PEQUENOS PRECONCEITOS, GRANDES PRECONCEITOS

Abrir as janelas da consciência, fazer escolhas que sejam felizes, expressar e experimentar o que nunca foi considerado antes desse estado. Quando aprenderemos o que mudar e quando mudar – a hora das revoluções também passa-, abandonar o discurso do medo, das resistências, das coisas horríveis que nos metem na cabeça, o terror, os riscos, coisas demais, e internalizamos passivamente sem conseguir nos despojar delas.
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Um dia você acorda diferente, fazendo reflexões que rasgam o véu do desconhecido, do domínio do trivial, observando uma saída no conhecido fim do túnel. Sensações permitem abrir certas questões antes intocáveis, que nos impediam de conhecer pelos nossos sentidos, qual a direção; muitas vezes o que nos dizem nos confunde, o discurso conservador confunde, são muitas vezes grandes bobagens aprendidas ao longo dos últimos anos, atualmente com crise, mais uma droga maldita, “peixe vendido” por uma gente careta, coisas gravadas de preconceitos que podem até parecer menores, mas que crescem junto com a gente que sustenta velhos paradigmas, e daí viram grandes preconceitos, ditadores de uma falsa ordem, condicionando comportamentos, padrões globalizados, sem nenhum questionamento. Uma coisa leva a outra, e poucas vezes ao seu contrário, a sua negação.
Seguir se perguntando aonde ir, porque, como, quando rever e recusar tanto preconceito, tatuados na alma e abraçar oportunidades melhores de vida, fazer uma escolha honesta, sacudir a poeira mostrando algo melhor de si, muito além de mirar o mesmo por do sol, o mesmo brilho do mar, o luar metafísico, a mão quente de quem nos acompanha paciente. Não dá para ficar parado, acostumado a um lugar, a pensamentos sólidos, as retas cartesianas, às linhas previsíveis das leis do mercado.
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Ao se enxergar no espelho do egoísmo do uso danoso do meio ambiente, vemos as chuvas inundado cidades, o asfalto aflorando muito lixo, carência de saneamento básico, o concreto da cor da lama escorrida do barranco derretendo sobrados e barracos. Rios subindo pelas margens desmatadas, o povo salvando suas poucas coisas, uma televisão queimada, roupas quase surradas, levantam a mobília encharcada, a geladeira vira barco, os bichos sem espírito são arrastados. Uma tragédia anunciada.
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Do meio de janelas com grades, trancadas pela concorrência da violência, vão se abrindo olhares pelas frestas e levantam-se páginas da história que colocaram na estante do passado, aquelas anotações em vermelho por décadas, agora bandeiras desbotadas com desenhos de instrumentos, estrelas, ferramentas que deviam ser ideais, não armas. Os marcadores separam firmes as partes do diário de uma memória mantida muito tempo fechada. Em suas entrelinhas os segredos das mudanças ficavam fora da vista, num lugar distante, mas ressurgem. Ainda há o silencio dos pensadores, quer confiar pequenas porções desses sentimentos que pareciam inseguros, mas supostamente felizes achavam-se perdidos, e duram ali sobre folhas choradas, quietos, solitários e não reconhecidos. Os que passaram a fazer parte do coro oficial não contam mais, são peças aproveitadas pela engrenagem.
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Hoje, é quase impossível se manter em um estado estacionário, lacrado por um selo que a todo tempo é rompido pelo imprevisível, pela insatisfação, necessidades que deságuam, que entram pela informação digital, que vão numa onda de sustos e tintas libertárias diárias. Pelo espontâneo que assanha as áreas mínimas da liberdade, arrastam tudo mais que pareça intensamente humano de direito, agora revelando um desejo que permita a entrega ao novo estado, essa incontrolável vontade de rebelar-se, agora mais sensível, independente de preconceitos, sem homofobias, sem desqualificar alguma cor, com um senso inquestionável de justiça, sem medida aparente. Despreconceituosa mente. Contudo, esse é um vôo para o que se quer ser sem saber exatamente para onde. Uma fugaz semente plantada no presente sem ideia do que será mais tarde.
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Ás vezes fico com saudade de mim. Na hora do almoço vejo as notícias sangrentas, mídia “marrom chocante” - que a imprensa de jornais impressos fazia ontem, e a televisiva repete com sucesso hoje. E os sentimentos nesse minuto de grande horror? Ali comendo a mesma comida, mais cara, não sei se choro ou abano a cabeça, uma tragédia no acidente de transito ao vivo e em cores. Sinto saudade do que já não sou mais. Tudo é muito bruto, o sistema embrutece o cidadão.
Parece que paramos... no mesmo lugar, mas com outro jeito de enxergar, um comportamento assim, sensível. Inadvertidamente passamos a aceitar as diferenças, não guardando estranhezas, mas estamos diante de situações indefinidas, duras, o plano é áspero, o capital injusto mas ainda suportável para muitos. E agora ousar sair fora desse caos conhecido parece ilegal, se ver além do antigo, do que desacreditamos, do que já não somos mais. Esse é um pensamento que dói, não removido, não resolvido.
Apesar de tudo, continuar é preciso, navegar é preciso, agir por um outro estado que nunca use os mesmos privilégios restritos, elitistas, nunca preserve desafios sociais desiguais desde o nascimento, estado acelerador de ganhos privados e gestor do capital especulador; prioridades do “idiot savant”, ortodoxos, cheios de si, com teorias sem qualquer código de ética.
Viver é uma necessidade. E as mudanças surgem como uma corrente marítima descontrolada, numa ressaca que invade e busca qualquer liberdade mesmo com uma consciência imperfeita das diferenças que já fazem parte do novo ponto de equilíbrio.
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