O forte desejo de purgar
27 de junho de 2011 | 15h39
por Paul Krugman
No ano passado foi a OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento das Nações Unidas; agora é a vez do BIS – Banco de Compensações Internacionais. E novamente, senhores muito sérios de uma organização internacional parecem determinados a encontrar razões para um aperto da política monetária em face de uma forte depressão econômica que continua persistente.
O BIS cita os preços cada vez mais altos das commodities e o implícito aumento da inflação com base nos spreads bancários. No caso de informes como este, contudo, a questão é que foram escritos e aprovados por comissões, o que significa que se baseiam em dados retroativos – e com certeza, os spreads bancários e a inflação dos preços das commodities estão narrando uma outra história no momento presente.
O informe da comissão afirma também que a produção potencial vem sendo permanentemente reduzida pela depressão econômica, afirmando em particular que “a destruição de capital humano devido ao desemprego a longo prazo” pesará no crescimento. Você pode achar que esta é uma das razões para adotar medidas urgentes com vistas a o nível de desemprego de longo prazo. Mas não.
E, inevitavelmente, constam também do informe os supostos paralelos com a década de 70. Salvo os próprios dados do BIS, nada sugere que exista algum paralelo, absolutamente. Existe uma única comparação (o Custo Unitário do Trabalho, ou ULC na sigla em inglês).
Note a diferença em escalas. Nos anos 70 havia uma importante espiral de preços dos salários; desta vez não há nada disso. Mas tanto faz.
Note a diferença em escalas. Nos anos 70 havia uma importante espiral de preços dos salários; desta vez não há nada disso. Mas tanto faz.
E O BIS ainda emite uma série de alertas vagos sobre como as taxas de juro baixas desencorajam o comportamento responsável.
Algo está ocorrendo, e não acredite que tem realmente a ver com análises econômicas. Como outros, o BIS está claramente engajado num “Calvinball” monetário, criando regras e conceitos de improviso para justificar um aperto monetário, sejam quais forem as circunstâncias. Parece que há uma profundo desejo de infligir sofrimento, purgar o que há de imprestável ou qualquer coisa do gênero.
É assustador. E o mundo irá sofrer por isso.
Fonte: Estadão | Blogs, 27/06/2011
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