terça-feira, dezembro 23, 2025

Quando as máscaras caíram

Quando as máscaras caíram

    "O Brasil não é para principiantes."

    — Tom Jobim

Houve um tempo em que o Brasil parecia ter encontrado seu caminho. Os primeiros anos do século XXI prometiam uma era de prosperidade compartilhada e reconciliação nacional. A economia crescia, milhões ascendiam à classe média, e uma atmosfera de otimismo pairava sobre as cidades e interior do país. Os brasileiros, historicamente divididos por abismos de classe e região, pareciam finalmente convergir para um consenso mínimo sobre o futuro da nação. Ou assim nos faziam crer. Sob a superfície dessa aparente harmonia, porém, forças tectônicas se moviam em silêncio. Como placas continentais que acumulam tensão durante décadas antes de liberá-la em um terremoto devastador, as contradições da sociedade brasileira amadureciam em segredo, aguardando o momento de sua revelação. A ilusão do consenso era apenas isso: uma ilusão cuidadosamente cultivada, uma névoa que encobria fraturas profundas na própria alma do país.

Este livro conta a história dessa revelação. Não a história de como o Brasil se dividiu — pois a divisão já existia, latente e primordial —, mas de como as máscaras caíram e a guerra até então velada emergiu à luz do dia, tornando-se o fato central da vida política brasileira contemporânea.



O conceito de "guerra cultural" soa, à primeira audição, como hipérbole retórica ou paranoia conspiracionista. Guerras são travadas com armas, exércitos, sangue e fogo. O que poderia haver de "guerra" em debates sobre currículo escolar, representatividade na mídia ou decisões do Supremo Tribunal Federal? A resposta exige que abandonemos a metáfora militar em seu sentido mais literal e a compreendamos em sua dimensão existencial. Guerra cultural não é conflito armado, mas é conflito absoluto. É guerra porque não admite neutralidade, porque transforma adversários em inimigos, porque politiza todas as esferas da existência humana, porque seus combatentes lutam não por território ou recursos, mas pela própria definição do que é verdadeiro, bom e belo. É guerra porque seus participantes acreditam — em ambos os lados — que a derrota significa não apenas perda política, mas aniquilação civilizacional.

Neste conflito, não se disputa apenas quem governará o país nos próximos quatro anos, mas que tipo de sociedade o Brasil será nas próximas gerações. Disputa-se o significado da família, a natureza da sexualidade humana, o papel da religião na vida pública, o conteúdo da educação das crianças, a interpretação da história nacional, os limites da liberdade de expressão, a própria definição do que constitui um ser humano. São questões que não admitem compromisso fácil, pois tocam naquilo que cada lado considera sagrado e inegociável.

Para compreender a guerra cultural brasileira, é preciso primeiro entender como ela pôde permanecer oculta por tanto tempo. Durante décadas, uma das visões de mundo — a progressista — conquistou silenciosamente as instituições que moldam a consciência coletiva: universidades, escolas, redações de jornais e televisões, a grande mídia, indústria cultural, organizações não-governamentais, e crescentemente, os tribunais superiores. Esta conquista não foi resultado de conspiração secreta, mas de um processo histórico que Antonio Gramsci, o pensador marxista italiano, teria reconhecido como exemplar aplicação de sua estratégia de "guerra de posição": a ocupação metódica dos espaços de produção de sentido, onde se definem os termos do debate público e os limites do pensável.

Sob esta hegemonia velada, os conservadores brasileiros — que provavelmente constituíam maioria numérica da população — encontravam-se paradoxalmente silenciados e marginalizados. Suas crenças sobre família, religião, nação e moralidade eram tratadas não como posições legítimas em um debate democrático, mas como resquícios de ignorância a serem superados pela marcha inexorável do progresso. Aprenderam a calar-se em público, a guardar suas convicções para o âmbito privado, a aceitar que a história havia pronunciado seu veredicto contra eles.

Este estudo não pretende ser neutro — e aqui cabe uma confissão. Escrevo da perspectiva de quem identifica a hegemonia cultural progressista como um problema para a democracia brasileira. Não porque as ideias progressistas sejam intrinsecamente más, mas porque sua transformação em ortodoxia institucional, imune ao debate e protegida pelo poder judicial, subverte o próprio sentido do autogoverno democrático. Quando juízes não-eleitos definem questões que deveriam ser resolvidas pelo legislador; quando universidades públicas funcionam como aparelhos de doutrinação unidirecional; quando a mídia abandona o jornalismo pelo ativismo; quando expressar convicções tradicionais se torna crime passível de punição — então algo de profundamente antidemocrático está em curso, independentemente de quão nobres sejam os fins invocados, a trajetória de um novo totalitarismo se anuncia.

Isto não significa que o campo conservador esteja isento de críticas, ou que todas as suas manifestações sejam louváveis. A radicalização é espiral que pode arrastar ambos os lados, e a tentação autoritária não respeita fronteiras ideológicas. Mas reconhecer simetrias parciais não deve obscurecer assimetrias fundamentais: no Brasil de hoje, é um dos lados que controla as instituições de prestígio, define os termos do debate público, e dispõe de poder estatal para perseguir adversários. A presença e a resistência conservadora, com todos os seus excessos e defeitos, permanece estruturalmente na posição de contra-hegemonia, não de hegemonia.

O Brasil está numa encruzilhada. Os caminhos possíveis são múltiplos, mas nenhum é fácil. Pode-se imaginar a consolidação definitiva da hegemonia progressista, com a marginalização permanente dos conservadores através de censura legalizada, criminalização de dissidências, crimes de opinião, e controle ideológico das instituições. Esta seria uma "democracia iliberal de esquerda", que mantém as formas exteriores do regime democrático enquanto esvazia seu conteúdo substantivo. Pode-se imaginar uma reação conservadora que, em nome de restaurar o equilíbrio, ultrapasse os limites do aceitável e instaure uma reação forte de sinal trocado. A história ensina que revolucionários e contrarrevolucionários frequentemente espelham os vícios que denunciam nos adversários.

Pode-se imaginar o colapso — a radicalização mútua conduzindo a uma crise institucional de consequências imprevisíveis, onde a violência simbólica cede lugar à violência física e o tecido social se rasga irremediavelmente. E pode-se imaginar, talvez, uma trégua — não a reconciliação impossível entre cosmovisões irreconciliáveis, mas uma coexistência tensa e consciente, onde cada lado aceita os limites de sua pretensão de reação em impor ao outro sua visão de mundo. Uma paz fria, frágil, sempre ameaçada, mas preferível à guerra perpétua.

Qual destes caminhos o Brasil seguirá? Ainda não sabemos. Mas sabemos que a escolha depende, em parte, de nossa capacidade de compreender a natureza do conflito em que estamos imersos. É possível lutar sem entender; é possível odiar sem conhecer as razões do próprio ódio. Mas não é possível escolher sabiamente sem primeiro ver com clareza. 

Este livro é uma tentativa de ver com clareza. Nas páginas que seguem, examinaremos os fundamentos teóricos do conceito de guerra cultural, desde suas origens na sociologia americana e suas relações com a hybris marxista, até sua aplicação ao contexto brasileiro. Traçaremos a genealogia do conflito, identificando suas raízes na redemocratização de 1985 e seu desenvolvimento nas décadas subsequentes. Analisaremos o momento de ruptura representado por junho de 2013 e suas consequências para a polarização política nacional. Mapearemos as arenas em que a guerra se trava — costumes, educação, cultura, religião, direito — e os protagonistas que nelas se enfrentam. Examinaremos as dinâmicas que alimentam a escalada do conflito e os cenários possíveis para seu desdobramento.

Ao longo de todo o percurso, o leitor encontrará não apenas análise, mas também argumento. Pois entendo que o intelectual tem o dever não apenas de descrever a realidade, mas de tomar posição diante dela. Procurarei fazê-lo com honestidade, reconhecendo os limites de minha perspectiva e oferecendo ao leitor os elementos para formar seu próprio juízo.

Uma última palavra sobre o título desta obra. "Guerra cultural" não é expressão neutra — carrega consigo uma tese sobre a natureza do conflito político contemporâneo. Alguns prefeririam falar em "polarização", termo mais asséptico que sugere um fenômeno passageiro, remediável por boa vontade e moderação. Outros prefeririam "disputa democrática", eufemismo que normaliza o que há de excepcional na situação presente. Escolhi "guerra" deliberadamente, não para incitar à violência, mas para nomear a realidade tal como a percebo: um conflito de cosmovisões que não admite síntese hegeliana, que não se resolverá em uma ou duas eleições, e cujo desfecho moldará o Brasil por gerações.

Se este livro contribuir para que alguns brasileiros — de qualquer lado das barricadas — compreendam melhor o terreno em que pisam, terá cumprido seu propósito. Pois é na lucidez, e não na paixão cega, que reside nossa única esperança de atravessar esta tempestade sem naufragar. A guerra cultural no Brasil foi revelada em junho de 2013. Mas não começou lá. E não terminará tão cedo ao observarmos a ressonância crescente da trajetória do trem da história que não parece esperar, nem poupará os retardatários. Que comecemos, então, pela compreensão.

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