Entre a Crítica e a Culpa: O Estadão na Contradição das Arbitrariedades do Supremo
Leandro Ruschel, Telegram, 21/04/2024.
O jornal Estadão, em sua cruzada por transparência nas decisões do Supremo Tribunal Federal, paradoxalmente, parece esquivar-se de sua própria responsabilidade histórica na perseguição política à direita. Este veículo foi pioneiro na elaboração de uma lista negra de ativistas conservadores, cujos nomes figuraram como alvos de repressão nos anos seguintes, ironicamente pelas mesmas autoridades que o jornal agora critica.
Hoje, o Estadão publicou um editorial cobrando transparência nos inquéritos do Supremo, abertos há mais de cinco anos, mas curiosamente deposita a culpa das arbitrariedades nas vítimas dessa perseguição. O ponto mais controverso do editorial afirma que a crise de credibilidade do STF é "primordialmente" resultado dos ataques do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seus apoiadores radicais. No entanto, o jornal omite as consequências da decisão da corte de encaminhar casos de corrupção para a Justiça Eleitoral no início do governo Bolsonaro, ação que desencadeou protestos e intensificou as críticas aos ministros.
Além disso, a relevância do depoimento de Marcelo Odebrecht, que implicou o ministro Dias Toffoli como "Amigo do Amigo do meu Pai", e a subsequente censura à revista que reportou essa declaração, são exemplos claros de como decisões judiciais podem ser percebidas como politicamente motivadas. Isso foi seguido pela anulação em massa das condenações de figuras centrais no maior esquema de corrupção da história do Brasil, levantando questões legítimas sobre a imparcialidade e integridade da Suprema Corte.
Os inquéritos em questão parecem servir mais para silenciar a indignação popular e proteger os ministros do que para preservar a integridade da instituição, uma percepção que ganha força globalmente, não só entre críticos do governo, mas também através de figuras internacionais como Elon Musk, que o Estadão descreve pejorativamente como um "oportunista", e até mesmo de congressistas americanos, a quem o jornal chama de "radicais".
Neste contexto, é decepcionante observar como importantes segmentos da imprensa, incluindo o Estadão, têm se alinhado mais com interesses partidários do que com o jornalismo investigativo. A mídia, que deveria atuar como baluarte da liberdade de expressão e fiscalizadora do poder, se transformou num instrumento de repressão política.
O apelo dos conservadores, rotulados pejorativamente de "extremistas", entre outras alcunhas, não é um ataque ao Supremo Tribunal Federal, mas um clamor para resgatar a sua função essencial como guardião da Lei e da Ordem, livre de influências corruptas e partidarismos que comprometem a democracia e o Estado de Direito.
A defesa da democracia exige uma justiça verdadeiramente independente e imparcial, não um regime autoritário mascarado de legalidade.