segunda-feira, outubro 13, 2025

Sobre o Nobel de Economia 2025

Sobre o Nobel de Economia 2025

O economista Joel Mokyr traz evidência robusta de longo prazo sobre por que sociedades adotam e acumulam conhecimento útil. Mokyr enfatiza que o crescimento industrial exigiu não só acúmulo de proposições científicas, mas uma cultura que valorizasse experiências, debates e confiança na utilidade do progresso técnico — um “ecossistema epistemológico” que converte teorias em tecnologias aplicáveis. As economias crescentes combinam uma base epistemológica mínima com instituições que incentivam experimentação e disseminação; Philippe Aghion e Peter Howitt formalizaram uma visão schumpeteriana: o crescimento endógeno é impulsionado por inovações que substituem tecnologias anteriores — um processo simultaneamente criativo (novos bens e produtividade) e destrutivo (empresas, empregos e ativos antigos perdem valor). O artigo seminal e a grande referência metodológica são a modelagem publicada originalmente como working paper/NBER e depois na forma consolidada: “A Model of Growth Through Creative Destruction” (1992/1990) e o livro-manual Endogenous Growth Theory (Aghion & Howitt, MIT Press, 1997/1998).

O modelo de Aghion–Howitt entrega lições claras: promover concorrência e proteger incentivos à inovação são simultaneamente necessários; contudo, inovação rápida pode gerar forte resistência política e custos de transição (destruição criadora), exigindo políticas que gerenciem redistribuição, formação e adaptação setorial. Essas conclusões explicam por que debates recentes sobre política industrial, regulação de tecnologia e proteção social aparecem tão centrais nas discussões contemporâneas sobre inovação (tema ressaltado nas notas do comitê Nobel e na cobertura da premiação). 

O Nobel de 2025 reconhece a convergência entre história econômica e teoria formal: Mokyr traz evidência robusta de longo prazo sobre por que sociedades adotam e acumulam conhecimento útil, enquanto Aghion & Howitt oferecem a linguagem teórica para modelar a dinâmica pela qual inovações geram crescimento — incluindo suas tensões políticas e econômicas. Juntos, os trabalhos mudaram a maneira como economistas e formuladores de política pensam sobre inovação: não é um “fator exógeno” nem um detalhe técnico, mas o motor central cujo desenho institucional e incentivos determinam se uma nação alcança crescimento sustentado. Algumas questões em aberto permanecem — p.ex. como reconciliar crescimento tecnológico com metas ambientais, desigualdade e estabilidade social — e as obras dos laureados oferecem boas bases para investigar tais trade-offs.

A confluência entre os modelos de Aghion & Howitt e as evidências históricas de Mokyr torna o quadro teórico-empírico particularmente robusto. 

O comité do Nobel de 2025 reconheceu explicitamente a complementaridade entre (i) a análise histórica e cultural do surgimento do “conhecimento útil” (Mokyr) e (ii) a modelagem formal dos processos de inovação e destruição criativa (Aghion & Howitt). Essa escolha sublinha uma mensagem científica: entender o crescimento exige tanto evidência de longo prazo — que documenta quando e onde sociedades adotaram conhecimento útil — quanto teoria dinâmica que explica os mecanismos econômicos subjacentes e suas implicações de política. O prêmio legitima uma tradição interdisciplinar que combina história econômica, ciência política, economia industrial e teoria do crescimento. 

Algumas implicações práticas derivadas da conjunção entre evidência de longo prazo e teoria:

1. Políticas que favoreçam difusão do conhecimento (educação técnica, redes de pesquisa, publicações abertas, sociedades profissionais) são tão cruciais quanto financiamento de pesquisa de ponta.

2. Instituições que reduzem custos de troca de informação (contratos, confiança, liberdade intelectual) aumentam a probabilidade de que o conhecimento disponível se torne “útil”.

3. Regulação e competição: manter um equilíbrio entre proteção (incentivos à inovação por direitos) e competição (que facilita a substituição de tecnologias e a difusão) é essencial — ponto bem tratado nos modelos de Aghion & Howitt.

4. Perspectiva histórica importa: políticas copiadas mecanicamente de casos de sucesso contemporâneos podem falhar se não considerarem o “ecossistema cultural” que permitiu a adoção de técnicas no passado.


sexta-feira, outubro 10, 2025

O Apocalipse Lento: László Krasznahorkai e a Poética do Colapso

O Apocalipse Lento: László Krasznahorkai e a Poética do Colapso

A consagração de László Krasznahorkai com o Nobel de Literatura 2025, anunciada ontem pela Academia Sueca, representa o reconhecimento de uma das vozes mais singulares e radicais da literatura contemporânea. O prêmio foi concedido "por sua obra convincente e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte"[1] — uma justificativa que sintetiza com precisão a natureza paradoxal de um projeto literário que se equilibra entre o niilismo e a transcendência.

Sátántangó: A Cartografia do Fim

“Sátántangó”, publicado em 1985, foi uma sensação literária na Hungria e marca a estreia do autor[2]. A única obra do húngaro disponível no Brasil, lançada pela Companhia das Letras em tradução direta do húngaro por Paulo Schiller, é muito mais que um romance: é uma fenomenologia da desintegração. O livro retrata, em termos poderosamente sugestivos, um grupo desolado de moradores em uma fazenda coletiva abandonada no interior húngaro às vésperas da queda do comunismo[3].

O que imediatamente distingue Krasznahorkai na tradição literária é sua arquitetura sintática. O romancista certa vez disse que o ponto final "não pertence aos seres humanos – pertence a Deus"[4]. Suas frases são labirintos gramaticais, rios de subordinadas que não cessam, criando um "fluxo de lava lento de narrativa"[5], nas palavras de seu tradutor George Szirtes. Este não é mero experimentalismo formal: é a tentativa de capturar o próprio fluxo do pensamento, a torrente ininterrupta da consciência diante do abismo.

O Messianismo Invertido e a Falência das Utopias

Em “Sátántangó”, o silêncio e a antecipação reinam até que o carismático Irimiás e seu comparsa Petrina, que todos acreditavam estar mortos, aparecem subitamente em cena. Para os moradores que aguardam, eles parecem mensageiros de esperança ou do juízo final[6]. Krasznahorkai constrói uma alegoria devastadora sobre a sedução totalitária e a vulnerabilidade dos desesperados. O elemento satânico referido no título está presente na moralidade escrava dos personagens e nas pretensões do charlatão Irimiás que, tão eficazes quanto enganosas, deixam quase todos completamente iludidos[7]. É um retrato impiedoso da Hungria pós-comunista, mas que transcende seu contexto imediato para se tornar uma meditação universal sobre a esperança como armadilha e a redenção como fraude.

A Tradição Centro-Europeia e o Peso do Absurdo

László Krasznahorkai é um grande escritor épico na tradição centro-europeia que se estende de Kafka a Thomas Bernhard, caracterizada pelo absurdismo e pelo excesso grotesco[8]. Mas ao contrário de Kafka, cuja burocracia do absurdo mantém certa elegância geométrica, ou de Bernhard, cujo fluxo verbal é uma máquina de invectivas, Krasznahorkai opera no registro da entropia. Seus personagens não lutam contra o absurdo — eles já foram absorvidos por ele.

A comparação com Gogol e Melville, feita por Susan Sontag, é reveladora. De Gogol, Krasznahorkai herda o grotesco provinciano, a galeria de tipos humanos deformados pela miséria material e espiritual. De Melville, a obsessão metafísica, o senso de que por trás do véu da realidade mundana há algo terrível e indecifrável. Sontag o descreveu como "o mestre húngaro do apocalipse"[9] — e esse apocalipse não é explosivo, mas lento, viscoso, inescapável.

O Estilo como Pensamento, a Forma como Ética

Krasznahorkai define sua literatura como "a realidade examinada até a locura"[10]. Suas frases intermináveis não são barrocas no sentido ornamental — são tentativas de exaustão epistemológica, de esgotar todos os ângulos possíveis de um momento, de uma percepção, de uma catástrofe iminente. O escritor afirma que só escreve no computador quando tem uma frase terminada na cabeça e a repasou mentalmente uma e outra vez[11].

Esta obsessão com a precisão absoluta, paradoxalmente expressa através da proliferação sintática, aproxima Krasznahorkai de uma fenomenologia literária. Cada frase é uma expedição ao território nebuloso entre o que é visto e o que é pensado, entre o evento e sua reverberação na consciência.

Relevância para o Contexto Brasileiro

Para nós, leitores brasileiros em 2025, “Sátántangó” oferece uma lente perturbadoramente familiar. A narrativa de comunidades rurais abandonadas à própria sorte, de populações seduzidas por figuras messiânicas que prometem salvação e entregam apenas mistificação, de esperanças coletivas transformadas em cinzas — tudo isso ressoa com nossas próprias experiências históricas recentes. Mas Krasznahorkai nos oferece algo que transcende o diagnóstico sociológico: uma linguagem capaz de expressar o peso existencial do colapso, a textura subjetiva da desilusão. Num momento em que as narrativas apocalípticas proliferam no discurso político e midiático brasileiro, sua obra propõe algo mais radical: reafirmar o poder da arte em meio ao terror apocalíptico[12].

A Questão da Tradução e da Leitura

É preciso ser honesto sobre a dificuldade desta obra. Enquanto o mundo de seus romances é frequentemente esparso, as frases são densas como granito[13]. Krasznahorkai exige paciência, concentração, uma disposição para se perder nas voltas de sua prosa. Não é literatura de consumo rápido — é literatura que resiste, que força o leitor a desacelerar, a habitar o desconforto.

A tradução direta do húngaro por Paulo Schiller é um feito notável, considerando que o húngaro é uma língua fino-úgrica sem parentesco com as línguas românicas, e que o estilo de Krasznahorkai tensiona ao máximo os recursos sintáticos de qualquer idioma.

A Arte como Resistência

O Nobel a Krasznahorkai é um voto de confiança na literatura que não oferece consolação fácil, que não subestima a inteligência do leitor, que recusa a simplificação. Em entrevista recente, ele afirmou categoricamente que "a arte é a resposta extraordinária da humanidade ao sentimento de perdição que é nosso destino"[14]  — e não, pode-se presumir, um conselho sobre o que fazer com essa "perdição". “Sátántangó” não é um livro para todos os momentos, mas é certamente um livro para este momento: quando as certezas se dissolvem, quando as estruturas coletivas entram em colapso, quando a própria noção de futuro se torna nebulosa. Krasznahorkai nos lembra que a literatura, em sua forma mais exigente e intransigente, continua sendo uma das poucas ferramentas que temos para pensar — realmente pensar, até a exaustão, até a lucidez — sobre o que significa estar vivo em meio às ruínas.

O prêmio Nobel vem confirmar o que uma legião de leitores devotos já sabia: que este escritor húngaro, com suas frases impossíveis e suas visões apocalípticas, é um dos cartógrafos essenciais da condição contemporânea. Resta ao leitor brasileiro a oportunidade — e o desafio — de mergulhar neste universo através de “Sátántangó”, uma das obras mais radicais e necessárias da literatura do século XX.

Krasznahorkai no Olimpo dos Difíceis: Reputação e Recepção nos Círculos Intelectuais

A recepção de László Krasznahorkai entre leitores assíduos da literatura universal e seletos grupos de intelectuais europeus revela um fenômeno fascinante: ele é simultaneamente cultuado e evitado, reverenciado como gênio e temido por sua dificuldade. Sua posição no campo literário contemporâneo é sui generis — considerado um dos mais exigentes e influentes escritores europeus contemporâneos[15].

O Status de "Moeda Rara": Culto e Exclusividade

James Wood, crítico do The New Yorker, escreveu que "sua obra tende a ser passada como moeda rara"[16] — uma metáfora que captura perfeitamente o estatuto de Krasznahorkai. Ele não é um escritor de grandes tiragens, mas de leitores devotos que descobrem sua obra através de recomendações sussurradas em círculos literários.

Em uma aparição pública em Nova York, a livraria Housing Works foi transformada em uma sala de conferências, com longas filas de assentos ocupados e retardatários pressionados contra as estantes. O evento atraiu uma multidão surpreendentemente heterogênea: tipos professoral espreitavam sobre o cabelo bagunçado de jovens do East Village enquanto assistentes editoriais de botões abotoados ofereciam seus assentos a velhos desbotados com bengalas[17]. Este relato ilustra o apelo transgeracional de Krasznahorkai entre a intelligentsia literária.

A Consagração Crítica: De Sontag a Wood

A trajetória de reconhecimento de Krasznahorkai foi pavimentada por alguns dos críticos mais influentes do mundo anglófono:

Susan Sontag: A Primeira Voz

A crítica norte-americana Susan Sontag coroou cedo Krasznahorkai como o "mestre do apocalipse" da literatura contemporânea, um juízo que formulou após ler o seu segundo livro, "A Melancolia da Resistência"[18]. Ela o descreveu como "o mestre húngaro contemporâneo do apocalipse que inspira comparação com Gogol e Melville"[19].

W.G. Sebald: O Par Literário

O escritor alemão W.G. Sebald escreveu que "a universalidade da visão de Krasznahorkai rivaliza com a das 'Almas Mortas' de Gogol e ultrapassa em muito todas as preocupações menores da escrita contemporânea"[20] — uma das mais altas honras que um escritor pode receber de outro.

James Wood: O Evangelista Crítico

Seu romance "Guerra e Guerra" (1999) foi descrito pelo crítico da revista The New Yorker, James Wood, como "uma das experiências mais profundamente perturbadoras que já tive como leitor"[21]. Wood observa que o mundo ficcional de Krasznahorkai "oscila à beira de uma revelação que nunca vem"[22] e que "a prosa tem uma espécie de embaralhamento autocorretivo, como se algo estivesse genuinamente sendo elaborado e, no entanto, dolorosamente e humorosamente, essas correções nunca resultam na resposta correta"[23].

O ensaio de Wood sobre Krasznahorkai no The New Yorker uma década depois é citado como "o alvorecer da Era Krasznahorkai na América"[24] — evidenciando o poder que a crítica acadêmica ainda possui na formação de reputações literárias.

Na Alemanha: "Quase Canônico"

Na Alemanha, Krasznahorkai é "quase canônico" e é falado como um potencial laureado do Nobel[25]. Seus romances, contos e ensaios são mais conhecidos na Alemanha — onde viveu por longos períodos — e em sua Hungria natal[26]. O fato de ter sido considerado canônico na Alemanha — um país com altíssima exigência crítica e tradição literária sólida — posicionou Krasznahorkai dentro da grande tradição centro-europeia que vai de Kafka a Thomas Bernhard, passando por Musil e Canetti.

A Questão da Dificuldade: Um Desafio Deliberado

A dificuldade de Krasznahorkai não é acidental — é programática. Ao contrário de autores como Knausgaard e Ferrante, cujos livros são instantaneamente acessíveis, sua obra é difícil, uma designação temida numa era de gratificação instantânea[27]. Suas frases podem ser longas, com páginas e páginas de extensão. Podem ser densas como lodo. Não procedem com a direção de uma flecha em voo, mas divagam e fazem loops sobre si mesmas, fluindo como algum rio túrbido, espesso com o flotsam da humanidade, que nunca escapa completamente para o mar[28].

Quando questionado sobre o comprimento de suas frases, o escritor disse que desconfiava de frases curtas porque as pessoas falam com vírgulas, não com pontos finais. "O ponto pertence a Deus", explicou Krasznahorkai, "não ao humano; e talvez Deus faça o último ponto"[29]. A plateia aplaudiu — uma resposta que demonstra como seus leitores valorizam precisamente aquilo que afasta outros.

Posicionamento na Tradição Literária

Reconhecido como um dos grandes nomes da literatura centro-europeia contemporânea, Krasznahorkai se insere na tradição que vai de Kafka a Thomas Bernhard, marcada pelo absurdismo e pelo grotesco, mas também se volta ao Oriente em uma prosa contemplativa e meticulosamente calibrada[30].

James Wood compara Krasznahorkai a escritores como Samuel Beckett, W.G. Sebald, José Saramago, Claude Simon ou David Foster Wallace, notando que de todos esses romancistas, Krasznahorkai é talvez o mais estranho[31].

O Fenômeno do "Escritor de Culto Global"

Alguns críticos assinalaram que Krasznahorkai adquiriu a categoria de escritor internacional de culto na última década[32]. Mas esse "culto" é peculiar:

- Não é mainstream: Ele não alcançou a popularidade de outros autores difíceis como Bolaño ou Sebald

- É altamente seletivo: Seus leitores tendem a ser outros escritores, acadêmicos, críticos profissionais e leitores "sérios"

- É geograficamente concentrado: Principalmente na Europa Central, Alemanha, Reino Unido e nos círculos universitários americanos

A decisão da Academia Sueca também é um compromisso com o valor da escrita séria e intelectual em uma época caracterizada pelo imediatismo, pelas distrações da cultura digital e pela indústria do entretenimento[33].

Críticas e Controvérsias na Recepção

Nem toda recepção crítica é unânime. Há debates intensos sobre como ler Krasznahorkai. Críticos mais experimentais argumentam que leituras convencionais (como as de James Wood) que enfatizam "consciência", "personagens" e "metafísica" podem recuperar Krasznahorkai de forma neoconservadora, não captando que a própria linguagem pode ser primária e constitutiva em sua obra[34]. Essas disputas interpretativas, longe de diminuírem sua estatura, confirmam sua importância: só os escritores verdadeiramente significativos geram guerras de interpretação entre facções críticas.

O Prêmio Man Booker International: Turning Point

Em 2015, ele se tornou o primeiro autor húngaro a receber o Prêmio Man Booker Internacional[35]. O júri o premiou por suas "frases extraordinárias, frases de comprimento incrível que vão a extremos incríveis, cujo tom muda de solene para excêntrico, de curioso para desolado, enquanto seguem seu caminho"[36].

O Booker Internacional aspira a ser uma espécie de alternativa ao Prêmio Nobel de Literatura. Os vencedores anteriores leem como uma lista de candidatos de longa data ao Nobel — Philip Roth, Chinua Achebe, Ismail Kadare — e incluem um vencedor real do Nobel em Alice Munro[37].

O Contexto Político: A Posição do Intelectual Dissidente

Embora mantenha uma casa na Hungria, o escritor vive há vários anos num exílio autoimposto entre Berlim e Trieste, e não esconde o seu desdém pelas políticas do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. "Este regime húngaro é um caso psiquiátrico", disse numa entrevista à Yale Review, em fevereiro, sobre o facto de Orbán não ter condenado Vladimir Putin[38]. Esta postura dissidente aumenta sua credibilidade entre intelectuais europeus, que veem nele não apenas um experimentalista formal, mas um escritor com posição ética clara diante do autoritarismo.

Um Autor Para Poucos, Mas Esses Poucos São Muitos

Krasznahorkai ocupa um nicho específico e precioso no campo literário contemporâneo: é o escritor que confirma o valor da dificuldade, que prova que ainda há público — pequeno, mas influente — para literatura que exige tudo do leitor.

Os epítetos que tendem a ser aplicados à sua ficção incluem "desesperançoso", "obsessivo", "inquietante" e "intenso"[39]. Mas é precisamente essa intransigência estética que lhe garante o respeito dos círculos intelectuais. Essa qualidade literária intransigente e a maneira como ela ainda captura o tom de nossos tempos é o que os admiradores amam na obra de Krasznahorkai[40].

Para os leitores assíduos da literatura universal e os intelectuais europeus, Krasznahorkai representa algo raro: um escritor que não faz concessões, que escreve como se o mercado editorial não existisse, como se a atenção fragmentada da era digital fosse irrelevante. E paradoxalmente, é exatamente essa recusa de adaptação que o torna indispensável para quem leva a literatura a sério.

 



[1] [NobelPrize.org] (https://www.nobelprize.org/prizes/literature/2025/press-release/)

[2] [NobelPrize.org](https://www.nobelprize.org/prizes/literature/2025/bio-bibliography/)

[3] Ibid.

[4] [CNN](https://www.cnn.com/2025/10/09/style/laszlo-krasznahorkai-nobel-prize-literature-intl)

[5] Ibid.

[6] [NobelPrize.org](https://www.nobelprize.org/prizes/literature/2025/bio-bibliography/)

[7] Ibid.

[8] [NobelPrize.org](https://www.nobelprize.org/prizes/literature/2025/bio-bibliography/)

[9] [CNN](https://www.cnn.com/2025/10/09/style/laszlo-krasznahorkai-nobel-prize-literature-intl)

[10] [Infobae](https://www.infobae.com/cultura/2025/10/09/en-vivo-la-academia-sueca-anuncia-el-premio-nobel-de-literatura-2025/)

[11][Zenda](https://www.zendalibros.com/laszlo-krasznahorkai-premio-nobel-de-literatura-2025/)

[12] [Literary Hub](https://lithub.com/laszlo-krasznahorkai-has-won-the-2025-nobel-prize-in-literature/)

[13] [CNN](https://www.cnn.com/2025/10/09/style/laszlo-krasznahorkai-nobel-prize-literature-intl)

[14] [CNN](https://www.cnn.com/2025/10/09/style/laszlo-krasznahorkai-nobel-prize-literature-intl)

[15] [Observador](https://observador.pt/2025/10/09/laszlo-krasznahorkai-vence-premio-nobel-da-literatura-2025/)

[16] [The Week](https://theweek.com/articles/556302/laszlo-krasznahorkai-about-huge)

[17] [Electric Literature](https://electricliterature.com/i-didnt-want-to-be-a-writer-i-wanted-to-be-nothing-laszlo-krasznahorkai-and-james-wood-at/)

[18] [SAPO](https://sapo.pt/artigo/krasznahorkai-de-anonimo-a-mestre-do-apocalipse-e-nobel-da-literatura-68e7c084382397fcf57a7da9)

[19] [Wikipedia] (https://en.wikipedia.org/wiki/L%C3%A1szl%C3%B3_Krasznahorkai)

[20] Ibid.

[21] [NZ Herald](https://www.nzherald.co.nz/world/hungarys-master-of-the-apocalypse-laszlo-krasznahorkai-wins-literature-nobel/6Q6OCRBFYFCVJKKO5Y3C3D3E2U/)

[22] [Hlo](https://hlo.hu/news/james_wood_on_laszlo_krasznahorkai_in_the_new_yorker.html)

[23] Ibid.

[24] [Literary Hub](https://lithub.com/is-this-the-first-ever-english-language-review-of-laszlo-krasznahorkai/)

[25] [Hlo](https://hlo.hu/news/james_wood_on_laszlo_krasznahorkai_in_the_new_yorker.html)

[26] [East Coast Radio](https://www.ecr.co.za/news/news/krasznahorkai-master-apocalypse-wins-literature-nobel/)

[27] [The Week](https://theweek.com/articles/556302/laszlo-krasznahorkai-about-huge)

[28] Ibid.

[29] [Electric Literature](https://electricliterature.com/i-didnt-want-to-be-a-writer-i-wanted-to-be-nothing-laszlo-krasznahorkai-and-james-wood-at/)

[30] [Jornal Opção](https://www.jornalopcao.com.br/literatura/hungaro-laszlo-krasznahorkai-vence-o-nobel-de-literatura-2025-com-obra-marcada-pelo-apocalipse-e-pelo-grotesco-754156/)

[31] [Hlo] (https://hlo.hu/news/james_wood_on_laszlo_krasznahorkai_in_the_new_yorker.html)

[32] [Zenda](https://www.zendalibros.com/laszlo-krasznahorkai-premio-nobel-de-literatura-2025/)

[33] [The Conversation](https://theconversation.com/laszlo-krasznahorkai-ganha-o-nobel-de-literatura-de-2025-contos-de-alienacao-do-romancista-hungaro-refletem-nossos-tempos-267210)

[34] [Blogger](http://contrajameswood.blogspot.com/2011/11/christmas-comes-early.html)

[35] [Wikipedia](https://en.wikipedia.org/wiki/L%C3%A1szl%C3%B3_Krasznahorkai)

[36] [CartaCapital](https://www.cartacapital.com.br/cultura/nobel-de-literatura-premia-o-hungaro-laszlo-krasznahorkai/)

[37] [The Week](https://theweek.com/articles/556302/laszlo-krasznahorkai-about-huge)

[38] [Observador](https://observador.pt/2025/10/09/laszlo-krasznahorkai-vence-premio-nobel-da-literatura-2025/)

[39] [The Conversation](https://theconversation.com/laszlo-krasznahorkai-ganha-o-nobel-de-literatura-de-2025-contos-de-alienacao-do-romancista-hungaro-refletem-nossos-tempos-267210)

[40] Ibid.



quinta-feira, outubro 09, 2025

O Peso da Autenticidade: Entre o Pensar e o Agir

O Peso da Autenticidade: Entre o Pensar e o Agir

“Prefiro ser odiado pelo que faço, do que amado pelo que penso.”

Em tempos de exaltação da imagem, em que o discurso é mais celebrado que o gesto e a aparência mais valorizada que a substância, afirmar “prefiro ser odiado pelo que faço, do que amado pelo que penso” soa quase como uma provocação ética. Trata-se de uma inversão de valores: o sujeito abdica da aceitação social e da admiração estética das ideias em favor da concretude moral do ato. Nessa escolha há uma renúncia deliberada ao conforto e uma adesão à coerência — a um modo de ser que coloca o fazer como expressão da verdade interior.

Essa reflexão nos conduz ao cerne de uma questão filosófica antiga: é melhor ser reconhecido por ideias belas ou viver a verdade das próprias convicções, ainda que o preço seja o isolamento e o ódio?

A primazia do agir sobre o pensar

Desde Aristóteles, a filosofia distingue o mero pensar (theoria) do agir (praxis). A vida virtuosa, para o filósofo grego, não consiste apenas em possuir ideias justas, mas em concretizá-las na ação cotidiana. O pensamento é potencial; a ação é atualização. “O homem é aquilo que faz repetidamente”, escreve Aristóteles na Ética a Nicômaco. Logo, não é o que alguém pensa que o define, mas o que realiza.

Ser “odiado pelo que faz” implica que o ato, ao se confrontar com a realidade, desestabiliza o ambiente, rompe consensos e revela verdades incômodas. O pensamento, por mais ousado que seja, ainda habita o reino das possibilidades — e, portanto, pode ser romantizado, aplaudido ou ignorado sem maiores consequências. A ação, ao contrário, é uma irrupção do ser no mundo.

A solidão do autêntico

A disposição de ser odiado pelo agir revela a aceitação da solidão como condição existencial da autenticidade. Søren Kierkegaard, em O Desespero Humano, ensina que a verdadeira existência é sempre individual: ser autêntico é colocar-se diante de Deus e de si mesmo, não diante da multidão. A aprovação pública, portanto, é um engano — uma fuga da própria verdade.

O indivíduo que age segundo sua consciência, mesmo em face da reprovação, encarna o que Kierkegaard chamou de “o cavaleiro da fé”: aquele que prefere a verdade interior à conveniência social. Nesse sentido, o ódio que ele desperta é apenas o eco da resistência que o mundo oferece a quem se recusa a viver na mentira coletiva.

Nietzsche e a força do ato

Em Nietzsche encontramos o contraponto vigoroso a toda moral da passividade. Em Assim Falou Zaratustra, ele exalta o homem que age com vontade criadora, que transforma o pensamento em gesto, o ideal em realidade. Ser “amado pelo que se pensa” é, para Nietzsche, uma forma disfarçada de fraqueza: o pensador que busca aplausos ainda é prisioneiro do rebanho moral.

O ato, por sua vez, é manifestação da vontade de potência: a capacidade de afirmar-se, mesmo sob o risco do ódio. O homem autêntico cria valores — e, ao criá-los, destrói os antigos. Por isso é temido e odiado. O ódio, nesse caso, não é sinal de erro, mas de potência: indica que a ação rompeu as fronteiras da mediocridade.

A condenação à liberdade

Essa mesma tensão é reforçada por Sartre, sob uma ótica existencialista. O homem, diz ele, “está condenado a ser livre” — condenado porque não pode escapar à responsabilidade de suas escolhas. O pensamento, quando não conduz à ação, é má-fé: uma fuga da própria liberdade.

Ser amado pelo que se pensa é viver de intenções; ser odiado pelo que se faz é aceitar o peso da liberdade. O primeiro busca refúgio na ilusão de pureza; o segundo enfrenta as consequências do existir. Assim, a frase revela uma ética da responsabilidade: o indivíduo prefere carregar o fardo do ódio do que a leveza covarde da omissão.

O agir como revelação moral

Hannah Arendt, em A Condição Humana, distingue labor, trabalho e ação — sendo a ação o mais elevado dos modos de vida, pois é nela que o homem se revela. Agir é aparecer, é tornar-se visível no espaço público, é dar testemunho do que se é. Quando alguém age de modo fiel ao seu pensamento, sua identidade se manifesta de forma plena, ainda que isso provoque rejeição. O amor conquistado apenas pelo discurso é frágil, porque se apoia em imagens e expectativas; o ódio despertado pela ação, ao contrário, é uma resposta à autenticidade.

Sou acertivo quando digo que “prefiro ser odiado pelo que faço, do que amado pelo que penso”, o que é mais do que uma expressão de coragem: expressa uma profissão de fé filosófica na unidade entre pensamento e ação. Revela o homem que não busca aplausos, mas sentido; que entende que a verdade não se mede pela simpatia que desperta, e sim pela coerência entre o que se pensa e o que se faz.

Em um mundo dominado por discursos fáceis e gestos vazios, essa escolha é quase heroica. Ser odiado por agir conforme a verdade é, em última instância, a forma mais pura de amor à própria consciência.

sábado, outubro 04, 2025

O Encontro com um Filósofo Vivo

O Encontro com um Filósofo Vivo

Pude vê-lo, escutá-lo com atenção, e foi especial estar no momento oportuno com um filósofo vivo. Essa experiência — rara em qualquer tempo — foi um divisor de águas na minha forma de ver o mundo, a cultura e a própria responsabilidade da existência. Olavo de Carvalho não era apenas um estudioso; era alguém que, como ele mesmo dizia, "procurava a verdade como quem procura ar para respirar" (A Filosofia e o Seu Inverso, 2009).

Olavo foi “quem primeiro fez com que eu deparasse com a ideia da morte e da responsabilidade da vida vivida sob a perspectiva da eternidade”, essa revelação foi expressa não por mim, mas por um aluno que divulgou sua experiência com o professor, e repito, diz muito sobre a natureza dele, com profundidade, o significado da sua influência, dos ensinamentos dados com generosidade em vida, e deixados por ele com objetivo claro em toda a sua obra. Em O Jardim das Aflições (1995), ele descreve a civilização ocidental como um imenso diálogo interrompido, uma queda de consciência diante da própria finitude. Foi nesse ponto que compreendi, pela primeira vez, que a vida só ganha sentido real quando olhada de frente — com o peso da mortalidade e o chamado da transcendência.

Ao ler O Imbecil Coletivo (1996), percebi que a cultura brasileira — e, em larga medida, a cultura contemporânea — havia se tornado um sistema de autoengano, no qual o pensamento se dissolve em slogans e a inteligência se curva à conveniência. Essa crítica não era mero sarcasmo intelectual: era um chamado à responsabilidade. Olavo me fez ver que pensar é um ato moral, e que a mentira cultural tem consequências espirituais.

Depois, com O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota (2013), tive contato com uma dimensão ainda mais direta de sua obra — o combate público, a denúncia do rebaixamento do debate intelectual e o resgate da dignidade do pensamento. Mas foi em A Filosofia e o Seu Inverso (2009) e em suas aulas do Seminário de Filosofia que encontrei o verdadeiro centro de sua mensagem: o amor pela sabedoria como caminho de autoconhecimento, disciplina e coragem diante da realidade.

Depois disso, ao fazer coisas de maior valor entendi e creio que passei a fazer uma jornada com propósito e atenção aos princípios e a orientação do professor de como entender e praticar Filosofia. Negar a obra, a importância, e a existência de Olavo de Carvalho no cenário ocidental de pensadores, que alterou a dimensão e qualidade do exercício filósofico e a atividade intelectual brasileira, é ato pueril de quem não leu a sua obra e faz julgamento na própria escala de saber suficiente, e para tal reação, mesmo que pretenda tirar valor, queda desprovido do substrato grandioso legado pelo escritor, professor e filósofo Olavo.

Cada escolha e cada projeto que estive envolvido passaram a ser guiados por uma busca interior — não por vaidade, mas pela tentativa de ordenar o próprio espírito, como ele tantas vezes ensinou.

Se isso não significa resgatar a civilização, enxergar as pistas essenciais deixadas por outros mestres, os clássicos, marcos da civilização, da alta cultura e da ética abandonados pelos desastres acadêmicos modernos, se tudo isso é fanatismo de um buscador de espantos, que ainda se dedica ao encontro de questões por sabedoria, da unidade da consciência com o conhecimento real e vice e versa, fica para o julgamento do leitor. Eu sei o que significa para mim: significa ter conhecido alguém que me ensinou a olhar o mundo com seriedade, a tratar a verdade como algo sagrado e a entender que a filosofia não é um adorno da cultura ou mero exercício de pensar qualquer tema e matéria alheio aos critérios essenciais e a técnica filosófica — é a própria condição da liberdade humana.

sexta-feira, outubro 03, 2025

A estupidez como fenômeno político

A ESTUPIDEZ COMO FENÔMENO POLÍTICO

Abrindo Frestas no Muro da Estupidez

Por que é inútil - e necessário - debater com esquerdistas? A resposta passa por Bonhoeffer, Schopenhauer, Orwell, Olavo e Adams. Não é para convencê-los, mas para iluminar o muro.

Martim Bellarmino Alencastro, 01/08/2025.

"A estupidez é mais perigosa que
a maldade." - Dietrich
Bonhoeffer, na correspondência
intitulada "After Ten Years", parte
do livro Letters and Papers from
Prison (publicado originalmente
como Widerstand und Ergebung.
Briefe und Aufzeichnungen aus der Haft, 1943).

A ESTUPIDEZ COMO FENÔMENO POLÍTICO

O teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer, preso e executado por se opor ao nazismo, deixou em suas cartas do cárcere uma advertência que permanece atual: a estupidez é mais perigosa que a maldade. O mal ainda pode ser combatido e identificado — mas o estúpido, por agir sob convicção cega, é imune à razão. Ele não raciocina nem pondera: apenas repete e reage, quase sempre em manada.

Bonhoeffer caracteriza o estúpido não como mero ignorante, mas como doutrinado — alguém convencido de estar do “lado certo”, mesmo sem compreender (ou precisar compreender) o tema sobre o qual opina com impudor. Essa condição o torna perigosamente útil a regimes totalitários e ao aparato de sua intelligentsia [1]. Em sua forma mais letal, a estupidez se converte em instrumento político de entorpecimento, dominação cultural e conformismo coletivo.

Isso ajuda a explicar, em parte, a ascensão do nazismo: diferentemente do perverso, o estúpido não age por malícia, mas por imitação, repetição e submissão social. Além disso, esse comportamento é altamente contagioso.

No Brasil atual, quem já enfrentou a militância progressista — seja nas redes, seja em rodas de conversa — entende bem esse fenômeno. Tentar conversar com um esquerdista engajado é como usar apenas lógica em um ritual de exorcismo.

A ILUSÃO DE SABER: O EFEITO DUNNING-KRUGER

Parte da blindagem cognitiva do militante pode ser explicada pelo Efeito Dunning-Kruger, descrito em 1999 por David Dunning e Justin Kruger. Trata-se da tendência de indivíduos com pouca competência a superestimarem suas habilidades.

Na esquerda militante, esse traço é abundante: quem nunca leu uma linha de Adam Smith se sente autorizado a condenar o “neoliberalismo”; quem ignora história econômica mundial fala em “justiça tributária” com arrogância acadêmica. É um discurso onde a certeza cresce na proporção inversa ao conhecimento.

Não se trata apenas de ignorância — mas do orgulho da ignorância. O militante não se vê como desinformado, mas como portador de consciência superior. Seu vocabulário vem de dicionários meticulosamente elaborados para gerar repertórios e ocupar mentes vazias com jargões ideológicos. Sua convicção nasce do grupo. Sua autoestima — e sobretudo sua identidade — deriva da causa.

A MENTIRA NECESSÁRIA: DISSONÂNCIA COGNITIVA SEGUNDO SCOTT ADAMS

Quando confrontado com a realidade, o militante não a ajusta. Ele a reconfigura. É o que descreve Scott Adams — cartunista criador de Dilbert — em Ganhar de Lavada – Persuasão em um mundo onde os fatos não importam.

Segundo Adams, a dissonância cognitiva ocorre quando o indivíduo, diante de um fato que desmente suas crenças, fabrica uma alucinação plausível para preservar sua autoimagem. “Você gera uma alucinação que se torna sua nova realidade”, escreve.

Um exemplo notório foi a eleição de Donald Trump em 2016. A elite progressista americana, certa de sua derrota, reagiu com uma torrente de desculpas: hackers russos (essa envelheceu mal), misoginia, fake news, supremacismo branco — qualquer coisa, menos admitir o óbvio: estavam errados.

A profusão de explicações concorrentes revela a dissonância cognitiva coletiva. A busca não é pela verdade, mas por uma narrativa que salve a identidade do grupo — mesmo que divorciada da realidade.

O DEBATE COMO FARSA: A DIALÉTICA ERÍSTICA DE SCHOPENHAUER

Mas o militante não se limita a proteger-se do erro — ele ataca quem o revela. Em A Dialética Erística, Arthur Schopenhauer descreve 38 técnicas para vencer um debate sem ter razão. É uma cartilha inconsciente da esquerda atual.

Interromper, desviar, apelar ao emocional, caricaturar o oponente, imputar-lhe intenções ocultas, mudar os termos da discussão — tudo é válido. O debate vira performance. Quando os argumentos se esgotam, resta o ad hominem ou a famigerada Lei de Godwin [2].

O objetivo nunca é a verdade, mas a superioridade moral. Olavo de Carvalho sintetiza:

“O esquerdista debatendo é como um pombo jogando xadrez: derruba as peças, defeca no tabuleiro e sai com o peito estufado de orgulho.” — Olavo de Carvalho, em muitos Trueout Speaks

Outro estratagema comum — não listado por Schopenhauer — é o cherrypicking (seleção tendenciosa): escolher e citar apenas dados que favorecem o argumento e omitir o restante. Cita-se um exemplo isolado que parece apoiar a tese, desconsiderando o contexto que a contradiz e desmente.

A LÓGICA DA LOUCURA: O DUPLIPENSAR ORWELLIANO

George Orwell, em 1984, batizou de duplipensar a capacidade de sustentar, simultaneamente, ideias contraditórias como verdadeiras: “Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força.”

O militante moderno é um especialista nisso: defende democracia enquanto celebra censura; prega diversidade e cancela dissidentes; clama por justiça social enquanto vive de verba estatal. Fala “fique em casa” e joga futebol aos domingos. Louva “a ciência” e ignora deliberadamente a biologia básica.

O duplipensar não busca coerência, mas poder. Sua função é desorientar, escandalizar e dissolver o senso comum — é confusão como ferramenta de controle.

A PARALAXE COGNITIVA: A DISSOCIAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA

Olavo de Carvalho cunhou a expressão paralaxe cognitiva para definir o distanciamento entre discurso e realidade: quando o pensador se coloca fora do sistema que descreve, como se suas ideias não se aplicassem a ele.

Essa é a essência da mentalidade revolucionária: julgar o presente com base em um futuro imaginário, denunciar quem atrasa esse futuro e propor soluções das quais o proponente se exclui.

Chico Buarque é exemplar: defensor da revolução cubana, escolheu Paris como lar. Assim como milionárias que pedem mais impostos para os ricos, mas jamais renunciam às próprias isenções.

Ferreira Gullar resumiu com precisão:

“O Chico elogia Cuba, mas não quer morar lá… Então é mentira.” — Ferreira Gullar, em entrevista à revista piauiense Revestrés, Jan/Fev 2014.

A dissociação entre discurso e prática não é ingenuidade — é cálculo. Serve para sinalizar virtudes e acumular prestígio. Porque, no fim, a farsa rende mais que a verdade.

A LUTA É PELA PLATEIA: A CITAÇÃO DE ROBERTO MOTTA

Vale a pena debater com um esquerdista?

A resposta é paradoxal: não, e sim.

Não se debate para convencê-lo — isso é inútil. Debate-se para quem observa. O interlocutor real é o público silencioso. Como disse Roberto Motta:

“Quando você explica alguma coisa a um esquerdista, a explicação não é pra ele — é para quem está assistindo.” — @rmotta2 no X

É o observador honesto que importa. Se o conservador mantiver a razão, a lógica e o tom, ele vence — não convertendo o oponente, mas iluminando a audiência.

A LUZ E O MURO

O militante de esquerda não discute para compreender, mas para dominar. Daí seu fascínio pela censura — disfarçada de “combate à desinformação”.

Ele distorce a lógica (Schopenhauer), alucina realidades (Adams), evita viver conforme os modelos que ele mesmo prega (Olavo), sustenta contradições (Orwell) e é cego à própria ignorância (Dunning-Kruger). Bonhoeffer estava certo: não se pode argumentar com esse tipo de estupidez.

Mas é possível falar aos que ainda pensam. Iluminar os fatos. E, com paciência e lucidez, abrir frestas no muro por onde possa entrar a luz da razão.

Notas:

[1] Intelligentsia refere-se ao grupo de intelectuais com influência cultural e ideológica sobre a sociedade — especialmente quando a serviço de regimes autoritários.

[2] A Lei de Godwin afirma que, em qualquer debate suficientemente longo, a probabilidade de alguém ser comparado a Hitler ou ao nazismo se aproxima de 100%.

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