quarta-feira, outubro 29, 2025

Da Catástrofe ao Controle: a Mutação do Discurso Ambientalista

 Da Catástrofe ao Controle: a Mutação do Discurso Ambientalista 

Do “Aquecimento Global” às “Mudanças Climáticas”: a virada semântica e o novo paradigma da governança ecológica

 Desde a virada do século XXI, o movimento ambiental passou por uma transformação discursiva profunda. O que antes se comunicava sob a forma de uma ameaça objetiva — o aquecimento global — foi gradualmente substituído, por um termo mais abrangente e difuso: mudanças climáticas. A alteração, longe de ser meramente linguística, representa uma mutação estrutural do ambientalismo contemporâneo: de um movimento de contestação ideológica a um instrumento de governança global.

 Essa transição refletiu tanto uma reorientação semântica quanto uma adaptação estratégica diante de resistências políticas, ceticismo público e a crescente incorporação das pautas ambientais ao planejamento econômico internacional. Assim, o discurso climático deixou de ser um apelo de alerta e tornou-se um dispositivo de coordenação política, moral e tecnológica.

 A Virada Semântica: da narrativa de catástrofe à gestão do risco

 Durante a década de 1990 e início dos anos 2000, o termo aquecimento global dominava o imaginário ambientalista. Ele evocava imagens apocalípticas de degelo, desertificação e elevação do nível do mar. Essa linguagem alarmista, embora eficaz na mobilização pública, produziu desgaste político e resistência social, sobretudo após episódios de invernos rigorosos e críticas à precisão dos modelos climáticos do IPCC[1].

 Em 2008, um conjunto de organizações — entre elas o Yale Project on Climate Change Communication — publicou pesquisas mostrando que o termo climate change era percebido como mais neutro e científico, e portanto, mais aceitável em contextos de disputa política[2]. O discurso, então, foi reconfigurado: a ideia de “mudança” substituiu a de “aquecimento”, e o fenômeno climático deixou de ser apresentado como uma anomalia pontual, para ser tratado como uma condição sistêmica permanente.

 Essa reconfiguração semântica teve efeitos políticos imediatos: ao diluir o conceito, tornou-se possível incluir uma variedade de eventos extremos sob a mesma narrativa global, reforçando a noção de que todo fenômeno meteorológico é evidência de instabilidade climática.

 A Institucionalização do Clima: da militância à tecnocracia

 Com o Quarto Relatório do IPCC (2007) e o Relatório Stern (2006), a questão climática passou a integrar o núcleo da política econômica global. O ambientalismo deixou de ser domínio de ONGs e ativistas e passou a ser formulado por organismos multilaterais — ONU, Banco Mundial, OCDE e Fórum Econômico Mundial.

 Essa institucionalização consolidou o conceito de “risco climático global”, justificando políticas de longo alcance e programas transnacionais de regulação energética e agrícola. O Acordo de Paris (2015) e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU representam a culminação dessa mudança: o meio ambiente tornou-se parâmetro de governança e não apenas causa de mobilização[3].

 A tecnocracia climática, ao contrário da militância ecológica dos anos 1990, não apela à emoção, mas à gestão: modelos matemáticos, métricas de carbono, metas regulatórias e certificações ESG. A política cede lugar à técnica, e a retórica da urgência se traduz em instrumentos de controle normativo e financeiro.

 O Capitalismo Verde e a Nova Economia do Clima

 O novo discurso ambientalista não se opõe mais ao capitalismo; ele o redefine. Surge o conceito de “economia verde”, em que a sustentabilidade deixa de ser obstáculo e passa a ser alavanca de crescimento. A partir de 2010, multiplicam-se os mercados de créditos de carbono, fundos de investimento ESG e programas de transição energética justa, operando sob a lógica de um capitalismo de restrição: cada política ecológica é também uma política de redistribuição de poder produtivo e tecnológico[4].

 Desse processo observa-se que grandes corporações — antes vistas como inimigas do meio ambiente — tornaram-se agentes do discurso verde, financiando campanhas e participando das conferências climáticas da ONU. O ativismo, cooptado pela lógica financeira, passou a legitimar a criação de novos instrumentos de controle global da economia sob o pretexto climático.

 O Reposicionamento Ideológico e a Moralização da Sociedade

 Com a diluição da categoria de “aquecimento global”, o foco do discurso ambiental se deslocou do sistema produtivo para o indivíduo. A nova linguagem das “mudanças climáticas” enfatiza a culpa moral — a pegada de carbono pessoal, o consumo consciente, políticas públicas de educação ambiental, a alimentação sustentável.

 A narrativa, antes voltada ao embate entre homem e natureza, transforma-se numa ética global de conduta, em que o cidadão é convidado a internalizar a culpa pela degradação ambiental e, ao mesmo tempo, aceitar políticas restritivas em nome da salvação planetária[5]. Trata-se, portanto, de um ambientalismo psicológico e pedagógico, mais voltado à reformulação comportamental do que à crítica estrutural. O ativismo torna-se ferramenta de engenharia social, e o discurso climático, um novo código moral universal.

 O Programa Subjacente: a Governança Climática Global

 Sob a roupagem científica, o discurso das mudanças climáticas serve como eixo de uma nova forma de governança planetária. O controle das emissões e a regulação da energia criam as bases para um sistema de administração global de recursos e comportamentos.

 O Fórum Econômico Mundial e a ONU articulam esse projeto sob o conceito de “sustentabilidade sistêmica”, que combina:

· Monitoramento tecnológico (IA, big data, rastreabilidade de carbono);

·Regulação financeira (taxonomias verdes e mercados de crédito);

·Educação moral global (programas de cidadania climática e “justiça ambiental”).

 Assim, a expressão “mudanças climáticas” não designa apenas um fenômeno físico, mas um novo regime discursivo de poder, no qual a administração do risco ambiental serve como fundamento ético e político para a centralização da autoridade global. A passagem de aquecimento global para mudanças climáticas representa mais do que uma mudança de vocabulário; é a tradução linguística de uma mudança paradigmática. O discurso ambiental contemporâneo não é apenas uma narrativa sobre o clima, mas um modelo de reorganização da sociedade global sob o signo da sustentabilidade e do controle.

 De movimento de protesto, o ambientalismo tornou-se instrumento de planejamento político transnacional, como efeito colateral de um projeto, uma visão de mundo com um significado: o Reset Global. De denúncia moral, transformou-se em mecanismo de legitimação de políticas econômicas e tecnológicas. E, ao substituir a “catástrofe” pela “mudança”, o novo discurso conseguiu o que o antigo não pôde: converter o medo em administração — e a incerteza em poder.



[1] IPCC, Fourth Assessment Report (AR4), Intergovernmental Panel on Climate Change, 2007.

[2] Leiserowitz, A., Maibach, E., Roser-Renouf, C., & Hmielowski, J. (2008). Global Warming’s Six Americas 2008. Yale Project on Climate Change Communication.

[3] Stern, N. (2006). The Economics of Climate Change: The Stern Review. HM Treasury.

[4] World Economic Forum. The Global Risks Report (edições de 2010 a 2025).

[5] Hulme, M. (2009). Why We Disagree About Climate Change. Cambridge University Press.

terça-feira, outubro 28, 2025

Entre a Guerra e o Cometa

Entre a Guerra e o Cometa

Há um silêncio que antecede o fim — e não é o silêncio das armas, nem o da paz. É aquele que nasce entre uma notícia e outra, entre um alerta de guerra e o anúncio de que um corpo interestelar, batizado de 3i-Atlas, pode estar vindo em nossa direção. Um “cometa estranho”, dizem os astrônomos. Um mensageiro de fora do sistema solar, talvez um intruso — ou quem sabe, um espelho do que nos tornamos.

Nos últimos dias de 2025, a humanidade parece flutuar sobre duas vertigens. De um lado, os governos reunidos em blocos falam alto sobre uma nova “guerra global contra o terrorismo”, um inimigo que se infiltrou silencioso em nossa festa, seria uma outra guerra por paz, por liberdade, por interesses de dominação como se o planeta ainda tivesse forças para outra cruzada em seu coração globalizado. De outro, telescópios captam o brilho gélido de algo que se move rápido demais, denso demais, incerto demais para ser apenas um pedaço de gelo e poeira. A poeira da qual viemos e iremos ser em um ínfimo tempo que o relógio cósmico indica ser nossa permanência neste sistema solar.

E nós, os comuns — os que não apertam botões de míssil nem comandam telescópios — observamos tudo com o mesmo espanto de quem vê o tempo se dobrar sobre si mas ao nosso olhar captamos apenas o que os jornais nos informa. Somos criaturas finitas, presas a uma bola azul que insiste em girar entre estrelas indiferentes. Enquanto líderes de potências falam de “ofensivas estratégicas” e cientistas debatem “trajetórias elípticas”, a gente prepara o café, alimenta o gato, confere as notícias no celular.

Há algo profundamente irônico em tudo isso. Passamos séculos temendo invasões — de povos, de ideias, de máquinas — e agora, quando o céu inteiro parece querer nos visitar, estamos novamente armados contra nós mesmos. A guerra que se anuncia não é apenas contra um inimigo de bandeira diferente, mas contra a própria noção de limite, de compreensão do mundo, agora de profundidade e aparência surpreendentes. O homem moderno, senhor de drones e algoritmos, recusa-se a aceitar que é passageiro, que sua história pode terminar não com uma bomba, mas com uma sombra que vem das estrelas. Diante de um novo espanto!

O 3i-Atlas — dizem os astrônomos — reflete a luz do Sol de um modo estranho, quase metálico. Talvez contenha elementos nunca vistos. Talvez seja apenas um corpo errante, seguindo uma rota antiga e indiferente à nossa existência. Mas, para nós, tudo que brilha no céu carrega significados. Desde os tempos das cavernas, olhamos para cima em busca de presságios. Agora, olhamos nos telescópios, com câmeras infravermelhas e ainda assim trememos como os primeiros homens diante do trovão.

E se for apenas um cometa, nada de um alienígena visitante, ainda assim será um lembrete. De que somos finitos, frágeis, passageiros. Que a Terra não é o centro de nada, apenas um ponto de luz na vastidão, e nós pó das estrelas. E que toda a nossa fúria, todas as bandeiras que levantamos, todas as guerras que travamos — contra o terrorismo, contra o outro, contra o próprio medo — cabem em menos de um grão de poeira cósmica.

Talvez o 3i-Atlas passe por nós e siga seu caminho, indiferente como uma estrela cadente que não pede licença. E talvez, no instante em que sua cauda riscar o céu, um breve silêncio caia sobre o mundo. Um silêncio não de destruição, mas de consciência. O breve instante em que, mesmo cercados por ruídos de guerra, lembramos que existimos — e que isso, por um milagre breve e inexplicável, ainda é tudo o que temos.

Porque o fim não é a explosão, nem o impacto de corpos celestiais. O fim é esquecer que somos finitos — e que a vida, mesmo diante do desconhecido, do abismo que se abre a cada descoberta, vai permanecer por um instante mais.

— Outubro de 2025.

domingo, outubro 26, 2025

A Redescoberta de Aristóteles por Thomas Kuhn

A Redescoberta de Aristóteles por Thomas Kuhn

O episódio narrado por Thomas Kuhn em The Road Since Structure (1996) representa, em si mesmo, uma experiência paradigmática. No verão de 1947, o jovem físico de Harvard acreditava estar diante do fracasso intelectual de Aristóteles ao ler sua Física. Tudo ali parecia primitivo, equivocado, infantil. Contudo, esse “erro de leitura” — o estranhamento inicial — foi o prenúncio da virada epistemológica que o conduziria à formulação de sua principal tese: a de que o conhecimento científico é historicamente situado e linguisticamente condicionado por um paradigma.

Na primeira leitura, Kuhn julgou Aristóteles a partir dos critérios da física newtoniana: movimento como deslocamento espacial, matéria como substância fundamental, leis universais como descrições da natureza objetiva. Aristóteles, sob esse prisma, não apenas errava, mas parecia carecer de qualquer rigor empírico. Porém, quando Kuhn “olha pela janela”, como ele próprio descreve, o momento de iluminação o leva a compreender algo radical: Aristóteles não estava errado — estava falando outra língua científica.

Essa revelação marcou o início da consciência kuhniana de que as ciências não progridem apenas por acréscimo de verdades, mas por substituição de mundos conceituais. A física aristotélica e a física newtoniana não são duas etapas de um mesmo discurso crescente — são, antes, visões de mundo incomensuráveis.

Aristóteles ao ser reabilitado temos o movimento como transformação ontológica. Ao compreender o significado de “movimento” em Aristóteles, Kuhn descobre que o filósofo grego não era um observador ingênuo, mas um pensador coerente dentro de sua própria ontologia.

Para Aristóteles, kinesis (movimento) significa qualquer mudança de estado do ser — seja no espaço, na qualidade, na quantidade ou na substância. A passagem da semente à árvore é tão movimento quanto o deslocamento de um corpo no espaço. Essa definição só parece “absurda” para quem adota, como Kuhn inicialmente fizera, o paradigma da física moderna, em que movimento é apenas variação de posição no tempo.

A física aristotélica, portanto, não busca leis quantitativas, mas descrições qualitativas do ser em processo. É uma física ontológica, não matemática. Quando Aristóteles fala em “matéria” (hylé), ele não se refere a partículas mensuráveis, mas ao substrato potencial que recebe formas. O real é compreendido como uma união entre potência e ato — algo que não pode sequer ser traduzido no vocabulário de Newton ou de Galileu sem que se perca o seu sentido original.

Assim, o “erro” de Aristóteles era apenas um erro de tradução paradigmática. Kuhn percebeu que a incompreensão nasce quando aplicamos os critérios de uma ciência para julgar outra. 

A lição epistemológica: ver com os olhos de outro mundo. Da experiência de Kuhn com Aristóteles surge a semente do conceito de incomensurabilidade, que mais tarde se tornaria central em A Estrutura das Revoluções Científicas (1962).

Quando um paradigma muda, muda também a forma de ver o mundo. Não apenas as teorias mudam — os próprios fatos mudam. Como escreve Kuhn: “Depois de uma revolução científica, os cientistas vivem em um mundo diferente”. Aristóteles e Newton, portanto, não observam os mesmos fenômenos: o que para um é mudança de qualidade, para outro é deslocamento de massa.

A leitura kuhniana de Aristóteles torna-se, assim, um símbolo da dificuldade da compreensão intercultural e interepistêmica. Entender um pensador do passado exige mais do que traduzir suas palavras — exige reconstruir o seu horizonte de significação. Aristóteles não foi um homem do seu tempo, tinha a mente acima do horizonte e observava o fluxo além dele, não foi uma gota submersa no rio que é levada sem saber para onde.

Nesse sentido, Kuhn antecipa o diálogo entre a epistemologia e a hermenêutica: compreender o outro é compreender o seu mundo, fazer uma viagem intertemporal. O jovem físico percebeu que não basta dizer que Aristóteles “errou”; é preciso entender o sistema de inteligibilidade no qual o seu pensamento fazia sentido.

A transformação de Kuhn: do físico ao filósofo da ciência. Esse momento de epifania marca a conversão intelectual de Thomas Kuhn, o cientista que buscava explicar o progresso da física percebe que o próprio conceito de “progresso” é relativo a um paradigma. O episódio aristotélico revela a estrutura profunda de sua filosofia: a ciência não avança por acumulação linear, mas por revoluções que transformam as categorias do pensamento. E essa é a experiência da humanidade, fundamento da história da filosofia.

Ao perceber que o erro estava nele — e não em Aristóteles —, Kuhn inaugura uma nova forma de pensar a história da ciência: uma história não de verdades crescentes, mas de mudanças de visões do mundo. A ciência, nesse sentido, é uma sucessão de mundos incomensuráveis, cada qual com a sua lógica, a sua linguagem e a sua ontologia. O legado do encontro entre mundos.

O encontro imaginário entre Aristóteles e Kuhn — separados por mais de dois mil anos — ensina uma lição perene à filosofia da ciência: compreender é ver o mundo a partir de dentro de um paradigma, e não julgá-lo de fora. O “erro” aristotélico revelou-se um espelho do próprio erro moderno — o erro de crer que existe uma ciência absoluta, fora do tempo, capaz de julgar todas as outras.

A verdadeira genialidade de Kuhn foi perceber que a história da ciência é também uma história da percepção humana. E, de certo modo, Aristóteles o ensinou a ver isso.

sexta-feira, outubro 24, 2025

Democracia, Fascismo e Guerra: ideologia política e colapso institucional

Democracia, Fascismo e Guerra: ideologia política e colapso institucional 

A relação histórica entre o avanço das democracias, o surgimento dos regimes autoritários e o advento das guerras 

A história política do século XX mostra uma recorrência inquietante: a ascensão e queda das democracias em momentos de crise econômica e moral, seguidas pelo surgimento de regimes autoritários e, frequentemente, pela eclosão de guerras. Democracia, fascismo e guerra parecem, nesse sentido, formar um ciclo histórico de tensão e colapso. A relação entre esses fenômenos não é apenas causal, mas estrutural — deriva do modo como as democracias lidam com seus próprios limites internos e com a fragilidade das instituições diante das demandas sociais e econômicas que se acumulam em períodos de instabilidade. 

A democracia como forma política em tensão 

A democracia moderna, conforme observou Alexis de Tocqueville, é uma forma de governo constantemente ameaçada por suas próprias promessas: liberdade e igualdade. Quando o desejo de igualdade ultrapassa a noção de liberdade, a democracia degenera em despotismo; quando o desejo de liberdade ignora a igualdade, ela implode em oligarquia. Esse duplo risco marca a maturidade das democracias: quanto mais elas se desenvolvem e ampliam direitos, mais expostas ficam à tentação da desordem e à demanda por um “poder forte” capaz de restaurar a coesão social. No início do século XX, as democracias liberais europeias atravessaram essa tensão. O pós-Primeira Guerra trouxe recessão, desemprego e descrédito das elites políticas. A população, desgastada pelo caos institucional, buscava uma alternativa de ordem — terreno fértil para o surgimento do fascismo, que se apresentava como antídoto à fraqueza parlamentar e ao conflito de classes. 

O fascismo como degeneração da fragilidade democrática

O fascismo não nasce no vácuo, mas no seio de democracias fatigadas. Hannah Arendt, em Origens do Totalitarismo, descreve esse processo como a transmutação do cansaço democrático em idolatria política: a massa desiludida substitui a racionalidade cívica pela paixão ideológica. O estágio de maturidade democrática — com suas instituições estáveis, imprensa livre e representação política — paradoxalmente gera a semente da sua própria ruína quando as promessas não são cumpridas com a velocidade que a sociedade espera e sofre com a interferência de movimentos organizados extremistas e partidos políticos que por propósito ideológico tenha por objetivo a implantação de um regime totalitário, o que pode acontecer facilmente em democracias, seja por via eleitoral ou através de mecanismos e estratégias não convencionais, por vias da corrupção e manifestações de violência, para que desse modo vença, de qualquer maneira, e se instale mantendo-se no poder. A Itália de Mussolini e a Alemanha de Hitler exemplificam esse paradoxo. Ambas as sociedades possuíam, antes da ascensão fascista, experiências parlamentares e culturais avançadas. No entanto, a combinação de crise econômica, ressentimento nacional e desgaste moral transformou a maturidade democrática em terreno fértil para a emergência de líderes carismáticos que prometiam restaurar a “grandeza perdida”.

Da autoridade à guerra: o colapso do pluralismo sem obediência às regras 

A passagem da democracia ao autoritarismo, e deste à guerra, é uma dinâmica quase inevitável quando o poder político se funda na ideia de unidade absoluta e na negação da diferença de pensamento, do amplo contraditório, adotando a censura, perseguição de adversários e o recorrente cerceamento das liberdades. O fascismo, em suas variantes, busca eliminar o pluralismo — seja por meio da supressão da oposição, seja pela fusão entre Estado, partido e povo. A guerra surge, então, como continuação simbólica do autoritarismo: o inimigo interno (a oposição) é substituído pelo inimigo externo (outra nação). Carl Schmitt, teórico do decisionismo e crítico da democracia liberal, afirmava que “o conceito do político baseia-se na distinção entre amigo e inimigo”. Essa distinção, quando apropriada por regimes autoritários, conduz inevitavelmente à guerra. O conflito externo torna-se mecanismo de legitimação interna — o poder se fortalece à medida que cria um inimigo a combater. Assim, o fascismo não apenas sucede à democracia fraca, mas também a transforma em máquina de guerra. O colapso do debate público e a fusão entre Estado e ideologia convertem a política em mobilização total — conceito explorado por Ernst Jünger para descrever o espírito militarizado das sociedades totalitárias. 

Ciclos históricos e a vulnerabilidade das democracias contemporâneas 

A análise histórica sugere que as democracias passam por ciclos de expansão, saturação e retração. Em sua fase de expansão, elas ampliam direitos e prosperidade; na saturação, surgem demandas contraditórias, populismo e polarização; na retração, emergem discursos autoritários sob a promessa de restaurar a “ordem perdida”. Essa lógica reaparece nas democracias do século XXI. A crise de representatividade, o avanço da polarização digital e a erosão da confiança nas instituições criam um ambiente semelhante ao das décadas de 1920 e 1930. A diferença é que, hoje, a guerra tende a se manifestar mais no campo simbólico e informacional do que no campo militar — guerras culturais, cognitivas e midiáticas substituem as trincheiras convencionais, mas mantêm a lógica de destruição mútua e radicalização. 

A correlação entre democracia, fascismo e guerra não é linear, mas dialética. 

A maturidade democrática, ao alcançar altos níveis de complexidade social, torna-se vulnerável ao desencanto e ao populismo, assim como a ilusão do ideário socialista. O fascismo aparece como resposta emocional à fadiga da razão democrática — e a guerra, como desdobramento inevitável do autoritarismo que se legitima pela exclusão e pela violência. Compreender esse ciclo é essencial para preservar as democracias contemporâneas. O antídoto não está apenas em instituições mais fortes, mas na educação política das massas, no resgate do senso de responsabilidade individual e na valorização do dissenso como condição vital do regime democrático. Pois quando o pluralismo se transforma em fraqueza e a dúvida em traição, a democracia já começa a morrer — e o som distante, mas inexorável da guerra volta a ser ouvido.

quarta-feira, outubro 22, 2025

O Fator Onipresente e a Cegueira da Causa

O Fator Onipresente e a Cegueira da Causa

Ensaio Filosófico sobre o Pensamento Econômico e a Noção de Diferença

A estrutura do pensamento causal

Toda explicação causal se funda num contraste. Não se pode falar em “causa” onde não há diferença, pois o pensamento causal pressupõe variação: algo muda quando um fator está presente e não muda quando ele está ausente. Essa distinção — herdada das formulações de John Stuart Mill[1] e aprofundada por filósofos da ciência como Karl Popper[2] e Mario Bunge[3] — constitui a base empírica da racionalidade moderna.

Dizer, portanto, que “todo fator que é onipresente não pode ser a causa de alguma coisa” é afirmar que a causalidade é um jogo de diferenças observáveis. Um fator que nunca muda, que permeia todos os contextos, não explica nenhuma transformação particular — ele pertence à ordem do ser e não à do devir. A causalidade só se revela quando há variação dentro de um campo estável de condições.

A tradução econômica do princípio

Na ciência econômica, o raciocínio causal é o motor da teoria: busca-se compreender por que certos fenômenos — crescimento, recessão, desigualdade, inovação — ocorrem. No entanto, a tentação de atribuir causalidade a fatores estruturais onipresentes é constante. Muitas escolas de pensamento incorrem nesse equívoco lógico: o marxismo ortodoxo, ao tratar “as relações de produção” como causa universal; o neoclássico, ao tomar “o mercado” como princípio explicativo absoluto; e o keynesianismo vulgar, ao elevar “a incerteza” a um axioma permanente.

Quando um conceito se torna onipresente, ele perde poder explicativo. O “capitalismo”, por exemplo, enquanto sistema global, é o campo ontológico da economia moderna — mas não explica, por si, por que certos países crescem mais, empresas inovam ou mercados colapsam.

O erro da onipresença causal

Do ponto de vista epistemológico, o erro do pensamento econômico reside muitas vezes em confundir totalidade com causalidade. A totalidade fornece o contexto — a rede de condições estruturais dentro das quais os agentes operam —, mas a causalidade exige uma diferença mensurável dentro dessa totalidade. Assim, a ciência deve identificar o que varia dentro do que permanece. A variação é o pulso da causa.

O campo ontológico e o campo diferencial

Em termos filosóficos, podemos distinguir dois níveis do real econômico: o campo ontológico, que representa as condições gerais e universais (escassez, racionalidade limitada, tempo e espaço institucional), e o campo diferencial, onde operam as causas efetivas — mudanças de política, inovação tecnológica, variação de expectativas. A causalidade pertence ao segundo campo.

A implicação metodológica

Da expressão analisada, deriva-se uma orientação metodológica fundamental: evite causas onipresentes; busque causas diferenciais. Um modelo econômico que inclui “a cultura”, “o mercado” ou “a racionalidade” como causas universais incorre num erro lógico. Modelos frutíferos isolam mecanismos específicos, condições contextuais e momentos de ruptura — identificam onde o fator realmente faz diferença.

Consequências para o pensamento econômico contemporâneo

A economia moderna, pressionada pela complexidade global, precisa distinguir o que é condição de fundo planetária (clima, capitalismo global, interconectividade tecnológica) do que é causa dinâmica observável (políticas públicas, decisões empresariais, inovações localizadas). A análise causal exige identificar como e onde essas forças se diferenciam. Não é “a globalização” que causa prosperidade, mas a forma específica de inserção de uma economia nesse processo.

A sabedoria da diferença

A expressão “todo fator que é onipresente não pode ser a causa de alguma coisa” é uma lição epistemológica e ética. Ensina que a compreensão verdadeira nasce da diferença, não da totalidade. Na economia, isso significa abandonar causas universais e abraçar causas situadas, transformações marginais e mecanismos concretos. A onipresença é o silêncio do ser; a causa é o gesto do devir.



[1] MILL, John Stuart. A System of Logic, Raciocinative and Inductive. London: Cambrige University Press, 2011.

[2] POPPER, Karl Popper. The Logic of Scientific Discovery. London: Harper, 2a. ed., 1965.

[3] BUNGE, Mario. Causality and Modern Science. New York: Dover Publications, 1979.


segunda-feira, outubro 20, 2025

As mãos que balançam o Boulos

As mãos que balançam o Boulos

Agora o flerte não é mais flerte, passou para o casamento infiel diretamente. Com Boulos no staf de primeiro escalão fincaram o pé na jaca, definitiva e grosseiramente. Sacralizam o crime descaradamente e o regime totalitário. Doravante vai sobrar o fel que o ativismo judicial derrama desde a eleição do Bolsonaro, mas com avidez agregada de um lunático sem medida do mal, incendiário com mesura de extremista.

Só Jesus na causa, como dizem os evangélicos. Acaba por fim a enrolação das retóricas e discursos ilusórios, por uma imaginária democracia parida por comunistas, abrese-se a passagem sem volta para um patamar que recrudesce o ódio, revela-se as falsas intenções e animam-se os gestos de hipocrisia. Quem duvidou do plano do Foro de São Paulo, se não caiu a ficha por ora, é porque está no caldo da panelinha petista, achando que vai se dar bem na roda dos inconscientes, dos inescrupulosos, dos insanos revolucionários, esses tais que pensam por todos, planejam crimes na impunidade e ordenam o fim da liberdade dos homens de bem.

O propósito dos imbecis: a negação da Lei

O propósito dos imbecis: a negação da Lei

No cenário atual temos que duvidar de muitas coisas, e essa é uma atitude necessária aos interessados e inteligentes, viventes em uma sociedade doente, caótica, de realidade crua, morada de dimensões que vai parecendo normal, em fugir do controle, o que assistimos diuturnamente na grande mídia, um mundo dominado por um ideologia progressista introjetada nos últimos cinquenta anos e que cada vez mais nos amedronta.

"Penso, logo existo". Tem um sujeito que pensa e outro que existe. Prove que são os mesmos!

Essa máxima filosófica desperta muitas questões. E tenho dúvidas, óbvias, diante da escalada de imbecis com empoderamento, do que são capazes e imprevisíveis em impor seus desejos para se manter no poder, os tais que pensam que pensam para o bem de todos, e dominam além de limites legais, elites intelectuais que sustenta falsos líderes, autoritários da hora, sem o apoio real, transparente, da população. Solapam as divisões de poderes, pilares da ordem republicana, destroem valores da liberdade, investem em desinformação e censura. Um fato observado dentro e fora do nosso país. 

Há dolo, há hipocrisia, há uma desonesta ação parcial, há crime premeditado, por indivíduos, empresas parceiras, associações e sindicatos, uma miríade de ongs, instituições da administração e da educação e partidos com amplo vínculo com o ativismo judicial. Tudo que pôde ser aparelhado, e isso sendo feito ao longo de décadas, sob as vistas de todos, e ainda assim com o aval de instituições de papel, perfil definido importante, na Constituição, para guardar os princípios de funcionamento de uma sociedade organizada, ordenada, sustentada por valores e leis definidos pela vontade do povo, no Congresso, em defesa de direitos humanos fundamentais, econômicos e da liberdade de expressão. O que sabemos e sentimos não estarem sendo respeitados, mas ignorados por interpretação dos mesmos que deveriam seguir na defesa de toda a sua legal representatividade.

O Brasil está em um processo de degradação escolhido por uma elite política e intelectual desonesta com visão e propósito distante dos reais interesses da população, seja na gestão da economia ou da vida social firmada em contrato mais básico e instituído por democracias mais longevas: a Constituição.

domingo, outubro 19, 2025

Arqueologia do Logos: Os Quatro Discursos e a Reconquista do Pensamento Clássico

 

Arqueologia do Logos: Os Quatro Discursos e a Reconquista do Pensamento Clássico como Resistência ao Totalitarismo

Proêmio: A Necessidade do Antigo

Há uma capacidade peculiar em certos espíritos de desenterrar do pensamento antigo novas ideias aptas a lançar luz sobre o presente. Não se trata de antiquarismo nostálgico, mas de reconhecer que certas verdades sobre a condição humana foram formuladas com clareza inigualável pelos antigos, e que nossa amnésia cultural nos condena a reinventar, mal, aquilo que já fora compreendido com rigor. Bruno Tolentino, em sua guerra solitária contra a barbárie modernista, insistia que "não há experimentação válida sem o domínio da tradição", advertência que vale tanto para a poesia quanto para o pensamento político.

A Teoria dos Quatro Discursos, tal como articulada por Olavo de Carvalho, exemplifica precisamente este método arqueológico: recupera a estrutura aristotélica do logos não como relíquia museológica, mas como instrumento de diagnóstico do presente. Quando democracias ocidentais flertam com censura e governos totalitários sofisticam técnicas de controle discursivo, é aos gregos que devemos retornar para compreender o que está em jogo – não por serem antigos, mas por terem pensado com radicalidade sobre o fundamento mesmo da vida comum: a palavra compartilhada.

I. A Unidade Perdida: Da Paideia Grega à Fragmentação Moderna

Aristóteles jamais escreveu tratados separados sobre poética, retórica, dialética e analítica por acaso. Estas obras refletem sua compreensão de que o logos humano – simultaneamente razão, palavra e articulação do ser – atualiza-se de modos distintos segundo seus objetos e finalidades. Mas a distinção jamais implicava divórcio absoluto. A Poética pressupõe lógica; a Retórica dialoga com a ética; os Analíticos fundamentam toda construção argumentativa posterior.

A modernidade operou uma cisão catastrófica. A ciência moderna, triunfante em seu método analítico, desprezou a retórica como ornamento supérfluo e a poética como subjetivismo arbitrário. A dialética degenerou em fórmulas hegelianas e marxistas que, como observou Eric Voegelin, substituíram a busca da verdade pela construção de sistemas fechados. O resultado é a atual esquizofrenia: laboratórios hiperdesenvolvidos convivem com analfabetismo retórico; sofisticação técnica coexiste com infantilismo simbólico. Bruno Tolentino diagnosticou nas artes o mesmo fenômeno: a rejeição modernista da forma clássica não produziu liberdade criativa, mas empobrecimento expressivo. Quando Carlos Drummond escreve "No meio do caminho tinha uma pedra", sem o domínio métrico que ele de fato possuía, abre caminho para gerações que confundem experimentação com imperícia. Analogamente, quando o debate público abandona os critérios retóricos clássicos, não alcança autenticidade superior, mas degradação comunicativa.

II. Os Quatro Discursos: Arqueologia de uma Estrutura Perene

1. Poética: A Mimesis e a Constituição de Mundos

Aristóteles define poesia como mimesis – não imitação servil, mas recriação que revela o universal no particular. A tragédia grega não retratava meramente eventos históricos, mas desvelava estruturas permanentes da existência: hybris, hamartia, anagnorisis. Era, literalmente, educação cívica: o cidadão ateniense aprendia sobre justiça, limite e destino através de Édipo e Antígona. Os totalitarismos modernos compreenderam este poder. O realismo socialista não era ingênuo; era deliberada engenharia poética destinada a construir o "homem novo". Quando Stálin perseguia poetas, não combatia meros escritores, mas guardiães de imaginários alternativos. Mandelstam morreu porque seus versos preservavam uma Rússia que o projeto soviético precisava apagar.

No presente, a disputa pelo imaginário não cessou, apenas se sofisticou. Algoritmos curatoriais determinam quais narrativas circulam; universidades policiam representações; corporações fabricam consensos artificiais sobre identidade e história. A pergunta platônica permanece urgente: quem educa os educadores? Quem narra a narrativa dominante?

2. Retórica: A Polis como Espaço do Logos Compartilhado

A Retórica aristotélica não é manual de manipulação, mas tratado sobre as condições de possibilidade do diálogo entre homens livres. Aristóteles distingue três tipos de prova: logos (argumento lógico), ethos (caráter do orador) e pathos (disposição da audiência). Esta tripartição reconhece que a persuasão humana não é pura lógica formal, mas evento existencial que envolve a totalidade dos interlocutores.

A democracia ateniense pressupunha a isegoria – o direito igual de fala na assembleia. Não porque todas as opiniões fossem equivalentes, mas porque apenas no confronto público de perspectivas divergentes a polis poderia aproximar-se do bem comum. O cidadão formado pela paideia clássica aprendia simultaneamente a falar e a ouvir, a persuadir e a deixar-se persuadir. Contraste-se com o presente: tribunais penalizam "discurso de ódio" sem definição precisa; plataformas digitais removem conteúdo segundo critérios opacos; universidades cancelam palestras por pressão de minorias vociferantes. O que se perde não são apenas opiniões específicas, mas a própria estrutura retórica que tornava possível a deliberação. Como notou Hannah Arendt, o totalitarismo não se caracteriza primariamente por reprimir a verdade, mas por destruir a própria capacidade humana de distinguir verdade de falsidade através do debate.

3. Dialética: A Maiêutica Socrática e a Conquista da Verdade

Platão não escreveu tratados, escreveu diálogos. Esta forma não é acidental, mas metodológica: a verdade filosófica não se transmite como informação, mas emerge do confronto vivo entre inteligências empenhadas em superar opiniões meramente recebidas (doxa) em direção ao conhecimento fundamentado (episteme). A dialética socrática possui estrutura precisa: parte de definições provisórias, expõe suas contradições internas, refina progressivamente até alcançar formulações mais adequadas. Crucial: nenhum interlocutor possui a verdade de antemão; ela é conquistada coletivamente através do logos compartilhado. A ironia socrática – "só sei que nada sei" – não é ceticismo, mas reconhecimento de que o filosofar é processo interminável de aproximação.

Os regimes totalitários não podem tolerar a dialética genuína. A Inquisição medieval, ao menos, admitia critérios compartilhados de verdade (revelação, autoridade dos Padres); podia-se, em princípio, argumentar teologicamente. Os totalitarismos modernos são mais radicais: eliminam os próprios termos do debate. Na Alemanha nazista, "raça" deixou de ser conceito debatível; na URSS, "luta de classes" tornou-se axioma inquestionável; na China contemporânea, a "harmonia social" justifica toda censura.

A universidade moderna, que deveria ser bastião dialético, frequentemente mimetiza esta estrutura. Conceitos como "privilégio", "opressão" ou "microagressão" funcionam como axiomas inquestionáveis; questionar suas definições é prova de cumplicidade com injustiças. Restaurar a dialética exigiria recuperar a humildade socrática: reconhecer que não sabemos ainda o que seja justiça, e que apenas através do confronto honesto de perspectivas podemos aproximar-nos de formulações mais adequadas.

4. Analítica: Os Organon e os Fundamentos Irredutíveis da Razão

Os tratados lógicos de Aristóteles – posteriormente chamados Organon (instrumento) – estabelecem os princípios sem os quais nenhum discurso pode aspirar à racionalidade: identidade (A é A), não-contradição (A não pode ser simultaneamente B e não-B), terceiro excluído (ou A ou não-A). Estes princípios não são convenções culturais, mas estruturas transcendentais do pensamento: negá-los torna impossível qualquer afirmação, incluindo a própria negação. George Orwell compreendeu o que estava em jogo. A "duplipensar" de 1984 não é mero absurdo literário, mas projeto político preciso: tornar a população incapaz de reconhecer contradições. "Guerra é paz", "liberdade é escravidão" não são slogans metafóricos, mas ataques diretos ao princípio de não-contradição. Uma vez destruída a lógica elementar, qualquer dominação torna-se possível porque inexistem critérios para resistir.

O presente testemunha formas mais sutis deste ataque. Quando ativistas afirmam simultaneamente que "gênero é construção social" e que "identidade de gênero é inata e imutável", ou quando governos declaram agir "pela liberdade" ao censurar, testemunhamos não erros lógicos pontuais, mas corrupção sistemática da racionalidade. Michel Foucault e seus epígonos forneceram justificativa teórica: a própria lógica seria instrumento de poder, expressão de racionalidade "hegemônica". O resultado é previsível: sem critérios lógicos mínimos, resta apenas o poder bruto.

III. A Estratégia Totalitária: Desintegração do Logos

Compreendida sob a ótica dos quatro discursos, a estratégia totalitária revela coerência sinistra. Não basta controlar instituições políticas; é necessário desintegrar a própria estrutura da racionalidade humana:

Poeticamente: Monopoliza-se a narrativa. Não por acaso todos os totalitarismos produziram cultos à personalidade, épicas nacionais, rituais coletivos. Mussolini compreendeu que governava através de símbolos antes que leis; Hitler coreografava concentrações nazistas como liturgias pagãs; Mao escrevia poesia e encomendava óperas revolucionárias. A imaginação popular deve ser saturada com uma única história possível.

Retoricamente: Substitui-se persuasão por propaganda. Goebbels formulou explicitamente: repetir mentira até tornar-se verdade, apelar às emoções mais primitivas, eliminar espaços de contestação. A retórica clássica buscava o endoxon – o provável, o opinável; a propaganda totalitária fabrica certezas absolutas através da saturação midiática e repressão de alternativas.

Dialeticamente: Criminaliza-se o contraditório. A dialética pressupõe que a verdade emerge do confronto; o totalitarismo exige que ela seja decretada pela autoridade. Stalin resolveu disputas científicas (linguística, genética) por decreto; Mao lançou a Revolução Cultural para eliminar "revisionistas"; regimes contemporâneos perseguem "desinformação" determinada unilateralmente.

Analiticamente: Corrompe-se a linguagem. A "neolíngua" orwelliana concretizou-se historicamente: "democracia popular" designava ditaduras; "paz" significava ausência de resistência; "liberdade" equivalia a submissão ao partido. Destruir definições precisas não é falha comunicativa, mas estratégia consciente: sem linguagem clara, não há pensamento claro; sem pensamento claro, não há resistência organizada.

IV. A Recuperação da Tradição como Ato de Resistência

Bruno Tolentino escreveu que "a tradição não é o que herdamos, mas o que conquistamos". Esta formulação aparentemente paradoxal contém verdade essencial: os clássicos não nos pertencem por direito de nascimento, mas devem ser apropriados mediante esforço intelectual consciente. Cada geração precisa reconquistar Homero, Platão, Aristóteles – não como autoridades incontestáveis, mas como interlocutores vivos em diálogo permanente.

Esta reconquista possui dimensão simultaneamente epistemológica e política:

1. Epistemologicamente: Recuperar os quatro discursos significa restaurar a integridade da razão humana contra sua redução instrumentalizada. A universidade fragmentada em departamentos incomunicáveis; a cultura cindida entre cientificismo estéril e irracionalismo subjetivista; a política degradada em marketing e gestão – tudo isso resulta do esquecimento da unidade originária do logos.

2. Politicamente: Defender a liberdade de expressão não pode limitar-se a slogans liberais sobre "mercado de ideias". É preciso compreender que a palavra compartilhada é o fundamento antropológico da polis. Aristóteles definiu o homem como zoon logon echon – animal que possui logos. Este logos é simultaneamente razão e discurso: pensamos porque falamos, falamos porque pensamos. Sufocar o discurso é, literalmente, desumanizar.

Leo Strauss alertou que o esquecimento moderno dos clássicos não é neutro, mas deixa-nos desarmados diante do totalitarismo. Os antigos pensaram sobre tirania, demagogia, corrupção de regimes com radicalidade que a ciência política moderna não superou. Ignorá-los não nos torna mais avançados, apenas mais vulneráveis.

V. Critérios Clássicos para Diagnóstico Contemporâneo

A tradição clássica fornece critérios precisos para avaliar a saúde política:

a) Teste aristotélico da politeia (constituição): Um regime é justo quando governantes buscam o bem comum; corrupto quando perseguem interesse particular. Pergunta-se hoje: quando governos restringem expressão "pelo bem coletivo", servem genuinamente à polis ou protegem poder estabelecido?

b) Distinção platônica entre doxa e episteme: Opiniões devem poder ser questionadas; conhecimentos fundamentados devem prevalecer no debate. Problema contemporâneo: quem determina o que é "desinformação"? Quando a distinção serve à busca da verdade, quando serve ao poder?

c) Liberdade antiga vs. liberdade moderna (Benjamin Constant): Os antigos valorizavam participação política direta; os modernos, autonomia individual. Ambas são legítimas, mas sua confusão é perigosa. Governos que invocam "democracia" para silenciar indivíduos cometem falácia categorial: usam retórica antiga (bem comum) para suprimir liberdade moderna (expressão individual).

d) Phronesis aristotélica (sabedoria prática): Não há regras abstratas universais; é preciso julgar cada situação concretamente. Censurar propaganda explícita de violência difere radicalmente de criminalizar opiniões políticas heterodoxas. A deterioração do juízo prudencial – substituído por algoritmos e protocolos burocráticos – é sintoma de barbárie crescente.

VI. Bruno Tolentino e a Intransigência Clássica

A obra de Bruno Tolentino exemplifica o método aqui proposto. Seus Sonetos de Outubro não são mero exercício formal, mas demonstração de que a forma clássica permanece capaz de expressar experiências contemporâneas com densidade inigualável. Sua polêmica contra a poesia concreta não era provincianismo, mas defesa de uma verdade mais profunda: sem domínio da tradição métrica, semântica e simbólica, não há poesia possível, apenas ruído.

Analogamente no pensamento político: sem domínio da tradição conceitual clássica – justiça, virtude, tirania, lei – não há filosofia política possível, apenas jargão ideológico. Quando analistas falam de "democracia" sem ler Aristóteles, de "liberdade" sem conhecer Locke, de "totalitarismo" sem estudar Platão, produzem não pensamento, mas simulacro de pensamentoTolentino escreveu: "A modernidade tem pressa. Quer chegar não se sabe onde, partindo não se sabe de onde". Esta crítica vale para toda pretensão de refundar civilização ignorando fundamentos. Não podemos construir futuro habitável sobre amnésia cultural. A reconquista dos clássicos não é regressão, mas condição para qualquer progresso genuíno.

VII. O Logos como Pátria Comum

Há uma passagem em Heráclito frequentemente mal-traduzida: "Xynon esti pasin to phronein" – "Comum a todos é pensar". Não significa que todos pensam igualmente, mas que o logos – a racionalidade, a palavra articulada – é propriedade comum da humanidade. Não pertence a nenhuma nação, classe ou época; é a pátria universal dos que pensam. Os totalitarismos, antigos e modernos, são ataques a esta pátria comum. Quando governos determinam unilateralmente o que pode ser dito, quando algoritmos decidem que ideias circulam, quando universidades punem heterodoxias, o que perece não é mera liberdade política, mas a possibilidade mesma da vida intelectual comum.

A Teoria dos Quatro Discursos, ao recuperar a estrutura aristotélica do logos, oferece mais que instrumento analítico: propõe restauração de um mundo comum onde homens livres possam divergir racionalmente porque compartilham fundamentos. Poética, retórica, dialética e analítica não são técnicas especializadas, mas dimensões constitutivas de nossa humanidade. Defender hoje a liberdade de expressão exige, portanto, radicalidade filosófica que o liberalismo convencional não possui. Não basta invocar direitos individuais ou autonomia pessoal. É preciso compreender, com os gregos, que somos constituídos pelo logos compartilhado. Uma palavra que não pode ser dita é um pedaço de humanidade comum que se perde. Uma verdade que não pode ser questionada é uma verdade que deixa de ser verdade, tornando-se dogma.

A tarefa urgente é desenterrar do pensamento antigo não relíquias mortas, mas armas vivas contra a barbárie contemporânea. Aristóteles, Platão, os trágicos gregos não nos interessam como objetos de erudição museológica, mas como testemunhas de possibilidades humanas mais altas que nossa civilização em declínio esqueceu. Sua recuperação não é nostalgia, mas profecia: recordam-nos que já fomos capazes de pensar com clareza, falar com precisão, discordar com civilidade, buscar verdades compartilhadas. E se já fomos, podemos novamente ser.

O totalitarismo vence quando nos convence de que a fragmentação é irreversível, que o cinismo é realismo, que a barbárie é inevitável. A tradição clássica ensina o contrário: enquanto um homem puder ler Homero, outro Platão, e ambos discutirem o significado da justiça, a possibilidade da polis – da vida comum na palavra – permanece aberta. Esta é nossa tarefa: não apenas resistir à censura, mas reconquistar o logos como espaço comum onde a humanidade pode habitar dignamente.

Como Bruno Tolentino insistiu até seu último suspiro: não se defende a tradição por conservadorismo, mas porque ela contém o melhor que a humanidade já pensou, disse e criou. Esquecê-la não nos torna modernos, apenas órfãos. Recuperá-la não nos torna antigos, mas novamente humanos.

 

segunda-feira, outubro 13, 2025

Sobre o Nobel de Economia 2025

Sobre o Nobel de Economia 2025

O economista Joel Mokyr traz evidência robusta de longo prazo sobre por que sociedades adotam e acumulam conhecimento útil. Mokyr enfatiza que o crescimento industrial exigiu não só acúmulo de proposições científicas, mas uma cultura que valorizasse experiências, debates e confiança na utilidade do progresso técnico — um “ecossistema epistemológico” que converte teorias em tecnologias aplicáveis. As economias crescentes combinam uma base epistemológica mínima com instituições que incentivam experimentação e disseminação; Philippe Aghion e Peter Howitt formalizaram uma visão schumpeteriana: o crescimento endógeno é impulsionado por inovações que substituem tecnologias anteriores — um processo simultaneamente criativo (novos bens e produtividade) e destrutivo (empresas, empregos e ativos antigos perdem valor). O artigo seminal e a grande referência metodológica são a modelagem publicada originalmente como working paper/NBER e depois na forma consolidada: “A Model of Growth Through Creative Destruction” (1992/1990) e o livro-manual Endogenous Growth Theory (Aghion & Howitt, MIT Press, 1997/1998).

O modelo de Aghion–Howitt entrega lições claras: promover concorrência e proteger incentivos à inovação são simultaneamente necessários; contudo, inovação rápida pode gerar forte resistência política e custos de transição (destruição criadora), exigindo políticas que gerenciem redistribuição, formação e adaptação setorial. Essas conclusões explicam por que debates recentes sobre política industrial, regulação de tecnologia e proteção social aparecem tão centrais nas discussões contemporâneas sobre inovação (tema ressaltado nas notas do comitê Nobel e na cobertura da premiação). 

O Nobel de 2025 reconhece a convergência entre história econômica e teoria formal: Mokyr traz evidência robusta de longo prazo sobre por que sociedades adotam e acumulam conhecimento útil, enquanto Aghion & Howitt oferecem a linguagem teórica para modelar a dinâmica pela qual inovações geram crescimento — incluindo suas tensões políticas e econômicas. Juntos, os trabalhos mudaram a maneira como economistas e formuladores de política pensam sobre inovação: não é um “fator exógeno” nem um detalhe técnico, mas o motor central cujo desenho institucional e incentivos determinam se uma nação alcança crescimento sustentado. Algumas questões em aberto permanecem — p.ex. como reconciliar crescimento tecnológico com metas ambientais, desigualdade e estabilidade social — e as obras dos laureados oferecem boas bases para investigar tais trade-offs.

A confluência entre os modelos de Aghion & Howitt e as evidências históricas de Mokyr torna o quadro teórico-empírico particularmente robusto. 

O comité do Nobel de 2025 reconheceu explicitamente a complementaridade entre (i) a análise histórica e cultural do surgimento do “conhecimento útil” (Mokyr) e (ii) a modelagem formal dos processos de inovação e destruição criativa (Aghion & Howitt). Essa escolha sublinha uma mensagem científica: entender o crescimento exige tanto evidência de longo prazo — que documenta quando e onde sociedades adotaram conhecimento útil — quanto teoria dinâmica que explica os mecanismos econômicos subjacentes e suas implicações de política. O prêmio legitima uma tradição interdisciplinar que combina história econômica, ciência política, economia industrial e teoria do crescimento. 

Algumas implicações práticas derivadas da conjunção entre evidência de longo prazo e teoria:

1. Políticas que favoreçam difusão do conhecimento (educação técnica, redes de pesquisa, publicações abertas, sociedades profissionais) são tão cruciais quanto financiamento de pesquisa de ponta.

2. Instituições que reduzem custos de troca de informação (contratos, confiança, liberdade intelectual) aumentam a probabilidade de que o conhecimento disponível se torne “útil”.

3. Regulação e competição: manter um equilíbrio entre proteção (incentivos à inovação por direitos) e competição (que facilita a substituição de tecnologias e a difusão) é essencial — ponto bem tratado nos modelos de Aghion & Howitt.

4. Perspectiva histórica importa: políticas copiadas mecanicamente de casos de sucesso contemporâneos podem falhar se não considerarem o “ecossistema cultural” que permitiu a adoção de técnicas no passado.


na tela ou dvd

  • 12 Horas até o Amanhecer
  • 1408
  • 1922
  • 21 Gramas
  • 30 Minutos ou Menos
  • 8 Minutos
  • A Árvore da Vida
  • A Bússola de Ouro
  • A Chave Mestra
  • A Cura
  • A Endemoniada
  • A Espada e o Dragão
  • A Fita Branca
  • A Força de Um Sorriso
  • A Grande Ilusão
  • A Idade da Reflexão
  • A Ilha do Medo
  • A Intérprete
  • A Invenção de Hugo Cabret
  • A Janela Secreta
  • A Lista
  • A Lista de Schindler
  • A Livraria
  • A Loucura do Rei George
  • A Partida
  • A Pele
  • A Pele do Desejo
  • A Poeira do Tempo
  • A Praia
  • A Prostituta e a Baleia
  • A Prova
  • A Rainha
  • A Razão de Meu Afeto
  • A Ressaca
  • A Revelação
  • A Sombra e a Escuridão
  • A Suprema Felicidade
  • A Tempestade
  • A Trilha
  • A Troca
  • A Última Ceia
  • A Vantagem de Ser Invisível
  • A Vida de Gale
  • A Vida dos Outros
  • A Vida em uma Noite
  • A Vida Que Segue
  • Adaptation
  • Africa dos Meus Sonhos
  • Ágora
  • Alice Não Mora Mais Aqui
  • Amarcord
  • Amargo Pesadelo
  • Amigas com Dinheiro
  • Amor e outras drogas
  • Amores Possíveis
  • Ano Bissexto
  • Antes do Anoitecer
  • Antes que o Diabo Saiba que Voce está Morto
  • Apenas uma vez
  • Apocalipto
  • Arkansas
  • As Horas
  • As Idades de Lulu
  • As Invasões Bárbaras
  • Às Segundas ao Sol
  • Assassinato em Gosford Park
  • Ausência de Malícia
  • Australia
  • Avatar
  • Babel
  • Bastardos Inglórios
  • Battlestar Galactica
  • Bird Box
  • Biutiful
  • Bom Dia Vietnan
  • Boneco de Neve
  • Brasil Despedaçado
  • Budapeste
  • Butch Cassidy and the Sundance Kid
  • Caçada Final
  • Caçador de Recompensa
  • Cão de Briga
  • Carne Trêmula
  • Casablanca
  • Chamas da vingança
  • Chocolate
  • Circle
  • Cirkus Columbia
  • Close
  • Closer
  • Código 46
  • Coincidências do Amor
  • Coisas Belas e Sujas
  • Colateral
  • Com os Olhos Bem Fechados
  • Comer, Rezar, Amar
  • Como Enlouquecer Seu Chefe
  • Condessa de Sangue
  • Conduta de Risco
  • Contragolpe
  • Cópias De Volta À Vida
  • Coração Selvagem
  • Corre Lola Corre
  • Crash - no Limite
  • Crime de Amor
  • Dança com Lobos
  • Déjà Vu
  • Desert Flower
  • Destacamento Blood
  • Deus e o Diabo na Terra do Sol
  • Dia de Treinamento
  • Diamante 13
  • Diamante de Sangue
  • Diário de Motocicleta
  • Diário de uma Paixão
  • Disputa em Família
  • Dizem por Aí...
  • Django
  • Dois Papas
  • Dois Vendedores Numa Fria
  • Dr. Jivago
  • Duplicidade
  • Durante a Tormenta
  • Eduardo Mãos de Tesoura
  • Ele não está tão a fim de você
  • Em Nome do Jogo
  • Encontrando Forrester
  • Ensaio sobre a Cegueira
  • Entre Dois Amores
  • Entre o Céu e o Inferno
  • Escritores da Liberdade
  • Esperando um Milagre
  • Estrada para a Perdição
  • Excalibur
  • Fay Grim
  • Filhos da Liberdade
  • Flores de Aço
  • Flores do Outro Mundo
  • Fogo Contra Fogo
  • Fora de Rumo
  • Fuso Horário do Amor
  • Game of Thrones
  • Garota da Vitrine
  • Gata em Teto de Zinco Quente
  • Gigolo Americano
  • Goethe
  • Gran Torino
  • Guerra ao Terror
  • Guerrilha Sem Face
  • Hair
  • Hannah And Her Sisters
  • Henry's Crime
  • Hidden Life
  • História de Um Casamento
  • Horizonte Profundo
  • Hors de Prix (Amar não tem preço)
  • I Am Mother
  • Inferno na Torre
  • Invasores
  • Irmão Sol Irmã Lua
  • Jamón, Jamón
  • Janela Indiscreta
  • Jesus Cristo Superstar
  • Jogo Limpo
  • Jogos Patrióticos
  • Juno
  • King Kong
  • La Dolce Vitta
  • La Piel que Habito
  • Ladrões de Bicicleta
  • Land of the Blind
  • Las 13 Rosas
  • Latitude Zero
  • Lavanderia
  • Le Divorce (À Francesa)
  • Leningrado
  • Letra e Música
  • Lost Zweig
  • Lucy
  • Mar Adentro
  • Marco Zero
  • Marley e Eu
  • Maudie Sua Vida e Sua Arte
  • Meia Noite em Paris
  • Memórias de uma Gueixa
  • Menina de Ouro
  • Meninos não Choram
  • Milagre em Sta Anna
  • Mistério na Vila
  • Morangos Silvestres
  • Morto ao Chegar
  • Mudo
  • Muito Mais Que Um Crime
  • Negócio de Família
  • Nina
  • Ninguém Sabe Que Estou Aqui
  • Nossas Noites
  • Nosso Tipo de Mulher
  • Nothing Like the Holidays
  • Nove Rainhas
  • O Amante Bilingue
  • O Americano
  • O Americano Tranquilo
  • O Amor Acontece
  • O Amor Não Tira Férias
  • O Amor nos Tempos do Cólera
  • O Amor Pede Passagem
  • O Artista
  • O Caçador de Pipas
  • O Céu que nos Protege
  • O Círculo
  • O Circulo Vermelho
  • O Clã das Adagas Voadoras
  • O Concerto
  • O Contador
  • O Contador de Histórias
  • O Corte
  • O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante
  • O Curioso Caso de Benjamin Button
  • O Destino Bate a Sua Porta
  • O Dia em que A Terra Parou
  • O Diabo de Cada Dia
  • O Dilema das Redes
  • O Dossiê de Odessa
  • O Escritor Fantasma
  • O Fabuloso Destino de Amelie Poulan
  • O Feitiço da Lua
  • O Fim da Escuridão
  • O Fugitivo
  • O Gangster
  • O Gladiador
  • O Grande Golpe
  • O Guerreiro Genghis Khan
  • O Homem de Lugar Nenhum
  • O Iluminado
  • O Ilusionista
  • O Impossível
  • O Irlandês
  • O Jardineiro Fiel
  • O Leitor
  • O Livro de Eli
  • O Menino do Pijama Listrado
  • O Mestre da Vida
  • O Mínimo Para Viver
  • O Nome da Rosa
  • O Paciente Inglês
  • O Pagamento
  • O Pagamento Final
  • O Piano
  • O Poço
  • O Poder e a Lei
  • O Porteiro
  • O Preço da Coragem
  • O Protetor
  • O Que é Isso, Companheiro?
  • O Solista
  • O Som do Coração (August Rush)
  • O Tempo e Horas
  • O Troco
  • O Último Vôo
  • O Visitante
  • Old Guard
  • Olhos de Serpente
  • Onde a Terra Acaba
  • Onde os Fracos Não Têm Vez
  • Operação Fronteira
  • Operação Valquíria
  • Os Agentes do Destino
  • Os Esquecidos
  • Os Falsários
  • Os homens que não amavam as mulheres
  • Os Outros
  • Os Românticos
  • Os Tres Dias do Condor
  • Ovos de Ouro
  • P.S. Eu te Amo
  • Pão Preto
  • Parejas
  • Partoral Americana
  • Password, uma mirada en la oscuridad
  • Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
  • Perdita Durango
  • Platoon
  • Poetas da Liberdade
  • Polar
  • Por Quem os Sinos Dobram
  • Por Um Sentido na Vida
  • Quantum of Solace
  • Queime depois de Ler
  • Quero Ficar com Polly
  • Razão e Sensibilidade
  • Rebeldia Indomável
  • Rock Star
  • Ronin
  • Salvador Puig Antich
  • Saneamento Básico
  • Sangue Negro
  • Scoop O Grande Furo
  • Sem Destino
  • Sem Medo de Morrer
  • Sem Reservas
  • Sem Saída
  • Separados pelo Casamento
  • Sete Vidas
  • Sexo, Mentiras e Vídeo Tapes
  • Silence
  • Slumdog Millionaire
  • Sobre Meninos e Lobos
  • Solas
  • Sombras de Goya
  • Spread
  • Sultões do Sul
  • Super 8
  • Tacones Lejanos
  • Taxi Driver
  • Terapia do Amor
  • Terra em Transe
  • Território Restrito
  • The Bourne Supremacy
  • The Bourne Ultimatum
  • The Post
  • Tinha que Ser Você
  • Todo Poderoso
  • Toi Moi Les Autres
  • Tomates Verdes Fritos
  • Tootsie
  • Torrente, o Braço Errado da Lei
  • Trama Internacional
  • Tudo Sobre Minha Mãe
  • Últimas Ordens
  • Um Bom Ano
  • Um Homem de Sorte
  • Um Lugar Chamado Brick Lane
  • Um Segredo Entre Nós
  • Uma Vida Iluminada
  • Valente
  • Vanila Sky
  • Veludo Azul
  • Vestida para Matar
  • Viagem do Coração
  • Vicky Cristina Barcelona
  • Vida Bandida
  • Voando para Casa
  • Volver
  • Wachtman
  • Zabriskie Point