A embriaguez da ciência econômica
por Paul Krugman
Quando leio artigos tratando de Novas Ideias para a Economia, costumo sentir um certo déjà vu: já não passamos por tudo isso antes? Justin Fox se encarrega do trabalho braçal da pesquisa e descobre um artigo de 1988 a respeito de Novas Ideias que, com pequenos ajustes, poderiam muito bem ter sido propostas nos dias de hoje.
Neste caso, entretanto, o problema não está nas novas ideias de 1988, ainda vendidas como novidade no ano de 2010: em particular, Shiller tinha razão quanto à irracionalidade do mercado naquela época, e sua conclusão continua válida até hoje – exemplificada pelas duas bolhas cuja formação ele soube apontar corretamente.
Mas a pergunta que deveríamos fazer é: Por que os economistas profissionais têm resistido tanto em aceitar o óbvio?
Eu me lembro de 1988; 1988 foi um grande amigo meu. Quando 1988 chegou, o fracasso da teoria do equilíbrio no ciclo econômico já tinha se tornado óbvio. Shiller já tinha demonstrado contundentemente que o preço dos ativos era volátil demais para ser explicado pelos fundamentos da economia, e a quebra do mercado em 1987 consistiu numa lição objetiva sobre o tema do pânico. Vale lembrar que a bagunça dos empréstimos e poupanças ilustrava os problemas de uma regulação financeira inadequada.
E nada ocorreu. A teoria do ciclo econômico real continuou a prosperar, fortalecendo seu controle sobre as publicações do setor. As finanças comportamentais permaneceram na margem. Os discípulos do equilíbrio não aprenderam nada nem esqueceram coisa nenhuma; e quando chegamos a 2008, os devastadores efeitos do tempo reduziram muito, em relação a 20 anos atrás, o número daqueles que de fato compreendiam os choques de demanda.
Resumindo: nosso problema não está na falta de novas ideias engenhosas, e sim na recusa de um grande número de economistas em reconhecer o fato de que algumas de suas teorias favoritas simplesmente não funcionam – fato que se tornou óbvio há décadas.
Fonte: Estadão, 3/12/2010
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