A urbanização e o crescimento das megacidades, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Publicado em abril 22, 2015 por Redação
[EcoDebate] A revista britânica The Economist publicou um mapa interativo com a evolução da urbanização mundial e das cidades globais no mundo entre 1950 e 2030. Em 1950, 7 em cada 10 habitantes viviam em áreas rurais (70,4%).
Dos 29,6% habitantes das zonas urbanas, a maior quantidade (17,7%) vivia em cidades com menos de 300 mil habitantes. As cidades entre 300 mil e 500 mil habitantes abarcavam apenas 2% da população mundial. As cidades entre 500 mil e um milhão de habitantes abarcavam 2,6% da população mundial. Aquelas entre 1 milhão e 5 milhões de habitantes abrigavam 5,1% da população mundial. As cidades entre 5 milhões e 10 milhões de habitantes absorviam 1,3% da população mundial.
Em 1950. as megacidades, aquelas com mais de 10 milhões de habitantes abarcavam somente 0,9% da população mundial. Somente as áreas metropolitanas de Nova Iorque e Tóquio estavam classificadas nesta última categoria. O maior município do Brasil, em 1950, era a cidade do Rio de Janeiro, com 2,4 milhões de habitantes, superando São Paulo que tinha 2,2 milhões de habitantes.
No ano 2000, a percentagem da população rural caiu para 53,4%. Dos 46,6% habitantes das zonas urbanas na virada do milênio, a maior quantidade (21,9%) ainda viviam em cidades com menos de 300 mil habitantes. As cidades entre 300 mil e 500 mil habitantes passaram a abarcar 3,1% da população mundial. As cidades entre 500 mil e um milhão de habitantes abarcavam 4,3% da população mundial. Aquelas entre 1 milhão e 5 milhões de habitantes abrigavam 9,8% da população mundial. As cidades entre 5 milhões e 10 milhões de habitantes absorviam 3,4% da população mundial. As megacidades, aquelas com mais de 10 milhões de habitantes deram um grande salto para 4,2% da população mundial.
A China e a Índia foram os países que apresentaram o maior número de megacidades no ano 2000. Na América Latina, as áreas metropolitanas do México, São Paulo, Riio de Janeiro e Buenos Aires passaram a ser consideradas megacidades, assim como a cidade do Cairo na África.
As projeções para o ano 2030 indicam uma maioria da população urbana (60%) sobre a rural (40%), sendo que 23% devem estar nas cidades com menos de 300 mil habitantes. As cidades entre 300 mil e 500 mil habitantes devem abarcar 3,8% da população mundial. As cidades entre 500 mil e um milhão de habitantes devem absorver 6,1% da população mundial. Aquelas entre 1 milhão e 5 milhões de habitantes devem abrigar 13,4% da população mundial. As cidades entre 5 milhões e 10 milhões de habitantes devem ser abrigo de 5,2% da população mundial. As megacidades com mais de 10 milhões de habitantes devem chegar à casa de 8,6% da população mundial.
Quase 9% da população mundial viverá nas 41 megacidades (aqueles com mais de 10 milhões de habitantes) em 2030. A Ásia será responsável por mais da metade da 29 megacidades do mundo. Mas é na África que deve ocorrer o maior crescimento demográfico e a urbanização mais rápida. Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, verá a sua população aumentar cem vezes a partir de 200 mil habitantes em 1950 para cerca de 20 milhões de habitantes na projeção para 2030. Lagos, a cidade mais populosa da Nigéria, terá mais de 24 milhões de residentes em 2030, assim como Cairo no Egito.
Como mostraram Martine, Alves e Cavenaghi (2013), a transição urbana acontece de forma sincrônica com a transição demográfica, sendo que ambas abrem uma grande janela de oportunidade para a melhoria das condições de vida de todos os cidadãos do mundo. Por exemplo, a esperança de vida ao nascer da população mundial passou de 47 anos no quinquênio 1950-55 para 70 anos no quinquênio 2010-15. A mortalidade infantil caiu de 135 por mil para 37 por mil no mesmo período. Também houve aumento da renda e dos níveis educacionais dos habitantes do globo neste período. Portanto, o processo de urbanização e de crescimento das megacidades tem sido acompanhado por maiores direitos e avanços de cidadania em relação àqueles das populações rurais.
Porém, o crescimento exponencial da população e da economia tem provocado uma deterioração das condições ambientais do planeta, o que já está comprometendo o futuro do progresso civilizacional, diante de uma natureza devastada. Diversos estudos mostram que a concentração urbana é menos danosa do que o espraiamento demográfico suburbano e rural. Mas os desafios gerados pela especulação imobiliária, pela imobilidade urbana, pela segregação habitacional, pela demanda de serviços ambientais e pela poluição exigem soluções urgentes para evitar que as grandes cidades virem um barril de pólvora, que pode explodir detonando as condições de vida humana e não-humana do Planeta.
Referência:
The Economist. Urbanisation and the rise of the megacity, Feb 4th 2015
http://www.economist.com/node/21642053
http://www.economist.com/node/21642053
George Martine, Jose Eustaquio Alves, Suzana Cavenaghi. Urbanization and fertility decline: Cashing in on Structural Change, IIED Working Paper. IIED, London, December 2013. ISBN 978-1-84369-995-8
http://pubs.iied.org/10653IIED.html?k=Martine%20et%20al
http://pubs.iied.org/pdfs/10653IIED.pdf
http://pubs.iied.org/10653IIED.html?k=Martine%20et%20al
http://pubs.iied.org/pdfs/10653IIED.pdf
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Publicado no Portal EcoDebate, 22/04/2015
"A urbanização e o crescimento das megacidades, artigo de José Eustáquio Diniz Alves," in Portal EcoDebate, 22/04/2015, http://www.ecodebate.com.br/2015/04/22/a-urbanizacao-e-o-crescimento-das-megacidades-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.
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