A ESTUPIDEZ COMO FENÔMENO POLÍTICO
Abrindo Frestas no Muro da Estupidez
Por que é inútil - e necessário - debater com esquerdistas? A resposta passa por Bonhoeffer, Schopenhauer, Orwell, Olavo e Adams. Não é para convencê-los, mas para iluminar o muro.
Martim Bellarmino Alencastro, 01/08/2025.
"A estupidez é mais perigosa quea maldade." - DietrichBonhoeffer, na correspondênciaintitulada "After Ten Years", partedo livro Letters and Papers fromPrison (publicado originalmentecomo Widerstand und Ergebung.Briefe und Aufzeichnungen aus der Haft, 1943).
A ESTUPIDEZ COMO FENÔMENO POLÍTICO
O teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer, preso e executado por se opor ao nazismo, deixou em suas cartas do cárcere uma advertência que permanece atual: a estupidez é mais perigosa que a maldade. O mal ainda pode ser combatido e identificado — mas o estúpido, por agir sob convicção cega, é imune à razão. Ele não raciocina nem pondera: apenas repete e reage, quase sempre em manada.
Bonhoeffer caracteriza o estúpido não como mero ignorante, mas como doutrinado — alguém convencido de estar do “lado certo”, mesmo sem compreender (ou precisar compreender) o tema sobre o qual opina com impudor. Essa condição o torna perigosamente útil a regimes totalitários e ao aparato de sua intelligentsia [1]. Em sua forma mais letal, a estupidez se converte em instrumento político de entorpecimento, dominação cultural e conformismo coletivo.
Isso ajuda a explicar, em parte, a ascensão do nazismo: diferentemente do perverso, o estúpido não age por malícia, mas por imitação, repetição e submissão social. Além disso, esse comportamento é altamente contagioso.
No Brasil atual, quem já enfrentou a militância progressista — seja nas redes, seja em rodas de conversa — entende bem esse fenômeno. Tentar conversar com um esquerdista engajado é como usar apenas lógica em um ritual de exorcismo.
A ILUSÃO DE SABER: O EFEITO DUNNING-KRUGER
Parte da blindagem cognitiva do militante pode ser explicada pelo Efeito Dunning-Kruger, descrito em 1999 por David Dunning e Justin Kruger. Trata-se da tendência de indivíduos com pouca competência a superestimarem suas habilidades.
Na esquerda militante, esse traço é abundante: quem nunca leu uma linha de Adam Smith se sente autorizado a condenar o “neoliberalismo”; quem ignora história econômica mundial fala em “justiça tributária” com arrogância acadêmica. É um discurso onde a certeza cresce na proporção inversa ao conhecimento.
Não se trata apenas de ignorância — mas do orgulho da ignorância. O militante não se vê como desinformado, mas como portador de consciência superior. Seu vocabulário vem de dicionários meticulosamente elaborados para gerar repertórios e ocupar mentes vazias com jargões ideológicos. Sua convicção nasce do grupo. Sua autoestima — e sobretudo sua identidade — deriva da causa.
A MENTIRA NECESSÁRIA: DISSONÂNCIA COGNITIVA SEGUNDO SCOTT ADAMS
Quando confrontado com a realidade, o militante não a ajusta. Ele a reconfigura. É o que descreve Scott Adams — cartunista criador de Dilbert — em Ganhar de Lavada – Persuasão em um mundo onde os fatos não importam.
Segundo Adams, a dissonância cognitiva ocorre quando o indivíduo, diante de um fato que desmente suas crenças, fabrica uma alucinação plausível para preservar sua autoimagem. “Você gera uma alucinação que se torna sua nova realidade”, escreve.
Um exemplo notório foi a eleição de Donald Trump em 2016. A elite progressista americana, certa de sua derrota, reagiu com uma torrente de desculpas: hackers russos (essa envelheceu mal), misoginia, fake news, supremacismo branco — qualquer coisa, menos admitir o óbvio: estavam errados.
A profusão de explicações concorrentes revela a dissonância cognitiva coletiva. A busca não é pela verdade, mas por uma narrativa que salve a identidade do grupo — mesmo que divorciada da realidade.
O DEBATE COMO FARSA: A DIALÉTICA ERÍSTICA DE SCHOPENHAUER
Mas o militante não se limita a proteger-se do erro — ele ataca quem o revela. Em A Dialética Erística, Arthur Schopenhauer descreve 38 técnicas para vencer um debate sem ter razão. É uma cartilha inconsciente da esquerda atual.
Interromper, desviar, apelar ao emocional, caricaturar o oponente, imputar-lhe intenções ocultas, mudar os termos da discussão — tudo é válido. O debate vira performance. Quando os argumentos se esgotam, resta o ad hominem ou a famigerada Lei de Godwin [2].
O objetivo nunca é a verdade, mas a superioridade moral. Olavo de Carvalho sintetiza:
“O esquerdista debatendo é como um pombo jogando xadrez: derruba as peças, defeca no tabuleiro e sai com o peito estufado de orgulho.” — Olavo de Carvalho, em muitos Trueout Speaks
Outro estratagema comum — não listado por Schopenhauer — é o cherrypicking (seleção tendenciosa): escolher e citar apenas dados que favorecem o argumento e omitir o restante. Cita-se um exemplo isolado que parece apoiar a tese, desconsiderando o contexto que a contradiz e desmente.
A LÓGICA DA LOUCURA: O DUPLIPENSAR ORWELLIANO
George Orwell, em 1984, batizou de duplipensar a capacidade de sustentar, simultaneamente, ideias contraditórias como verdadeiras: “Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força.”
O militante moderno é um especialista nisso: defende democracia enquanto celebra censura; prega diversidade e cancela dissidentes; clama por justiça social enquanto vive de verba estatal. Fala “fique em casa” e joga futebol aos domingos. Louva “a ciência” e ignora deliberadamente a biologia básica.
O duplipensar não busca coerência, mas poder. Sua função é desorientar, escandalizar e dissolver o senso comum — é confusão como ferramenta de controle.
A PARALAXE COGNITIVA: A DISSOCIAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA
Olavo de Carvalho cunhou a expressão paralaxe cognitiva para definir o distanciamento entre discurso e realidade: quando o pensador se coloca fora do sistema que descreve, como se suas ideias não se aplicassem a ele.
Essa é a essência da mentalidade revolucionária: julgar o presente com base em um futuro imaginário, denunciar quem atrasa esse futuro e propor soluções das quais o proponente se exclui.
Chico Buarque é exemplar: defensor da revolução cubana, escolheu Paris como lar. Assim como milionárias que pedem mais impostos para os ricos, mas jamais renunciam às próprias isenções.
Ferreira Gullar resumiu com precisão:
“O Chico elogia Cuba, mas não quer morar lá… Então é mentira.” — Ferreira Gullar, em entrevista à revista piauiense Revestrés, Jan/Fev 2014.
A dissociação entre discurso e prática não é ingenuidade — é cálculo. Serve para sinalizar virtudes e acumular prestígio. Porque, no fim, a farsa rende mais que a verdade.
A LUTA É PELA PLATEIA: A CITAÇÃO DE ROBERTO MOTTA
Vale a pena debater com um esquerdista?
A resposta é paradoxal: não, e sim.
Não se debate para convencê-lo — isso é inútil. Debate-se para quem observa. O interlocutor real é o público silencioso. Como disse Roberto Motta:
“Quando você explica alguma coisa a um esquerdista, a explicação não é pra ele — é para quem está assistindo.” — @rmotta2 no X
É o observador honesto que importa. Se o conservador mantiver a razão, a lógica e o tom, ele vence — não convertendo o oponente, mas iluminando a audiência.
A LUZ E O MURO
O militante de esquerda não discute para compreender, mas para dominar. Daí seu fascínio pela censura — disfarçada de “combate à desinformação”.
Ele distorce a lógica (Schopenhauer), alucina realidades (Adams), evita viver conforme os modelos que ele mesmo prega (Olavo), sustenta contradições (Orwell) e é cego à própria ignorância (Dunning-Kruger). Bonhoeffer estava certo: não se pode argumentar com esse tipo de estupidez.
Mas é possível falar aos que ainda pensam. Iluminar os fatos. E, com paciência e lucidez, abrir frestas no muro por onde possa entrar a luz da razão.
Notas:
[1] Intelligentsia refere-se ao grupo de intelectuais com influência cultural e ideológica sobre a sociedade — especialmente quando a serviço de regimes autoritários.
[2] A Lei de Godwin afirma que, em qualquer debate suficientemente longo, a probabilidade de alguém ser comparado a Hitler ou ao nazismo se aproxima de 100%.
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