terça-feira, novembro 25, 2014

Katia Abreu seria “apenas” um enorme exagero simbólico.

02/01/2013 - Copyleft 
Paulo Kliass

Katia Abreu: mais uma "companheira" no Ministério Dilma?

Passados mais de 2 meses do encerramento das eleições municipais, só agora tomam corpo e ganham visibilidade as articulações em torno da nova correlação de forças, a partir da nova paisagem político-partidária implantada pelo País afora. Os novos prefeitos tomaram posse, as câmaras de Vereadores assumem a composição derivada das urnas e esses efeitos todos somados acabam por influenciar também a configuração política no plano federal.

Apesar de já anunciada ainda desde o ano passado, ao que tudo indica está em pleno andamento algum tipo de mudança na composição do Ministério da Presidenta Dilma. Ela deverá aproveitar a onda das mudanças na política nacional, proporcionadas pelas eleições municipais, para promover alterações em seu gabinete. Desde mudanças esperadas até a substituição de futuros candidatos nas eleições de 2014, são muitas as especulações a respeito do desenho exato da nova equipe. 

Eleições municipais e reforma ministerial
As hipóteses são várias: desde a acomodação de novos partidos à já extensa sopa de letrinhas das agremiações que compõem a base de apoio ao governo no Congresso Nacional até a redistribuição das pastas em função do apetite e da força política dos mesmos. Porém, um dos problemas derivados de tal ampliação do leque de sustentação reside no aprofundamento do conservadorismo político do governo. Exemplo clássico desse tipo de constrangimento foi o chamado “abraço amigo” do representante maior do malufismo na capital paulistana em Lula e no prefeito (agora eleito) Fernando Haddad.

A novidade do momento também tem sua origem no complicado desenho do xadrez político de São Paulo. O antigo prefeito, Gilbeto Kassab, saiu do partido mais recente ao qual estava filiado em 2012 e conseguiu criar uma nova agremiação. Liderados pelo político que iniciou sua carreira política à sombra de Paulo Maluf, vários núcleos de dirigentes descontentes deixaram o Democratas (DEM) em todo o território nacional e ingressaram no recém-criado Partido Social Democrático (PSD).

O inusitado tem sido o desfecho desse movimento envolvendo políticos com história, trajetória e propostas de perfil absolutamente conservador em nossas terras. Seguindo a tradição arraigada do forte fisiologismo na forma das elites fazerem política em nosso País, esse partido de forte composição direitista em seus dirigentes resolveu aderir à base do governo Dilma. No entanto, verdade seja dita, não foram os primeiros a seguirem tal trajetória, desde a chegada do PT no poder no início de 2003. Afinal, figuras como Henrique Meirelles, Fernando Collor de Melo, José Sarney, Severino Cavalcanti, Paulo Maluf, Hélio Costa, Defim Netto e tantos outros já haviam aderido à base governista em Brasília há muitos e muitos anos.

Conservadores no governo do PT não é novidade
Como não existe apoio parlamentar ou acordo político de mão única, a história política recente tem demonstrado que os interesses dos grupos que esses personagens representam têm sido muito bem atendidos no que se refere à formulação de políticas públicas nos gabinetes ministeriais. Não se trata apenas de compor uma equipe ministerial de amplo espectro, mas principalmente de oferecer a representantes de fortes interesses econômicos a possibilidade de legislar em causa própria e de se apropriar de espaços na máquina federal para alavancar os seus negócios e dos setores em que atua.

Casos emblemáticos foram os que envolveram o sistema financeiro e o de comunicações. No primeiro exemplo, tivemos um representante explícito do financismo internacional que ficou por 8 anos à frente do Banco Central, com autonomia total para elaborar a política monetária e regulamentar o sistema financeiro. Henrique Meirelles havia retornado ao Brasil depois de uma longa trajetória nas instituições bancárias privadas, coroada com a presidência internacional do Bank of Boston. Eleito deputado federal pelo PSDB, abriu mão do mandato eleitoral pelos tucanos de Goiás para aceitar o convite de Lula. 

No segundo exemplo, o Senador Hélio Costa, eleito pelo PMDB mineiro, ficou 5 anos (de 2005 a 2010) à frente do Ministério das Comunicações, sendo que é pública e notória a sua vinculação pessoal, profissional e política às Organizações Globo. São bastante ilustrativos e perigosos os casos de se oferecer áreas estratégicas da administração pública a agentes políticos que não escondem seus interesses.

Kassab e o PSD: Katia Abreu no Ministério?
A bola da vez é o PSD, cujo expoente máximo nacional atualmente ainda é Kassab, apesar de não mais ocupar o cargo de prefeito da maior cidade brasileira. E são cada vez mais fortes as suspeitas de que a adesão dos parlamentares do novo partido ao bloco de Dilma seja compensada com a entrega de uma pasta na esplanada brasiliense. Com isso, um dos nomes mais bem cotados para tanto é o de Katia Abreu para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Uma verdadeira loucura!

A Senadora de Tocantins, eleita pelo DEM, sempre representou o que existe de mais conservador e reacionário em nosso espectro político. Ela foi, e continua sendo, uma ardorosa defensora dos interesses do agronegócio dentro e fora do Congresso Nacional. Não por acaso tornou-se a presidenta da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) por seu histórico de lutas em defesa dos representantes do grande latifúndio e do capital vinculado às atividades agropecuárias.

Líder da bancada ruralista, sempre militou contra a reforma agrária e contra os interesses da agricultura familiar. O episódio político mais recente, em que ela se envolveu mais diretamente, foi a aprovação de um novo texto para o Código Florestal. A ação da congressista só contribuiu para piorar a imagem brasileira durante o evento do Rio+20 e para atrasar em muitas décadas os poucos avanços que se esperava, em termos de uma legislação mais conseqüente na defesa de um modelo de defesa sustentável do meio ambiente.

Incorporar esse tipo de interesse dentro da base de apoio no Congresso já se revelou um equívoco estratégico, gerando mais desgaste do que dividendos políticos para o governo. Porém, entregar o MAPA ao agronegócio é inaceitável para um governo que se pretende dirigido por um partido de trabalhadores. Na expressão popular, trata-se de “colocar a raposa para tomar conta do galinheiro”. Aliás, como já havia ocorrido antes com Henrique Meirelles no sistema financeiro e com Hélio Costa nas comunicações.

Os riscos de se colocar o agronegócio “dentro” do governo
E veja que não se trata apenas de que o dirigente ministerial vá defender os interesses econômicos imediatos desse ou daquele outro grupo ou setor da economia. Nomear personalidades como esses citados, ou a eventualidade desastrosa de Katia Abreu na Agricultura, tem o sentido de oferecer a possibilidade de que esses quadros – verdadeiros intelectuais orgânicos a serviço do capital – promovam uma estruturação da própria administração do Estado brasileiro e de suas políticas estratégicas para defesa de uma determinada visão de País e de mundo. E a necessária descontrução desse estrago, quase seguro que virá, também demandará no futuro muito tempo, força e energia política por parte das forças progressistas. A passagem de uma presidente da CNA à frente do MAPA não será jamais incólume. Pelo contrário, ela certamente deixará seqüelas graves para todos os setores que não estejam diretamente envolvidos com a defesa dos interesses do agronegócio. Na verdade, é como se colocasse o lobista para assinar os despachos sentado na cadeira do ministro.

A urgente opção pelo fortalecimento da agricultura familiar ficará ainda mais relegada a segundo plano na agenda de prioridades do governo. As políticas de ciência e tecnologia voltadas para a inovação e o conhecimento adaptados à nossa realidade serão também adiadas em nome do atendimento do modelo que privilegia as grandes corporações multinacionais fabricantes de fertilizantes, agrotóxicos e similares. 

A inversão da pauta ambiental e ecológica também não verá avanços e o Brasil continuará a evitar o enfrentamento responsável e conseqüente de um modelo que seja econômica, social e ambientalmente sustentável. Os agentes envolvidos com as contradições e os conflitos entre as áreas de governo que se ocupam da grande propriedade e da reforma agrária terão, mais uma vez, recebido sinais mais do que evidentes a respeito do que o governo considera como sua prioridade. Instituições sólidas e estratégicas como a Embrapa também correm o sério risco de ter comprometida sua capacidade de pesquisa e de aplicação de resultados positivos para a autonomia e soberania nacionais.

Enfim, a nomeação de Katia Abreu seria “apenas” um enorme exagero simbólico. O problema de fundo continua sendo a opção pela ampliação da aliança política com setores expressivos do conservadorismo. Indicar outro representante do PSD não é paliativo, mas pelo menos não ficaria tão escandalosamente escancarada a presença do agronegócio no interior do governo. De qualquer modo, que tem a caneta na mão é Dilma Roussef.

segunda-feira, novembro 24, 2014

uso intensivo de recursos da natureza


A Relação Consumo e o Meio Ambiente, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira

Publicado em novembro 24, 2014 por 

Fonte: New Scientist, October 18, 2008, p. 40; Disponível em: http://dowbor.org/ar/ns.doc
Gráfico por José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] O processo de industrialização da economia mundial, que cresceu de forma exponencial nos últimos 70 anos, acompanhado do crescimento populacional, permitiu um aumento substancial no consumo de produtos, exigindo, como contrapartida, uso intensivo de recursos da natureza, desencadeando, na ponta final, geração de lixo e poluição.
Os números que realçam esse crescimento são ilustrativos: em 1950, a economia mundial ostentava um PIB global de US$ 4,5 trilhões, com 2,7 bilhões de habitantes; hoje, o PIB mundial atinge US$ 75 trilhões, e a população mundial bate na marca dos 7,2 bilhões de pessoas. Se houvesse uma divisão igual da riqueza global, cada habitante do planeta teria direito a US$ 10,5 mil.
O destaque dessa ostentação do crescimento do produto interno bruto (PIB) mundial fica por conta da China que, com uma população de 1,4 bilhão de habitantes – 19,5% dos habitantes do planeta, 14 milhões de nascimentos a cada ano – deverá “fechar” o ano de 2014 com US$ 17,6 trilhões de PIB, tornando-se a maior economia do mundo, mensurado pelo critério da paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês), levando-se em conta a estrutura relativa de preços e custos de cada país.
Esses dados permitem uma rápida discussão em torno da problemática do consumo excessivo em relação ao meio ambiente. Inseridos numa sociedade de consumo, tipicamente consumista (16% dos mais ricos da população mundial consomem 78% de toda a produção global), onde se produz e se compra de tudo, não raras vezes deixamos de atentar ao fato de que a produção de mercadorias requer tempo, energia e recursos naturais, além de gerar de poluição.
Não por acaso, todo esse crescimento econômico chinês – nos últimos 30 anos a média de crescimento foi de 9% ao ano – vem acompanhado da maior concentração de poluição que o planeta já presenciou, o que reflete nos dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), apontando que das vinte cidades mais poluídas do planeta, dezesseis delas são chinesas.
O crescimento econômico chinês “convive” de perto com um drama: mais de 750 000 pessoas morrem por ano em decorrência da água e do ar pútridos no país. As fábricas movidas a carvão criaram vilarejos doentes, nos quais a taxa de tumores malignos é altíssima.
Por tudo isso, é importante realçar aquilo que não se pode perder de vista: quanto mais se aumenta a escala de produção econômica, mais o meio ambiente é agredido pelo uso excessivo de recursos naturais; quanto maior a economia, menor fica o meio ambiente em termos de capacidade de reposição de recursos.
Em outras palavras, quando a atividade econômica se apropria da natureza, entrega como produto final a insustentabilidade do planeta (desequilíbrio climático, poluição, aquecimento global), afinal, todo e qualquer processo produtivo requer uso das bases e dos serviços da natureza.
A poluição e o descarte de produtos são, por consequência, os efeitos da ponta final do excessivo processo produtivo. A atividade econômica necessita de recursos, matéria e energia. É a natureza, portanto, quem “alimenta” a atividade econômica.
É dessa relação desequilibrada e conflituosa que emerge a crise ambiental, visto que o uso dos recursos naturais ultrapassa (estamos usando 30% a mais do limite suportável do planeta) a capacidade que o planeta tem de provê-los.
Entre 1950 e 2005, por exemplo, a produção de metais cresceu seis vezes, a de petróleo, oito, e o consumo de gás natural, 14 vezes. Hoje, são extraídas 60 bilhões de toneladas de recursos anualmente – cerca de 50% a mais do que há apenas 30 anos. Na média, o europeu usa 43 quilos de recursos diariamente, e o estadunidense, 88 quilos. Atualmente, o mundo extrai de recursos naturais o equivalente a 112 edifícios Empire State (102 andares, 381 metros) da Terra a cada dia.
Especialmente o consumo de automóveis tem sido, com ligeira queda, a marca principal do consumo mundial. Somente em 2013, a China vendeu mais de 19 milhões de carros, seguido pelos EUA, com 15,5 milhões; Japão, com 5 milhões e o Brasil, quarto maior vendedor, com 3,5 milhões de unidades.
A relação produção de mercadorias e uso de água, por exemplo, é alarmante: para cada automóvel fabricado, usam-se 400 mil litros de água; um único hambúrguer de 100 gramas exige 2.400 litros de água; uma pizza, 1.216 litros, uma simples xícara de café requer 140 litros; um par de sapatos, 8.547 litros. Não se deve perder de vista que água e energia se relacionam. Consumir energia implica também em consumir água.
Para cada calça jeans que compramos, além dos 11 mil litros de água necessários à fabricação, usa-se de 10 a 20 metros quadrados de cultivo de algodão. Para o cultivo desse algodão, foi preciso o uso de uma grande quantidade de fertilizantes químicos e pesticidas, o que levou à contaminação de solo, água e ar.
O que a história nos evidencia é que o último século de produção econômica foi marcado por uma economia de acumulação que, como bem disse Dominique Voynet, ex-ministra do Meio Ambiente francês no governo de Lionel Jospin, “não se baseia no capital do planeta, mas em seu estoque”.
O resultado disso é que somos constantemente “engolidos” pelo consumo. Victor Hugo, célebre escritor francês, vislumbrou muito bem isso: “Por força de querer possuir, nós nos tornamos possuídos”.
Marcus Eduardo de Oliveira, articulista do Portal EcoDebate, é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. prof.marcuseduardo@bol.com.br

Publicado no Portal EcoDebate, 24/11/2014

O que quero dizer ao afirmar que tudo muda?


A economia do fundo do poço
Paul Krugman
24/11/2014  11h34

Seis anos atrás, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) chegou ao fundo do poço. Vinha cortando a taxa de fundos federais, a taxa de juros que usa para orientar a economia, em ritmo mais ou menos frenético, em uma tentativa mal sucedida de conter a recessão e a crise financeira. Mas por fim chegou ao ponto em que nenhum outro corte era possível, porque os juros não podem ser inferiores a zero. Em 16 de dezembro de 2008, o Fed determinou que sua meta para a taxa de juros de referência dos Estados Unidos ficaria entre zero e 0,25%, onde continua até hoje.
O fato de que tenhamos passado seis anos vivendo com juro zero é tanto espantoso quanto deprimente. O que é ainda mais espantoso e deprimente, se você quer saber, é o quanto o nosso discurso econômico vem demorando para se enquadrar às novas realidades. Tudo muda quando a economia está no fundo do poço - ou, para usar o jargão correto, em uma armadilha de liquidez (nem pergunte). Mas, por muito, muito tempo, ninguém que tivesse o poder de direcionar a política econômica parecia acreditar nisso.
O que quero dizer ao afirmar que tudo muda? Como escrevi muito tempo atrás, em uma economia que está no fundo do poço, "as normas usuais de política econômica já não se aplicam: virtude se torna vício, cautela é risco e prudência é insensatez". Os gastos do governo não concorrem com o investimento privado, mas na verdade o promovem. Os dirigentes de bancos centrais, que em geral gostam de cultivar a imagem de inflexíveis guerreiros contra a inflação, precisam fazer o exato oposto, convencendo os mercados e investidores de que forçarão uma alta da inflação. A "reforma estrutural", que em geral significa facilitar o corte de salários, tem mais chance de destruir do que de criar empregos.
Tudo isso pode soar loucamente radical, mas não é. Na verdade, é o que a análise econômica convencional diz que acontecerá quando as taxas de juros chegarem ao zero. E é igualmente aquilo que a história nos diz. Se você tivesse prestado atenção às lições do Japão pós-bolha, ou, aliás, às da economia dos Estados Unidos nos anos 30, estaria mais ou menos preparado para o mundo invertido de política econômica em que vivemos desde 2008.
Mas, como eu disse, ninguém queria acreditar nisso. No geral, as autoridades econômicas e as pessoas muito sérias tendem a operar com base em instintos e não em análise econômica cuidadosa. Sim, elas às vezes encontram economistas credenciados que emprestam apoio às suas posições, mas usam esses economistas do mesmo modo que um bêbado usa um poste de luz: para apoio, mas não iluminação. E o que os instintos dessas pessoas tão sérias vêm lhes dizendo, ano após ano, é que elas devem temer - e fazer - exatamente as coisas erradas.
Assim, não nos cansamos de ouvir que os deficit orçamentários são o nosso mais premente problema econômico, que as taxas de juros disparariam repentinamente a não ser que impuséssemos austeridade fiscal. Eu poderia ter lhes dito que isso era tolice, e de fato o fiz, e a verdade é que a disparada dos juros tantas vezes prevista nunca se concretizou - mas as demandas de que cortássemos já os gastos do governo terminaram por nos custar milhões de empregos e danificaram profundamente a nossa infraestrutura.
Também ouvimos repetidamente que imprimir dinheiro - o que não era exatamente o que o Fed estava fazendo, mas isso não importa - levaria a uma "degradação monetária e inflação". O Fed, para seu crédito, resistiu a essa pressão, mas outros bancos centrais não o fizeram. O Banco Central Europeu (BCE), especialmente, elevou suas taxas de juros em 2011 para evitar uma ameaça inflacionária não existente. Mais tarde a instituição reverteu a decisão, mas jamais conseguiu recolocar as coisas nos trilhos. A esta altura, a inflação europeia fica muito abaixo da meta oficial de 2%, e o continente está flertando com deflação escancarada.
Será que todos esses apelos equivocados são coisa do passado? A era da economia no fundo do poço não terá chegado ao fim? Não conte com isso.
É verdade que, com a queda no índice de desemprego dos Estados Unidos, a maior parte dos analistas antecipa que o Fed volte a elevar as taxas de juros, em algum momento do ano que vem. Mas a inflação é baixa, os salários são fracos e o Fed parece compreender que elevar os juros cedo demais seria desastroso. Enquanto isso, a Europa parece mais longe que nunca de uma decolagem econômica, e o Japão ainda luta para escapar à deflação. Oh, e a China, que para alguns de nós começa a lembrar o Japão do final dos anos 80, pode entrar para o clube do fundo do poço mais cedo do que você imaginaria.
Assim, as realidades da política econômica na zona do juro zero, ainda que contrariem as intuições, devem continuar relevantes por ainda muito tempo, o que torna crucial que as pessoas influentes compreendam essas realidades. Infelizmente, muitas delas não o fazem ainda; um dos aspectos mais notáveis do debate econômico dos últimos anos vem sendo a completa recusa daqueles cujas doutrinas fracassaram no teste da realidade a admitir seus erros, quanto menos aprender com eles. Os líderes intelectuais da nova maioria do Congresso ainda insistem em que vivemos em um romance de Ayn Rand; as autoridades alemãs ainda insistem em que o problema é que os devedores não sofreram o suficiente.
Isso é um mau presságio. O que as pessoas que estão no poder não sabem, ou, pior, o que elas pensam saber mas na realidade não procede, pode certamente nos prejudicar.

Tradução de PAULO MIGLIACCI 

Paul Krugman é prêmio Nobel de Economia (2008), colunista do jornal "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Um dos mais renomados economistas da atualidade, é autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados.

Na crise: "ter que viver de maneira sustentável não é argumento para defender crescimento nulo".

Piketty: Europa está à beira de uma grave crise política, econômica e financeira

Para Thomas Piketty, autor de 'O Capital no Século XXI' a Europa está
à beira do abismo de uma grave crise política, econômica e financeira.


Daniel Fuentes Castro, EL DIARIO.es
Arquivo

O economista autor do influente livro "O capital no século XXI" reflete sobre o auge da extrema direita em seu país. "França e Alemanha demonstraram ser egoisticamente míopes em relação à Espanha e à Itália ao renunciar a compartilhar seus tipos de interesse". "É preciso se acostumar a viver com um crescimento fraco". "A ideia segundo a qual é preciso insistir em secar os orçamentos com base em mais austeridade para curar o doente me parece completamente insensata".

Thomas Piketty (Clichy, Francç, 1971), economista da Paris School of Economics, é especialista no estudo das desigualdades econômicas por uma perspectiva comparada. É autor de "O capital no século XXI", obra que vendeu mais de um milhão de exemplares em todo o mundo e que ao ter sido recentemente editado para espanhol e catalão lhe transformou em um dos economistas mais influentes da atualidade.

A Paris School of Economics, de criação recente, tem sua sede nos locais da École Normal Supérieure (13 prêmios Nobel e 10 medalhas Fields nas costas), no bulevar Jourdan. Não é um dos colossais edifícios do século XIX, de pedra talhada, onde outras instituições como a Sorbonne ou a faculdade de Direito de Panthéon-Assas ainda conservam suas sedes históricas. Trata-se de um conjunto de edifícios relativamente moderno, mas avelhentado. O vinílico desgastado do solo e a cor amarelada de algumas paredes revelam que, se falamos em capital, não é físico, mas sim humano.

Três percevejos da porta do escritório de Piketty seguram uma folha de papel com seu nome. Do quarto só restou a agulha. Seu escritório mede cerca de 15 metros quadrados, 20, se muito, e está cheio de estantes repletas de livros. Não tem assistente pessoal. Não veste terno, nem gravata. Desde o primeiro momento, mostra-se amável, sorridente e natural. Um pouco tímido. Ainda que dê a sensação de não nunca ter quebrado um prato na vida, se expressa sem titubear e com veemência em alguns momentos.

Há quem veja no título “O capital no século XXI” pisca para a obra de Karl Marx “O capital”. Você considera que a confrontação ideológica entre capitalismo e marxismo continua vigente?

A disjuntiva não é capitalismo ou marxismo. Há diferentes maneiras de organizar o capitalismo e há diferentes maneiras de superá-lo. O que meu livro tenta é contribuir com este debate. Quanto ao marxismo, faço parte da primeira geração posterior à Guerra Fria, a primeira geração pós-marxismo. Completei 18 anos com a queda do Muro de Berlim (no dia da entrevista fazia exatamente 25 anos). Li Marx e há ideias interessantes nele, contribuições notórias, mas O capital foi escrito em 1867 e estamos em 2014. O que eu tento é introduzir no século XXI a questão do capital, de seu estudo, isto é, para mim, o que o título do meu livro significa.

Não se pode esquecer que este trabalho teria sido impossível sem as tecnologias da informação, que permitem reunir e tratar dados históricos em uma escala impossível para Marx e até mesmo Kuznets. É fácil criticar os economistas do passado, mas eles trabalhavam na mão. Não contavam com as ferramentas que nós temos e, sobretudo, não tinham a perspectiva histórica que hoje temos e que nos permite contar a história do capital e das desigualdades. Isto é o que meu livro tenta fazer. Não pretende anunciar uma revolução, tenta apenas colocar à disposição dos leitores as pesquisas históricas que pudemos reunir sobre mais de vinte países e que englobam três séculos. O livro é, antes de qualquer coisa, uma história do capital.

Seu livro estuda de maneira empírica, entre outras coisas, a relação entre distribuição de renda do crescimento. Pode-se falar de causalidade direta no sentido de que uma melhor distribuição da renda produzindo uma taxa de crescimento maior como efeito?

A correlação e a causalidade são ambas muito complexas e não vão em um sentido apenas. A desigualdade pode ajudar o crescimento até certo ponto, mas para além de um determinado nível de desigualdade, obtém-se principalmente um efeito negativo que reduz a mobilidade na sociedade e conduz à perpetuação da estratificação social no tempo. Isto tem um impacto negativo sobre o crescimento.

O outro efeito negativo se produz através das instituições políticas: uma desigualdade muito forte pode levar ao sequestro das instituições democráticas por parte de uma pequena elite que não vai necessariamente investir na sociedade pensando no conjunto da população. Por isso, o crescimento no século XXI vai depender em grande medida do investimento em educação e formação, e não unicamente para uma pequena elite, mas para uma imensa maioria da população.

Para além das previsões de conjuntura econômica, o que se pode esperar do crescimento nos próximos anos? O que as expressões desenvolvimento sustentável e decrescimento lhe sugerem?

Acredito que tenhamos que nos acostumar a viver de maneira sustentável com um crescimento fraco. O problema é que tanto na França como em outros países europeus continuamos tendo em mente essa espécie de fantasia dos "trinta gloriosos" (expressão que faz referência às três décadas transcorridas entre a Segunda Guerra Mundial e a crise do petróleo em 1973), segundo a qual precisamos de pelo menos três, quatro ou cinco porcento de crescimento para sermos felizes. Isto não tem sentido. Somente nas fases corretivas em que alguns países recuperam os atrasos em relação a outros, ou em fases de reconstrução, acontecem taxas de crescimento tão elevadas.

É preciso colocar na cabeça que uma taxa de crescimento de 1% ou 1,5% ao ano é um crescimento muito rápido, se prolongado no tempo. Com taxas de crescimento assim durante um período de trinta anos, que é o equivalente a uma geração, acontecerá um crescimento da renda que equivale a um terço ou até mesmo à metade do PIB.

Por outro lado, ter que viver de maneira sustentável não é argumento para defender crescimento nulo. Uma taxa de crescimento entre 1% e 1,5% ao ano no longo prazo é fonte de progresso e não é um objetivo impossível. Agora, para alcançar um ritmo de crescimento assim, é preciso abandonar a atual política de austeridade. Isso em primeiro lugar. E sobretudo é preciso investir em ensino superior, em inovação e meio ambiente... Falo de investir em meio ambiente porque é evidente que terá que encontrar novas fontes de energia renováveis, visto que com as fontes atuais não poderemos manter uma taxa de crescimento de 1% ou 1,5% ao ano indefinidamente.

Considerando as últimas previsões da Comissão Europeia, não parece que estejamos perto de alcançar essa velocidade de cruzada. Você acredita que a austeridade seja um mal necessário para retomar o ritmo de crescimento?

A realidade é que caminhamos rumo a uma década imersos em um clima de recessão e de austeridade. Digo isto porque o PIB por habitante estimado para a França em 2014 ou 2015 é inferior ao de 2006 ou 2007. Esta é a situação. Estamos há quase dez anos em estancamento da renda per capita, da riqueza do país, do poder aquisitivo... A partir daqui podemos discutir tudo o que quisermos sobre qual precisa ser a arrecadação do Estado, quanto deve ser o gasto público ou qual deve ser o peso do setor privado na economia, mas o fato é que a riqueza total disponível é inferior à de 2007. Não recuperamos o nível anterior à crise. É normal que, em uma situação como esta, o ambiente seja depressivo.

A ideia segundo a qual é preciso enxugar os orçamentos com base em mais austeridade para curar o paciente me parece completamente insensata. Digo isto pensando na França, mas o mesmo vale para a Itália, com taxas de crescimento negativas em 2013 e em 2014. É verdade que o crescimento na Espanha está um pouco melhor agora, mas não nos esqueçamos que ela ainda sofre um atraso considerável em termos de renda per capita em comparação a outras grandes economias da Europa.

O resultado global das políticas de austeridade nos últimos quatro ou cinco anos é, de maneira objetiva, muito ruim. Os Estados Unidos tinham uma taxa de desemprego muito similar à da zona do euro de alguns anos atrás e atualmente a diferença é enorme. O desemprego diminuiu ali, apesar de o nível da dívida de ambas economias ser muito semelhante na situação de partida. Não há dúvidas sobre quem escolheu a estratégia adequada.

Que outra estratégia a zona do euro deveria ter seguido para sair da crise?

Acredito que seja necessário tornar comum as dívidas públicas e os juros da dívida pública. França e Alemanha forma extremamente egoístas. Demonstraram ser egoisticamente míopes em relação à Espanha e Itália ao renunciar e compartilhar seus juros. Uma moeda única com 18 dívidas públicas e 18 tipos de juros associados a essa dívida não funciona. Os atores financeiros não têm confiança neste sistema. Poderemos sair desta crise somente se criarmos um fundo comum de dívida pública com apenas um tipo de juro. O Banco Central Europeu poderá, então, estabilizar esse tipo de juros com menor dificuldade do que atualmente com 18 diferentes.

Agora, se quisermos gerir a dívida de maneira comum, precisamos também de um Parlamento da zona do euro que tome decisões a este respeito, entre outras coisas, sobre o nível de déficit comum. Isto é o que faltou até agora nas proposições de reorientação da construção europeia que Hollande esboçou na França, e do que também se falou na Espanha e na Itália. Finalmente, isso não se traduziu em uma proposta concreta de união política e, ao mesmo tempo, orçamentária. Ambas são coisas necessárias.

Você fala em reformar o desenho institucional da zona do euro. Que diferenças haveria entre o atual Parlamento Europeu e esse Parlamento orçamentário a que você se refere na última parte de seu livro?

Atualmente, temos um Parlamento Europeu em que estão representados 28 países e, por outro lado, o Conselho Europeu de Chefes de Estado ou de Governo e o Conselho de Assuntos Econômicos e Financeiros (integrados pelos ministros de Economia e Finanças). São vários os problemas desta arquitetura democrática. O primeiro é que nem todos os 28 países representados no Parlamento Europeu querem avançar rumo a uma maior integração política, fiscal e orçamentária. O segundo, que o Parlamento Europeu não representa absolutamente as instituições dos Estado-nação e, concretamente, os parlamentos nacionais.

Por isso, acredito que faz falta, paralelamente ao atual Parlamento Europeu, uma câmara parlamentar da zona do euro ou, em todo caso, uma câmara formada pelos países da zona do euro que queiram avançar em direção a uma união política, orçamentária e fiscal, e que teria que se construir a partir dos diferentes parlamentos nacionais. Cada país estaria representado proporcionalmente à sua população, nem mais, nem menos. O mesmo para Alemanha e França e os demais. A atribuição desta nova Câmara consistiria em votar questões como um imposto comum sobre sociedade ou o nível de déficit comunitário.

Não são poucos os que pensam que, em vez de mais integração, o razoável seria retomar as moedas nacionais.

Não, para mim não é a boa solução. Agora, sem propostas alternativas rápidas, acredito que o retorno às moedas nacionais será um cenário cada vez mais difícil de descartar. Concretamente, a única resposta dada na França aos que querem sair do euro consiste em dizer que é impossível, que está proibido, que agora que entramos não se pode retroceder... Esta resposta é extraordinariamente fraca e não vai durar muito tempo mais.

A saída da crise está em avançar na união dos países da zona do euro. De certa forma, a pior das situações é a atual, porque perdemos a possibilidade de desvalorizar a moeda, perdemos a soberania monetária nacional, em troca teríamos que ganhar novas formas de soberania fiscal e orçamentária, maior capacidade para arrecadar imposta de maneira mais justa, mais capacidade de resistência para proteger frente ao risco de especulação sobre os tipos de juros da dívida pública. Até agora, França e Alemanha ganharam neste jogo, mas a única alternativa para a saída do euro é uma união da dívida, uma união fiscal. Se não nos apressarmos, acredito que as forças políticas a favor da saída do euro vão ganhar a partida.

O que se pode esperar da França na construção desta nova arquitetura institucional Europeia, exatamente agora em que a extrema direita lidera as pesquisas? A Europa deve se preocupar?

É preciso se preocupar, absolutamente. Não acredito que a Frente Nacional chegará ao poder no Eliseu ou à presidência da República, mas pode conseguir a presidência de várias regiões. No próximo ano, há eleições regionais, e dado o modo de distribuição das cadeiras, é perfeitamente possível que duas ou três regionais, ou até mais, caiam do lado da Frente Nacional.

Em um sistema eleitoral como o das eleições presidenciais, estamos acostumados que a Frente Nacional perca, inclusive se for o partido mais votado do primeiro turno. Entretanto, nas regionais, o partido mais votado obtém uma parte equivalente a um quarto das cadeiras (o resto se divide de maneira proporcional). Se a Frente Nacional conseguir 30% ou 35% dos votos em uma região, a direita 25% e a esquerda 20%, por exemplo, a parte do partido mais votado faz com que a Frente Nacional aspire ter maioria absoluta nessa região.

Será um choque enorme na Europa. Até agora, a Frente Nacional ganhou somente em algumas cidades pequenas, mas se regiões inteiras passarem a ser governadas pela extrema direita, a história será outra. Não vai ser uma piada. Vão criar tensões em algumas regiões do país e o resultado pode ser extremamente violento.

Até esse ponto?

Estamos de fato à beira do abismo de uma crise política, econômica e financeira. A crise é responsabilidade de todos os países, mas não entendo como a Alemanha continua pensando que tem interesse em manter esta visão tão rígida da austeridade... Afinal de contas, nem sequer lá o crescimento é elevado. Que consta que a responsabilidade também é da França, por não fazermos verdadeiras propostas progressivas e de refundação democrática da Europa. E continuamos esperando propostas da Espanha e da Itália. Em todo caso, acredito que a situação seja grave e que as eleições regionais na França no próximo ano serão um choque.


Muitos eleitores se incomodam porque interpretam seu livro como a evidência de um futuro com menor crescimento e pior distribuição da riqueza. Há argumentos para o otimismo?

Claro que sim. Essa é minha maneira de ser. Sinto muito se alguns chegam a conclusões pessimistas após a leitura do livro! Eu acredito no progresso social, econômico e democrático e no crescimento. Mas é preciso se acostumar a viver com crescimento menor. Insisto em que um crescimento mais fraco, se mantido no tempo, é compatível com o progresso. Há trinta anos, não dispúnhamos das atuais tecnologias da informação, por exemplo. Se nos organizarmos bem, nos dotarmos das instituições adequadas para que todo mundo possa se beneficiar, essas tecnologias serão uma enorme fonte de riquezas.

Acredito no progresso técnico e na mundialização, e o livro não é pessimista em relação ao futuro. Simplesmente, para que estas coisas beneficiem a todos, fazem falta instituições democráticas, sociais, educativas, fiscais e financeiras que funcionam corretamente. O problema é que, depois da queda do Muro de Berlim, nós imaginamos, por um momento, que era suficiente se basear nas forças naturais do mercado para que o processo de globalização e de competitividade beneficiasse a todos. Acredito que o erro esteja aí. É preciso repensar os limites do mercado, do capitalismo, e repensar também as instituições democráticas.
Tradução: Daniella Cambaúva
Créditos da foto: Arquivo


sexta-feira, novembro 21, 2014

Sustentabilidade e crise hídrica no Brasil


As várias faces dos problemas ambientais

Seja no caso do acordo firmado entre EUA e China, seja na crise hídrica brasileira, autoridades preferem ações paliativas a entender que existem problemas insolúveis a curto prazo
por Reinaldo Canto — publicado 21/11/2014 05:57

Crise hídrica na Cantareir
Crise hídrica na Cantareira: a água não brota de obras de cimento
Nos últimos dias, a temática ambiental recebeu importantes notícias, mas em sentidos opostos. Em primeiro lugar o estabelecimento do acordo climático, estabelecido pelas duas maiores potências econômicas mundiais. Estados Unidos e China, os maiores países poluidores e responsáveis por 45% das emissões de gases de efeito estufa do planeta, finalmente decidiram fixar metas para a redução de suas “pegadas ecológicas”. Certamente isso irá representar uma mudança ao menos simbólica na forma como a questão do aquecimento global e das mudanças climáticas foi tratada até o momento.
Já em terras pátrias e na contramão do proposto pelos líderes da economia mundial está o gerenciamento da crise da água que afeta dramaticamente São Paulo, mas que também assusta outras regiões e estados brasileiros.
Recentes declarações do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e da presidenta da República, Dilma Rousseff, vaticinaram o fim do problema da crise da água com a redentora chegada das chuvas.
Na sequência uma rápida análise sobre esses dois movimentos recentes.
EUA e China
Reunidos em Pequim para uma série de acordos comerciais, o presidente norte-americano, Barack Obama e o presidente chinês Xi Jinping, anunciaram novas metas para a redução de suas emissões, um ano antes da COP de Paris (Conferência do Clima), no qual será discutido um novo acordo climático global.
A China, responsável sozinha por 29% das emissões globais dos gases de efeito estufa, principalmente em razão do uso do carvão como fonte energética propulsora de seu crescimento, fixou a meta de atingir um teto dessas emissões em meados de 2030, com um viés de que esse limite chegue antes dessa data. Depois disso deverá reduzi-lo progressivamente nos anos subsequentes.
Apesar de ainda ser pouco ambicioso e representar uma carta de intenções, mais do que ações efetivas, esta é a primeira vez que a China aceita se comprometer com uma redução de emissões.
Já os Estados Unidos anunciaram que pretendem reduzir entre 26 e 28% as suas emissões até 2025, em relação aos níveis registrados em 2005. Também um avanço em relação a metas anteriores.
Em ambos os casos, as potências enviaram a todos os países do planeta um importante recado sobre a importância de se enfrentar os desafios climáticos. A ambição da reunião do próximo ano é obter um acordo mundial suficientemente ambicioso para limitar o aquecimento global a 2.°C.
O aumento na temperatura poderá trazer consequências extremas de alcance global, o que significaria, entre vários impactos, uma dramática redução dos recursos, um número maior de conflitos principalmente entre as nações mais carentes, a elevação do nível dos oceanos e a extinção de espécies responsáveis pelo equilíbrio da biodiversidade terrestre.
As medidas anunciadas pelos Estados Unidos e a China não tem a capacidade de mudar as análises de cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, em sua sigla em inglês). Segundo esses mesmos cientistas, o tempo é muito curto para evitar o aumento da temperatura global. Mesmo assim, causou uma boa impressão o fato de potências que sempre estiveram em posições contrárias acordarem que é sim necessário trabalhar pela redução das emissões.
Claro que a China continua a defender a tese de que os países mais desenvolvidos devem reduzir de maneira mais expressiva suas emissões em relação aos demais países, sejam eles os que estão em franco desenvolvimento ou aqueles mais pobres.
Bem, as mudanças nem sempre ocorrem na velocidade desejada!
Falta de água
De volta ao Brasil varonil, recentemente o governador paulista esteve no Palácio do Planalto para solicitar uma ajuda emergencial no valor total de R$ 3,5 bilhões para enfrentar a crise hídrica enfrentada pelo estado de São Paulo. Nada mais natural que Geraldo Alckmin tenha feito esse movimento diante da terrível situação que tanto tem assustado a população. Mas espantoso é observar que o pedido da verba refere-se basicamente a obras de infraestrutura, com interligações de reservatórios, construção de estações de reuso de água e abertura de poços artesianos.
A recuperação dos mananciais, o reflorestamento de áreas críticas e a despoluição de rios e córregos não foram mencionados como ações necessárias para solucionar a escassez que atinge a capital paulista e uma grande quantidade de cidades do estado. Talvez sejam lembradas em outro momento... Quem sabe para quando o problema voltar?
Como assim, voltar? O leitor/internauta poderá, espantado, perguntar. Então repito: quando o problema voltar! Pois, segundo nossas autoridades, tanto o governador paulista quanto a presidenta, a chegada da temporada de chuvas irá solucionar a crise da falta de água.
Acreditem se quiserem, eles afirmaram, apesar de todas as informações em contrário, que estamos caminhando para uma solução no abastecimento de água!
Basicamente, o que difere os dois fatos relatados não são as ações propostas pelas potências mundiais ou o enfrentamento local para a questão da falta d'água. Ambas demonstram serem paliativas ou apenas uma sequência de boas intenções com poucos resultados concretos.
No caso internacional, ao menos, há o reconhecimento para a gravidade do problema vinculado ao aquecimento global. Pouco, sem dúvida, mas ao menos um diagnóstico correto.
Já em relação ao posicionamento de dois dos principais líderes nacionais, o que assusta é que, apesar de tudo, ainda existe uma incrível resistência em entender e aceitar que existem problemas insolúveis no curto prazo.
Assim como a água não nasce de obras de concreto, mas sim de um meio ambiente saudável e protegido, muitas das respostas que procuramos estão em decisões inteligentes e sustentáveis que vão impactar na vida de todos, no presente e no futuro. A questão é que devemos esperar mais de nossas lideranças. Nós, seres humanos, dependemos disso, não importa onde estejamos, em São Paulo, em Pequim ou Nova York, tanto faz. Afinal, o Planeta Terra é um só.

Prevista na Constituição: a necessidade de planejamento do uso da água.


MPF vai à Justiça em seis estados da Amazônia para obrigar o planejamento do uso de recursos hídricos

Publicado em novembro 21, 2014 por 
Na Amazônia, onde está a maior parte da água do país, a Agência Nacional de Águas nunca exigiu o planejamento do uso dos rios e, mesmo assim, concede outorgas
Amazônia
O Ministério Público Federal apresentou hoje, 19 de novembro, à Justiça Federal em seis estados da Amazônia Legal – Amazonas, Mato Grosso, Amapá, Rondônia, Pará e Roraima – um pacote de ações para proteger os recursos hídricos da região. Segundo procuradores que assinam as ações, os rios amazônicos não possuem os chamados comitês de bacia, que são responsáveis por planejar o uso das águas.
Nas ações, o MPF pede que a Agência Nacional de Águas (Ana) seja proibida de emitir a chamada Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica para quaisquer empreendimentos que estejam em licenciamento nas bacias dos rios Tapajós, Teles Pires, Madeira, Ji-Paraná, Rio Branco, Negro, Solimões, Oiapoque, Jari, Araguaia, Tocantins e Trombetas antes da criação dos comitês – órgãos colegiados da gestão de recursos hídricos, com atribuições de caráter normativo, consultivo e deliberativo.O comitê tem, entre as funções, planejar o uso sustentável dos recursos hídricos.
A necessidade de planejamento do uso da água é uma preocupação prevista na Constituição brasileira e, segundo o MPF, mesmo assim, nunca foi aplicada na Amazônia, onde está o maior volume de águas do país, tanto em corpos subterrâneos (aquíferos) quanto superficiais (rios). Para o Ministério Público, sem os comitês, a Ana não poderia emitir nenhuma outorga.
Segundo a coordenadora da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão (Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais), subprocuradora-geral da República Deborah Duprat, o dia D em defesa das bacias hidrográficas tem o objetivo de assegurar água suficiente e de qualidade para a população brasileira. “Numa sociedade de risco é preciso compartilhar decisões. Os comitês vêm satisfazer essa necessidade, uma vez que são compostos pelos usuários da bacia, tanto que a lei prevê, por exemplo, a participação de populações indígenas nas bacias onde estejam localizadas”.
O MPF destaca ainda que, o fato de o Brasil viver, atualmente, uma crise de abastecimento de água de graves proporções no sudeste do país, assim como o desaparecimento de trechos inteiros do rio São Francisco, no nordeste, são alertas para o que pode ocorrer na Amazônia, a maior bacia hidrográfica do país e do mundo, se for mantido o atual padrão de total falta de planejamento e precaução.
“O que ocorre no sudeste e no nordeste é um vislumbre do risco que correm os rios da bacia Amazônica, em pior situação, por nem sequer se observar a precaução obrigatória da gestão participativa dos recursos”, afirmam os membros do MPF nas ações judiciais.
O MPF cita o recente relatório do professor Antônio Donato Nobre, que posiciona o ecossistema amazônico como o coração do ciclo hidrológico brasileiro, fornecendo umidade sobretudo para as regiões sul, sudeste e centro-oeste, que poderiam ser desérticas se não fosse a existência da floresta tropical ao norte.
Hidrelétricas - No caso da bacia do rio Madeira, o MPF lembra que estão previstas mais três usinas hidrelétricas em um momento em que não se sabe ainda a influência das duas barragens já existentes (Jirau e Santo Antônio) nas enchentes de 2014, que estão sob investigação.
“Se com apenas dois desses empreendimentos os desdobramentos chegaram a patamares nunca antes observados e ainda não se tem certeza da exata influência da construção das barragens nos acontecimentos, que dirá do impacto sinérgico deles com mais outros três (um deles, inclusive, com porte semelhante)?”, aponta a ação ajuizada em Rondônia.
“Parte dessa crise hídrica [vivida no Sudeste do país] se deve a uma falta de planejamento dessas bacias. Não é possível acumular empreendimentos sem saber a capacidade que as bacias têm de suportá-los sem comprometer o principal uso das águas, que é o consumo humano”, destaca Deborah Duprat.
Segundo a procuradora, as ações propostas não atingem empreendimentos que já estão em curso, mas podem atingir projetos futuros. “Sabemos que há vários projetos para essas bacias, eles podem, sim, ser atingidos”.
Confira as íntegras das ações
Fonte: Procuradoria-Geral da República
Publicado no Portal EcoDebate, 21/11/2014

Petróleo: Vêm aí grandes emoções. Aperte o cinto.

Petróleo: a virada nos mercados globais e o Pré-sal

141115-PréSal

Fechou o tempo no mercado mundial de petróleo neste final de outubro de 2014. Os preços despencaram, assustando muita gente do ramo. Produtores de petróleos mais caros viram seus investimentos ameaçados quando as cotações nos grandes centros tombaram aos níveis mais baixos desde novembro de 2010. Chefes de governo em estados petroleiros viram aumentar muito a pressão sobre os equilíbrios comercial e fiscal das contas públicas.
Depois de atingir 115 dólares por barril, devido ao acirramento do conflito armado no Iraque, o preço do petróleo tipo (britânico) Brent moveu-se ladeira abaixo. Em 15 de outubro bateu na mínima anual (até então) de 84 dólares. Uma queda igualmente dramática atingiu o preço do petróleo tipo (norte-americano) WTI. De junho a outubro o petróleo tipo Brent caiu 27%, e o WTI 20%. Um assombro para os países que dependem essencialmente de receitas de petróleo para arrecadação tributária, e uma ameaça à rentabilidade de investimentos para produzir petróleo sob condições de alto custo tais como localizações remotas (alto-mar, grandes profundidades, clima severo), ou de qualidade inferior (óleos muito densos ou com alto teor de enxofre), ou ainda as acumulações de vida muito curta (petróleo e gás não-convencionais do tipo shale oil).
Pouca demanda e muita oferta
A razão disso é uma batalha entre os grandes produtores de petróleo para manter participações de mercado (volume de vendas), numa conjuntura em que uma capacidade de produção aquecida está de frente a uma demanda fria. Sobra petróleo no mundo neste momento.
A demanda padece ainda das sequelas da crise financeira de 2008, traduzida na fragilidade crônica da economia mundial. Mesmo a China, que manteve seu dinamismo nos primeiros anos de crise, dá sinais de cansaço (queda de 1,6% na demanda por petróleo). Em seu relatório mensal de setembro a Agência Internacional de Energia (AIE) viu-se obrigada a reduzir pelo quarto mês seguido a projeção do consumo de petróleo para 20141. A tímida recuperação econômica nos EUA oferece pouca alternativa ao menor crescimento na China, e não se vê sinal de alento no ambiente recessivo da Europa: a economia mais forte do continente, a Alemanha, mostrou recentemente retração do produto total, da produção industrial, e das exportações. Não se vê, no horizonte imediato, nenhum sinal vigoroso de crescimento da demanda por petróleo.
Do lado da oferta, a produção de petróleo voltou a crescer no Oriente Médio, passado o momento de maior instabilidade política da “Primavera Árabe”, a série de revoltas populares que derrubaram governos pelo mundo árabe em 2011-12. A tal ponto que os preços despencaram em meados de outubro, quando a OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo – informou sua produção de 30,9 milhões de barris por dia no mês anterior, o maior nível para o mês de setembro em três anos. A produção do Iraque aumentou em 700 mil barris por dia desde os momentos mais críticos da recente guerra civil em 20112. A produção da Líbia também consegue retornar gradualmente à estabilidade, apesar do persistente clima de violência. Em setembro chegou a 800 mil barris por dia, mais ou menos dois terços da produção usual3.
A oferta de petróleo aumentou também fora da OPEP. Causa grande impacto a produção de petróleo não convencional nos EUA, que aumentou em 2,5 milhões de barris por dia de 2008 a 2013, e absorve boa parte da demanda interna norte-americana que era atendida por importações. A média diária de importações de petróleo dos EUA caiu quase pela metade, de 11 milhões de barris em 2008 para 6,5 milhões de barris em 2013. Houve cortes, por exemplo, nas importações de Nigéria e Argélia. No caso da Nigéria, as importações dos EUA caíram 78% em dois anos (de 515 mil barris por dia em junho de 2012 para 114 mil em junho de 2014). Ainda fora da OPEP, vem crescendo a produção no Brasil, que estima ter excedentes exportáveis a partir de 2014, chegando a um milhão de barris por dia em 2020. Espera-se também o aumento da produção não convencional na Argentina. Em resumo, além da fraca demanda, o mercado mundial de petróleo se vê fartamente suprido, de dentro e de fora da OPEP4.
Quem pode mais chora menos
Os grandes produtores, que têm custos mais baixos, desejam manter os níveis atuais de produção. Produção alta num mercado fraco irá reduzir preços e pressionar financeiramente os produtores “marginais” com custos mais altos. A Arábia Saudita se diz “confortável” com preços do petróleo abaixo de 90 dólares, e talvez abaixo de 80 dólares, por até um ano ou dois. Com isso, abandona a estratégia vigente até agora, de manter o preço do barril em torno de 100 dólares5. O ministro de Petróleo do Kuwait disse que está confortável com a quota atual de produção, que ele considera “justa e razoável”. Disse ainda que estaria confortável com preços do barril de petróleo abaixo de 80 dólares6.
Movidos pela decisão da OPEP, os principais analistas de investimento reduziram de 100 para 85 dólares a expectativa de preço médio do petróleo Brent para os próximos quatro anos. Quem sobrevive? Estima-se que ainda permanecem claramente viáveis os melhores empreendimentos petroleiros fora da OPEP – a exemplo do Golfo do Texas nos EUA – assim como a produção brasileira na Bacia de Campos e no pré-sal de Santos, e ainda as áreas não-convencionais mais produtivas dos EUA, a exemplo da bacia de Bakken. Mas o preço de 85 dólares seria insuficiente para viabilizar a produção de petróleos mais caros como o não convencional de áreas menos produtivas dos EUA (Woodford no Oklahoma) ou o pré-sal de Angola, ou as areias betuminosas canadenses, ou mesmo o petróleo ultra-pesado da Faixa do Orinoco na Venezuela.
A Arábia Saudita produz 9,7 milhões de barris por dia, ou seja, cerca de um terço de todo o petróleo da OPEP. Ao ser questionado sobre a possibilidade de futuros cortes de produção para sustentar preços, um oficial saudita respondeu: Que cortes7?
Um motivo de choro: “preço de equilíbrio fiscal”
Preço de equilíbrio fiscal é o preço mínimo de petróleo para manter equilibradas as contas públicas dos principais países exportadores de petróleo, especialmente os membros da OPEP. É um conceito usado pelo FMI em suas análises da conjuntura econômica mundial.
Quando os preços estão acima do nível de equilíbrio fiscal, os países exportadores acumulam reservas; o contrário ocorre quando petróleo cai abaixo desse nível. A capacidade de cada país exportador para ajustar-se a uma redução de preços depende do seu patamar de equilíbrio fiscal, e das reservas monetárias acumuladas8. Nos países onde o petróleo é a principal fonte de receitas tributárias e produto de exportação, a arrecadação com a venda do produto garante o pagamento de salários, de benefícios previdenciários, e os investimentos na infraestrutura de serviços públicos. A queda brusca na receita pode frear o gasto público e gerar insatisfação, ou mesmo instabilidade social e política. Daí a importância do preço de equilíbrio fiscal.
Preços como esses de outubro estariam abaixo do nível de equilíbrio fiscal para muitos desses países. Segundo estimativas recentes, seriam ainda superavitários aqueles com preços de equilíbrio fiscal abaixo dos 85 dólares: Kuwait ($50), Qatar ($55), Emirados Árabes ($70) – e a Arábia Saudita ($85). Menos confortáveis estariam o Iraque ($100) e o Omã ($100). Mais deficitárias estariam a Líbia ($115), e a Argélia ($115). Extremamente deficitário estaria o Irã ($155)9.
A Venezuela foi o único membro da OPEP que se manifestou a favor de uma reunião de emergência para avaliar o efeito da queda de preços de outubro, através de uma mensagem de seu chanceler nas redes sociais10. Estimativas de 2013 indicam que o preço de equilíbrio fiscal para a Venezuela seria da ordem de 113 dólares11. Coincidência ou não, ao final de setembro, a maior agência de avaliação de risco rebaixou a nota da dívida externa da Venezuela.
Petrobrás, pré-sal e o preço do petróleo
O pré-sal permanece viável? É a pergunta que ocorre imediatamente diante do tombo recente dos preços do petróleo.
A resposta é sim, tanto com base nas informações da Petrobras, quanto pelas estimativas dos analistas financeiros. O custo médio de extração por barril publicado pela Petrobras é de 14 dólares (sem participação governamental em impostos e outros). Para o pré-sal, esse valor é provavelmente um pouco menor que a média da companhia, devido à alta produtividade dos poços atualmente em produção. Somando-se a isso a participação governamental de 18 dólares, mais os custos médios da Petrobras para descoberta (menores que a média da indústria), mais o investimento médio, chega-se a um custo total da ordem de 50 dólares por barril. Essa estimativa é mais conservadora que as avaliações de dois dos maiores bancos de investimento, que estimam custos totais de produção abaixo de 50 dólares por barril, e situam o pré-sal no quartil mais alto de viabilidade dos investimentos petroleiros no mundo12. Ou seja, o pré-sal é, sim, viável – mesmo sob as condições de preço de outubro de 2014.
É claro que a queda no preço do petróleo afeta a Petrobras, assim como todas as petroleiras, porque a receita futura será menor do que a foi projetada nos planos. Pela Petrobras, estão em implantação investimentos de 206,8 bilhões de dólares. A realização pressupõe uso de receita própria de 182,2 bilhões de dólares, assumindo preço de petróleo Brent de 100 dólares. Com menores receitas, as petroleiras terão que reduzir investimento ou aumentar endividamento. Considerando que a Petrobras já ultrapassou o limite de endividamento aprovado para o Plano de Negócios, restaria ajustar os investimentos para acomodar a condição de menores preços.
Petróleo e equilíbrio fiscal no Brasil
Cabem aqui duas considerações distintas. Uma sobre as contribuições tributárias ordinárias, que são royalties, participações especiais e demais impostos sobre a operação comercial. Outra sobre as contribuições extraordinárias, principalmente na forma de bônus de assinatura para áreas exploratórias cedidas em leilão.
Para as receitas tributárias ordinárias do Brasil, a Petrobras contribuiu R$ 100 bilhões em 2013. Desse montante, R$ 30 bilhões correspondem a royalties e participações especiais, em parcelas aproximadamente iguais entre os dois tributos. A contribuição com outros tributos foi de R$ 69 bilhões (soma de ICMS, PIS/COFINS, e IR/CSLL)13. O valor total corresponde a 8% da Receita do Governo Central (R$ 1.181 bilhões), e a 11% da Receita Bruta do Tesouro Federal em 2013 (R$ 894,7 bilhões)14. Embora seja uma contribuição importante, ela não caracteriza uma “dependência petroleira” da arrecadação fiscal brasileira.
Mas o caso muda ao considerar o papel das receitas extraordinárias. Em 2013, o governo federal realizou superávit primário de R$ 75 bilhões, superando em R$ 2 bilhões o determinado na Lei de Diretrizes Orçamentárias15. Ocorre que houve em 2013 uma receita extraordinária do Tesouro na rubrica “Demais Receitas”. Lá estão R$ 15 bilhões a título do bônus de assinatura do bloco de Libra, leiloado em outubro. Não fosse por essa receita extraordinária, o resultado do Governo Central teria sido de R$ 60 bilhões, 18% abaixo do determinado pela LDO.
Em 2014 não houve leilões de petróleo, e há dificuldade para cumprir o superávit determinado por lei. Ainda assim o governo federal arrecadou da Petrobras R$ 2,2 bilhões a título de bônus de assinatura pela exploração (por adjudicação direta) dos excedentes da cessão onerosa. O governo vai cobrar antecipadamente sua parte nos lucros futuros dessas áreas, nos montantes de R$ 2 bilhões em 2015, R$ 3 bilhões em 2016, R$ 4 bilhões em 2017, e R$ 4 bilhões em 201816. São todas arrecadações extraordinárias que facilitam cumprir o superávit primário, embora o Ministro de Minas e Energia tenha negado motivação fiscal na antecipação dessas receitas17.
O certo é que, mesmo sem o Brasil sofrer da dependência tributária dos países da OPEP em relação ao petróleo, nas receitas ordinárias da União, as receitas extraordinárias foram fundamentais para fechar as contas públicas de 2013. Há indícios de que esse procedimento possa se tornar usual. Acende-se um sinal de alerta: o Brasil poderia ser levado a fazer leilões por conveniência fiscal, e não por uma estratégia de longo prazo para melhor utilização dos recursos de petróleo. Num cenário de retração econômica como o atual, seria necessário ampliar a exploração de petróleo para manter o mesmo nível de contribuição tributária. Seria uma situação paradoxal e pouco desejável – isto é, vender mais quando o mercado é pior, quando os preços são mais baixos. Vêm aí grandes emoções. Aperte o cinto.
1 A média anual projetada para 2014 é de 92,4 milhões de barris por dia.
2 De uma média de 2,4 milhões de barris por dia (MM bpd) em início de 2011 para os atuais 3,1 MM bpd
3 OPEC – Monthly Oil Market Report, Vienna, Austria, October 2014.
4 Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE),​ a oferta em setembro de 2014 está em 93,8 MM bpd.
5 Ron Bousso e Joshua Schneyer – Sauditas dizem ao mercado para se acostumar com preços baixos de petróleo”, Reuters, 13.10.2014.
6 Idem
7 Idem
8 Segundo o FMI, ao final de 2012 a Arábia Saudita tinha investimentos no exterior de USD 703 bilhões; o Iraque USD 26 bilhões; e o Kuwait USD 119 bilhões.FMI – IMF eLibrary – Data.International Investment Position. Posição líquida. Dados de 2012.
9 International Monetary Fund – World Economic Outlook. Outubro 2013.
10 Sharples e Charkabroty, op. cit.
11 Aissaoui, Ali –“Modeling OPEC Fiscal Breakeven Oil Prices: New Findings and Policy Insights”. APIC- Arab Petroleum Investments Corporation. August – September 2013.
12 Petrobras – “Brazil Deep Water Economics”, em “Petrobras at a Glance”, September 2013.
13 Petrobras – Relatório ao Mercado Financeiro, 4º Trimestre 2013.
14 Banco Central do Brasil – Relatório Anual 2013, Capítulo IV Finanças Públicas.
15 Ministério da Fazenda – Secretaria do Tesouro Nacional – Resultado do Tesouro Nacional 2013. Brasília, 30 de janeiro de 2014.
16 Petrobras – Fato Relevante: Volumes Excedentes da Cessão Onerosa. Rio, 24 de junho de 2014.
17 Bitencourt, Rafael; Jubé, Andrea – “CNPE aprova contratação direta da Petrobras para explorar excedentes”. Valor Econômico, 24 de junho de 2014.

na tela ou dvd

  • 12 Horas até o Amanhecer
  • 1408
  • 1922
  • 21 Gramas
  • 30 Minutos ou Menos
  • 8 Minutos
  • A Árvore da Vida
  • A Bússola de Ouro
  • A Chave Mestra
  • A Cura
  • A Endemoniada
  • A Espada e o Dragão
  • A Fita Branca
  • A Força de Um Sorriso
  • A Grande Ilusão
  • A Idade da Reflexão
  • A Ilha do Medo
  • A Intérprete
  • A Invenção de Hugo Cabret
  • A Janela Secreta
  • A Lista
  • A Lista de Schindler
  • A Livraria
  • A Loucura do Rei George
  • A Partida
  • A Pele
  • A Pele do Desejo
  • A Poeira do Tempo
  • A Praia
  • A Prostituta e a Baleia
  • A Prova
  • A Rainha
  • A Razão de Meu Afeto
  • A Ressaca
  • A Revelação
  • A Sombra e a Escuridão
  • A Suprema Felicidade
  • A Tempestade
  • A Trilha
  • A Troca
  • A Última Ceia
  • A Vantagem de Ser Invisível
  • A Vida de Gale
  • A Vida dos Outros
  • A Vida em uma Noite
  • A Vida Que Segue
  • Adaptation
  • Africa dos Meus Sonhos
  • Ágora
  • Alice Não Mora Mais Aqui
  • Amarcord
  • Amargo Pesadelo
  • Amigas com Dinheiro
  • Amor e outras drogas
  • Amores Possíveis
  • Ano Bissexto
  • Antes do Anoitecer
  • Antes que o Diabo Saiba que Voce está Morto
  • Apenas uma vez
  • Apocalipto
  • Arkansas
  • As Horas
  • As Idades de Lulu
  • As Invasões Bárbaras
  • Às Segundas ao Sol
  • Assassinato em Gosford Park
  • Ausência de Malícia
  • Australia
  • Avatar
  • Babel
  • Bastardos Inglórios
  • Battlestar Galactica
  • Bird Box
  • Biutiful
  • Bom Dia Vietnan
  • Boneco de Neve
  • Brasil Despedaçado
  • Budapeste
  • Butch Cassidy and the Sundance Kid
  • Caçada Final
  • Caçador de Recompensa
  • Cão de Briga
  • Carne Trêmula
  • Casablanca
  • Chamas da vingança
  • Chocolate
  • Circle
  • Cirkus Columbia
  • Close
  • Closer
  • Código 46
  • Coincidências do Amor
  • Coisas Belas e Sujas
  • Colateral
  • Com os Olhos Bem Fechados
  • Comer, Rezar, Amar
  • Como Enlouquecer Seu Chefe
  • Condessa de Sangue
  • Conduta de Risco
  • Contragolpe
  • Cópias De Volta À Vida
  • Coração Selvagem
  • Corre Lola Corre
  • Crash - no Limite
  • Crime de Amor
  • Dança com Lobos
  • Déjà Vu
  • Desert Flower
  • Destacamento Blood
  • Deus e o Diabo na Terra do Sol
  • Dia de Treinamento
  • Diamante 13
  • Diamante de Sangue
  • Diário de Motocicleta
  • Diário de uma Paixão
  • Disputa em Família
  • Dizem por Aí...
  • Django
  • Dois Papas
  • Dois Vendedores Numa Fria
  • Dr. Jivago
  • Duplicidade
  • Durante a Tormenta
  • Eduardo Mãos de Tesoura
  • Ele não está tão a fim de você
  • Em Nome do Jogo
  • Encontrando Forrester
  • Ensaio sobre a Cegueira
  • Entre Dois Amores
  • Entre o Céu e o Inferno
  • Escritores da Liberdade
  • Esperando um Milagre
  • Estrada para a Perdição
  • Excalibur
  • Fay Grim
  • Filhos da Liberdade
  • Flores de Aço
  • Flores do Outro Mundo
  • Fogo Contra Fogo
  • Fora de Rumo
  • Fuso Horário do Amor
  • Game of Thrones
  • Garota da Vitrine
  • Gata em Teto de Zinco Quente
  • Gigolo Americano
  • Goethe
  • Gran Torino
  • Guerra ao Terror
  • Guerrilha Sem Face
  • Hair
  • Hannah And Her Sisters
  • Henry's Crime
  • Hidden Life
  • História de Um Casamento
  • Horizonte Profundo
  • Hors de Prix (Amar não tem preço)
  • I Am Mother
  • Inferno na Torre
  • Invasores
  • Irmão Sol Irmã Lua
  • Jamón, Jamón
  • Janela Indiscreta
  • Jesus Cristo Superstar
  • Jogo Limpo
  • Jogos Patrióticos
  • Juno
  • King Kong
  • La Dolce Vitta
  • La Piel que Habito
  • Ladrões de Bicicleta
  • Land of the Blind
  • Las 13 Rosas
  • Latitude Zero
  • Lavanderia
  • Le Divorce (À Francesa)
  • Leningrado
  • Letra e Música
  • Lost Zweig
  • Lucy
  • Mar Adentro
  • Marco Zero
  • Marley e Eu
  • Maudie Sua Vida e Sua Arte
  • Meia Noite em Paris
  • Memórias de uma Gueixa
  • Menina de Ouro
  • Meninos não Choram
  • Milagre em Sta Anna
  • Mistério na Vila
  • Morangos Silvestres
  • Morto ao Chegar
  • Mudo
  • Muito Mais Que Um Crime
  • Negócio de Família
  • Nina
  • Ninguém Sabe Que Estou Aqui
  • Nossas Noites
  • Nosso Tipo de Mulher
  • Nothing Like the Holidays
  • Nove Rainhas
  • O Amante Bilingue
  • O Americano
  • O Americano Tranquilo
  • O Amor Acontece
  • O Amor Não Tira Férias
  • O Amor nos Tempos do Cólera
  • O Amor Pede Passagem
  • O Artista
  • O Caçador de Pipas
  • O Céu que nos Protege
  • O Círculo
  • O Circulo Vermelho
  • O Clã das Adagas Voadoras
  • O Concerto
  • O Contador
  • O Contador de Histórias
  • O Corte
  • O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante
  • O Curioso Caso de Benjamin Button
  • O Destino Bate a Sua Porta
  • O Dia em que A Terra Parou
  • O Diabo de Cada Dia
  • O Dilema das Redes
  • O Dossiê de Odessa
  • O Escritor Fantasma
  • O Fabuloso Destino de Amelie Poulan
  • O Feitiço da Lua
  • O Fim da Escuridão
  • O Fugitivo
  • O Gangster
  • O Gladiador
  • O Grande Golpe
  • O Guerreiro Genghis Khan
  • O Homem de Lugar Nenhum
  • O Iluminado
  • O Ilusionista
  • O Impossível
  • O Irlandês
  • O Jardineiro Fiel
  • O Leitor
  • O Livro de Eli
  • O Menino do Pijama Listrado
  • O Mestre da Vida
  • O Mínimo Para Viver
  • O Nome da Rosa
  • O Paciente Inglês
  • O Pagamento
  • O Pagamento Final
  • O Piano
  • O Poço
  • O Poder e a Lei
  • O Porteiro
  • O Preço da Coragem
  • O Protetor
  • O Que é Isso, Companheiro?
  • O Solista
  • O Som do Coração (August Rush)
  • O Tempo e Horas
  • O Troco
  • O Último Vôo
  • O Visitante
  • Old Guard
  • Olhos de Serpente
  • Onde a Terra Acaba
  • Onde os Fracos Não Têm Vez
  • Operação Fronteira
  • Operação Valquíria
  • Os Agentes do Destino
  • Os Esquecidos
  • Os Falsários
  • Os homens que não amavam as mulheres
  • Os Outros
  • Os Românticos
  • Os Tres Dias do Condor
  • Ovos de Ouro
  • P.S. Eu te Amo
  • Pão Preto
  • Parejas
  • Partoral Americana
  • Password, uma mirada en la oscuridad
  • Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
  • Perdita Durango
  • Platoon
  • Poetas da Liberdade
  • Polar
  • Por Quem os Sinos Dobram
  • Por Um Sentido na Vida
  • Quantum of Solace
  • Queime depois de Ler
  • Quero Ficar com Polly
  • Razão e Sensibilidade
  • Rebeldia Indomável
  • Rock Star
  • Ronin
  • Salvador Puig Antich
  • Saneamento Básico
  • Sangue Negro
  • Scoop O Grande Furo
  • Sem Destino
  • Sem Medo de Morrer
  • Sem Reservas
  • Sem Saída
  • Separados pelo Casamento
  • Sete Vidas
  • Sexo, Mentiras e Vídeo Tapes
  • Silence
  • Slumdog Millionaire
  • Sobre Meninos e Lobos
  • Solas
  • Sombras de Goya
  • Spread
  • Sultões do Sul
  • Super 8
  • Tacones Lejanos
  • Taxi Driver
  • Terapia do Amor
  • Terra em Transe
  • Território Restrito
  • The Bourne Supremacy
  • The Bourne Ultimatum
  • The Post
  • Tinha que Ser Você
  • Todo Poderoso
  • Toi Moi Les Autres
  • Tomates Verdes Fritos
  • Tootsie
  • Torrente, o Braço Errado da Lei
  • Trama Internacional
  • Tudo Sobre Minha Mãe
  • Últimas Ordens
  • Um Bom Ano
  • Um Homem de Sorte
  • Um Lugar Chamado Brick Lane
  • Um Segredo Entre Nós
  • Uma Vida Iluminada
  • Valente
  • Vanila Sky
  • Veludo Azul
  • Vestida para Matar
  • Viagem do Coração
  • Vicky Cristina Barcelona
  • Vida Bandida
  • Voando para Casa
  • Volver
  • Wachtman
  • Zabriskie Point