O rosto oculto do arbítrio
Cristina Yukiko Kusahara (Morelli): a assessora por trás da engrenagem repressiva de Alexandre de Moraes
Por Rosa Cunha (jornalista e economista)
"Enquanto o Brasil testemunhava cenas dramáticas de centenas de pessoas presas após os protestos de 8 de janeiro de 2023, nos bastidores do Supremo Tribunal Federal (STF) operava uma força silenciosa, sem rosto conhecido, mas com grande poder. No centro desse núcleo de controle, Cristina Yukiko Kusahara, chefe de gabinete do ministro Alexandre de Moraes, exerceu um papel decisivo — e altamente controverso.
Funcionária do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), cedida ao STF desde 2020, Yukiko coordenou informalmente o que críticos já denominam como uma “justiça paralela”, voltada a manter brasileiros presos sem provas concretas, com base em critérios ideológicos e digitais.
🔴 Censura e condenações sem julgamento
A maior denúncia envolvendo Cristina Yukiko está relacionada à coordenação de um grupo de WhatsApp batizado de “Audiências de Custódia”, no qual decisões sobre a manutenção da prisão de mais de mil manifestantes eram tomadas sem o devido processo legal, com base em postagens em redes sociais, curtidas, uso de camisetas verde e amarelo, ou presença em grupos de WhatsApp com palavras como “patriota”.
Ela mesma impôs uma dinâmica que ignorava garantias fundamentais:
“Temos 1.200 pessoas custodiadas, e a maioria vai ser liberada. Não podemos nos dar ao luxo de ficar filosofando.”
Esse tipo de fala ilustra o desprezo por princípios como presunção de inocência, ampla defesa e individualização da pena. Yukiko não apenas desconsiderou o papel da Procuradoria-Geral da República — que, em muitos casos, recomendava a soltura de presos — como impôs um sistema inquisitorial com base em perfis digitais e alinhamento político.
🔴 Triagens políticas e prisões arbitrárias
Sob sua coordenação, técnicos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foram convocados a analisar perfis dos detidos, como se fossem peritos judiciais — embora sem nomeação oficial, sem contraditório e sem qualquer registro nos autos.
As prisões foram mantidas com base em relatórios de “comportamento digital”, e não por ações concretas no dia 8 de janeiro. Pessoas que jamais estiveram em Brasília, ou sequer haviam publicado conteúdo criminoso, foram enquadradas como “positivas” e mantidas encarceradas por semanas ou meses.
Em uma das mensagens, Yukiko pressiona diretamente os servidores do TSE:
“Eu preciso dessa análise, feita com cautela, mas não no ritmo de vocês aí do TSE… O pessoal aí está mal acostumado.”
A urgência imposta por Cristina era menos sobre justiça e mais sobre “mostrar serviço” e sustentar uma narrativa de repressão implacável, mesmo que à custa de direitos humanos e da legalidade.
Desprezo institucional pelo devido processo
Mesmo após o fim das audiências de custódia, o grupo coordenado por Cristina continuou sendo consultado para vetar pedidos de liberdade provisória. O ministro Alexandre de Moraes só autorizava solturas após o parecer extraoficial desse núcleo, o que representa uma usurpação de competências do Ministério Público e do próprio sistema de garantias judiciais.
Essa estrutura de poder — baseada em grupos de WhatsApp, comandos informais e rastreamento ideológico — é classificada por juristas como um "aparelho paralelo de perseguição judicial", que fere a Constituição e os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.
Apesar das graves denúncias, Cristina Yukiko foi condecorada com a Medalha do Pacificador pelo Exército Brasileiro, em agosto de 2023 — um prêmio geralmente reservado a personalidades que prestaram serviços relevantes à nação. A homenagem causou espanto entre juristas e militares da reserva, uma vez que sua atuação, longe de pacificadora, foi símbolo de uma escalada autoritária promovida de dentro do Judiciário.
O rosto oculto do arbítrio
Cristina Yukiko nunca apareceu diante das câmeras. Não presta contas ao público. Mas esteve no centro de uma das maiores perseguições políticas já registradas na história recente do país. Em vez de garantir os direitos dos detidos, como se espera de uma servidora pública, ela assumiu a linha de frente de um sistema de punição coletiva, vingança institucional e desrespeito às liberdades civis.
A história do 8 de janeiro será lembrada não apenas pelos atos nas ruas de Brasília, mas pelos atos a portas fechadas, nos bastidores do Supremo Tribunal Federal e TSE - onde decisões que destruíram vidas, famílias e reputações foram tomadas com base em curtidas, memes e opiniões políticas, sob o comando de uma assessora que jamais foi eleita, mas que operou com poder de Estado.
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