O Espantalho e a Toga
*Alex Pipkin
Quase sessenta anos de vida e, sinceramente, eu nunca imaginei que defender a liberdade — essa senhora discreta, já um tanto enrugada, que costumava ser unanimidade nas rodas da razão — me transformaria num perigoso membro da tal “extrema-direita”. Sim, aos olhos dos novos sacerdotes da moral ilustrada — armados de hashtags, códigos penais subjetivos e juízes messiânicos —, virei um extremista. E não por portar tochas ou pregar teorias conspiratórias, mas por cometer a heresia de pensar com a própria cabeça, de desconfiar do Estado-paizão, de preferir mérito à militância e de recusar ajoelhar diante dos novos totens ideológicos. Hoje, basta discordar de um dogma progressista — qualquer um, mesmo o mais delirante — e o veredicto vem automático, como notificação de banco: “extrema-direita detectada”. Não importa se você se ancora na ciência, na lógica, na história ou simplesmente no bom senso. O carimbo vem antes do argumento.
A expressão “extrema-direita” virou a Minancora do progressismo brasileiro: serve pra tudo. Dói o orgulho? Passa extrema-direita. Cai a popularidade do descondenado? Algoritmo fascista. Jovens começam a desertar do identitarismo e a pensar por conta própria? Radicais em formação. Tudo é extremismo. Exceto, é claro, o apoio à censura, à ditadura da toga, a grupos terroristas e ao culto a regimes bolivarianos. Isso, para eles, é democracia vibrante.
Mas vamos ao que realmente importa. Etimologicamente, “extremo” vem do latim extremus — aquilo que está no limite, que rejeita o equilíbrio, que repele qualquer meio-termo. E, ao longo da história, quem ocupou os extremos?
Quem promoveu purgas, paredões, guilhotinas, campos de reeducação, expurgos culturais e censuras travestidas de justiça? A resposta é clara: a esquerda extremada. Foi ela que, desde a Revolução Francesa até os regimes do século XXI, se especializou em levar ideias “bonitas” às suas consequências mais nefastas. Trocaram liberdade por igualdade à força. Trocaram a crítica pela ortodoxia. E agora, com nova maquiagem e apoio de ONGs internacionais, repetem o padrão: quem ousa pensar fora do script é, por definição, um perigo.
E aqui estamos. A esquerda que antes recitava Voltaire, hoje recorre ao STF para silenciar o dissenso. A esquerda que gritava “é proibido proibir” agora celebra inquéritos secretos e censura prévia. Trocaram Marx por Barroso. Trocaram a fábrica pelo tribunal. Trocaram o operário pelo influencer que nunca trabalhou, mas fala em “lugar de fala” com a mesma autoridade de quem nunca lavou um prato.
O que mais me espanta é ver jovens, muitos dos quais votaram em Lula por puro nojinho estético do adversário — o fenômeno Cubom Solaro, essa criatura que prefere a pose ao conteúdo — agora se contorcendo de arrependimento. E o que fazem para não encarar o erro? Apegam-se, com unhas, dentes e tweets, ao velho espantalho: “cuidado com a extrema-direita!”. Mas não percebem que o espantalho já está nu. E o povo não é pombo.
O cidadão comum, esse herege perigoso que só quer trabalhar, criar os filhos e dormir em paz sem ser chamado de opressor estrutural, já entendeu a farsa. E esse é o verdadeiro pavor dos iluminados do atraso: o povo está acordando. E acordando da maneira mais subversiva possível: pensando.
A esquerda atual, dita progressista, é, na prática, profundamente conservadora. Conserva o discurso vitimista, conserva o estatismo, conserva a velha e malcheirosa fórmula da dependência emocional do cidadão em relação ao Estado. E ainda tem a petulância de se autodeclarar guardiã da democracia, mesmo enquanto destrói seus pilares, ou seja, o pluralismo, a liberdade de expressão, a crítica e o debate. Na falta de argumentos, apelam à intimidação. Na ausência de legitimidade, recorrem ao rótulo. E na iminência de perderem o poder, gritam: “fascismo!”.
Mas fascismo, meus caros, não é o nome de quem defende a liberdade. Fascismo é a criminalização do pensamento divergente. É o culto à autoridade sem limite. É a tentativa de fundir moral de partido com Constituição. É o STF de toga ideológica — não o sujeito comum que carrega a Constituição no bolso e o terço na mão.
A verdade, essa senhora incômoda que volta e meia reaparece, é que o rótulo “extrema-direita” virou a desculpa moral de quem não quer admitir o próprio fracasso político, econômico e narrativo. É a bengala dos vencidos, o fôlego dos manipuladores, a última arma retórica de quem já perdeu a batalha da realidade.
E por isso tremem. Porque sabem que 2026 está logo ali. E o Brasil — esse país visceral, intuitivo e teimosamente livre — está voltando a ser… brasileiro.
Então, me digam: se defender a liberdade, criticar tiranetes de toga e recusar dobrar os joelhos para o deus-Estado é ser extrema-direita…
…o que, afinal, restou da esquerda que dizia lutar por liberdade?
A resposta é singela: quase nada.
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*Alex Pipkin possui graduação em Comércio Exterior e Administração de Empresas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. É pós-graduação em Comércio Internacional pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro; em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo; em Gestão Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. É Doutor e Mestre em Administração - Marketing pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA).