A Ilusão da Totalidade
O objetivo deste ensaio não é meramente acadêmico ou antiquário. A questão de saber se o materialismo dialético, solo filosófico do materialismo histórico, oferece ou não fundamento epistemológico válido para a compreensão da história e da sociedade não é uma questão meramente teórica — é, para usar a linguagem marxista contra si mesma, profundamente prática. As consequências do século XX — o terror stalinista, o Grande Salto Adiante maoísta, o genocídio cambojano, os gulags e campos de trabalho forçado que se estenderam da Europa Oriental à Ásia — testificam dramaticamente os perigos práticos de uma filosofia que subordina a busca da verdade à transformação revolucionária e que pretende reorganizar totalmente a sociedade segundo um plano racional baseado no suposto conhecimento das "leis da história".
O método do Materialismo Histórico deriva suas premissas fundamentais do Materialismo Dialético. E é precisamente nessa derivação que encontramos seu primeiro — e talvez mais grave — problema epistemológico: afirmar categoricamente que "a matéria precede a consciência" e que esta verdade não seria "uma proposição arbitrária ou um dogma filosófico". Paradoxalmente, é precisamente um dogma — e dos mais arbitrários. A afirmação de que existe apenas uma substância fundamental (a matéria) e que dela derivam todos os fenômenos, incluindo a consciência, não é demonstrada, mas simplesmente postulada como ponto de partida.
Faz-se necessário, portanto, colocar em diálogo — ou melhor, em confronto intelectual rigoroso — as diversas correntes do pensamento filosófico sobre a maneira de entender a história, a natureza humana, a ordem social e os componentes que interpretam e interferem significativamente na vida coletiva. Este diálogo constitui-se no embate salutar de ideias antagônicas que, dialeticamente — se nos for permitido usar o termo em sentido amplo —, vieram transformar profundamente o mundo nestes últimos dois séculos.
A questão não é se o capitalismo é perfeito — obviamente não é. A questão é se existe alternativa viável que não destrua, junto com as imperfeições do capitalismo, as próprias bases da liberdade, da prosperidade e da ordem civilizada. A experiência do século XX responde inequivocamente: não existe tal alternativa. O 'socialismo científico' revelou-se não-científico em sua teoria e desastroso em sua prática (Scruton, 2014).

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