Pêndulos e Máscaras
Como irei continuar, assim? Estou com uma sensação de quem não dormiu nada. Tem mais outra emoção, vaga. A minha alma está de roupa nova, está como a manhã que vemos o sol e a lua juntos, será pelo mesmo motivo? Acabo de esquecer a minha máscara mais perfeita no armário em casa; me sinto uma outra pessoa sem ela, nem sentiria a timidez que empoa minhas bochechas nem nada, estou vermelha, com ela continuaria forte em qualquer situação, ela me faz igual em tudo, basta tê-la na posição certa, bem aqui... Mais nada.
Acredito que ela tem um guia, sabe qual a carreira onde ponho o nariz, parece que possui um pêndulo, até sinto como se ela fosse descendo devagarzinho para o lado esquerdo, ou para o lado direito. Não saberia dizer qual a posição que ela tomaria, mais rápido ou menos ácida, diante das circunstâncias, dos outros. Agora percebo que qualquer caminho seria igualmente indiferente, o que fosse mais fácil e agradável, que trouxesse algo de ganho, que evitasse algum deslize ou a solidão, aí caberia direitinho uma expressão oportuna, que me deixasse “legal”, assim ganharia um “amigo” ou quem sabe um sorriso momentâneo. O erro era colocá-la de jeito estranho, num ângulo reto, era um barulho do nada. Ao falar com as pessoas faltava sensibilidade, em certas circunstancias até causava um extravio de etiqueta, mau comportamento, falsas emoções, criava algum escândalo por pouca coisa. De fato, era muito inoportuna. Mas, como diz o ditado, pensava: “os incomodados que se mudem”. Que outro que nada, eu, eu e eu.
Um dia, nem liguei ao passar com meus sapatos sujos de barro pelo carpete branco acetinado da recepção da empresa, fui discretamente caminhando, calmamente. O moderno espaço metalizado ficou enfeado, a faxineira limparia, e eu nem aí; atravessei diante dos que trabalhavam e dos clientes presentes, sem culpa nenhuma. A ficha não caiu, só ao chegar até a minha mesa de trabalho dando de encontro com minha outra “máscara”: a funcionária do mês. Mas, me sentei cheia de grilos, pouco antes a máscara que agora caia camuflou tudo isso, essa clareza, me escondeu ao longo dos cem passos marcados em preto e branco, passos que carregaram outra pessoa coberta de pinturas, mostrando uma máscara perfeita de não se deixar em casa. "Não saia de casa sem ela"!
Uma pessoa sem “máscara” nunca entraria porta adentro de outra maneira, de pés descalços, porque andar sem meus os sapatos, ainda que sujos, não suportaria a vergonha, entrar de pés no chão, sapatos na mão, expondo minhas intocáveis fraquezas, ou sensibilidades outras, as delicadezas de dedos sinuosos molduras de unhas sem cor, ou o que mais fosse, abrir-se na frente de todos, jamais. Se houver, alguma máscara serve a um dado momento!
Até então, não lembrava ter esquecido nenhuma das que possuía. Desespero. Socorro aqui! O que está acontecendo? Meus anéis, meus sapatos, minha bolsa prateada, meus cartões de crédito, minhas idéias de ontem, meus preconceitos, minhas máscaras, aonde os depositei? Devem estar em algum lugar. Acho que desencontrei meus maiores pertences, minhas coisas materiais, meu cash que tanto confio, cadê você? Tudo que me conservava, acho. O que sou agora? Sem eles acho-me nua no tempo, um eu sem máscaras.
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