Os camelôs se reinventam, uns mais que outros
Há alguns tipos de camelôs que exercem com maestria suas atividades de comércio. Se adaptam como camaleões às circunstâncias de mercado, seja na rua, na calçada, em local inusitado, pressentem a temperatura e pressão, como ensinam na escola de economia, eles sabem do Ceteris Paribus. O camelô é um vendedor esperto, que muda de acordo com a hora, oferece na ordem do dia bugigangas variadas, mercadorias trazidas conforme o clima, objetos diretos da moda, os que cativam de imediato clientes os mais diferentes.
Há também outros tipos de camelôs, os que vivem da função de juiz, e também os camelôs da filosofia.
No Brasil ficamos acostumados a escutar, através da mídia televisiva, da imprensa, nas redes sociais, os dois últimos tipos de camelôs: o que milita no ofício de juiz e o filósofo que gosta da luz de auditórios. Os que vendem o que conhecem e se atraem por convites, os que adotam a veste de doutos, e os chegados ao preto da toga. Eles parecem sérios na batuta, tocam conforme a música aceita pelos mortais e ouvintes inquietos, um deita na fama e forma opinião, ainda que sem originalidade, o outro, que deveria proteger a lei, passam de criativos a iluminados, querem legislar, desrespeitam a própria função de guardar a Lei. E se afinam ao bem bom, desdenhar dos outros se dirigindo com palavras acintosas, chavões apropriados, típico dos que usam as facções.
Outros são camelôs se achando pensadores, filósofos que vendem boas ideias antigas em bacias de teorias e retóricas lidas, agradam platéias que ramam por bons ambientes, espaços de teatro, convenções e eventos políticos, se tornaram camelôs ofertantes de versátil prática de oralidade, em linguiças cheia de categorias para se mastigar.
Deixo por fim os camelôs da cultura e jornalismo, para exemplificar depois, porque esses são mais insinuantes, lustrosos, coloridos numa língua ubíqua, possuem até fonte oficial, e assim afamados, tem a cama pronta pelo ofício, chegando a tempo são acolhidos, podem assim e são elevados à letrada Academia.
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