WIKILEAKS E A GUERRA DA INFORMAÇÃO
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A sociedade e a imprensa deitam-se novamente no divã para discutir os dilemas modernos. A pauta da vez é o WikiLeaks, que abalou o centro do poder. Afinal, o WikiLeaks presta um grande serviço à sociedade ou é uma ameaça à diplomacia? Até que ponto pode ir a sede de liberdade das pessoas? Se George Orwell temia que os cidadãos fossem vigiados diuturnamente por um estado totalitário, não poderia supor que a vigília se concretizasse dessa forma, onde todos vigiam todos. Os vazamentos não serão mais contidos, porque as comportas foram abertas e o modelo do WikiLeaks veio para ficar. De nada vai adiantar prender Julian Assange por assédio, estupro ou o que for. Matá-lo tampouco fará diferença — o que faz de Assange o John Connor da guerra da informação.
Para muitos, o WikiLeaks só divulgou fofoca política, mas o fato é que essas fofocas desestabilizaram muita gente poderosa. Para efeito de comparação, sugiro que olhemos um pouco mais de perto para o jornalismo político que é feito em Brasília. Lá, jornalistas divulgam diariamente fofocas políticas, gerando os mesmos constrangimentos em políticos graúdos, estremecendo relações no congresso e tirando o véu das negociatas do governo com sua base aliada. Imagino que todos concordem que esse é um trabalho que deve ser feito (ou alguém aí é contra?). Se com a caixa de pandora aberta desse jeito, a impunidade ainda impera no Brasil, imagine se Brasília se tornar uma caixa preta… Pois o WikiLeaks segue a mesma lógica do jornalismo político, só que envolve negociações entre governos, desmascarando e desnudando chefes de estado, embaixadores e ministros. Ora, quer dizer que não há problema divulgar um escândalo de corrupção que pode derrubar um governo no Brasil, mas se os EUA querem espionar a ONU, ninguém pode saber? Esse raciocínio não faz sentido. Se a sociedade cobra há tanto tempo mais transparência na política, nas relações entre países e no sistema capitalista, por que agora se volta contra seus próprios anseios?
Muitos questionam os métodos do WikiLeaks. Convém lembrar que as informações não são roubadas. Eles possuem fontes, assim como qualquer jornal e existe uma equipe de editores a qual está confiada a tarefa de checar a veracidade dos documentos antes de divulgá-los. Soou familiar? Parece bastante com o jornalismo tradicional, não? E essas fontes são super protegidas, por possuírem segredos explosivos na mão. O WikiLeaks nada mais é do que um jornalismo investigativo anabolizado. Cabe ao próprio WikiLeaks a responsabilidade de checar os fatos para que mentiras não sejam divulgadas (assim como qualquer jornal tem essa responsabilidade).
Espero não estar errado, mas, por enquanto, o WikiLeaks me parece uma ferramenta excepcional de controle e fiscalização ao poder. Se ninguém está imune a nada, isso só pode ser um avanço. E se políticos são como fraldas (de tempos em tempos, precisam ser trocadas, sempre pela mesma razão), fica o aviso: não façam caca, senão o WikiLeaks vaza tudo.
Fonte: Estadão | Blogs (Editor Recomenda), 12/12/2010
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