitalizarem nessa história. São eles que fazem contratos com as grandes empresas apoiadoras, seja do campo imobiliário seja as principais empresas de marketing esportivo. É um punhado de grandes empresas, tais como Odebrecht e Camargo Correa.
IHU On-Line – A princípio, a Copa do Mundo vai custar 17 bilhões de reais, enquanto isso se gasta 13 bilhões de reais com o Bolsa Família por ano. Como vê as cifras da Copa quando colocadas frente a frente com projetos que foram tidos como prioritários pelo governo?
Gabriel Strautman – A Dilma deu uma declaração em que afirmou que os investimentos para a Copa podem chegar a 33 bilhões de reais. Precisamos fazer esse e ainda outros cálculos como: quanto se gasta com reforma agrária no Brasil por ano? Quanto é o salário de um professor do Ensino Médio das principais cidades brasileiras? Com o dinheiro que vai ser gasto com a Copa do Mundo de futebol quantos professores poderiam ser contratados e qual salário poderia ser pago com isso? Essas comparações são urgentes!
O Brasil só tem privilegiado grandes projetos de infraestrutura e sempre com o discurso que isso vai desenvolver a economia, que vai gerar emprego. Esse mesmo discurso vale para os megaeventos. “Os megaeventos vão trazer investimentos internacionais”… “Empregos serão gerados”. Só que são empregos que vão ser gerados até o fim da Copa. E depois? Além disso, serão empregos gerados de maneira precária, ou seja, a maioria será terceirizada com menos direitos trabalhistas. É preciso que se diga isso.
Por outro lado, se investimentos de longo prazo forem feitos, como reforma agrária, educação, mobilidade urbana, acesso às cidades, avanços de direitos, a sociedade poderá ter acesso a direitos permanentes. Acabamos ficando presos em uma espécie de armadilha e num ciclo vicioso preso numa ilusão de que esses projetos de curto prazo trarão benefícios de longo prazo.
No dia em que o povo brasileiro perceber que o valor de uma entrada de partida de futebol será tão cara que, com o seu salário, não será possível comprar o ingresso para o jogo, aí perceberão que a Copa do Mundo não é um evento popular.
IHU On-Line – Qual é o papel do BNDES na formação do capitalismo brasileiro ao longo das últimas décadas?
Gabriel Strautman – O BNDES vai fazer 60 anos em 2012. Até 2003 ele tinha um papel importante de financiamento da indústria, mas esse papel passou a ser muito mais relevante depois de 2003. Ele foi responsável, na ditadura particularmente, por financiamentos de grandes projetos, assim como faz hoje. A diferença é que até 2003 os megaprojetos recebiam mais dinheiro do Banco Mundial. Só que isso não é suficiente.
Além disso, o BNDES tem buscado fazer com que as indústrias que ele apoia se transformem em empresas orientadas para a globalização, com capacidade de disputar mercados globais. Portanto, não estamos falando de diversificação da economia doméstica, de maior integração regional dentro do país… Por isso, é preciso lutar para que o BNDES se democratize e isso começa pela pressão por maior transparência em relação aos dados do banco.
IHU On-Line – Como o senhor vê o funcionamento da Plataforma BNDES? Esse grupo tem sido ouvido e respeitado pelo banco?
Gabriel Strautman – A Plataforma BNDES é uma experiência muito importante porque ela parte de um trabalho que já era feito pelo Banco Mundial e começa a aplicar numa instituição brasileira. O BNDES precisa ser uma instituição mais democrática. A Plataforma BNDES começou a questionar isso tudo em 2007, construiu um documento muito interessante que não fica apenas na crítica ao banco, mas avança no sentido de alternativas para o BNDES e, a partir disso, instala um processo de diálogo com o banco. Como é um banco que não tem cultura de participação de acesso às informações, ele não apostou no diálogo com a Plataforma BNDES.
(*) Gabriel Strautman é economista formado pela Universidade de Brasília e mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente, é o secretário executivo da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais.
Publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
Fonte: Ecodebate, 28/03/2011

terça-feira, março 29, 2011

‘Pegada Hídrica’

O CONSUMO DE ÁGUA ESCONDIDO NOS PRODUTOS

Debate sobre ”pegada hídrica” sai da academia e ganha força; para criador do conceito, ideia é ampliar conscientização e reduzir uso da água
Um total de 140 litros de água são consumidos direta e indiretamente em toda a cadeia produtiva do café para que se possa tomar uma xícara dessa bebida, segundo a Water Footprint Network (WFN). Se trocarmos o café pelo chá, diz a organização, contribuiremos para a economia de água: para fazer uma xícara de chá padrão, de 250 ml, são necessários 30 litros de água.
Além do café e do chá, a WFN coloca à disposição dados sobre o consumo de água na elaboração de diversos produtos. Para um quilo de açúcar são consumidos em média 1,5 mil litros de água; para uma taça de vinho, 120 litros; para um quilo de carne bovina, 15 mil litros – dependendo das características regionais, há variação nos números. Essa quantidade de água para produção de um bem recebeu o nome de “pegada hídrica”.
por Afra Balazina O Estado de S.Paulo
O holandês Arjen Hoekstra, diretor científico da WFN, criou há dez anos esse conceito, na Universidade de Twente. Porém, só mais recentemente o debate saiu da academia e começou a chamar a atenção de consumidores e empresas.
Na semana passada, Hoekstra participou de um encontro com empresários em São Paulo e também deu um curso, do qual participaram funcionários da Ambev, do Banco do Brasil, do HSBC e de Itaipu, entre outros.
A Natura, por exemplo, da área de cosméticos, é parceira da WFN e já começou a aplicar a metodologia da organização. “O primeiro estudo que realizamos em parceria com o WFN foi um piloto de cálculo da pegada hídrica de dois produtos do portfólio da Natura”, diz Janice Casara, gerente de sustentabilidade da empresa. O piloto foi concluído no ano passado e, agora, estão sendo realizadas pesquisas complementares.
De acordo com Hoekstra, as empresas por enquanto estão numa “fase exploratória” – ou seja, ainda não estão num estágio de ter metas de redução de pegada hídrica. Ele conta que há grande interesse em geral da indústria de bebidas e de alimento, mas que ainda não provocou muita curiosidade do setor da mineração. “Enquanto o consumidor vê a relação entre o gasto de água para a produção de comida e bebida, o mesmo não ocorre com a mineração. Então, o setor fica mais quieto.”
Segundo Hoekstra, o objetivo não é necessariamente criar selos ou certificação para quem medir a pegada hídrica. Mas simplesmente conseguir ampliar a conscientização e reduzir o consumo de água. “Não adianta fazer um selo se isso não significar uma diminuição do uso de água”, opina.
No levantamento da pegada hídrica entre os países, o Brasil está pouco acima da média mundial – são 1.381 metros cúbicos per capita por ano, contra 1.243 metros cúbicos per capita ao ano no mundo. Para se ter uma ideia, a da China é de 700 e a dos Estados Unidos, de 2,5 mil.
Quem tiver interesse, é possível calcular a pegada hídrica pessoal no site
Sem vilões. O ex-secretário estadual do Meio Ambiente Xico Graziano está preocupado com o uso do conceito de forma preconceituosa, colocando a agricultura como vilã. Ele também discorda das campanhas ambientais que defendem que para ser ecológico é preciso voltar ao passado.
“Mas acho interessante contar, além dos custos econômicos, o custo dos recursos naturais, especialmente a água. As empresas podem usar isso como ferramenta de marketing e o consumidor poderá optar pelo que emite menos gás carbônico e menos água. Faz parte da preparação para uma economia verde.”
O que é levado em conta para a pegada
Água azul
Volume de águas superficiais e subterrâneas consumidas como resultado da produção de um bem ou serviço.
Água verde
Volume de água da chuva consumida durante a produção. É relevante principalmente para produtos agrícolas e florestais e se refere à perda de água da chuva de campos e plantações por transpiração, além da água incorporada ao produto colhido.
Água cinza
Indicador de poluição de água doce que pode ser associado a um produto ao longo de sua cadeia de abastecimento global. É calculado como o volume de água necessário para diluir os poluentes de tal forma que a qualidade da água continue acima dos padrões de qualidade.
Fonte: EcoDebate, 25/03/2011
Nota do EcoDebate: sobre o mesmo tema sugerimos que leiam a matéria “Conceito de ‘Pegada Hídrica’ incentiva o uso responsável da água“.

até que o Brasil conseguiu preservar um pouco seu sistema previdenciário

PONTOS SOBRE A PREVIDÊNCIA SOCIAL (I)

Até o início da crise de 2008, as propostas que emanavam do então sólido e inquestionável Consenso de Washington sugeriam, pelo mundo afora, a privatização dos regimes previdenciários públicos. Alguns países levaram tal sandice a sério e depois se arrependeram amargamente da aventura.

Todo início de governo é a mesma coisa. Certos temas que enfrentaram alguma dificuldade de aprovação na legislatura anterior voltam à agenda política e os “lobbies” começam a se movimentar em torno de uma estratégia para fazer com que voltem a ser apreciados.
O discurso começa de forma ampla e genérica, na linha do “nosso País necessita reformas estruturais urgentes que estrangulam a capacidade de desenvolvimento” e por aí vai. Na pauta, dois pontos estão sempre presentes: a reforma tributária e a reforma previdenciária. De acordo. Em tese, por exemplo, ninguém se coloca contra uma reforma tributária. A questão se torna mais complicada, porém, quando começam os debates a respeito de qual o tipo de alteração que se pretende implementar. Adotar um sistema tributário menos desigual, com maior progressividade, de maneira a fazer com que o capital e os setores que obtêm mais renda e patrimônio paguem o que deveriam? Não, não! Os interesses que vão por aqui se orientam pelo discurso pretensamente liberal da nossa suposta carga tributária excessiva e coisa e tal. As propostas se resumem à redução de impostos. Se faltarem recursos orçamentários para cumprir as obrigações previstas na Constituição e as urgentes necessidades da maioria da população, paciência. Reduza-se o tamanho do Estado e a solução está dada.
Com a questão previdenciária ocorre algo semelhante. Vira e mexe os meios de comunicação começam a ser municiados com números e análises catastrofistas a respeito da situação das nossas contas previdenciárias. E assim vieram as reformas previdenciárias de Fernando Henrique Cardoso em 1998 e de Lula em 2003, por meio de emendas à Constituição Federal. 
Isso sem contar a outra maldade do famigerado fator previdenciário, criado por FHC em 1999 e cuja lei foi considerada “imexível” desde então, inclusive pelos governos do PT. O discurso mentiroso e alarmista joga com números que assustam, buscando criar o falso consenso de que o modelo do Regime Geral da Previdência Social (RGPS) estaria falido e seria insustentável para o País.
Até o início da crise de 2008, as propostas que emanavam do então sólido e inquestionável Consenso de Washington sugeriam, pelo mundo afora, a privatização dos regimes previdenciários públicos. Alguns países levaram tal sandice a sério e depois se arrependeram amargamente da aventura, como a Inglaterra, o Chile e a Argentina. Naqueles tristes tempos da violência ideológica do neoliberalismo, até que o Brasil conseguiu preservar um pouco seu sistema previdenciário. O regime gerido pelo INSS continua sendo de natureza pública, mantido pela União.
A experiência internacional nos apresenta, basicamente, dois modelos previdência. Um deles é o chamado “sistema de repartição”. O outro é o “sistema de capitalização”. No Brasil, o modelo criado por Getúlio Vargas, e que completou 88 anos em janeiro passado, é baseado no princípio da repartição. Isso significa que, a cada momento, o sistema se equilibra com base no princípio da solidariedade inter-generacional. Ou seja, os trabalhadores que estão ainda na ativa contribuem para a formação de um fundo que se transforma imediatamente nos benefícios que são conferidos aos que já estão aposentados. Já os modelos da capitalização (tanto individuais como coletivos) partem do princípio de que cada indivíduo ou cada geração contribui para um fundo, que se capitaliza ao longo de um período e depois se converte em prestações mensais para quando seus participantes estiverem na fase de inatividade.
O olho gordo da turminha das finanças é justamente para o enorme volume de recursos oferecido por qualquer modelo de previdência social. Como o nosso ficou intocável, eles cresceram pelo lado das previdências complementares abertas (essas que todo gerente de banco nos oferece e que o governo estimula por meio da redução de Imposto de Renda a pagar) e dos fundos de pensão. Outro detalhe que amplia ainda as opções de negócios desse ramo é a contenção do teto-limite dos benefícios do INSS – que deveria ser de 10 salários mínimos – R$ 5.100, mas na prática não passa de pouco mais de R$ 3.700. Ou seja, isso obriga boa parte da classe média a buscar a esperança da complementação da aposentadoria nos fundos privados. Aceitar o modelo de privatização do INSS, como chegou a ser sugerido no passado, seria colocar adicionalmente um fluxo anual de recursos equivalente a 9% do PIB para rodar na ciranda financeira!
Ao que tudo indica, a movimentação atual vem se dando novamente na linha da desconstrução do nosso modelo. Como ainda estão bastante isolados e desacreditados em suas propostas mais radicais, os defensores do neoliberalismo tupiniquim estabeleceram uma postura de ataque defensivo, digamos assim. Quase uma guerra de guerrilha. Vai lá, corre, ataca, tenta fazer um belo estrago e volta correndinho prá trincheira. Se não há espaço político para defender abertamente a privatização do modelo, imaginam, ao menos tentemos reduzir sua credibilidade e vamos continuar comendo pelas beiradinhas.
As manchetes dos grandes jornais não tardarão a apresentar os números. O interessante é que esse ano eles ainda estão um pouco atrasados na divulgação das informações da Previdência Social. Pois, então, vamos lá, ajudá-los na tarefa. “INSS apresenta déficit astronômico em 2010: R$ 44 bilhões!”. E dá-lhe entrevistas com os chamados “especialistas” das consultorias econômicas a deitarem falação a respeito do que não conhecem muito bem. Mas então como foi mesmo o resultado da previdência para o ano passado? As informações estão todas lá na página do Ministério da Previdência (1) . Qualquer um pode acessar os dados. O segredo de tudo está justamente em melhor analisar os números e retirar deles a sua verdadeira dimensão.
O primeiro passo é identificar como são construídos os Balanços Anuais da Previdência. Desse ponto de vista, o quadro para 2010 foi o seguinte:
BALANÇO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL – 2010  
(Valores em R$ bi)
Arrecadação de contribuições
212
Pagamento de benefícios
256
Saldo (Déficit)
– 44
   Fonte: MPS
Para quem não tem muita familiaridade com o tema, parece que o sistema realmente está complicado. Afinal, um déficit de R$ 44 bilhões, correspondente a quase 20% do valor das arrecadações, seria algo expressivo para efeito do equilíbrio do nosso modelo previdenciário. Porém, a realidade é bastante mais complexa do que se pode imaginar. E há inúmeros fatores, exógenos ao modelo do INSS e à sua gestão, que contribuem para tal situação. Vamos aos poucos.
O primeiro aspecto a considerar é um mandamento constitucional a respeito do reconhecimento dos direitos dos trabalhadores agrícolas ao modelo previdenciário. Até antes de 1988, de acordo com a antiga ordem constitucional, esse importante setor de nossa sociedade estava excluído do usufruto dos benefícios do INSS para quando entrassem em seu período de inatividade. Tratou-se de uma importante decisão de inclusão social, mas que teve, obviamente, os seus impactos sobre a estrutura de despesas do Orçamento Geral da União. Em outras palavras: a partir do momento do reconhecimento de tal direito, as aposentadorias e pensões (diga-se, de passagem, limitadas ao valor de um salário mínimo!!) passaram a ser concedidas sem que aqueles participantes houvessem contribuído para o RGPS ao longo de sua vida laboral. E muito consultor mal intencionado ainda tem a desfaçatez de qualificar esse pequeno passo em direção a um mínimo de cidadania como “descalabro escandaloso para com as contas públicas”!
Ora, em função de tal decisão - mais do que justa e adotada pela própria sociedade - o Estado nada mais fez do que começar a pagar mensalmente esses benefícios aos aposentados rurais. E o seu peso na estrutura administrativa e financeira do INSS é tal que a própria instituição começou a apresentar seus balanços de forma detalhada. E lá nós podemos perceber que a leitura dos números de déficit deve ser feita com mais cautela. Ora, mas por que? Simplesmente pelo fato de que dos R$ 256 bi acima mencionados, relativos total dos benefícios pagos em 2010, algo em torno de R$ 57 bi referem-se a benefícios devidos aos rurais.
E o pulo do gato é o seguinte: o Estado brasileiro simplesmente ordenou ao INSS que passasse a pagar os benefícios, mas não aportou ao órgão previdenciário os valores relativos ao histórico das contribuições de cada um desses milhões de beneficiários recentemente incluídos. Ora, aí não há mágica que resista! A contabilidade da previdência passou a incluir uma conta crescente de despesas sem a contrapartida da contribuição por parte do empregador e do trabalhador, como sempre acontece nos demais casos. E aí surge o déficit, óbvio! No caso específico dos rurais, em 2010 esse valor foi de R$ 52 bi negativos. Corresponde a uma despesa de R$ 57 bi contra apenas R$ 5 bi de arrecadação de contribuições. Um resultado, aliás, mais do que esperado, tendo em vista a decisão política soberana de promover o acesso dessa população do campo ao mundo previdenciário.
A solução mais adequada, que sugere a maioria dos analistas lúcidos e não comprometidos com as concepções estreitas do fiscalismo exacerbado, seria a União aportar o valor hipotético das contribuições dos beneficiários rurais ao INSS, para que então se tivesse uma radiografia mais precisa de seu equilíbrio atuarial, como se diz para esse tipo de “contabilidade previdenciária”. E aí poderíamos confirmar que o sistema, ao contrário do que é maldosamente alardeado, está sim, equilibrado! No caso dos trabalhadores urbanos, por exemplo, em 2010 houve um total de despesas com benefícios de R$ 204 bi, enquanto a arrecadação foi superior a R$ 212 bi. Ou seja, um resultado positivo de R$ 8 bilhões.
O que é mais impressionante é que esse tipo de informação não circula nos órgãos de comunicação. Ao que tudo indica, pelo simples fato de não interessar a busca de explicações mais realistas para os fenômenos econômicos e de políticas públicas, que saiam do discurso repetitivo do “rombo do INSS”. Mas a questão previdenciária é ainda muito complexa. E em respeito ao espaço da página e à paciência de vocês, o tema será ainda objeto de seqüência deste artigo na próxima semana.
NOTA
Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.
Fonte: Carta Maior | Debate Aberto, 24/03/2011

sexta-feira, março 18, 2011

a tragédia no Japão estilhaçou o espelho da ilusão

SEGURANÇA NUCLEAR É ILUSÓRIA

Para o físico nuclear e expert em meio ambiente José Goldemberg, como num conto de Alice, a tragédia no Japão estilhaçou o espelho da ilusão de controle sobre as usinas atômicas no mundo
por Vanessa Barbosa - Exame.com - 17/03/2011
Embalada pela entrada do tema das mudanças climáticas na agenda global, na última década, a indústria nuclear caiu nas graças de muitos países por ser considerada de baixa emissão. Nesse novo processo de expansão, chamado de renascimento nuclear, o setor conseguiu recuperar a imagem de produção energética segura e controlada, que havia sido severamente abalada após as catástrofes de Three Mile Island, em 1957 e Chernobyl, a pior da história, quase trinta anos depois. 
Mas a onda de sorte da energia nuclear pode estar com os dias contados. Diante da iminência de uma catástrofe atômica no Japão, muitos países estão suspendendo seus programas nucleares e revisando protocolos de segurança. Para um dos maiores especialistas em energia, o físico nuclear e professor da USP José Goldemberg, não há dúvidas que de que a imagem de segurança da energia nuclear foi novamente abalada. Uma segurança, segundo ele, que nunca passou de mera fantasia. 
Em entrevista à EXAME.com, o físico eleito pela revista Times um dos Heróis do Meio Ambiente, em 2007, e vencedor do Prêmio Planeta Azul, considerado o 'Nobel' da área, comparou o acidente japonês ao popular conto de Lewis Carrol. "Como em Alice no País das Maravilhas, o espelho da ilusão de segurança das usinas nucleares foi estilhaçado", disse. Goldemberg chamou de 'equivocado' o programa nuclear brasileiro e falou da necessidade de se adotar novas alternativas energéticas. 
EXAME.com - A crise no Japão levanta preocupações com a segurança das usinas nucleares em todo o mundo. Como o senhor avalia essa situação? 
José Goldemberg - É natural que, diante de uma catástrofe como essa, os países recuem em seus programas nucleares. Isso já aconteceu antes. Nas décadas de 70 e 80, a energia nuclear viveu uma grande expansão e ficou competitiva em decorrência da crise do petróleo, que afetou os preço do combustível e do gás, e da necessidade de segurança energética. Na França, por exemplo, que queria se ver livre da importação de gás da Rússia para suas centrais térmicas, a adoção da energia nuclear foi determinante. 
Nesse período, inauguravam-se cerca de 30 usinas por ano em todo o mundo. Assim foi até 1979, quando ocorreu o desastre nuclear de Three Mile Island, nos EUA, que abalou a confiança no setor. A situação piorou em 86, com a explosão do reator de Chernobyl. Daí em diante, o setor nuclear praticamente paralisou, inaugurando apenas três usinas por ano. 
EXAME.com - Mas aí veio o renascimento nuclear... 
José Goldemberg - Sim. Com o desenvolvimento de sistemas de segurança mais apurados, os reatores nucleares ficaram mais caros até 1995. A salvação para o setor veio nos anos seguintes, com as discussões sobre emissão de gases efeito estufa e mudanças climáticas. 
Na ocasião, os países já haviam retomado a confiança nessa forma de geração e o setor viu nessa nova pauta ambiental uma oportunidade para aumentar a participação da energia nuclear na matriz energética mundial. Os Estados Unidos lideraram essa nova expansão com importantes susbsídios para estimular a criação de usinas. Outros países fizeram igual e a indústria se reanimou. Até a semana passada, antes da tragédia no Japão, a ideia do renascimento nuclear vinha ganhando força. 
EXAME.com - Então o acidente na Ásia afetou o ciclo de crescimento da energia nuclear? As usinas deixaram de ser seguras ou a culpa é dos desastres naturais? 
José Goldemberg - Com ou sem desastres naturais, usinas nucleares sempre foram perigosas. Nenhuma tecnologia é 100% segura. O acidente no Japão lembra o conto de Alice no País das Maravilhas. O espelho se estilhaçou, a segurança era ilusória. Quem trabalha com energia nuclear sabe como ela é perigosa, por sua própria natureza. 
Um reator precisa ser refrigerado, tem que ter água circulando dentro dele. Se por uma falha, isso deixa de acontecer, ele derrete e temos então uma catástrofe, como aconteceu em Tree Mile Island, que teve o mesmo grau de gravidade do acidente no Japão. Não foi um desastre natural que atingiu a usina americana, foi uma válvula que encrencou, falha de segurança. 
EXAME.com - Segundo o governo, o programa nuclear brasileiro, que prevê, além de Angra 3, mais quatro ou oito usinas até 2030, não será abalado. O que o senhor acha disso? 
José Goldemberg - No Brasil, a energia nuclear é dispensável. Não precisamos disso. Apesar de atraente, esse tipo de geração deve ser a última das opções, restrita a países que não têm outra opção, como a França. Quando Angra 3 ficar pronta, a energia gerada será menor que o potencial de produção de energia do bagaço de cana, que só em São Paulo é de 2 milhões de kilowatts. Trata-se da energia de dois reatores nucleares. Devemos apostar mais na biomassa e nas hidrelétricas, ainda há muito potencial para ser aproveitado. 
EXAME.com - O momento é propício para as energias alternativas?
José Goldemberg - Sem dúvida, a tragédia nuclear no Japão vai dar um impulso nos investimentos em energia renovável em todo o mundo. A Alemanha, que anunciou o desligamento de suas usinas nucleares, já investe pesado em energia eólica e isso só tende a aumentar. 
Por aqui, temos que dar mais atenção à energia eólica no Norte do país, os ventos bons estão lá no Piauí, no Ceará, no Norte do Maranhão. E não adianta dizer que faltam boas linhas de transmissão ligando o Norte ao Sul. Todas as dificuldades técnicas para longas distâncias já foram resolvidas há trinta anos, com a hidrelétrica de Itaipu, que é muito longe. O que falta é interesse político.
Fonte: Planeta Sustentável, 18/03/2011

o encontro com a realidade dos riscos inerentes à energia nuclear

ANTES E DEPOIS

por Miriam Leitão
A energia nuclear passará inevitavelmente por uma revisão no mundo inteiro. A China, que é o endereço de 25 das 49 usinas em construção, está revendo todos os protocolos de segurança e os Estados Unidos, que estavam iniciando uma retomada, também. A França, altamente dependente, rediscutirá o assunto. A Alemanha está mudando de novo de posição sobre o tema.
Na matriz global, a energia nuclear é pequena, mas para alguns países, a fonte é fundamental. Na França, 76% da eletricidade consumida são de usina nuclear; na Alemanha, 28,8%; Finlândia, 30%; Espanha, 18%; Suécia, 42%; Suíça, 39%; Reino Unido, 13,5%; Rússia, 17%; Ucrânia, 47%; Japão, 25%; Coreia, 36%. Há uma série de países com alta dependência da energia nuclear, como a Lituânia: 72%. Armênia, Bulgária, República Checa e Hungria dependem em mais de 30% da fonte nuclear para a geração de eletricidade. Os países menos dependentes são Brasil, China e Índia, entre 3% e 2%.
A cada desastre, o mundo interrompe tudo, revê procedimentos de segurança, vai com menos sede ao pote e segue adiante. Mas é diferente quando acontece numa ditadura, como a soviética, onde não havia oposição e as autoridades escondiam informações. Agora, o acidente acontece num dos países com melhor reputação do mundo em termos de prevenção de desastres.
O pior que um país como o Brasil pode fazer neste momento é tentar, de novo, a política do avestruz; ou aquela arrogância sem lastro que faz autoridades dizerem que as nossas são mais seguras do que as japonesas. Mais humildade faria bem ao governo.
Temos duas usinas em funcionamento. Duas velhas usinas. Uma, de tecnologia americana Westinghouse, Angra 1, e a outra que é a primeira do acordo nuclear com a Alemanha, assinado no governo Geisel. As duas são do começo dos anos 1980. A construção da terceira se arrasta por décadas. Houve erros no projeto tão absurdos e sequenciais que paralisaram a obra, agora retomada. O governo diz que construirá mais quatro até 2030, uma delas às margens do nosso magro, desprotegido e desaguado Rio São Francisco.
O governo Geisel tinha metas ambiciosas que foram escritas no acordo nuclear com a Alemanha: fazer, naquela época, 10 usinas e absorver tecnologia de todas as fases do processo de construção e enriquecimento de urânio. Estancou na terceira — a segunda das dez do acordo — por motivos que vão dos erros do projeto ao custo alto.
O Brasil teve naquela época, em plena ditadura, um intenso debate. O governo não estava interessado nele, mas os cientistas e políticos de oposição forçaram a redução da megalomania e o encontro com a realidade dos riscos inerentes à energia nuclear. Um deles: o que fazer com os rejeitos que duram centenas de anos?
Uma CPI no Senado, presidida na época por Itamar Franco, teve a ajuda substancial do físico Luiz Pinguelli Rosa para entender todos os riscos a que estávamos expostos. Ambientalistas mobilizaram a sociedade civil. O fato histórico é que Angra 3 parou na fase das fundações até que o governo Lula retomou a construção. Na época, a piada na CPI é que o problema do governo era não saber tupi-guarani. A praia onde Angra 3 estava sendo construída era chamada, no passado remoto, pelos índios, de Itaorna. Que queria dizer “pedra podre”. De fato, os trabalhos de fundações foram surpreendidos por um detalhe: o que se pensava no projeto que era a rocha firme eram pedras soltas. Isso encareceu mais ainda a obra.
Projeto reiniciado, ficam duas observações: sabe-se pouco dos planos de contingência e de proteção da área densamente povoada que é Angra; a construção das usinas nucleares é cara demais.
Nos últimos anos, com a intensificação da preocupação com as mudanças climáticas, parte do ambientalismo deixou sua aversão à energia nuclear porque ela não emite gases de efeito estufa; parte continuou resistente pelos motivos de segurança que agora, mais uma vez, se confirmam reais. Um desastre numa usina, ainda que aconteça raramente, tem um potencial de dano impressionantemente alto.
Não há energia sem risco, e o Brasil não é área de terremotos, vulcões ou furacões de grande intensidade. Temos nossas muitas vantagens. Mas nenhum desastre é como o outro. A pior atitude é a das autoridades brasileiras nos últimos dias. No mundo inteiro, ouve-se governos anunciando revisão do procedimento de segurança ou dos planos de expansão do número de usinas atômicas. No Brasil, tudo o que se ouve é que somos melhores do que os outros, as nossas são mais seguras, e que novas serão construídas. Em que planeta habitam nossas autoridades?
Segurança é aquilo que precisa ser sempre revisto diante de fatos novos, exatamente para aprender com eles. Risco zero não existe em lugar algum. O país com o qual o Brasil fez o acordo nuclear já paralisou há muito tempo seu programa nuclear, retomou, para novamente anunciar revisão após o acidente. Lá, as usinas anteriores a 1980 serão fechadas.
Aqui, não existe uma agência reguladora independente. Não são ouvidos os cientistas. O ministro da energia é o mesmo que tem um conhecimento tosco do assunto. Aliás, de qualquer assunto da sua pasta. Existirá no mundo da energia nuclear um antes e depois de Fukushima. O Brasil não escapará dessa fronteira.
Fonte: O Globo | Economia, 18/03/2011

"our thougths and prayers go out to all the people of Japan"

quinta-feira, março 17, 2011

"a política ecológica é a política do futuro, também para a economia"

A OUTRA ENERGIA POSSÍVEL
Você os vê despontar em todos os lugares quando viaja nas rodovias da capital para Munique e o Sul, ou para Hannover ou para o Oeste: com o seu zumbido humilde, as pás dos grandes moinhos eólicos rompem o silêncio da zona rural alemã. Em todos os lugares, nas pequenas casas dos ricos bávaros ou nos grandes palácios pré-fabricados ao estilo soviético que o oeste de Berlim herdou do comunismo, você vê os painéis fotovoltaicos.
por Andrea Tarquini - La Repubblica
A energia renovável voa na Alemanha. Não só na Bolsa, em que, nas últimas horas, os títulos da Solarworld, Q-Cells, Nordex ou do banco de energias limpas da Siemens registraram um salto de 20% a 40%. Você a vê por trás de todos os cantos, tornou-se um fator constitutivo do cotidiano. A Alemanha conservadora de Angela Merkel, que diz "na dúvida, somos a favor da segurança" e para por pelo menos três meses sete dos seus 16 reatores, é também a potência econômica que, mais do que qualquer outra, se lançou a pensar e projetar estrategicamente o mundo novo da energia.
"A política ecológica é a política do futuro, também para a economia", explicou o ministro do Ambiente Norbert Roettgen, democrata-cristão como a chanceler. Os dados oficiais do seu gabinete, que nem as empresas nem os "verdes" contestam, falam claramente: a eficiência no uso das matérias-primas na economia alemã aumentou 46,8% entre 1994 e 2009, isto é, no mesmo período em que o PIB crescia 18,4%. Os custos do sistema econômico da Alemanha caíram 100 bilhões de euros. Justamente enquanto, paralelamente, o percentual de energia nuclear produzida caía de 27,3% em 1991 para uma cifra em torno dos 20% (até o fechamento dos sete reatores, decidido nesta terça-feira), e o das renováveis voava no mesmo arco de tempo de 3,2 para 17%. E só de 2004 a 2009 duplicou.
"O desligamento das sete centrais, decidido pelo governo, não deveria produzir contragolpes nem para a economia, nem para o consumidor, nem um aumento de tarifa, nem problemas de produção de eletricidade", explica Aribert Peters, da União dos Consumidores de Energia: depois da reviravolta de Merkel sobre a energia nuclear, os mercados, segundo ele, apostam em preços estáveis. Talvez tenham as suas razões: não esperem militantismo para o meio ambiente ou desejo de prados floridos na Bolsa de Frankfurt.
Para o sistema da Alemanha, explicam Dietmar Edler e Marlene O'Sullivan, em um relatório para o instituto econômico DIW, as energias renováveis alternativas tornaram-se um negócio. Assim como com as BMWs e as Mercedes, com os Airbus e os Eurofighters, aqui também o "made in Germany" é o melhor no mercado. De 2007 a 2009, os investimentos nas energias renováveis passaram de 11,4 para 20,4 bilhões de euros. O faturamento do setor, incluindo as exportações, está em 21 bilhões de euros. Portanto, em três anos, cresceu quase 40%. Também durante o 2009 da grande crise econômica e financeira internacional.
Fundos públicos e desagravos fiscais ajudam o crescimento. Uma produção de energia elétrica confiada em 100% nas renováveis é possível até 2050, diz o ministério de Roettgen, e o governo colocou o objetivo de chegar a 80%. "A maioria da centro-direita deveria fazer mais e não só fechar centrais antes de eleições difíceis", nota BaerbelHohn, uma das mais ouvidas líderes dos "verdes". Mas esconde apenas a satisfação sobre como a centro-direita e o establishment estão assumindo os valores constitutivos do movimento ecológico.
Consenso transversal não declarado, em nome dos números: enquanto os reatores nucleares alemães dão trabalho, segundo Gruenen, a cerca de 30 mil pessoas, os ocupados no setor das renováveis aumentou de 277 mil em 2007 aos cerca de 340 mil atuais. E continuarão a crescer longamente, antes que o setor se torne saturado como a siderurgia automobilística. "O adeus à energia nuclear poderá ser um processo longo – discutimos abertamente se serão precisos 10 ou 20 anos ou mais – mas é possível", pensa o líder dos "verdes" europeus, Daniel Cohn-Bendit.
Reportagem publicada no jornal La Reppublica, 16-03-2011.
Tradução: Moisés Sbardelotto
Fonte: IHU, 17/3/2011

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