Grécia, a receita infalível para destruir um país
por Marco Aurélio Weissheimer
A
Grécia deveria prestar atenção no que está acontecendo em Portugal, onde o
governo decidiu cumprir tudo o que a troika (Fundo Monetário Internacional,
Banco Central Europeu e Comissão Europeia) exigiu e a situação econômica do
país só está piorando. A advertência foi feita por Landon Thomas, colunista
econômico do jornal The New
York Times, em um artigo intitulado Portugal’s Debt Efforts May Be Warning for Greece.
Portugal, diz Thomas, vem fazendo tudo o que a troika exigiu em troca dos 78
bilhões de euros de “resgate” liberados em maio de 2011. No entanto, o resgate
está fazendo a economia do país afundar cada vez mais no buraco. Neste momento,
a Grécia está sendo pressionada a seguir o mesmo caminho para garantir um
“resgate” de 130 bilhões de euros.
Em
Portugal, o portal Esquerda.net destacou a advertência de Landon
Thomas que vem apoiada em um dado eloquente: quando Portugal fechou o acordo
para receber o “resgate” de 78 bilhões, a relação dívida/PIB do país era de
107%. Agora, a expectativa é que ela suba para 118% até 2013. Na opinião do
colunista do New York Times, isso não se deve ao fato de que a dívida de
Portugal está crescendo, mas sim ao encolhimento da economia do país. “Sem
crescimento, a redução da dívida torna-se quase impossível”, resume. Os números
mais recentes ilustram bem essa tese. O PIB português caiu 1,5% em 2011, sendo
que, no último trimestre do ano passado, a queda foi de 2,7%. A taxa de
desemprego no país chegou a 13,6% e o governo admite que esses números não
devem melhorar em 2012.
Grécia
“ainda não reuniu todas as condições”
A resistência da Grécia em aceitar os termos exigidos pelo FMI e pela União Europeia está fazendo aumentar o tom das ameaças dirigidas contra o país. Os ministros de Finanças da zona do euro cancelaram uma reunião marcada para terça-feira (14) para discutir a situação grega alegando que o país “ainda não reuniu todas as condições” para conseguir um novo empréstimo. As autoridades monetárias europeias querem que o governo grego especifique em que áreas serão executados cortes para atingir a meta de 325 milhões anuais exigida pelo bloco europeu. O problema é onde cortar na penúria? A cobertura jornalística sobre a crise na Grécia e em outros países europeus é abundante em números, mas escassa em relatos sobre os dramas sociais cada vez maiores.
A resistência da Grécia em aceitar os termos exigidos pelo FMI e pela União Europeia está fazendo aumentar o tom das ameaças dirigidas contra o país. Os ministros de Finanças da zona do euro cancelaram uma reunião marcada para terça-feira (14) para discutir a situação grega alegando que o país “ainda não reuniu todas as condições” para conseguir um novo empréstimo. As autoridades monetárias europeias querem que o governo grego especifique em que áreas serão executados cortes para atingir a meta de 325 milhões anuais exigida pelo bloco europeu. O problema é onde cortar na penúria? A cobertura jornalística sobre a crise na Grécia e em outros países europeus é abundante em números, mas escassa em relatos sobre os dramas sociais cada vez maiores.
Uma
exceção nessa cobertura é uma matéria da BBC que
fala sobre como a crise financeira grega causou tamanho desespero em algumas
famílias que elas estão abrindo mão dos próprios filhos. Há casos de abandono
de crianças em centros de juventude e instituições de caridade em Atenas. “No
último ano, relatou à BBC o padre Antonios, um jovem sacerdote ortodoxo grego,
“recebemos centenas de casos de pais que querem deixar seus filhos conosco por
nos conhecerem e confiarem em
nós. Eles dizem que não têm dinheiro, abrigo ou comida para
suas crianças e esperam que nós possamos prover-lhes isso”. Até há bem pouco
tempo, a Aldeias Infantis SOS da Grécia costumava cuidar de crianças afastadas
de seus país por problemas com álcool e drogas. Agora, o problema principal é a
pobreza (ver vídeo acima).
Crescem
casos de abandono e desnutrição infantil
Segundo os responsáveis pelas Aldeias SOS está crescendo o caso também de crianças abandonadas nas ruas. De acordo com as estatísticas oficiais, 20% da população grega está vivendo na pobreza e cerca de 860 mil famílias estão vivendo abaixo da linha da pobreza. No final de janeiro, o governo grego anunciou que iria começar a distribuir vales-refeição para as crianças após quatro casos de desmaios em escolas por desnutrição. A medida, segundo o governo, seria aplicada principalmente nos bairros mais afetados pela crise econômica e pelo desemprego. Em um segundo momento, também receberiam os vales as famílias em situação econômica mais grave. “Há casos de alunos de famílias pobres que passam o dia todo na escola sem comer nada”, denunciou, em dezembro de 2011, Themis Kotsifakis, secretário geral da Federação de Professores de Ensino Médio.
Segundo os responsáveis pelas Aldeias SOS está crescendo o caso também de crianças abandonadas nas ruas. De acordo com as estatísticas oficiais, 20% da população grega está vivendo na pobreza e cerca de 860 mil famílias estão vivendo abaixo da linha da pobreza. No final de janeiro, o governo grego anunciou que iria começar a distribuir vales-refeição para as crianças após quatro casos de desmaios em escolas por desnutrição. A medida, segundo o governo, seria aplicada principalmente nos bairros mais afetados pela crise econômica e pelo desemprego. Em um segundo momento, também receberiam os vales as famílias em situação econômica mais grave. “Há casos de alunos de famílias pobres que passam o dia todo na escola sem comer nada”, denunciou, em dezembro de 2011, Themis Kotsifakis, secretário geral da Federação de Professores de Ensino Médio.
Apesar
desses relatos, para as autoridades do FMI, do Banco Central Europeu e da
Comissão Europeia, a Grécia ainda não reuniu todas as condições para receber
uma nova ajuda. A perversidade embutida neste discurso anda de mãos dadas com o
cinismo. No dia 24 de janeiro deste ano, Sonia Mitralia, membro do Comitê Grego
contra a Dívida e do Comitê para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo
(CADTM), denunciou, diante da Comissão Social da Assembleia Parlamentar do
Conselho da Europa, em Estrasburgo, a crise
humanitária sem precedentes que está sendo vivida na Grécia. Segundo ela,
as medidas de austeridade propostas pela troika representam um perigo para a
democracia e para os direitos sociais.
“Dizimaram
toda uma sociedade europeia para nada”
Mitralia lembrou que as próprias autoridades financeiras admitem que, se suas políticas de austeridade fossem 100% eficazes, o que não é o caso, a dívida pública grega seria reduzida para 120% do PIB nacional, em 2020, ou seja, a mesma percentagem de 2009 quando iniciou o processo de agravamento da crise. “Em resumo, o que nos dizem agora cinicamente, é que dizimaram toda uma sociedade europeia...absolutamente para nada!”. Estamos vendo agora, acrescentou, “o sétimo memorando de austeridade e destruição de serviços públicos, depois dos seis primeiros terem provado sua total ineficácia. Assiste-se a mesma cena em Portugal, na Irlanda, na Itália, na Espanha e um pouco por toda a Europa, disse ainda Mitralia: afundamento da economia e das populações numa recessão e num marasmo sempre mais profundos.
Mitralia lembrou que as próprias autoridades financeiras admitem que, se suas políticas de austeridade fossem 100% eficazes, o que não é o caso, a dívida pública grega seria reduzida para 120% do PIB nacional, em 2020, ou seja, a mesma percentagem de 2009 quando iniciou o processo de agravamento da crise. “Em resumo, o que nos dizem agora cinicamente, é que dizimaram toda uma sociedade europeia...absolutamente para nada!”. Estamos vendo agora, acrescentou, “o sétimo memorando de austeridade e destruição de serviços públicos, depois dos seis primeiros terem provado sua total ineficácia. Assiste-se a mesma cena em Portugal, na Irlanda, na Itália, na Espanha e um pouco por toda a Europa, disse ainda Mitralia: afundamento da economia e das populações numa recessão e num marasmo sempre mais profundos.
Além do abandono de crianças e da desnutrição
infantil, Mitralia aponta outros deveres de casa que estão sendo cobrados da
Grécia e cuja execução é considerada insuficiente: o desemprego é de 20% da
população e de 45% entre os jovens; as camas dos hospitais foram reduzidas em
40%; já não há nos hospitais públicos curativos ou medicamentos básicos, como
aspirinas; em janeiro de 2012, o Estado grego não foi capaz de fornecer aos
alunos os livros do ano escolar começado em setembro passado; milhares de
cidadãos gregos deficientes, inválidos ou que sofrem de doenças raras tiveram
seus subsídios e medicamentos cortados. Mas, para o FMI e a União Europeia, a
Grécia ainda não está fazendo o suficiente...
Fotos: Um homem come uma refeição distribuída
aos pobres , Thessalonique, setembro de 2011. (Presseurop)
Fonte: Carta
Maior | Internacional, 15/02/2012
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