O Encontro com um Filósofo Vivo
Pude vê-lo, escutá-lo com atenção, e foi especial estar no momento oportuno com um filósofo vivo. Essa experiência — rara em qualquer tempo — foi um divisor de águas na minha forma de ver o mundo, a cultura e a própria responsabilidade da existência. Olavo de Carvalho não era apenas um estudioso; era alguém que, como ele mesmo dizia, "procurava a verdade como quem procura ar para respirar" (A Filosofia e o Seu Inverso, 2009).
Olavo foi “quem primeiro fez com que eu deparasse com a ideia da morte e da responsabilidade da vida vivida sob a perspectiva da eternidade”, essa revelação foi expressa não por mim, mas por um aluno que divulgou sua experiência com o professor, e repito, diz muito sobre a natureza dele, com profundidade, o significado da sua influência, dos ensinamentos dados com generosidade em vida, e deixados por ele com objetivo claro em toda a sua obra. Em O Jardim das Aflições (1995), ele descreve a civilização ocidental como um imenso diálogo interrompido, uma queda de consciência diante da própria finitude. Foi nesse ponto que compreendi, pela primeira vez, que a vida só ganha sentido real quando olhada de frente — com o peso da mortalidade e o chamado da transcendência.
Ao ler O Imbecil Coletivo (1996), percebi que a cultura brasileira — e, em larga medida, a cultura contemporânea — havia se tornado um sistema de autoengano, no qual o pensamento se dissolve em slogans e a inteligência se curva à conveniência. Essa crítica não era mero sarcasmo intelectual: era um chamado à responsabilidade. Olavo me fez ver que pensar é um ato moral, e que a mentira cultural tem consequências espirituais.
Depois, com O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota (2013), tive contato com uma dimensão ainda mais direta de sua obra — o combate público, a denúncia do rebaixamento do debate intelectual e o resgate da dignidade do pensamento. Mas foi em A Filosofia e o Seu Inverso (2009) e em suas aulas do Seminário de Filosofia que encontrei o verdadeiro centro de sua mensagem: o amor pela sabedoria como caminho de autoconhecimento, disciplina e coragem diante da realidade.
Depois disso, ao fazer coisas de maior valor entendi e creio que passei a fazer uma jornada com propósito e atenção aos princípios e a orientação do professor de como entender e praticar Filosofia. Negar a obra, a importância, e a existência de Olavo de Carvalho no cenário ocidental de pensadores, que alterou a dimensão e qualidade do exercício filósofico e a atividade intelectual brasileira, é ato pueril de quem não leu a sua obra e faz julgamento na própria escala de saber suficiente, e para tal reação, mesmo que pretenda tirar valor, queda desprovido do substrato grandioso legado pelo escritor, professor e filósofo Olavo.
Cada escolha e cada projeto que estive envolvido passaram a ser guiados por uma busca interior — não por vaidade, mas pela tentativa de ordenar o próprio espírito, como ele tantas vezes ensinou.
Se isso não significa resgatar a civilização, enxergar as pistas essenciais deixadas por outros mestres, os clássicos, marcos da civilização, da alta cultura e da ética abandonados pelos desastres acadêmicos modernos, se tudo isso é fanatismo de um buscador de espantos, que ainda se dedica ao encontro de questões por sabedoria, da unidade da consciência com o conhecimento real e vice e versa, fica para o julgamento do leitor. Eu sei o que significa para mim: significa ter conhecido alguém que me ensinou a olhar o mundo com seriedade, a tratar a verdade como algo sagrado e a entender que a filosofia não é um adorno da cultura ou mero exercício de pensar qualquer tema e matéria alheio aos critérios essenciais e a técnica filosófica — é a própria condição da liberdade humana.
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