terça-feira, novembro 24, 2015

Rio Doce: “Nunca vi o rio desse jeito”.


Lama expõe histórico de degradação ambiental no Rio Doce

Se por um lado a onda de rejeitos da Samarco soterrou grande parte do rio, por outro fez aflorar cicatrizes profundas de degradação espalhadas por toda a sua bacia hidrográfica, incluindo desmatamento, poluição e pesca predatória. É preciso pensar num projeto de restauração ambiental em grande escala para devolver a vida ao rio.
 
A onda de lama não poderia ter chegado num momento pior para o Rio Doce. “Nunca vi o rio desse jeito”, é a frase que mais se escutava esta semana em Colatina, no norte dos Espírito Santo, um dos últimos municípios a serem atingidos pelos rejeitos de minérios da Samarco. Os moradores se referiam ao tom alaranjado da água tomada pelos sedimentos, mas não só isso. Se por um lado a lama soterrou grande parte do rio, por outro fez aflorar cicatrizes profundas de degradação ambiental espalhadas por toda a sua bacia hidrográfica.
A reportagem é de Herton Escobar, publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 22-11-2015.
Mesmo antes da enxurrada de lama chegar, o estado de saúde do Rio Doce já era precário, resultado de séculos de desmatamento, poluição, assoreamento, construção de barragens, pesca predatória e introdução de espécie exóticas, como o dourado e a tilápia, que geram renda para os pescadores, mas substituem a fauna nativa. Tudo isso, agravado mais recentemente por um cenário de estiagem extrema, que reduziu drasticamente o volume de água no rio e, consequentemente, sua capacidade de diluir a lama que escorreu da mineradora.
“O rio já estava sofrendo, e agora ainda vem essa lama pra acabar com tudo”, diz o aposentado Nelson Rocha, morador de Itapina, o distrito mais a oeste de Colatina. Ele culpa o desmatamento das matas ciliares pela secura do rio. “Os caras metem máquina nesses morros aí pra plantar braquiária (capim de pasto), a terra fica toda solta, e quando chove ela vai pra onde? Desce toda pra dentro do rio”, reclama ele, apontando para os cumes pelados e de pastagens ressecadas que preenchem a paisagem à nossa volta. “Tem muita nascente aí pra recuperar. Se reflorestar a margem do rio, pelo menos uns 100 metros de cada lado, e acabar um pouco com essa pesca clandestina, a coisa já melhorava, e melhorava muito.”
 
Com a lama já chegando ao mar, 16 dias e 650 km depois do estouro das barragens de mineração da Samarco emMariana (MG), pesquisadores e autoridades começam a adotar um discurso semelhante, chamando atenção para a necessidade de uma restauração em grande escala de toda a bacia hidrográfica do Rio Doce, e não apenas da remoção da lama. “Temos de aproveitar isso como uma oportunidade para testar um grande processo de recuperação ambiental”, disse ao Estado João Pessoa Moreira Júnior, um dos coordenadores da Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas (DBFLO) do Ibama, que chegou a Colatina na quarta-feira para acompanhar os esforços de resgate de fauna na região.
O diretor do DBFLO, Paulo Fontes, disse que a recuperação do rio deve levar no mínimo uma década — mas que é possível. No que diz respeito aos peixes, apesar da grande mortandade verificada por onde a enxurrada de lama passou, ele ressalta que o Rio Doce possui muitos afluentes em Minas Gerais, que podem ter funcionado como rota de fuga para os animais, e que poderão repovoar a calha principal do rio uma vez que o impacto maior do desastre tenha se dissipado.
Já no Espírito Santo, a situação é mais complicada, porque há poucos afluentes. Por isso, no trecho capixaba do rio, a estratégia adotada foi a de coletar amostras de espécies nativas antes da chegada da lama e preservá-las em cativeiro.
Dúvidas
As principais dúvidas relacionadas ao impacto ambiental do desastre referem-se à composição química da lama e ao tempo que ela permanecerá no ambiente. Sem esses dois parâmetros, não há como prever quais serão seus efeitos a médio e longo prazo no ecossistema. Se for apenas lama, o impacto na parte mais baixa do rio, onde ela chegou mais diluída, pode ser passageiro. Se tiver alguma contaminação associada — por metais pesados — os efeitos serão muito mais duradouros, podendo se espalhar por toda a cadeia alimentar que permeia o ecossistema da bacia.
Quanto tempo vai levar para a lama decantar naturalmente; quanto dessa lama vai ficar depositada no fundo do rio (ou no fundo do mar); e por quanto tempo a lama que ficou aprisionada em Minas Gerais continuará escorrendo rio abaixo, com a chegada das chuvas? A lama vai contaminar os lençóis freáticos e ficar impregnada nas várzeas durante os períodos de cheia, ou vai escoar toda para o mar? São perguntas em aberto.
As informações inicias da Samarco eram de que os rejeitos que vazaram da barragem do Fundão não eram tóxicos. Mas a desconfiança na população é grande, e pesquisadores cobram dados da empresa — e dos órgãos públicos — para comprovar isso.
“É inadmissível que 15 dias após o acidente ainda não tenhamos uma comunicação clara sobre o conteúdo dessa lama”, diz o biólogo Dante Pavan, coordenador do Grupo Independente de Análise de Impacto Ambiental (Giaia), que estava em Colatina esta semana coletando amostras  de água e sedimento do Rio Doce, acompanhado pela reportagem do Estado.
Segundo ele, a região corre o risco de tornar uma “nova Cubatão”, em uma analogia ao município industrial paulista que foi símbolo da degradação ambiental no século passado. “Mesmo que a lama não seja tóxica, vai destruir toda a base da cadeia alimentar do rio”, diz. “A estrutura ecológica do sistema terá de ser toda reconstruída.”
O desmatamento e a degradação dos ambientes ao redor, complementa Pavan, transformam o Rio Doce numa espécie de ralo, em que “todo o ecossistema escorre para dentro dele e vai embora”, incluindo sedimentos, poluentes e a fertilidade do solo. Assim, a bacia inteira se deteriora.
 
A quantidade de boatos e informações desencontradas que correm com a lama pela calha do Rio Doce é enorme. A previsão inicial, poucos dias após o rompimento da barragem, era de que a lama atingiria Colatina no dia 10, e que o nível do rio subiria até 1,5 metro. Isso não aconteceu. A mancha de rejeitos só chegou à cidade na manhã do dia 19, e as águas subiram apenas levemente. No dia seguinte, foi bater no centro em Linhares, 75 km rio abaixo. E na noite de sábado, 21, tocou as ondas do Oceano Atlântico em Regência, o distrito de Linhares que fica na foz do Rio Doce. Detalhe: o rio mal chega no mar atualmente, de tão seco e assoreado que está.
Vista da superfície, a mistura de lama parece bastante diluída, com tonalidades variando do laranja ao marrom, dependendo do ângulo da luz e da quantidade de sedimentos. Alguns moradores dizem que a coloração é igual à de períodos chuvosos, quando o rio fica naturalmente mais barrento; enquanto outros dizem nunca ter visto nada parecido.
Os animais aquáticos não morrem imediatamente, mas morrem, “sufocados” pela argila fina dos sedimentos, que entope suas guelras. “Até Governador Valadares a lama matou tudo mesmo”, praticamente esterilizando a calha principal do rio, disse um analista ambiental que trabalha na contenção da lama. Os sedimentos mais pesados correm por baixo, e não há como saber quanto dele está se depositando no fundo do rio.
 
Relatos de mortandade de peixes começaram a aparecer em Colatina no sábado, e o abastecimento de água para a população foi suspenso desde quinta-feira. A Agência Nacional de Águas e o Serviço Geológico do Brasil divulgaram resultados da análise de amostras de água e sedimentos do Rio Doce colhidas no dia 14 em quatro pontos próximos do epicentro do desastre. Os dados indicam que as concentrações de metais nesses locais “não diferem significativamente dos resultados colhidos em 2010 e são compatíveis” com as normas de segurança do Conama (Resolução 357).
A polêmica de Noé
Um grande esforço de voluntários para resgatar peixes do Rio Doce em Colatina (ES), apelidado de operação Arca de Noé, virou motivo de polêmica entre pescadores, pesquisadores e autoridades ambientais. Uma grande quantidade de peixes e crustáceos foi retirada às pressas do rio antes da chegada da lama e transferida para lagos da região. O problema, segundo alguns especialistas, é que muitos desses peixes são de espécies exóticas (não nativas) que, se introduzidos numa lagoa onde eles ainda não existem, poderão gerar um novo problema ambiental.
 
Rio Doce tem mais de 70 espécies nativas de peixes, mas as que dominam a cadeia alimentar são um punhado de exóticas, incluindo o dourado, tucunaré, tilápia, piranhas e carpas — espécies trazidas de outras bacias ou até de outros continentes. Do ponto de vista da conservação da biodiversidade, o ideal seria manter essas espécies separadas das nativas. Mas na emergência gerada pela chegada da lama não houve esse controle, gerando uma preocupação de que os ecossistemas lacustres sejam agora impactados por esses predadores, assim como aconteceu no próprio Rio Doce.
Irritado com as críticas, o pesquisador Abrahão Elesbon, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (IFES), que ajudou a organizar a operação Arca de Noé, disse que “é fácil falar de um sofá com ar condicionado”. “O único peixe que tem valor comercial aqui é o exótico. Quem mata a fome do pescador é o exótico”, disse. Ele não soube precisar para onde foram levados todos os peixes, mas disse que um dos destinos, a Lagoa do Limão, já tem as mesmas espécies do rio, incluindo as exóticas.
Em Linhares, o casal Viviane Pianna e Sandro Siqueira estava à beira do Rio Doce no sábado de manhã, passando uma peneira na água alaranjada para resgatar alguns peixinhos e camarões que encontravam por ali. “Se salvar um já vai valer a pena”, disse Sandro, que usava uma luva de látex para encostar no rio. “Vai saber o que tem nessa água”, justificou. Viviane disse que levariam os peixes para a Lagoa Juparanã, um grande lago a cerca de 15 km da cidade, e que não acreditava que poderia causar danos ao ecossistema de lá, porque o lago já tinha conexão com o rio.
Autoridades ambientais ouvidas pela reportagem continuam a desaconselhar essa estratégia, ainda mais agora que os peixes que ficaram no Rio Doce já estão “contaminados” pela lama.
 
Salvamento seletivo
Diante da enorme mobilização popular gerada pela Arca de Noé em Colatina, a estratégia oficial do Ibama foi a de resgatar apenas as espécies nativas, com atenção especial às ameaçadas de extinção e endêmicas (que só existem na bacia do Rio Doce), incluindo alguns tipos de cascudos, bagres e piabinhas. Representantes do órgão federal, com apoio da Samarco, coordenaram uma triagem do material coletado pela operação e os peixes nativos foram levados para tanques, preparados em caráter emergencial, no campus do IFES em Itapina.
Rio abaixo, em Linhares, o Ibama se adiantou e organizou um esforço mais qualificado de coleta, voltado apenas para as espécies nativas. Os peixes foram levados para o campus do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). “O objetivo aqui não é quantidade, é qualidade”, disse Marcelo Polese, professor de aquicultura do IFES, que coordenou o trabalho de resgate em Linhares. A ideia é manter amostras geneticamente representativas dessas espécies em cativeiro, que poderão ser usadas para repovoar o rio em caso de necessidade. Cerca de 20 peixes, de espécies como piau e curimba, forma enviados no sábado para o CEPTA de Pirassununga, em São Paulo, um centro do ICMBio especializado em pesquisa e conservação de peixes de água doce.
A manutenção da diversidade genética é um ponto chave para o futuro da biodiversidade do rio, destaca o biólogoPavan. Ainda que as espécies nativas do rio não sejam completamente extintas pela lama, haverá inevitavelmente uma redução drástica e imediata do tamanho de suas populações, causando um processo de “afunilamento” genético, que compromete a capacidade de sobrevivência da espécie a longo prazo no ambiente. “O repovoamento do rio vai ser feito por um número de indivíduos muito reduzido”, explica Pavan. “Essa perda genética é irrecuperável; uma vez que um gene desaparece da população, não volta nunca mais.”
“Precisamos documentar e estudar muito bem o que está acontecendo aqui, para que isso não se repita”, conclui o pesquisador, que tem raízes familiares em Colatina e agora sonha em transformar uma antiga fazenda de seu avô, às margens do Rio Doce, em uma estação científica dedicada à revitalização ambiental e social da região.

terça-feira, novembro 17, 2015

Brasil: os descaminhos da economia no sentido de colocar os investimentos à frente


Carta IEDI nº 705 - O Preço do Investimento em Meio às Incertezas

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Sumário
A queda de 3,0% do PIB brasileiro projetada para 2015, após estagnar em 2014, evidencia os descaminhos da economia no sentido de colocar os investimentos à frente. Em agosto de 2014 a Carta IEDI nº 636 expôs o desafio e a premência de se fortalecer a formação bruta de capital fixo (FBCF) sob risco do quadro se deteriorar. Não só se deteriorou como a situação política retrocedeu, em meio a um ajuste fiscal conturbado e política monetária contracionista. Daí a retração de 2,1% do PIB no primeiro semestre do ano frente ao mesmo período de 2014, com a FBCF declinando 9,8%.

O crescimento econômico capitaneado pelo investimento possibilita a expansão com menor pressão sobre os preços em geral e tende a favorecer mais a indústria. Daí a atenção com o dinamismo da FBCF, o que requer o tratamento de dois pontos. Um reside no preço relativo da FBCF: o empreendedor tende a se arriscar mais havendo perspectivas de maior retorno real nos períodos subsequentes. Se o preço da FBCF em termos do preço do consumo cair, investir se torna mais propício, ao ampliar as chances de se ter uma cesta maior de consumo adiante. 

O ponto seguinte se refere ao preço de investir contraposto ao de outros países. Na economia global, a decisão sobre onde operar exige colocar na ponta do lápis o custo de se instalar e atuar em distintas localidades. Ressalve-se que um custo maior de investir pode expressar qualidade superior dos bens de capital e instalações, o que se converte em maior produtividade ou diferenciação de produto, sendo um caso positivo de elevação de preço da inversão.

O último ponto – o do custo de investimento - pode ser visto a partir das Penn World Tables, versão 8.1 (PWT8.1) divulgadas em abril últimos com dados até 2011. Estas trazem o preço da inversão (FBCF mais variação de estoques) no Brasil e em outros países medido em termos do preço do PIB dos EUA (preço do PIB dos EUA igual a 1 em 2005). 

Os dados permitem as seguintes conclusões:

  • Em 1985 o preço do investimento do Brasil, 0,28 do preço do PIB dos EUA, era um dos menores dentre amplo leque de países selecionados (era o quadragésimo terceiro entre 50 países), ficando só um pouco à frente da China e África do Sul; 
  • Em 2000, o preço do investimento do Brasil estava em 0,47, ocupando o 37º lugar entre 54 países; o indicador era maior do que o da China, Índia e Rússia e África do Sul, mas inferior ao de todos os integrantes do G7, bem como dos países da Europa Ocidental e Setentrional e outros em desenvolvimento;
  • Em 2011, o preço da inversão atingiu 1,27, patamar só superado por sete países (Suíça, Noruega, Austrália, Honduras, Suécia, Costa Rica, Japão). Assim, os países dos BRICS e a quase totalidade dos demais países emergentes, além de muitos países industrializados como EUA, Canadá e boa parte da Europa, incluindo os integrantes europeus do G7, ficaram mais baratos para investir do que o Brasil.
O preço da inversão no Brasil até 2011 também refletiu o fôlego do mercado doméstico, tornando o País atraente para empreendimentos quando centros mundiais de consumo importantes não mostravam poder de recuperação após a crise internacional eclodir. Ou seja, ao se constituir num dos poucos mercados com poder de consumo, houve maior procura para investir em solo brasileiro, concorrendo para ampliar o preço do investimento. O maior preço do investimento decorria, então, desse contexto e não necessariamente de um aumento na qualidade dos bens de capital e nas instalações.

Esse quadro mudou desde 2011. O ano de 2014 terminou com o País em situação mais delicada, o que se agravou em 2015. E 2014 encerrou com o deflator da FBCF crescendo 7,7%. Quanto ao preço relativo do investimento fixo, calculado com dados acima, teve declínio de 2010 a 2013 nas duas variantes consideradas: razão entre deflator da FBCF e deflator do PIB; e razão entre o deflator da FBCF e o do consumo final. Ou seja, até 2013, investir estava ficando mais barato do que consumir para quem mora no País. Mas, em 2014, tal processo cessou, ficando o indicador praticamente igual ao do ano anterior, com ligeiro acréscimo. Ademais, mesmo quando o preço relativo caia, o processo não impediu do Brasil ficar mais caro para quem queria investir, como foi visto pelas PWT8.1.

Em termos comparativos, o preço relativo da FBCF no Brasil entre 1995 e 2013 chegou a apresentar uma melhor trajetória do que em outros países. Ilustrando, a China terminou tal período com preços relativos de FBCF maior que em 1995, quer em termos do PIB, quer em termos do consumo final. O Brasil chegou em 2013 com ambos indicadores menores do que em 1995. Todavia em 2011, pelas PWT8.1, a China mantinha um preço do investimento baixo. Isto é, apesar do deflator da inversão fixa na China ter crescido mais do que seu deflator do consumo final, seu preço do investimento por si não se elevou como o brasileiro.

Em suma, frente a países latino-americanos, dos BRICS, Tigres Asiáticos e dos ASEAN-4 e mesmo do G7, há casos em que o preço relativo da FBCF do Brasil teve uma trajetória melhor de 1995 a 2013, porém sem necessariamente implicar em menor preço do investimento. Assim, se em 2014 o IEDI apontava como desafios para o País enfrentar tanto o preço do investimento quanto a recolocação da formação bruta de capital fixo na liderança da expansão, o Brasil parece estar transformando ambos em obstáculos maiores.

sexta-feira, novembro 13, 2015

combate às desigualdades no Brasil está ameaçado pela política de austeridade e de juros altos


Política de austeridade levará a mais desemprego e desigualdade, diz Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia

Publicado em novembro 12, 2015 por 
Prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Columbia, Joseph Stiglitz diz que a política de austeridade e de juros altos ameaçam o combate às desigualdades. Foto: Reprodução/TV Brasil
O combate às desigualdades no Brasil está ameaçado pela política de austeridade e de juros altos que ampliará o desemprego e sufocará a economia. A avaliação é do Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, entrevistado desta semana do Espaço Público, da TV Brasil.
Professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, Stiglitz citou o Brasil como referência na diminuição das desigualdades. Ele defendeu a continuidade dos investimentos em educação, dos programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, e da criação de empregos, mas disse que os ganhos obtidos nos últimos anos estão em risco devido aos cortes de gastos públicos praticados atualmente.
“O que me preocupa hoje é que vocês estejam impondo políticas de austeridade, com cortes que sem dúvida aumentarão a taxa de desemprego e aumentarão as desigualdades”, disse.
Os juros altos no Brasil, disse o Nobel de Economia, deveriam ser analisados mais a fundo. “As entidades privadas do setor financeiro [brasileiro] cobram as maiores taxas de juros do mundo. As taxas de juros sufocam a economia e acabam com o orçamento. E tiram dinheiro que poderia ser usado para o crescimento, para combater desigualdades, para resolver diversos problemas”, recomendou.
Para Stiglitz, os juros no Brasil são tão distorcidos que ele não considera que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) empreste dinheiro a taxas subsidiadas. “A única parte do mercado financeiro [brasileiro] que está funcionando, de certa forma, são os bancos de desenvolvimento, como o BNDES. Eles emprestam a juros razoáveis. Alguns dizem que são subsidiadas. Não são subsidiadas! São taxas de juros normais, praticadas em qualquer economia normal”, explicou. Stiglitz considera o BNDES um exemplo a ser seguido em outros países.
Um dos inspiradores do movimento Occupy Wall Street, que, quatro anos atrás, levou multidões às ruas de cidades norte-americanas, o economista explorou os efeitos da concentração de renda sobre a economia no livro O Preço da Desigualdade, publicado em 2012. Crítico do liberalismo econômico e das políticas de austeridade, Stiglitz defende a reforma do sistema financeiro internacional e a elevação dos impostos para os mais ricos para criar uma economia mais solidária, que proporcione oportunidade aos mais pobres.
“Quando a desigualdade é grande, sobretudo em termos de oportunidades, isso significa que as camadas mais baixas estão ficando abaixo do potencial. Não têm uma educação adequada. Na realidade, ocorre um mau uso, um subaproveitamento do recurso mais importante: o humano”, declarou. “As pessoas precisam entender que não existe prosperidade ‘do zero’. Somos todos parte da sociedade. É por isso que ser solidário é tão importante”, disse Stiglitz que foi economista chefe do Banco Mundial.
Apresentado pelos jornalistas Paulo Moreira Leite e Florestan Fernandes Júnior, o Espaço Público foi ao ar nesta terça-feira (10), às 23h, na TV Brasil.


in EcoDebate, 12/11/2015

sexta-feira, novembro 06, 2015

Produção Industrial segundo IBGE: Em relação a setembro de 2014, a queda foi de 10,9%.


Produção industrial cai 1,3% em setembro, a maior baixa para o mês desde 2002

Em relação a setembro de 2014, a queda foi de 10,9%, a maior neste tipo de comparação desde abril de 2009; no ano, a produção da indústria recuou 7,4%, segundo o IBGE





Analistas já esperavam uma queda dessa magnitude na indústria
Analistas já esperavam uma queda dessa magnitude na indústria
RIO - A produção industrial caiu 1,3% em setembro ante agosto, a maior baixa para o mês desde o início da série histporica, em 2002, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação a setembro de 2014, a produção teve 19º recuo seguido, de 10,9%, o maior neste tipo de comparação desde abril de 2009 (-14,1%).
O recuo de 1,3% em setembro foi o quarto resultado negativo consecutivo, período em que acumulou uma perda de 4,8%. No ano, a produção da indústria acumula queda de 7,4%. Em 12 meses, houve recuo de 6,5%. 



No fechamento do terceiro trimestre de 2015, a indústria registrou uma perda de 9,5%, em relação a igual período do ano anterior. Foi a sexta taxa negativa consecutiva nesse tipo de confronto e a queda mais acentuada desde o segundo trimestre de 2009 (-11,9%)

O resultado mensal veio dentro das expectativas dos analistas ouvidos pela Agência Estado, que iam de queda de 0,40% a 2,00%, com mediana negativa de 1,45%. Na comparação com setembro de 2014, as estimativas eram de recuo de 9,10% a 13,40%, o que gerou mediana negativa de 11,30%.



A produção da indústria de bens de capital subiu 1% em setembro ante agosto. Na comparação com setembro de 2014, entretanto, houve queda de 31,7%. Em relação aos bens de consumo, a pesquisa registrou queda de 1,2% na passagem de agosto para setembro. Na comparação com o nono mês ano passado, houve recuo de 12,1%.

Na categoria de bens de consumo duráveis, como automóveis, a produção caiu 5,3% em setembro ante agosto. Na comparação com setembro de 2014, a redução foi de 27,8%.

Revisão. Além de divulgar o resultado de setembro, o IBGE revisou alguns dados dos meses anteriores. O IBGE revisou o dado da produção industrial do mês de agosto ante julho, de -1,2% para -0,9%. O dado de julho ante junho também foi revisto, de -1,5% para -1,6%, enquanto o de junho ante maio passou de -0,8% para -1,1%. (Com informações da Reuters)

quarta-feira, novembro 04, 2015

Brasil 2040: O objetivo é estimar como as mudanças climáticas afetariam os setores econômicos...


Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima

Publicado em novembro 4, 2015 por 
Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima

A mudança do clima global é o maior desafio à ação consertada da humanidade neste início de século. A trajetória de desenvolvimento do Brasil e dos demais países depende do grau de alteração das variáveis climáticas e de sua distribuição no espaço. Há consenso em que, mesmo ante a incerteza relativa a dimensão e distribuição dos fenômenos climáticos, é preciso avançar em ações que aumentem a resiliência das estruturas que balizam a vida e a economia.
A Subsecretaria de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) encomendou a instituições de reconhecida competência simulações a partir de modelos climáticos globais. O objetivo é estimar como as mudanças climáticas afetariam os setores econômicos em diferentes horizontes e sugerir estratégias de prevenção e de aumento de resiliência de diferentes sistemas que poderiam ser afetados.
O estudo denominado “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima” é constituído por quatro etapas. A primeira etapa consiste na aplicação de dois dos mais de quarenta modelos de clima global disponíveis para, a partir de suas projeções e com base em dois cenários distintos, derivar hipóteses de comportamento climático para o território brasileiro em 2040.
A segunda etapa do estudo identificou os impactos de cada um dos cenários climáticos sobre os recursos hídricos. Isso é crucial, pois quase todos os setores econômicos e as concentrações humanas sofrem impactos, não somente por variações de temperatura, mas, sobretudo, por variações na disponibilidade hídrica.
A terceira etapa consistiu em analisar os impactos sobre a população, sobre os recursos naturais e sobre alguns setores econômicos, considerando variações climáticas e disponibilidade de recursos hídricos. Isso foi feito relacionando as alterações das principais variáveis climáticas – temperatura e pluviosidade – com produção dos setores econômicos, infraestrutura, saúde humana, etc.
A quarta etapa do estudo consistiu na identificação de algumas medidas de adaptação ao cenário associado às projeções. Tais medidas envolvem estruturas caras (por exemplo: barragens para armazenar água ou construção de diques em zonas costeiras), mas contemplam também medidas mais simples como, por exemplo, sistemas de alerta de riscos, mudanças de práticas agrícolas, organização de grupos sociais, etc.
As dificuldades e desafios para elaborar um estudo tão abrangente são grandes e requerem o envolvimento de diversas áreas do conhecimento humano: engenharias, agricultura, economia, recursos hídricos, climatologia e sociologia. Os estudos foram desenvolvidos por instituições nacionais renomadas com o objetivo primário de subsidiar processos relevantes no âmbito da Política Nacional sobre Mudança do Clima, em particular, e no Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, em fase de conclusão no governo federal.
De particular importância é a especificação dos diversos níveis de incerteza associados às projeções. A modelagem climática global é um campo de desenvolvimento recente, caracterizado tanto pelo elevado número de variáveis naturais em processo de co-interação, quanto pela incerteza sobre o comportamento futuro de variáveis antrópicas, a mais importante delas relativa aos níveis de CO2 equivalente na atmosfera. A tradução da escala em que são elaborados os modelos globais para uma escala menor do território brasileiro também depende de metodologia desenvolvida recentemente e em processo de ajuste e refinamentos. Da mesma forma, as variáveis de disponibilidade hídrica padecem das mesmas restriçoes. Avaliar e expressar de forma clara e compreensível a incerteza associada a tais modelagens é essencial para que os resultados das simulações sejam vistos, compreendidos e utilizados na exata dimensão de sua capacidade preditiva e para evitar a exploração sensacionalista de dimensões seletivas das simulações.
A SAE disponibiliza todos os produtos encomendados à instituições de pesquisa de notória competência, divididos em dois grupos distintos:
I. Modelagem Climática, contendo as simulações de mudança do clima global com base em dois modelos e em dois dos cenários do IPCC e a tradução das variáveis climáticas globais para o balanço hídrico;
Produtos: o1 – 02 – 03 – o4 – 05
Relatórios: 01 – 02 – 03 – 04
Recursos hídricos: 01 02 03 04 Aditivo 04
II. Adaptação, contendo estudos específicos para: Agricultura; Energia; Infraestrutura Costeira; Infraestrutura Urbana; e Transportes.
As centenas de planilhas e memórias de cálculo, extremamente especializadas e, em geral, acessíveis apenas a especialistas, podem ser obtidas por universidades ou institutos de pesquisa, por pedido endereçado à SAE.
Agricultura
Produtos: 01 – 02 –
03  : a; 03: b e 03:c.
04: a- 04: b e 04:c.
05 – 06
Energia
Produtos: 01 – 02 – 03
Infraestrutura Costeira
Produtos: 05 – 06 – 07 – 08
Infraestrutura Urbana
Produtos: 1IU 2IU 3IU 4IU
Transportes
Produtos: 01 – 02 – 03 – 04– 05

Informações da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR), in EcoDebate, 04/11/2015

terça-feira, novembro 03, 2015

Joseph Stiglitz: "cortar os programas sociais no Brasil como parte do ajuste seria um erro."


Ajuste fiscal pode reduzir PIB do Brasil no futuro, diz Nobel de economia

Vidal Tarqui/Xinhua
O economista Joseph Stiglitz em seminário do FMI em Lima, neste ano
O economista Joseph Stiglitz em seminário do FMI em Lima, neste ano


O ajuste fiscal no Brasil pode levar a um desempenho econômico mais fraco no futuro, afirma o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz. Para ele, a prioridade do governo deve ser reduzir a inflação —e, como consequência, os juros, que prejudicam os investimentos.
Autor do ensaio "Do 1%, pelo 1%, para o 1%", que inspirou o movimento Occupy Wall Street, o economista ajudou a trazer a desigualdade para o centro do debate mundial. E defende que cortar os programas sociais no Brasil como parte do ajuste seria um erro.
Contrário a políticas de austeridade adotadas em todo o mundo, Stiglitz defende iniciativas como o Banco dos Brics para estimular investimentos e a economia global. Ele afirma ainda que os Estados Unidos devem apoiar essas instituições e aceitar, finalmente, que não serão mais o poder econômico dominante no cenário mundial.
Stiglitz participa nesta quarta (4) do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento, em São Paulo.
*
Folha - O senhor é um crítico feroz da austeridade na zona do euro e, especialmente, na Grécia. Mas quando o Syriza [o partido de esquerda] tentou mudar as regras do jogo, o tiro parece ter saído pela culatra. O que poderia ter sido feito?
Joseph Stiglitz - O [primeiro-ministro grego] Alexis Tsipras fez uma avaliação política de que era melhor permanecer em depressão econômica e se submeter às políticas de austeridade do que sair da zona do euro, ainda a maioria da população desaprovasse as medidas.
Como economista, eu acho eles deveriam ter saído do euro —e há vários colegas que concordam comigo. Era possível fazê-lo, não sem um grau de agitação, e isso teria tirado o país da recessão atual.
Se a Grécia tivesse rejeitado a austeridade e se concentrado em políticas voltadas ao crescimento econômico, o país estaria melhor agora?
Com certeza, mas eles não tiveram essa escolha. A Grécia, por si só, não podia fazer nada, e a Europa não ajudou o país a ter qualquer tipo de política para o crescimento. O resultado é a depressão econômica em que estão, basicamente, desde 2010.
A Europa está condenada pelos próximos anos?
Sim. Se as demandas da Alemanha por austeridade continuarem —e tudo aponta para isso—, a recessão também continuará. O que me surpreende é que o [ministro das Finanças alemão, Wolfgang] Schäuble veio a Columbia e disse, basicamente, que temos de nos acostumar com o baixo crescimento, esse é o novo mundo.
Não há nenhuma razão para isso, exceto as políticas impostas por eles. Não há natureza herdada, não é uma consequência inevitável da forma como o mundo foi constituído. São as políticas que a Alemanha e os EUA estão implementando.
Há chances de mudança?
Bom, nos Estados Unidos há uma paralisação no Congresso. E se o Partido Republicano mantiver o controle da Câmara dos Deputados após as eleições de 2016, vamos continuar paralisados e com austeridade moderada.
A Europa vai continuar em austeridade, mesmo que reduzida, e a China vai desacelerar. Para onde quer que olhemos, veremos crescimento lento. Há quem acredite que 2016 pode ser melhor, mas não vejo fundamento para esse tipo de otimismo.
Iniciativas de financiamento de países emergentes, como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura [AIIB] e o Banco dos Brics, pode melhorar o cenário global, por meio de novos investimentos?
Eu estou bastante animado com essas iniciativas. Elas são uma forma de utilizar parte das reservas desses países para investir em infraestrutura na Ásia, na África e em outros emergentes e acho que vão contribuir. Mas a escala é muito pequena para trazer de volta o crescimento global.
Os Estados Unidos não parecem tão animados...
Eu fiquei bastante desapontado quando os Estados Unidos tentaram se opor ao AIIB, foi um erro geopolítico de enorme magnitude. Os EUA têm tido muita dificuldade de aceitar que não serão mais o poder econômico dominante —eles ainda serão o poder militar, mas mesmo essa influência é limitada.
Infelizmente, o presidente Barack Obama e os políticos republicanos estão achando difícil aceitar essa nova realidade geopolítica. Em vez de reagir de forma construtiva, estão lidando com isso de maneira bastante improdutiva. O TTP [Tratado Transpacífico] é outro exemplo disso.
Por que o TTP?
Porque ele é um acordo comercial bastante ruim. E, para promovê-lo, o presidente defendeu que os EUA precisam escrever as regras da economia global, não a China. Isso está errado.
As regras estão sendo escritas pelas grandes corporações americanas para si próprias, não para a população dos EUA ou de outros países do Tratado. E a China, como o maior consumidor global, tem que ser ouvida, e será. A ideia de que eles não terão voz é absurda.
O sr. defende que os EUA se preocupam demais com o deficit do governo. Isso se aplica a outras economias?
É diferente para cada país e cada situação econômica. Nos EUA, é possível fazer empréstimos com juros reais negativos, e nós temos uma necessidade enorme de investimentos em infraestrutura e tecnologia. Com a economia fraca, é um erro não investir.
No caso de outros países, acredito que se você pode pegar empréstimos e investir com retorno maior que os custos do capital, deveria fazer isso. Há um fetiche excessivo em torno do deficit. Quando você pensa em um país como uma empresa, você quer olhar para o balanço: a dívida, o passivo e os bens.
O governo brasileiro prevê neste ano um deficit primário de R$ 52 bilhões. No caso do país, considerando que temos uma das mais altas taxas de juros do mundo e uma retração de 3% projetada para 2015, o deficit é preocupante?
Há algo bastante peculiar sobre o Brasil: o fato de o país ter juros tão altos. Isso mostra que o setor financeiro não está funcionando como deveria. Quando você pega dinheiro emprestado com um juro tão alto, obviamente a dívida cresce muito rápido.
Quando o governo tentou baixar os juros, que chegaram a 7,25% ao ano em 2012, a inflação voltou a ficar acima da meta.
Sim, tem algo especial sobre o processo inflacionário no Brasil e isso pode requerer uma cooperação maior entre trabalhadores e empresas, alguns acordos de congelamento de preços e salários, para quebrar o ciclo inflacionário. O Brasil está pagando um preço muito alto por isso, um ciclo bastante incomum entre os países emergentes.
Dados os efeitos contracionistas, o sr. acredita que o ajuste fiscal é a melhor solução para a crise brasileira?
Muito provavelmente não, porque o país já está passando por uma recessão e a austeridade vai piorar isso. Essas políticas irão, muito provavelmente, reduzir ainda mais o crescimento econômico.
E o que mais me preocupa é que uma recessão afeta não só o resultado hoje, mas tende a levar a um crescimento fraco no futuro, porque você não está investindo no capital humano, em novas tecnologias. Por isso, os efeitos são de longo prazo.
Se o Brasil conseguisse baixar a inflação, seria possível ter uma taxa de juros menor e isso permitiria crescer mais rápido. Além disso, se o governo precisar tomar dinheiro emprestado, o peso da dívida não será tão grande.
O governo considera cortar recursos gastos com programas sociais como parte do ajuste. É uma boa ideia?
Cortar programas sociais no meio de uma recessão é particularmente preocupante, porque os beneficiados são também as pessoas que serão mais afetadas. Uma das conquistas do Brasil, de que se fala em todo o mundo, é o sucesso na redução da pobreza e da desigualdade nos últimos 20 anos. Se você corta programas sociais, está prejudicando isso.
O Federal Reserve [o banco central dos EUA] sinalizou que poder elevar os juros em dezembro. É a hora de fazê-lo?
Há um amplo consenso de que a economia americana não está tão forte. O melhor sintoma de um mercado fraco é o que está acontecendo com a renda, que estagnou. E não há pressões inflacionárias, então é bastante difícil que só esse cenário justifique um aumento nos juros. Além disso, pesa a situação da economia global.
Agora, acho que eles podem, sim, elevar os juros em dezembro. Se o fizerem, vão parar em seguida, sem novo aumento, porque a economia não vai estar em boa forma. E não vejo no horizonte nada que possa trazê-la de volta a um cenário mais normal.
O senhor defende que a atuação do Fed contribui para o aumento da desigualdade nos EUA. Como isso acontece?
O Fed contribuiu para a desigualdade, historicamente, por concentrar sua atuação na inflação, e não no desemprego. Isso fez com que a autoridade monetária aumentasse os juros sempre que os salários começassem a subir.
Você tem o chamado efeito catraca: quando entra em recessão, os salários não acompanham a inflação e a renda real cai. Assim que eles começam a recuperar, o Fed aumenta os juros. E esse efeito é parte de um processo pelo qual a renda real não acompanha o crescimento da produtividade, e isso tem papel importante no aumento da desigualdade.
Além disso, quando você tem juros muito baixos, as empresas investem mais em tecnologias de capital intensivo [baseadas no uso de máquinas e na automação], substituindo trabalhadores de baixa renda. E o resultado disso no médio prazo é uma retomada sem empregos.
O também Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman disse à Folha que a mudança climática é o problema mais grave da atualidade, não a desigualdade. O sr. concorda?
Concordo com o Paul, porque a mudança climática pode destruir a viabilidade de todo o sistema global. É uma questão existencial, a nossa existência está ameaçada, e acho que as duas coisas estão bastante conectadas. Os mais pobres serão os mais afetados pelo aquecimento global. Dito isso, os dois problemas são terríveis e não há razão para que não consigamos lidar com os dois.
Do ponto de vista econômico, o que pode ser feito para lidar com aquecimento global?
Para mim, a melhor abordagem é impor um preço para o carbono. Há um custo social quando você emite carbono. Façamos, então, com que governos, empresas e famílias que contribuem para essas emissões paguem pelo custo social de suas ações. Eu tenho alguma confiança no mercado, e acredito que quando as pessoas se depararem com os custos, vão reagir emitindo menos.
No curto prazo, é preciso acelerar o processo. Sou a favor de proibir novas usinas que utilizem carvão, acho que devem ser totalmente banidas ao redor do mundo. E também deve-se expandir as pesquisas para energias renováveis.
*
RAIO-X
Joseph Stiglitz
ORIGEM
Nasceu nos Estados Unidos em 9 de fevereiro de 1943
FORMAÇÃO
Formado pela Faculdade Amherst (EUA) e PhD em Economia pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts)
CARREIRA
É professor da Universidade Columbia, em Nova York (EUA), e foi economista-chefe do Banco Mundial entre 1997 e 2000; recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2001

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/11/1701375-ajuste-fiscal-pode-reduzir-pib-do-brasil-no-futuro-diz-nobel-de-economia.shtml

Neste momento, o governo não tem nada a oferecer


O passado não se repete

José Roberto Mendonça de Barros
01 Novembro 2015 | 03h 00


Tenho escutado de muita gente o receio de que pudesse se repetir hoje o ocorrido em 2005, quando o governo, o partido no poder e o então presidente Lula, depois de fortemente pressionados pelo problema do chamado mensalão, acabaram recuperando-se perante a opinião pública, ganharam três eleições e estão até hoje no poder.


Depois de muito pensar, minha resposta é que o episódio passado, com toda probabilidade, não se repetirá. Quatro, pelo menos, são as razões para tanto.


1 - A situação econômica é exatamente a oposta daquele momento. Lá, a inflação caía (7,6% em 2004 e 5,7% em 2005) e hoje, a mesma sobe muito (6,4% em 2014 e 9,70% ou mais neste ano). O PIB crescia (5,7% e 3,1%, em 2004 e 2005) e hoje enfrentamos um desastre (0,1% no ano passado e pelo menos -3,0% no corrente exercício). O desemprego do trabalhador diminuía naquela ocasião e piora substancialmente hoje, devendo ultrapassar os 10% até o final do ano. A situação fiscal era de tranquilidade (superávit primário de 3,7% e déficit nominal de apenas 2,9% e 3,5% do PIB, para 2004 e 2005, respectivamente). Hoje, os números são de déficit primário de 0,6% e 0,9% e de horríveis 6,2% e 9,8% do PIB de déficit nominal. A dívida bruta está subindo aceleradamente e vai rapidamente ultrapassar os 70% do PIB. Ademais, não existe a menor chance de nenhuma melhora em 2016. Projetamos outra queda no PIB (-1,4%) e uma elevação adicional do desemprego, para mais de 11% da população ativa, com redução da renda familiar real.


2 - A China crescia vigorosamente (8,8% e 12,4%, em 2004 e 2005), empurrando para cima os preços de commodities e hoje o crescimento é menor do que 7%, o que levou a um tombo nos preços das mercadorias. No último ano, as cotações da soja, do açúcar e do café, em dólares, caíram 12,5%, 38,1% e 9,2%, respectivamente. A demanda chinesa de minério de ferro e de aço desmontou e seus preços estão no pior momento dos últimos anos, até porque, o mundo não cresce mais como antes.


3 - Em 2005, a descoberta do potencial do pré-sal era recente, o bilhete premiado de loteria, no dizer dos governantes, que abria a esperança de um salto para o futuro. O óleo de fato existe, mas seus baixos preços e a crise na Petrobrás estão arrebentando a companhia e a sua cadeia de fornecimento, implicando numa queda profunda do investimento. Com crise em outros setores, a Taxa de Formação Bruta de Capital deve cair mais de 10% neste ano, sem nenhuma possibilidade de melhora nos próximos semestres.


4 - A única agenda efetiva atual do governo é a de evitar a abertura de um processo de impeachment, de sorte a se manter no poder. A reforma ministerial foi uma demonstração inequívoca dessa observação. Por outro lado, a evolução recente mostra que a crise econômica é muito mais profunda do que se imaginava e ainda não chegou ao seu ponto mais baixo. A elevação veloz do desemprego, a redução da produção e do consumo vão continuar afetando, tanto as famílias, quanto as empresas. Apenas a título de exemplo de quão fundo são esses eventos, vale mencionar que o consumo de farinha de trigo, em quantidade, caiu 10,5% de janeiro a agosto deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. No que tange às empresas, a situação financeira da maior parte delas é cada vez mais difícil, o que tem levado a um número recorde de insolvências, que só fazem elevar o contingente de desempregados.


Ao mesmo tempo, a deterioração da situação fiscal é extraordinária: de uma promessa de superávit (1,2% do PIB) evoluímos rapidamente para uma perspectiva de déficit primário superior a R$ 50 bilhões, sem falar no eventual ajuste por conta das chamadas “pedaladas fiscais”. A situação é muito esquizofrênica não só porque a proposta de ajuste fiscal que está no Congresso não deverá andar neste ano, assim como o principal partido no poder e seu líder não param de pedir a troca do ministro da Fazenda. Ora, o desarranjo fiscal só aponta para uma situação ainda mais difícil no ano que vem.


Ademais, as crises setoriais são fundas e não existe nenhuma proposta ou perspectiva de melhorá-las. Além do setor de petróleo acima mencionado, vale observar que o setor de energia elétrica está totalmente paralisado, porque existem mais de 200 ações judiciais em andamento. O choque tarifário não resolveu o problema financeiro do segmento, mas, evidentemente não poderá ser repetido dada a precária situação das finanças de famílias e empresas. Claramente, o governo não tem nenhuma estratégia coerente para superar a situação, que será agravada pelo baixíssimo nível de água nos reservatórios da Região Nordeste.

Além da área de energia, o remanescente da infraestrutura (aeroportos, estradas, ferrovias e portos) também mostra um grave impasse regulatório que trava os novos projetos. Assistimos nas últimas semanas a uma sucessão de adiamentos de leilões de concessões em todas as áreas, sem falar no claro fracasso do último leilão de petróleo. Neste momento, o governo não tem nada a oferecer, tanto proposta, quanto esperança de melhora da situação.


Encerro com duas observações. A economia continuará muito mal e me parece impossível que consigamos nos arrastar nessas condições por mais três anos e dois meses.

Fonte: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-passado-nao-se-repete,10000000989

sexta-feira, outubro 23, 2015

O mundo está se tornando cada vez mais instável, há sinais de uma grande crise financeira em andamento


Crise internacional: dívida de empresas de emergentes quadruplicou

por de José Eustáquio Diniz Alves

Publicado em outubro 23, 2015 por 
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[EcoDebate] Crescem os sinais de que uma grande crise financeira internacional está em andamento. Os impactos sobre os países emergentes pode ser devastador, gerando desemprego, pobreza e insegurança. O mundo está se tornando cada vez mais instável e é aconselhável aprender a esperar o inesperado.
Em fevereiro de 2015, a consultoria Mackinsey publicou um relatório (Debt and, not much, deleveraging) mostrando que as dívidas dos domicílios (famílias), governos, empresas e setor financeiro passou de US$ 87 trilhões no quarto trimestre de 2000 para US$ 142 trilhões no quarto trimestre de 2007 e para US$ 199 trilhões no segundo trimestre de 2014. Em proporção do PIB a divida total passou de 246% em 2000, para 269% em 2007 e atingiu 286% em 2014. Isto quer dizer que a economia internacional está sendo sustentada por uma bolha de crédito que vem crescendo de forma exponencial, chegando a praticamente a 200 trilhões de dólares em meados de 2014, ou cerca de 3 vezes o valor do PIB mundial. Evidentemente esta dívida terá que ser paga em algum momento pelas atuais ou posteriores gerações.
Nos meses de agosto e setembro de 2015 houve uma queda geral do mercado de ações em todo o mundo. A bolsa de Nova Iorque caiu de 18.200 pontos para menos de 16.000 pontos. A bolsa de Xangai caiu de 5.000 pontos para cerca de 3.000 pontos. Todos os maiores mercados de ações do mundo cairam simultaneamente e a quantidade de riqueza que tem sido dizimada é superior a 5 trilhões de dólares. E tudo isto não é o fim, mas pode ser apenas o começo.
A queda dos preços das commodities está implodindo o equilíbrio financeiro dos países emergentes. Um possível colapso de qualquer grande exportador de commodities pode facilmente ser um evento ignitor do desastre, maior do que a implosão do Lehman Brothers em 2008. Os países exportadores tem sido um dos mais afetados. A Rússia tem sido particularmente afetada. Outro país que sofre tremendamente com a queda do preço do petróleo é a Arábia Saudita, cujas reservas internacionais caíram de US$ 737 bilhões em agosto de 2014, para US$ 672 bilhões em maio de 2015, segundo a Bloomberg. Neste ritmo de queda de 12 bilhões de dólares por mês a Arábia Saudita pode ficar no vermelho antes do final da atual década, sendo que as exportações líquidas de petróleo estão caindo em termos absolutos. A receita cai e os gastos internos sobem. O medo da entrada de terroristas acionou os alarmes na Arábia Saudita na década passada, levou suas autoridades a anunciarem, em 2006, a construção de uma cerca que impedisse o contágio das ações violentas em seu território. O avanço do projeto, que inclui um muro de mais de 900 km ao longo da desértica fronteira que separa sauditas de iraquianos, foi lento e andou pouco até junho do ano passado, mas se acelerou quando os jihadistas do Estado Islâmico (EI) ocuparam o norte da Síria e do Iraque e a ideia voltou a ter força. Uma crise econômica na Arábia Saudita provocará certamente uma crise política e social, podendo detonar uma “bomba” não só no Oriente Médio, mas em todo o mundo.
No livro, On Saudi Arabia: Its People, Past, Religion, Fault Lines and Future, Karen Elliot apresenta um quadro de crise econômica e política da monarquia absolutista da Arábia Saudita, com crescimento das tensões e frustrações internas de uma população jovem que não encontra empregos e de uma país que depende da força de trabalho de imigrantes. A combinação do fim das exportações de petróleo com crise política pode ser um barril de pólvora para a Arábia Saudita e todo o Oriente Médio, com consequências imprevisíveis para o resto do mundo. Uma crise séria no reino Saudita pode fazer a guerra na Síria e do Iêmen parecerem eventos pequenos. Em uma avaliação semelhante, o livro “Twilight in the Desert: The Coming Saudi Oil Shock and the World Economy”, de Matthew R. Simmons, considera que a Arábia Saudita está próxima de entrar em um declínio econômico e social irreversível.
Outros países dependentes da produção e exportação de petróleo estão em dificuldades devido a ‘bolha de carbono”. Segundo o instituto britânico Carbon Tracker, a ‘bolha de carbono’ é o resultado de um excesso de valorização pelos mercados globais das reservas de carvão, gás e petróleo detidas por empresas de combustíveis fósseis. Uma análise do desempenho econômico da indústria petrolífera mostra uma situação preocupante. A estudiosa Gail Tverberg, atuária e decrescentista, com base em uma apresentação de Steven Kopits, Diretor da Douglas-Westwood, mostra que as grandes empresas de petróleo, de capital aberto, estão em dificuldade, pois aumentaram as despesas de capital (Capex) – gastos como exploração, perfuração e implantação de novas plataformas de petróleo offshore – mas tiveram a producão de petróleo bruto reduzidas desde 2006. O mercado financeiro esperaria que a produção de petróleo bruto subisse quando o Capex aumentasse, mas Kopits mostra que, de fato, desde 2006, o Capex tem continuado a aumentar, mas a produção de petróleo caiu. As empresas que trabalham com combustíveis fósseis possuem ativos em torno de US$ 6 trilhões. Ou seja, o dinheiro está indo para o “fundo do poço”, mas o petróleo não está saindo na proporção esperada. De fato, são as empresas de energia que estão liderando a queda do mercado acionário. As ações da Petrobras (Petr3.SA) cairam de um pico de mais de R$ 60,00 em 26/05/2008, para R$ 44,3 em 29/11/2009, chegando a menos de R$ 8 em 29 de setembro de 2015. A Petrobras é a empresa mais endividada do mundo e a crise da companhia já afeta toda a cadeia produtiva da indústria brasileira. Só com muitos reajustes da gasolina e do diesel (transferindo os custos para os consumidores) a Petrobras pode melhorar seus balanços.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) no seu último relatório WEO, do inicio de outubro de 2015, reavaliou para baixo as projeções econômicas e mostrou que o endividamento das empresas dos países de mercados emergentes multiplicou por 4 na última década. Entre 2004 e 2014, o endividamento corporativo nas economias emergentes subiu de US$ 4 trilhões para US$ 18 trilhões, ou seja, de 47% para a casa de 73% do PIB, ou 26 pontos percentuais. O cenário piorou principalmente nas indústrias de combustível fóssil. O endividamento corporativo no Brasil cresceu cerca de 15 pontos percentuais do PIB apenas entre 2007 e 2014, a quarta maior expansão da amostra. O FMI alerta sobre a fuga de capitais dos países emergentes.

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A expansão da dívida empresarial — em cuja composição a moeda estrangeira ganhou espaço — foi motivada pelos juros virtualmente zero nos EUA, na Europa e no Japão após a eclosão da crise financeira de 2008. Mesmo com balanços mais fracos, as condições de financiamento ficaram mais vantajosas, pois havia dinheiro abundante para empréstimos, investidores buscando retornos mais elevados do que nas nações ricas, um dólar depreciado e o efeito-euforia com um mercado de commodities ainda robusto. As empresas não só pegaram muito emprestado como conseguiram diversificar o perfil do endividamento nos últimos dez anos. O crédito tomado junto a bancos ainda é dominante (83%), mas a participação das emissões de títulos e bônus praticamente dobrou. Essas condições no mercado internacional, porém, estão cada vez mais no passado, o que antecipa elevação dos custos de rolagem de dívidas existentes e de tomada de novos empréstimos.
Todos esses acontecimentos tornam as economias dos mercados emergentes mais vulneráveis a um aumento das taxas de juros, à apreciação do dólar e a um incremento na aversão global ao risco. À medida que as economias avançadas normalizem a política monetária (voltem a subir juros), os mercados emergentes deverão se preparar para a quebra de grande número de empresas, desencadeando uma crise maior do que a de 2009. A crise das empresas endividadas e a desaceleração das economias de países em desenvolvimento (submergentes) vai fazer com que a economia global cresça em ritmo menor, podendo ser o início de uma bola de neve de recessão generalizada.
No caso brasileiro, os desequilíbrios internos já fizeram o dólar disparar e ultrapassar a barreira histórica dos R$ 4, o maior valor nominal do câmbio desde o lançamento do Plano Real. Isto é muito preocupante pois o passivo externo no país é muito grande. O governo brasileiro se gaba de ter reservas de cerca de US$ 350 bilhões, mas este dinheiro veio do endividamento das empresas. Além do mais o governo aplica as reservas no exterior com juros próximos de zero e paga juros elevadíssimos no mercado interno, com grande prejuízo para a nação. Po exemplo, o programa de swaps cambiais está custando caro. Em 12 meses até agosto de 2015, o BC perdeu R$ 111,6 bilhões com a operação. É o equivalente a 21% do déficit nominal do período, algo em torno de 2% do PIB.
Mas se o Banco Central Americano (FED) iniciar o processo de subida das taxas de juros ainda este ano, o impacto sobre a saída de dólares do Brasil pode ser arrasador, pois, além de tudo, a situação política está agravando a instabilidade econômica. Se vier outro choque externo, ai sim o Brasil vai sentir o impacto da crise internacional. E, com certeza, não será nada agradável.
Referências:
ALVES, JED. A dívida de 200 trilhões de dólares e a próxima crise financeira mundial, Ecodebate, RJ, 13/03/2015
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate, 23/10/2015

quarta-feira, outubro 07, 2015

Boulos: a crise econômica diminui o ritmo da especulação porque os imóveis param de se valorizar


Modelo econômico dos governos Lula e Dilma gerou crise urbana e agravou déficit habitacional, diz Guilherme Boulos

Dezoito anos após seu nascimento em São Paulo, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) está se afirmando como um dos novos protagonistas da mobilização popular. Representando 45 mil famílias em dez capitais brasileiras, o movimento já ganhou certa capilaridade e se afirma como o primeiro movimento urbano do país. Para seu principal líder, Guilherme Boulos, o objetivo do grupo não é só “conquistar a moradia, mas reverter o modelo urbano para acabar com o caráter de segregação das cidades brasileiras”.
A entrevista é de Lamia Oualalou, publicada por Opera Mundi, 06-10-2015.
Apontando o crescimento das ocupações por sem-tetos – que triplicaram em 2014 – ele explica que isso não é resultado da crise econômica. Para ele, foi a própria política econômica dos governos Lula e Dilma que provocou a especulação imobiliária. Isso porque apostaram no crédito para a moradia sem nenhuma regulação em relação, por exemplo, aos preços dos aluguéis. “A crise urbana antecedeu a crise econômica no Brasil”, resume.
Formado em filosofia pela USP, o militante, com 33 anos, defende uma “Frente Social”, ou uma “Frente Popular”, para combater o avanço da direita sem apoiar o governo. No entanto, o MTST não compõe a Frente Brasil Popular, fundada no começo de setembro por iniciativa do PT, do PCdoB, da CUT, do MST e da UNE.
Eis a entrevista.
Os movimentos de sem tetos, e especialmente o MTST, ocupam um espaço cada vez maior nos protestos na rua. Por que a questão da moradia é tão crucial?
MTST nasceu em 1997, com a proposta de fortalecer a luta pela moradia digna no Brasil, que tem um dos maiores déficits habitacionais no mundo. Calcula-se que 5,8 milhões de famílias são consideradas sem tetos, ou seja, 20 milhões de pessoas. Além disso, o déficit qualitativo – que representa as pessoas que têm uma casinha, mas sem acesso a serviços públicos ou infraestrutura urbana – atinge mais de 15 milhões de famílias no país. Isso significa que o problema da moradia afeta direta ou indiretamente um terço da população. Em relação à população urbana, a proporção é ainda maior.
Porque que esta luta ganhou mais visibilidade nos últimos dois anos, sobretudo a partir das manifestações de junho de 2013?
Junho de 2013 funcionou como um gatilho, um disparador. A panela de pressão explodiu, deixando escapar as tensões latentes na sociedade brasileira, entre elas a da crise urbana. Não é à toa que junho de 2013 estoura com um tema urbano, que é a mobilidade. A crise da mobilidade tem tudo a ver com a especulação imobiliária. Se você joga as pessoas para mais longe, você agrava o problema de transporte, já que a oferta de trabalho continua no centro.
As pessoas passam pelo menos 4 horas por dia em ônibus lotados para ir ao trabalho. Acrescente a isso os despejos e as remoções provocados pela Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos e você entende o crescimento dos sem-tetos. O número de ocupações não para de crescer. Em São Paulo, foram 250 entre 2011 e 2012, e passaram a 680 entre 2013 e 2014, três vezes mais.
Por que a panela de pressão estourou dois anos atrás numa situação de geração de emprego ainda forte e de alta da massa salarial?
Acima de tudo porque o processo que nós vivemos no último período agravou as contradições do modelo urbano. O modelo de desenvolvimento adotado pelos governos do PT, embora seja comparativamente melhor do que as políticas neoliberais puro-sangue dos anos 1990, preservou muitos elementos desta política. A ampliação do mercado interno e do consumo popular através do crédito, que por um lado é positivo, por outro, teve um efeito perverso. Este crescimento foi uma das locomotivas da construção civil, o setor que mais cresceu nos últimos 10 anos – junto com o agronegócio e dos bancos.
O crédito para aquisição ou construção de casa aumentou brutalmente. Em 2005, o estoque de crédito imobiliário era de 4,8 bilhões de reais. Em 2014, atingiu 102 bilhões. Foi jorrado muito dinheiro público no setor da construção. Isso incentivou a criação de empregos e permitiu a alguns segmentos da chamada classe C ascender à casa própria. Mas também estimulou uma especulação imobiliária brutal. Algumas regiões de bairros periféricos que não eram capitalizados pelo mercado imobiliário passaram a ser e esta valorização implicou a exclusão.
Nos últimos sete anos, o valor da terra em São Paulo aumentou de 220%, e no Rio de Janeiro, de 265%, a maior alta do país. Boa parte das capitais brasileiras ficou neste patamar de 150-200%. Isso influi diretamente no valor dos aluguéis. Aquilo que o aumento do salário mínimo, Bolsa Família e o crédito deram para a família trabalhadora com uma mão, o aluguel tirou com a outra. Isso começou a provocar uma expulsão de pessoas, gerando uma onde de periferização, jogando as pessoas para regiões ainda mais distantes.
Quer dizer que o processo de expulsões dos mais pobres para a periferia é anterior à crise econômica?
A crise urbana antecedeu a crise econômica no Brasil. Aliás, este modelo econômico gerou a crise urbana. Ao encher o setor da construção de crédito, empoderá-lo sem nenhuma regulação pública, o sistema aumentou o valor dos aluguéis e agravou o déficit habitacional. Para milhares de famílias não restou alternativa que não a ocupação de imóveis ociosos.
MTST privilegia ocupações nas periferias das cidades e não nos centros. Pode explicar esta escolha?
Primeiro, quero dizer que o movimento acha importante que ocorram ocupações nas regiões centrais, porque o que aconteceu com o modelo urbano foi expulsar os pobres do centro. Tem muitos edifícios ociosos que precisam ser reapropriados pelos trabalhadores pobres, e há vários movimentos que fazem isso no país. Estas ocupações são importantíssimas. A opção do MTST de focar mais nas periferias tem a ver com um projeto de acúmulo de força social para fazer mudanças no país.
Uma ocupação no centro, mesmo com toda sua importância, fica ilhada num ambiente hostil. Na periferia, é diferente porque o processo de ocupação das grandes periferias brasileiras foi historicamente de loteamento clandestino. Então uma ocupação nestas regiões se irradia e se relaciona com seu entorno, conseguindo se articular com outro projeto de reforma urbana para lutar por serviços públicos, saúde, educação, esporte, contra os despejos de comunidades historicamente estabelecidas. Esta luta dá mais horizonte e amplia o processo de organização popular. Para nós, não basta conquistar a moradia, queremos reverter o modelo urbano para acabar com o caráter de segregação das cidades brasileiras.
Qual é sua avaliação da política de moradia do governo?
Primeiro, tem que lembrar que antes não tinha nenhuma política. Há seis anos temos o MCMV (Minha Casa Minha Vida) o que já é um avanço. Além disso, o programa incorporou uma reivindicação histórica dos movimentos que é o subsídio. Em países como o Brasil é impossível resolver a questão da moradia apostando só no crédito.
Boa parte das pessoas que não têm casa não tem condição de contratar um crédito, por ser de baixa renda ou por ter o nome sujo. A única forma de resolver é com subsídio, tratando a moradia como um direito, não como uma mercadoria. O MCMV chega a 95% de subsídios na faixa de renda mais pobre. Dito isso, o programa tem um problema central: ele não foi criado para resolver a questão da moradia no país, mas para injetar recursos no setor da construção civil, que estava ameaçado pela crise a partir de 2008. Neste sentido, a lógica do programa é comprometida por interesses econômicos muito mais do que com perspectivas sociais.
Qual é o impacto do fato que, segundo vocês, o programa atende muito mais ao setor da construção do que a demanda de moradia?
Os principais agentes do programa são as construtoras. Elas têm a prerrogativa de escolher o terreno, gerir a obra, e fazer o projeto. Ou seja, o planejamento urbano passa a ser privatizado. O mecanismo é o seguinte: a construtora tem um terreno, ela faz um projeto atendendo às especificações mínimas que ela submete à Caixa Econômica Federal. Tendo o projeto aprovado, ela recebe os créditos para construir as moradias. A prefeitura municipal indica as pessoas que vão morar lá. O governo paga o mesmo valor por unidade habitacional, independente do tamanho e da localização. Em São Paulo, por exemplo, o valor é R$ 76 mil por apartamento. Suponhamos: a construtora tem um terreno onde ela vai construir mil apartamentos. Ela vai receber R$ 76 milhões do governo para fazer a obra. Se ela fizer a obra aqui no centr o ou no fundão de Itapecerica da Serra, ela vai receber os mesmos R$ 76 milhões. Se ela fizer apartamentos de 39m2, que é o mínimo, ou se ela resolver fazer 60m2, ela vai receber o mesmo dinheiro. Isso significa a produção de apartamentos de baixa qualidade, pequenas, e nas piores regiões.
Assim o MCMV acaba reproduzindo uma lógica de expulsar para a periferia os pobres, uma lógica segregadora. As construtoras utilizam seus piores terrenos para o programa e reservam os melhores para empreendimentos de alta renda.
Apesar disso, vocês consideram que o programa ajudou a melhorar a questão da moradia?
Como já disse, o programa tem o mérito de existir e nós militamos, junto com outros movimentos de moradia, para conseguir o financiamento de sua terceira fase. Mas, na medida em que o MCMV produz casas e não cidade, na medida em que não vem acompanhado de políticas publicas de combate à especulação imobiliária, o programa acaba enxugando o gelo.
Em 2008, um ano antes de ele ser lançado, o déficit habitacional era 5,3 milhões. O último dado que temos, depois de mais de um milhão de casas construídas pelo programa, é de 5,8 milhões; Ou seja, o próprio déficit aumentou, porque o ritmo de construção de MCMV é menor que o ritmo de produção de novos sem-tetos por este modelo de cidade. Por conta de todos estes vícios, o programa acabou sendo utilizado como uma política de periferização e de remoção, isso é inaceitável. Ele representa o aprofundamento de um modelo de cidade excludente.
Que medidas preconiza o movimento para acabar com exclusão urbanas?
São várias. Vou apontar as três principais. Primeiro uma nova lei do inquilinato. Não é razoável que uma questão tão social como o aluguel seja determinada apenas pela lei de oferta e procura. Tem que ter uma regulação que coloque, por exemplo, que o ajuste tenha como teto o índice de inflação. O aluguel aumentou três vezes mais que a inflação nos últimos anos. Isso já existiu na historia do país e existe em outros.
Segundo, temos que retomar uma política de terras públicas no Brasil. A constituição brasileira assegura o direito à propriedade, mas ela exige que esta propriedade cumpra uma função social. Isso não é respeitado. Tem milhares de terras privadas utilizadas apenas para a especulação imobiliária. Imóveis na região central esperando uma operação urbana, uma parceria público-privada para ser vendido melhor. “Esperando” não é a palavra correta: os interesses se articulam com os poderes públicos para conseguir esta valorização. Precisamos ter um combate brutal da especulação imobiliária, as chamadas traves de taxação da valorização imobiliária, que não existe hoje.
Finalmente, necessitamos uma política agressiva de levar o centro para a periferia e trazer a periferia para o centro. Isso significa levar os serviços públicos, a oferta do trabalho para a periferia. É irracional que as pessoas tenham jornadas de oito horas mais quatro no ônibus. Ao mesmo tempo, fazer das regiões centrais lugares de moradia para os trabalhadores mais pobres. O déficit habitacional é 5,8 milhões, como já vimos. O numero de imóveis ociosos é de 5,5 milhões. Ou seja, você praticamente resolveria o déficit se desapropriasse estes imóveis, muitos deles nas regiões centrais, para fazer moradia popular.
Com a crise econômica os problemas de moradia vão se estender?
Por um lado, a crise econômica diminui o ritmo da especulação porque os imóveis param de se valorizar. Mas, por outro lado, a renda das famílias cai brutalmente. Com desemprego, redução salarial, a ocupação de terras por famílias vai crescer nos próximos anos. Estamos só no começo da crise, o ano que vem será um desastre.

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