Vou dizer porque eu acho que vivemos agora a hora mais perigosa da história da humanidade
Por Jairo José da Silva
A evolução das comunidades humanas ao longo da história tem sido até o presente um processo de auto-organização.
Vou explicar o que é isso.
Um sistema complexo, como, por exemplo, a comunidade humana como um todo, é formado por partes que interagem entre si de modo não-linear, que é quando uma parte do sistema influencia o comportamento das outras partes, mas é também influenciada por elas. Quando todas as partes do sistema, ou boa parte delas, interagem entre si desse modo, ele está submetido a uma dinâmica não-linear.
Quando essa dinâmica não é regida por leis preestabelecidas ou impostas desde o exterior, o sistema se diz auto-organizado. Em sistemas auto-organizados a dinâmica emerge da interação entre as partes. Cada parte pode seguir leis de evolução próprias, mas não há uma lei geral para todo o sistema.
Por exemplo, o mercado financeiro. Cada ator no mercado tem suas próprias regras de conduta, cada um age à sua maneira. O mercado como um todo se alinha na resultante da interação entre todos esses atores, talvez de uma maneira que nenhum deles previa. Os economistas tentam adivinhar os princípios pelos quais o mercado reage, mas se ele for realmente auto-organizado, esses princípios não existem. Qualquer lei eventualmente descoberta será extremamente suscetível às condições dadas e não terá a robustez de uma lei geral válida em qualquer situação.
Assim é a história humana. Não importa quão submetidas a regras próprias seja uma ou outra comunidade ou país, a dinâmica da evolução geral da humanidade nasce do atrito entre essas comunidades constituídas num sistema complexo auto-organizado.
Se a dinâmica do sistema for, ademais, caótica, isto é, se pequenas alterações locais puderem influenciar por interação não-linear a dinâmica geral, a evolução do sistema se torna não apenas imprevisível como altamente instável.
Talvez, se César tivesse acordado uma hora mais tarde aquele dia e estivesse menos irritado, talvez ele não tivesse decidido desafiar o Senado romano e não tivesse cruzado o Rubicão com suas tropas. Talvez então a república romana não teria sucumbido à ditadura. Alea jacta non fuisset.
Sendo a História tão imprevisível, os historiadores têm se contentado em simplesmente descrever os fatos, não buscar leis históricas gerais. Isso até Marx, que se iludiu que tinha descoberta o motor da História e que poderia, portanto, dirigir a história. Deu no que deu.
Porém, nos últimos cem anos mais ou menos, instrumentos extremamente poderosos têm surgido aptos a domesticar consciências e induzir reações coletivas mais ou menos previsíveis. A internet é um deles, o mais importante. Por outro lado, pela primeira vez na história estão surgindo pessoas, poucas, porém dedicadas, com dinheiro e poder suficiente para usar esses instrumentos segundo a sua vontade. A consequência pode ser a possibilidade, pela primeira vez, de alguém dirigir o destino da humanidade segundo o seu arbítrio. Essa força externa substituiria a auto-organização pela imposição de um destino.
Suponha, por exemplo, que um trilionário tome posse de todas as plataformas sociais e, controlando-as, convença uma parte substancial da população, com base em estudos financiados por ele mesmo, que estamos na iminência de uma crise ambiental catastrófica só evitável por ação de um governo transnacional unificado.
Não estamos aí ainda, mas ….
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