A conta gotas
Tem nenhum mistério os propósitos dos defensores do capitalismo financeiro em sua fase de agonia “globalitária” (Santos) em seus limites de expansão nesse nosso velho e pós-moderno mundo. Em seus ataques de ansiedade diante da indiferença diante da realidade que bate forte na questão ética, para muitos, e da clara apatia de certos intelectuais que se autodenominavam marxistas, me lembro de um velho amigo que repetia: "entre os capitalistas não existem contradições, mas, sim, contrariedades". Em outras palavras, querem que o mar pegue fogo para assar o leitão (o lucro, o capital especulativo etc) na própria banha, desconsiderando o Outro (meio ambiente e seres vivos).
Os episódios recentes demonstram apenas o “processo a conta gotas" em que a crise vem sendo postergada, administrada pelos gerentes do capital. Está bastante óbvio que nenhum arauto do sistema sabe exatamente aonde isso tudo vai dar; inclusive porque os paradigmas históricos, sócio-econômicos, e o próprio "ecologismo", continuam a procurar “associar à ofensiva destruidora contra os povos, esses mesmos povos e suas organizações”. A propalada "gestão da crise", a questão dos preços do petróleo e o desenvolvimento dos biocombustíveis, a questão da “escassez” (e da qualidade) da água, o “ouro azul” do século XXI, um direito humano e bem universal; esse “ouro azul” que ficou apenas definido como “necessidade humana” pelo V Fórum Mundial da Água, recém realizado em Instambul, sob a pressão exercida pelo poderoso lobby privado do setor hídrico, que desconsiderou, mesmo em meio a presente crise econômica, que o peso de tal decisão atrasará em uma década o acesso à água potável para cerca de um bilhão de seres humanos, que ainda vivem sem ela, embora, seja de fato um bem essencial à vida na Terra.
A exportação da água virtual através do comércio de grãos e frutas para a China, União Européia e EUA, revela que onde a fome tem presença marcante também falta o uso adequado desse bem ambiental, e que o capital transformou através da criação dos mercados da água em um bem econômico (recurso hídrico). Tem um sentido fundamental toda a manobra dos governos do G7 frente a situação atual da economia mundial, em um quadro de crise gerada pela grande bolha originada de “capitais podres” e derivativos americanos, quando tangencia o problema da relação entre o tsunami da crise financeira e a questão climática global, que na verdade é propriamente ecossistêmica, partes que estão intrinsecamente relacionadas ao todo que não é somente uma expressão ou soma das partes e que não devem ser tratadas isoladamente, separadas, em qualquer tempo, pois, há um (des)equilíbrio vital por existir um inter-retro-relacionamento entre elas.
É de se questionar qualquer defesa desse quadro atual do capitalismo, financeiro, transnacional, que se sustenta em fundamentos indefensáveis ou "renovados" sobre um arcabouço teórico por demais testado e pouco criativo, que não engana mais ninguém (ou não?) em suas "repetições" e crises de identidade que se reinventa, mas que tampouco dura muito tempo em mostrar seu lado desumano, cruel, a cada desmatamento, cada crime ambiental, exploração do próprio homem em suas várias formas de relação inescrupulosas ainda em pleno século XXI, e a sua direção nos revela: destruição da natureza e consequentemente do ser humano. Fato é, que estamos frente a um momento de sérias mudanças (necessárias), não só de paradigmas relacionados ao que chamamos reducionismo econômico, seu cúmulo financeiro, mas, sobretudo, quanto à "teia da vida que não só humana", senão, da preservação da vida em um sentido holístico, da percepção do "desenraizamento” da emoção humana, do “ser da terra e da água”, do ecossistema onde se insere o próprio ser.
Estamos no limiar de uma significativa ruptura de paradigmas e valores, independente do que alguns iluminados achem ou professem em suas "crenças" e referências ideológicas.
O capitalismo já deu provas que tem limitações sérias, inexoravelmente para o caos na forma de barbárie, e nos condiciona (a maioria da humanidade) a "sobreviver" como animais; seguindo as premissas darwinianas para "justificar a existência da concorrência e fazer da economia de mercado uma lei natural". Lembrando Engels: "Darwin não sabia que amarga sátira da humanidade, e especialmente de seus concidadãos, ele escrevia quando demonstrava que a livre concorrência, a luta pela vida, celebrada pelos economistas como a mais alta conquista da história, era o estado normal do reino animal".
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