A maré vira lentamente
Depois de seis anos, fica difícil não perceber que os antikeynesianos estavam errados em tudo
por Paul Krugman — publicado 13/12/2014 09:26
Em 2010, tive uma revelação sobre o quanto a política econômica iria piorar. Li a “Previsão econômica” da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que pedia austeridade fiscal e aumentos das taxas de juro, porque... bem, porquê.
Agora a OCDE pede estímulo fiscal e monetário na Europa. Não são as mesmas pessoas: a OCDE tem uma nova economista-chefe, Catherine L. Mann, cuja excelente pesquisa sempre teve orientação pragmática (e que escreveu sua dissertação, na época, orientada por Rudi Dornbusch, do MIT, e por este que vos escreve). Mas a OCDE assumiu uma posição ao escolher Mann este ano, e minha sensação é de que o terreno se mexe em todo o mundo.
Demorou um pouco. No início de 2013, com o infame abismo do crescimento a 90% de dívida e a tese da austeridade expansionária em colapso, muitos pensamos que os austerianos correriam. Mas subestimamos o quanto as autoridades e, em certa medida, a mídia tinham um interesse profissional nas posições que haviam defendido nos três anos anteriores, e sua disposição a agarrar-se a qualquer coisa – uma pequena recuperação no Sul da Europa, ou uma retomada na Grã-Bretanha quando o governo parou de apertar por algum tempo – como suposta justificativa para opiniões que, na realidade, eram majoritariamente contrárias às evidências. E isso continua a acontecer.
Mas os falcões parecem recuar no Federal Reserve, e o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi (outro Ph.D. do MIT) parece muito a presidenta do Fed, Janet Yellen. Além disso, todo o modo como discutimos o Japão está muito no campo keynesiano. Três anos e meio atrás a revista Businessweek declarou que o austeriano expansionista Alberto Alesina era o novo Keynes. Agora nos diz que Keynes é o novo Keynes. E há pessoas como o bilionário administrador de fundos de hedge Paul Singer queixando-se sobre a “krugmanização” do debate.
Por que a maré parece estar finalmente virando? Penso que em parte é apenas uma questão de tempo: depois de seis anos, fica difícil não perceber que os antikeynesianos estavam errados sobre tudo. O escorregão da Europa para a deflação torna ainda mais difícil negar as realidades da economia de armadilha de liquidez. E a recusa de quase todo mundo no lado antikeynesiano a admitir qualquer tipo de erro os fez gradualmente parecer ridículos.
Tudo isso pode ser pouco e chegar tarde demais para evitar um desastre de políticas, especialmente na Europa. Mas é algo a se aplaudir, de leve.
•
Sei que vocês, jovens espertalhões, não se lembram da história, mas há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante – bem, na verdade em 2011 e aqui mesmo no planeta Terra –, os preços do petróleo e outras commodities subiam, e não caíam.
•
Sei que vocês, jovens espertalhões, não se lembram da história, mas há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante – bem, na verdade em 2011 e aqui mesmo no planeta Terra –, os preços do petróleo e outras commodities subiam, e não caíam.
Em consequência, a inflação total estava bastante alta. Alguns de nós argumentamos que a inflação básica era um guia melhor para a política monetária, e o Fed concordou; mas os inflacionistas estavam malucos e na Europa o BCE decidiu, desastrosamente, aumentar as taxas de juro.
Então, agora que o petróleo despenca, as mesmas pessoas que viam o seu aumento como um motivo para aumentar as taxas deveriam ver a sua queda como um motivo para a política expansionista, certo?
Errado. Elas nos dizem para prestar atenção à inflação total baixa, que segundo elas é apenas o petróleo (embora não seja), e de qualquer modo a queda dos preços é um estímulo. Assim, quando o petróleo sobe é um motivo para endurecer a política, e quando cai é um motivo para não afrouxar a política. E as pessoas se perguntam por que eu falo em sadomonetarismo.
•
Julia Belluz, da Vox, escreveu um belo artigo sobre perda de peso, e me chamou atenção dois pontos: a ausência de uma melhor dieta definida e a importância do acompanhamento pessoal. Perdi um bocado de peso nos últimos dois anos e aprendi algumas coisas no caminho.
•
Julia Belluz, da Vox, escreveu um belo artigo sobre perda de peso, e me chamou atenção dois pontos: a ausência de uma melhor dieta definida e a importância do acompanhamento pessoal. Perdi um bocado de peso nos últimos dois anos e aprendi algumas coisas no caminho.
Primeiro, tendemos a exagerar as diferenças individuais. Há montes de anúncios de contas que lhe permitem investir de acordo com suas necessidades individuais. Mas a vasta maioria das pessoas deveria apenas colocar seu dinheiro em um fundo indexado. E quando se trata de consumo alimentar, quantos ganham por serem capazes de customizar suas opções?
No acompanhamento, uso um tracker Fitbit, que me força a fazer meu exercício diário. Também me peso diariamente, sabendo que as variações nada significam. O negócio é a culpa. Sinto-me muito bem. Conseguirei manter o regime? Veremos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário