Publicado em agosto 6, 2012 por Henrique Cortez no EcoDebate
Na surdina o governo vai levando
adiante o plano de construir o Complexo hidrelétrico na bacia do Tapajós – o
maior mosaico de biodiversidade do planeta. Embora menos comentado e debatido,
o projeto é considerado ainda mais devastador do que Belo Monte.
Para viabilizar o projeto, o governo
publicou em janeiro uma medida provisória – convertida em lei em junho –,
reduzindo as unidades de conservação nas áreas que serão atingidas pelas obras.
O retalhamento da principal área de
unidade de conservação da floresta amazônica brasileira foi definido como uma
“questão lógica”: “Há uma decisão estratégica de desenvolvimento do país e o
potencial para gerar a energia capaz de atender essa demanda está localizado em
áreas de proteção integral. Para permitir a realização dos estudos, a área
tinha que ser desafetada. É uma questão lógica”, disse Roberto Ricardo Vizentin
presidente do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), paradoxalmente
o órgão responsável pela vigilância dos parques e unidades nacionais de
preservação.
Dessa forma se tornou possível o
“iminente sacrifício de 140.000 ha de Floresta Amazônica no altar do PAC” diz o
Movimento Tapajós Livre. O Complexo Tapajós é mais um tributo à voracidade e
insaciabilidade do modelo desenvolvimentista.
Não basta Belo Monte no Rio Xingu,
Jirau e Santo Antônio no Madeira, Teles Pires (suspensa no momento), Araguaia
ou ainda as dezenas de hidrelétricas em construção pelo país. Agora, o modelo
desenvolvimentista quer mais, quer Tapajós – um santuário da biodiversidade não
apenas brasileira, mas, planetária.
A voracidade do modelo
desenvolvimentista se manifesta também na aposta do pré-sal. Sobre essa matriz
energética destaque-se o que disse essa semana o economista José Luís Oreiro em
entrevista ao IHU: “Particularmente, sou muito cético com respeito ao pré-sal.
Trata-se de um investimento muito volumoso, de uma tecnologia que, ao que tudo
indica, está em via de se tornar obsoleta. Não consigo visualizar, nos próximos
vinte anos, a matriz energética do mundo ainda baseada na exploração de
derivados de petróleo. Então, trata-se de uma aposta de altíssimo risco”.
O pré-sal, segundo Oreiro “veio
tarde demais para a economia brasileira, no sentido de que, se o Brasil o
tivesse descoberto há vinte anos, realmente poderia ter se aproveitado dessa
abundância de petróleo de maneira positiva. O risco que o Brasil corre agora é
de investir um monte de dinheiro na exploração do pré-sal e, daqui dez anos ou
quinze anos, toda essa tecnologia se tornar obsoleta, porque vamos ter uma
revolução energética que vai implicar no abandono, ou pelo menos, numa redução
significativa na demanda por derivados de petróleo”.
No “altar” do modelo
desenvolvimentista está também o sacrifício do Código Florestal; a portaria 303
da Advocacia Geral da União – AGU; a PEC 215; a já citada Medida Provisória nº
558. O retrocesso e sacrifícios na agenda ambiental e suas implicações não têm
limites.
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A análise da Conjuntura
da Semana é uma (re)leitura das Notícias do Dia publicadas diariamente no sítio
do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas
Unisinos – IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e
Apoio aos Trabalhadores – CEPAT, parceiro
estratégico do IHU, com sede em Curitiba-PR, e por Cesar Sanson,
professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, parceiro do
IHU na elaboração das Notícias do Dia.
Fonte: Ecodebate, 06/08/2012, publicado pela IHU On-line,
parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.
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