O fim do crescimento econômico e a década perdida 2.0, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Publicado em novembro 28, 2014 por Redação
“A maior riqueza
do homem
é sua incompletude”
Manoel de Barros
[EcoDebate] Quando Dilma Rousseff assumiu seu primeiro mandato, em 01/01/2011, como a primeira mulher presidenta do Brasil, havia um sentimento muito positivo, já que a economia tinha crescido 7,5% no ano em 2010 e o país estava reduzindo a pobreza, o desemprego e a desigualdade. O ministério da Fazenda, comandado pelo ministro Guido Mantega, falava do Brasil como 4ª potência mundial (também a revista britânica The Economist) e projetava um crescimento do PIB entre 5 e 6% durante o mandato de 2011 a 2014, impulsionado pelo PAC2. Mas a realidade foi bem diferente e os indicadores econômicos foram péssimos e os indicadores sociais não foram bons no período 2011-14.
O Brasil sofreu com a década perdida 1.0 – que aconteceu de 1981 a 1990 – quando pela primeira vez na história republicana a renda per capita brasileira caiu no espaço de uma década. Entre 1991 e 2010 houve crescimento econômico e avanços nos direitos de cidadania. Mas o Brasil continua um país de renda média, com alta desigualdade social e com sérias carências em termos de bem-estar. As manifestações de junho de 2013 questionaram o rumo do desenvolvimento brasileiro e o grau de representatividade da democracia do país, pedindo novos rumos.
Nos primeiros 80 anos do século XX (de 1901 a 1980) a taxa média geométrica de crescimento do PIB real foi de 5,7% ao ano. O recorde aconteceu nos “30 anos gloriosos” depois da Segunda Guerra Mundial. O crescimento do PIB real foi, na média anual, de 7,4% na década de 1951-60, de 6,2% na década de 1961-70 e de 8,6% na década de 1971-80. Mas nos anos 80, o PIB cresceu apenas 1,57%, o que gerou decréscimo da renda per capita, pois a população estava crescendo em torno de 2% aa. Nas duas décadas seguintes houve uma pequena recuperação do crescimento do PIB, com 2,5% entre 1991-2000 e de 3,6% entre 2001-10. O período do boom das commodities ajudou ao crescimento.
Todavia, os primeiros quatro anos da atual década (2011-2020) apresentaram um crescimento econômico em torno de 1,6% ao ano e um crescimento da renda per capita em torno de 0,7% ao ano, sendo que em 2014 (com um crescimento do PIB esperado de 0,3%) deve haver decréscimo da renda per capita, embora o governo tenha apresentado déficit primário e tenha tomado várias medidas de política macroeconômica, de estilo keynesiana, pró-crescimento.
Depois da eleição presidencial, Dilma Rousseff tem a obrigação de fazer um segundo mandato melhor do que o primeiro. Isto foi prometido durante a campanha eleitoral. Aparentemente, não é uma tarefa difícil, pois o primeiro mandato não apresentou bons indicadores, já que teve baixo crescimento do PIB, baixa geração de emprego, baixa redução da pobreza e da desigualdade, inflação bem acima do centro da meta, aumento do desmatamento da Amazônia nos dois últimos anos, continuidade de perda de biodiversidade, etc.
Um segundo mandato pior do que o primeiro pode levantar a questão do “estelionato eleitoral” e um acirramento das divisões políticas do Brasil, divisões estas que foram muito polarizadas durante a campanha eleitoral. O marketing de um “Brasil dos sonhos” apresentado durante o horário eleitoral precisa ter uma base de realidade para não gerar desilusões. Porém, tão logo foram confirmados os resultados das urnas, as notícias ruins apareceram e diversos analistas dizem que não vai haver crescimento econômico em 2015 e 2016. Isto vai puxar a média ainda mais para baixo, aumentando a probabilidade de termos a segunda década perdida da história da República brasileira, podendo ser denominada de “década perdida 2.0”.
Mesmo estando com taxas de desemprego aberto relativamente baixas (as taxas do DIEESE são mais elevadas do que as da PME), o Brasil não tem apresentado crescimento da PEA e nem da produtividade, mesmo o país estando com taxas de inflação em alta, grande déficit fiscal, grande déficit em transações correntes e com suas principais empresas totalmente endividadas e envolvidas em escândalos de corrupção, o que deve diminuir as taxas de investimento, que na média nacional já estão muito baixas.
Os indicadores sociais e ambientais estão piorando, com aumento da pobreza extrema, aumento da desigualdade e aumento do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa. As cidades estão paralisadas pela imobilidade urbana enquanto crescem as taxas de assaltos e de mortes violentas.
Todos os políticos e a maioria dos economistas clamam pela volta do crescimento econômico, como solução dos males do Brasil. Mas a economia internacional está caminhando para a “estagnação secular” e o Brasil está no rumo de uma segunda década de redução da renda per capita. Há sérias dúvidas se uma equipe econômica pró-mercado (mesmo sendo uma contradição com o prometido na campanha eleitoral petista) possa reverter a situação de baixo desempenho econômico.
O certo é que os próximos anos não serão fáceis nem para a sociedade brasileira e nem para os ecossistemas do país.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
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