Banho de rio
Amanhã, o movimento das águas será outro. As esperanças interiores são nítidas no ciclo da água. O que se enxerga de maneira diferente está lá, a um nariz de começar a querer o que a mudança oferece, e acontecer de ser como o rio. Entrar nele é o que ele sugere, molhar-se do fio do cabelo ao dedão do pé, se aproximar mais da margem desconhecida, caber dentro e fora dos limites, evitar estar só no querer, não esperar a hora que se vai, flutuar no banho ao seguir o fluxo corrente inteiro no respirar, daí chegar mais perto do outro lado sem previsão do efeito dessa renovação. Isso é como se trouxesse uma corredeira para dentro de si (a rocha tornar-se a bacia de águas suavizando-se, e as pedras, também conseguem encontrar umas as outras moldando-se arredondadas), e vivenciar ser o rio indo para o mar.
Veja o plano: sinta o toque, se dobre na emoção, seja isso logo cedo; sinta-se na carícia da textura das águas, seja parte do cio da terra, com algum cuidado ou mesmo tímido ar de afeto, aproxime-se, mas, seja algo de verdade próximo disso. Agora, como água corrente seguindo o aconchego do leito, já não será o mesmo. Que se descubra o outro, sem sentir os próprios pés no chão! Aceitando inovar-se inteiramente no que se ganha em alegria pelo presente trazido no sentimento do mesmo rio diferente. Afinal, temos uma certa correnteza que nem damos mesmo conta.
Às coisas dizem em sinais silenciosos, muitas vezes ignorados, que há uma esperança permanente de voltarmos àquelas paisagens como se ainda fossem as mesmas. Mesmo com os motivos que temos, como recuperar a chance colocada no passado? O que jamais podemos fazer mesmo após o descanso da viagem. O que mudou não continua sob a sombra das árvores que recuaram na curva do rio lá atrás, segue sempre com a gente. O truque é achar a hora de plantar as sementes esquecidas na mão, no coração. Assim, chegamos a outra margem do rio.
Há uma força que equilibra essa viagem, ela se banha na energia que consumimos do rio. Ela é recriada constantemente nessa experiência transparente, quando cada casca se quebra pelos raios de um sol sem repouso (nem sempre de graça), expondo nossa alma intensa que queima ao renascer no denso sentido que instiga a experiência da vida, e nos faz subir nos ares de sua criação desenhando o alfabeto das trocas, nos esperados abraços e nas lembranças de carinho. Aqui expandimos em uma chuva doce batida no chão, indo como o orvalho dormir sobre ramos de tulipas nas bordas do horizonte. E como guerreiros após o êxtase da vitória caímos em sono na cama do mar dos símbolos.
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