DEFININDO O DESEMPREGO ESTRUTURAL
por Paul Krugman
O jargão pode servir aos seus propósitos, tanto na ciência econômica quanto em muitas outras áreas do conhecimento. Traduzir tudo para uma linguagem simples o tempo todo é muito trabalhoso, exige muito tempo e consome muito espaço.
Mas, dito isso, às vezes o jargão e os termos técnicos atrapalham a compreensão, especialmente quando o termo em questão soa como algo diferente daquilo que realmente significa. E este é claramente o caso da expressão “desemprego estrutural”.
Eis o que querem dizer os economistas quando se referem ao “aumento no desemprego estrutural”: Um aumento no desemprego mínimo que pode ser verificado antes de começarem a surgir problemas inflacionários.
Existe uma história explicando o motivo pelo qual isso pode ocorrer – talvez porque os trabalhadores desempregados não tenham as habilidades das quais o mercado necessita, ou porque estejam no lugar errado, ou porque consigam viver tão bem com os benefícios do sistema de bem-estar a ponto de não desejarem trabalhar, ou qualquer outra razão. Mas a medida do desemprego estrutural está na piora da relação entre inflação e desemprego.
Assim, a demonstração de que a Grã-Bretanha sofreu um grande aumento no desemprego estrutural a partir do fim dos anos 70 e durante a década de 80, por exemplo, foi a maneira como a inflação disparou no fim dos anos 80, mesmo com uma taxa de desemprego consideravelmente alta para os padrões históricos.
Depois que percebemos qual é o xis da questão, vemos que muito daquilo que as pessoas consideram indícios de um aumento no desemprego estrutural não influencia, na verdade, este aspecto da economia. Dizem que tivemos uma grande bolha no passado; está bem, mas isso não explica por que tentativas de reduzir o desemprego atual trariam consigo a inflação.
Dizem que temos vivido de acordo com um padrão que excede nossos recursos; está bem, mas não vejo por que isso limitaria o número de pessoas que podemos empregar na produção de alguma coisa para algum consumidor.
Assim, onde estão os indícios de um aumento estrutural no desemprego entre os americanos? O aumento dos salários está desacelerando; o núcleo da inflação está recuando; claramente, não estamos nos deparando com uma barreira inflacionária. Talvez esta barreira esteja mais próxima do que aparenta estar – mas, quando procuramos por indícios de escassez de habilidades, por regiões onde o número de trabalhadores seja insuficiente e coisas do tipo, não encontramos nada que aponte nesta direção.
Ao que me parece, os únicos economistas que acreditam que estejamos sofrendo principalmente os efeitos de um aumento no desemprego estrutural são aqueles ideologicamente comprometidos com a visão de que a demanda não importa na economia – e assim, no universo deles, todo aumento de grandes proporções no desemprego deve ser estrutural por definição.
Mas é preciso perguntar: por que pessoas como estas têm voz dentro do governo Obama?
Fonte: Estadão | Blogs, 30/11/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário