Reflexões
O resgate das utopias transformadoras, da esperança de que um outro mundo é possível, me parece um caminho essencialmente anterior e interior, uma re-conquista imprescindível ao ser, uma recuperação contínua e necessária de sentimentos, referenciais enriquecedores ao conhecimento, precisos, que hoje, parecem esquecidos ou destruídos no decorrer do dia-a-dia acelerado, não mais durante os longos anos de vida. O que parece natural não é mais. Quando pensamos que já experimentamos de tudo, caímos nas armadilhas dos processos personalísticos, da acomodação, da ignorância permitida, e deixamos de encontrar o novo do novo, o encantamento afetivo, a permanência do real do relacionamento humano, o re-conhecimento do outro, o respeito mútuo pelas diferenças. Manter o divino interior vai ficando para depois ou para outro momento que seja o ideal, na preparação, o planejamento demora, o risco da solução que procuramos é imensurável e o resultado que nos damos é mesquinho. A banalização dos sentimentos é sistematicamente repetida, nos colocamos à mercê de prioridades e importâncias pouco significantes para a realização da felicidade e nos afastamos da evolução espiritual, do divino que abrigaríamos ao nos conhecermos melhor e ao Outro (ser e Natureza).
A efetividade da matéria objetivada na hipereconomização do mundo e a metástase do conhecimento relacionam-se diretamente a capitalização da natureza, a morte da simbologia humana e dos referentes da emoção cada vez mais racionalizada, tudo converte o ser em suas representações, em peças sem identidade ou significado, objetos de arquétipos pré-configurados na medida de uma sociedade individualista, personificada nos modismos, pela invasão tecnológica na vida e valores culturais esgarçados na correnteza violenta do império do Objeto globalizado. Os discursos e mentes vagam ausentes de ideais ou utopias humanizadoras sobre falsos fundamentos ideológicos afastando-se da ordem necessária e suficiente ao desenvolvimento dos seres e saberes, da ordem natural das coisas do mundo, do meio ambiente envolvente.
Sem uma consciência de justiça ou visão para uma transformação objetivamente social vamos ficando permanentemente em um simulacro de vida, terror e desespero, onde o inconsciente coletivo bóia submetido às simulações do racionalismo científico a serviço do interesse da dinâmica da acumulação do capital que domina o consumo e o uso dos recursos naturais além do limite do equilíbrio do planeta, segundo as necessidades e dependências criadas por uma hiper-realidade caótica que desloca a ordem simbólica, um jogo de espelhos desprovido de ética e movido pelos mecanismos de mercado tidos como lei; "um excesso de objetividade num jogo de simulações entre o modelo e o real dirigido por desígnios de uma razão sem sentidos nem referentes".
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