Sobre o Nobel de Economia 2025
O economista Joel Mokyr traz evidência robusta de longo prazo sobre por que sociedades adotam e acumulam conhecimento útil. Mokyr enfatiza que o crescimento industrial exigiu não só acúmulo de proposições científicas, mas uma cultura que valorizasse experiências, debates e confiança na utilidade do progresso técnico — um “ecossistema epistemológico” que converte teorias em tecnologias aplicáveis. As economias crescentes combinam uma base epistemológica mínima com instituições que incentivam experimentação e disseminação; Philippe Aghion e Peter Howitt formalizaram uma visão schumpeteriana: o crescimento endógeno é impulsionado por inovações que substituem tecnologias anteriores — um processo simultaneamente criativo (novos bens e produtividade) e destrutivo (empresas, empregos e ativos antigos perdem valor). O artigo seminal e a grande referência metodológica são a modelagem publicada originalmente como working paper/NBER e depois na forma consolidada: “A Model of Growth Through Creative Destruction” (1992/1990) e o livro-manual Endogenous Growth Theory (Aghion & Howitt, MIT Press, 1997/1998).
O modelo de Aghion–Howitt entrega lições claras: promover concorrência e proteger incentivos à inovação são simultaneamente necessários; contudo, inovação rápida pode gerar forte resistência política e custos de transição (destruição criadora), exigindo políticas que gerenciem redistribuição, formação e adaptação setorial. Essas conclusões explicam por que debates recentes sobre política industrial, regulação de tecnologia e proteção social aparecem tão centrais nas discussões contemporâneas sobre inovação (tema ressaltado nas notas do comitê Nobel e na cobertura da premiação).
O Nobel de 2025 reconhece a convergência entre história econômica e teoria formal: Mokyr traz evidência robusta de longo prazo sobre por que sociedades adotam e acumulam conhecimento útil, enquanto Aghion & Howitt oferecem a linguagem teórica para modelar a dinâmica pela qual inovações geram crescimento — incluindo suas tensões políticas e econômicas. Juntos, os trabalhos mudaram a maneira como economistas e formuladores de política pensam sobre inovação: não é um “fator exógeno” nem um detalhe técnico, mas o motor central cujo desenho institucional e incentivos determinam se uma nação alcança crescimento sustentado. Algumas questões em aberto permanecem — p.ex. como reconciliar crescimento tecnológico com metas ambientais, desigualdade e estabilidade social — e as obras dos laureados oferecem boas bases para investigar tais trade-offs.
A confluência entre os modelos de Aghion & Howitt e as evidências históricas de Mokyr torna o quadro teórico-empírico particularmente robusto.
O comité do Nobel de 2025 reconheceu explicitamente a complementaridade entre (i) a análise histórica e cultural do surgimento do “conhecimento útil” (Mokyr) e (ii) a modelagem formal dos processos de inovação e destruição criativa (Aghion & Howitt). Essa escolha sublinha uma mensagem científica: entender o crescimento exige tanto evidência de longo prazo — que documenta quando e onde sociedades adotaram conhecimento útil — quanto teoria dinâmica que explica os mecanismos econômicos subjacentes e suas implicações de política. O prêmio legitima uma tradição interdisciplinar que combina história econômica, ciência política, economia industrial e teoria do crescimento.
Algumas implicações práticas derivadas da conjunção entre evidência de longo prazo e teoria:
1. Políticas que favoreçam difusão do conhecimento (educação técnica, redes de pesquisa, publicações abertas, sociedades profissionais) são tão cruciais quanto financiamento de pesquisa de ponta.
2. Instituições que reduzem custos de troca de informação (contratos, confiança, liberdade intelectual) aumentam a probabilidade de que o conhecimento disponível se torne “útil”.
3. Regulação e competição: manter um equilíbrio entre proteção (incentivos à inovação por direitos) e competição (que facilita a substituição de tecnologias e a difusão) é essencial — ponto bem tratado nos modelos de Aghion & Howitt.
4. Perspectiva histórica importa: políticas copiadas mecanicamente de casos de sucesso contemporâneos podem falhar se não considerarem o “ecossistema cultural” que permitiu a adoção de técnicas no passado.
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