sexta-feira, abril 29, 2011

encante-se com a vida, sua criança interior agradece

DEIXE DE SER INFANTIL E VOLTE LOGO A SER CRIANÇA
por Américo Canhoto
.
Cuidado: Envelhecer não significa necessariamente tornar-se uma pessoa mais madura. Alguns seres humanos se assemelham a determinadas frutas: apodrecem sem amadurecer.
.
Observe como a maior parte dos adultos tem atitudes infantis, pouco maduras, egoístas e sem muita responsabilidade. Preste atenção que os verá fazendo birra. Vigie, que você vai se surpreender agindo como criança birrenta quando as coisas não correm conforme desejava.
.
Qual seria o motivo ou os motivos que nos impedem de amadurecer psicologicamente? (amadurecer não é envelhecer uma coisa é diferente da outra).
.
Antes é preciso entender o que seja a tal da maturidade?
.
Será que um dia estaremos totalmente maduros?
.
O jeito mais fácil de entender a maturidade é enxergá-la como um caminho a ser percorrido e não uma meta. Provavelmente nunca estaremos totalmente maduros.
.
Quando temos certeza de que não somos nem menos do que imaginávamos nem mais do que pensávamos ser. Quando percebemos com clareza que não somos nem melhores nem piores do que os outros. Que somos apenas nós mesmos, desse ponto em diante começamos a amadurecer.
.
Como não se transformar num adulto em que predominam as atitudes infantis?
.
O primeiro passo, é não acreditar totalmente nas crenças da maioria; vão tentar nos passar o conceito: para atingir maturidade é preciso ralar na vida, apanhar bastante, errar muito para aprender e coisa e tal.
.
Não é totalmente mentira nem absolutamente verdade; com essa fala; não percebemos; mas quando repetimos esses conceitos estamos apenas justificando a falta de qualidade nas nossas escolhas.
.
Parece algo difícil de ser atingido a tal da maturidade; mas não é – e até assusta de tão fácil.
.
Um dos primeiros passos, é ficar “ligado”; vigiar muito, para assumir todas as conseqüências das escolhas que fizermos e das atitudes que tomarmos. Isso, chama-se responsabilidade.
.
Não há desenvolvimento da maturidade sem o paralelo desenvolvimento do senso de responsabilidade.
.
Primeiro sobre nós mesmos: organismo, vida e existência. E depois sobre o corpo, a qualidade de vida do próximo e a sanidade do meio ambiente.
.
Não assumir, desculpar-se, culpar os outros, jogar nas costas do destino, da sorte, do azar; eis aí o maior foco da doença chamada criancice malcriada; pois nessa condição abusamos da mentira, justificativas e da falta de honestidade para com nós mesmos.
.
“Entra por um ouvido e sai pelo outro…”
.
Uma das mais belas e necessárias qualidades infantis é a audição seletiva. As palavras e a informação entram por um ouvido e saem pelo outro; registra-se apenas o que interessa.
.
Na vida contemporânea é tanta informação, tanto diz que diz, tantas verdades e conceitos a serem adotados; que a cada dia que passa é necessário que cada um resgate a criança íntima que mora dentro de nós. Nosso lado criança, que só ouve o que realmente interessa; passa a assumir um papel dos mais importantes na atualidade.
.
Até pouco tempo corríamos feito desesperados atrás da informação, hoje ela nos atropela.
.
Não deixe de assumir a responsabilidade pelas conseqüências de suas escolhas e atos.
.
Mas: Ria mais, divirta-se mais, brinque mais, encante-se com a vida – sua criança interior agradece.
.
Namastê.
.
(*) Américo Canhoto é Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Usa a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 28/04/2011
Fonte: EcoDebate, 29/04/2011

quinta-feira, abril 28, 2011

toda essa energia sendo exportada e os impactos ambientais vão ficar com ribeirinhos e índios

‘Belo Monte vai exportar empregos e ficaremos com os impactos’

Biólogo diz que, apesar de ser vendida como solução contra o apagão, usina será fonte de energia para indústrias que exportam produtos primários, como alumínio
O biólogo americano Philip Fearnside acompanha os planos do governo para explorar o potencial hidrelétrico da Amazônia desde os anos 70, quando morou em Altamira, no Pará. Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), órgão federal, Fearnside afirma que a Usina de Belo Monte, vendida como solução para evitar o apagão no País, terá boa parte de sua energia usada pela indústria de eletrointensivos, em especial a de alumínio. Para ele, o Brasil vai exportar produtos primários, criando empregos no exterior. “E os impactos vão ficar aqui, com os ribeirinhos e os índios.” Entrevista realizada por Karina Ninni, em O Estado de S.Paulo.
O projeto de Belo Monte mudou muito nesses 30 anos?
Mudou e não mudou. Lembro de, em 1976, ter entrado no escritório do Incra e ter conseguido o mapa com as hidrelétricas que iam inundar uma parte da área da colonização idealizada pelo Estado e terras indígenas. Na época ninguém podia fazer nada porque era uma ditadura. Hoje, temos o sistema do EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental), mas a tomada de decisões não mudou, continua no mesmo círculo, e todo o resto parece que vira formalidade. Para tomar uma decisão dessas, você tem de olhar todos os impactos, não só os do EIA-Rima.
E o que há de importante que não está no EIA-Rima?
O que chama atenção é que 30% da energia (de Belo Monte) vai para a indústria de eletrointensivos, basicamente alumínio. Será a fonte de energia para novas unidades de grandes produtoras de alumínio no Pará e no Maranhão. Vai haver expansão das usinas de alumina e de alumínio primário. Belo Monte é apresentada como uma iniciativa contra o “apagão”. O brasileiro médio é levado a pensar que vai ficar sem ver TV se não forem feitas as hidrelétricas do Madeira, de Altamira, mas o País tem grande margem de flexibilidade. Tem toda essa energia sendo exportada, boa parte em forma de lingote de alumínio. Algo muito diferente de exportar um avião de alumínio feito pela Embraer, que gera empregos. O importante no valor do lingote não é o minério ou a mão de obra: é a energia. Exportamos energia elétrica e, com ela, empregos.
Os impactos se justificariam, então, se os objetivos da geração fossem “mais nobres”?
O Brasil não enfrentou ainda a questão mais crítica: o que fazer com essa energia. Mas está importando os impactos ambientais para gerá-la. Ninguém quer fazer hidrelétrica nos Estados Unidos, na Europa, para fazer alumínio. A solução é fazer isso na Amazônia e deixar os impactos aqui e os benefícios no Hemisfério Norte. Lá vão gerar empregos para transformar esse lingotes em produtos acabados e os impactos vão ficar com ribeirinhos e índios. No caso de Belo Monte, está se deixando quase seco um trecho de mais de 100 quilômetros do Rio Xingu com duas áreas indígenas e comunidades de ribeirinhos.
O que é “quase seco”?
No EIA-Rima, a “vazão ecológica” é o mínimo necessário para passar para essas comunidades. Uma dos condicionantes foi aumentar esse volume, o que foi feito. Belo Monte tem duas casas de força e duas barragens. Em Volta Grande do Xingu gera-se pouca energia, correspondente à vazão ecológica. O grosso da água vai ser desviado para o Reservatório dos Canais, onde está a casa de força principal, com 11 mil megawatts. Isso deixa na Volta Grande uma quantidade de água mínima. O impacto de uma hidrelétrica em geral é inundação, aqui é a falta de água.
E quanto seria inundado para a construção da usina?
A soma dos reservatórios dos Canais e da Calha (o da Volta Grande) estava calculada em 400 quilômetros quadrados de inundação. Subiu para 516 km² e depois saiu o edital com o número em torno de 615 km². O reservatório de Belo Monte é pequeno se comparado à energia gerada. Agora, cerca de 11 km acima da Volta Grande ficaria, pelos planos do governo, a barragem de Altamira. Ela é um lago de 6.140 km². Mais que duas vezes Balbina (usina inaugurada nos anos 80 que é considerada o maior desastre ambiental do País). Em 2008, o Conselho Nacional de Política Energética disse que só iria fazer Belo Monte, e não as outras hidrelétricas. Mas o conselho muda de um governo para outro.
Existe esse risco?
O projeto de só uma hidrelétrica é inviável. Durante quatro meses, na seca do Rio Xingu, não se conseguirá movimentar uma turbina sequer da grande casa de força. O governo e as empresas planejam com outros cenários. O plano inicial previa seis hidrelétricas no Xingu. Depois, diminuiu para quatro. Quando Marina Silva era ministra, tentou criar uma Reserva Extrativista na área que seria inundada pelas hidrelétricas, e isso foi vetado pela Dilma, na época na Casa Civil. A cúpula não tem intenção de ter só uma hidrelétrica.
Quanto de metano Belo Monte emitiria?
Belo Monte e o reservatório da barragem de Altamira juntos, para os primeiros dez anos, uma média de 11,2 milhões de toneladas de carbono equivalente ao ano. É mais do que a cidade de São Paulo emite em um ano.
Você contesta a geração de energia por hidrelétricas?
Não. Para cada uma você tem de avaliar os impactos e as alternativas a elas. E tem de saber para que vai servir essa energia.
(*) Philip Fearnside é Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, formado em Biologia pelo Colorado College, nos EUA, é mestre em Zoologia e doutor em Ciências Biológicas pela Universidade de Michigan. Está no Inpa desde 78.
Fonte: EcoDebate, 28/04/2011

infelizmente parece que a coisa está virando rotina

MAIS UMA ELEVAÇÃO DOS JUROS!

A continuidade da política de elevação da taxa de juros é um tiro no pé. Ela não resolve adequadamente a questão que se propõe solucionar (queda da demanda) e provoca dois efeitos perversos adicionais: eleva os gastos públicos com pagamento de juros e serviços da dívida, e perpetua o fluxo internacional de capital especulativo em busca de rentabilidade fácil.
.
Infelizmente parece que a coisa está virando rotina. Apesar de todas as expectativas a respeito de uma mudança de rota a ser promovida pela Presidenta Dilma na condução da política econômica, as decisões tomadas até agora só fizeram reforçar o conteúdo da ortodoxia e do monetarismo.
Desde a posse da nova ocupante do Palácio do Planalto, houve 3 reuniões do Comitê de Política Monetária (COPOM). Trata-se de um encontro dos próprios membros da diretoria do Banco Central (CBC), que ocorre com a periodicidade de cada 45 dias e dura 2 dias, em geral uma terça-feira e uma quarta-feira. Deixando-se de lado todo o jogo de cena e a pompa envolvendo o evento, o mais importante refere-se ao resultado da reunião: todos querem saber o que foi decidido a respeito da taxa oficial de juros do governo, a SELIC. Manter, reduzir ou elevar. Dias depois vem a público a ata da reunião, com toda a parafernália de interpretações a respeito das entrelinhas, das omissões, dos gerúndios, dos adjetivos e dos não ditos. Inicia-se a fase de apostas para a tendência possível para a próxima reunião.
Pois então, o fato é que em todas as oportunidades de 2011, a decisão dos membros do comitê foi de elevar a SELIC. Em meados de janeiro, no início de março e agora em 20 de maio a taxa de juros foi elevada em 0,5% e dessa vez “apenas” 0,25%. No total, um acumulado de 1,25% na taxa anual de juros que serve como base para a formação de todas as demais taxas no mercado financeiro.
Com isso, o BC está orientando as instituições que oferecem crédito e empréstimo a também elevarem as suas taxas para os indivíduos e as empresas que procurem os recursos em seus balcões. Com o agravante, porém, de que não há nenhuma iniciativa do governo em controlar ou reduzir os elevadíssimos “spreads” cobrados pelos bancos em tais operações. Nesse quesito, somos também campeões mundiais. Ou seja, além do Brasil oferecer a maior taxa de juros oficial do planeta, em nenhum outro lugar os bancos são autorizados pelo órgão responsável pelo controle e fiscalização a cobrar um diferencial tão elevado sobre os empréstimos, como ocorre em nosso País. Com essa liberdade, tais instituições se permitem optar por onde pretendem exercer sua altíssima lucratividade. Seja aplicando sem risco algum em títulos da dívida pública, com retorno recorde. Seja emprestando a quem quiser precisar recursos, com ganhos de mais de 40% nas operações. Seja administrando o dia-a-dia dos clientes cobrando tarifas igualmente escandalosas pelos serviços prestados. 
Os argumentos de natureza macroeconômica para justificar as decisões de elevar a taxe de juros são - para dizer o mínimo - polêmicos. A maior parte dos planos de ajuste econômico das últimas décadas, a exemplo do Plano Real de 1994, incorporou a idéia de controle da inflação a partir do chamado regime de metas de inflação. Com isso, a autoridade econômica estabelecia uma meta de crescimento geral de preços no país para um período futuro (em geral, um ano). E ao longo desse espaço de tempo, acontecem reuniões de um órgão para avaliar o conjunto dos fatores e a conjuntura econômica mais geral, com o objetivo de balizar a ferramenta considerada eficaz para evitar que a inflação verificada na prática “escape” da meta previamente fixada. E esse instrumento é a taxa oficial de juros, a nossa SELIC.
Ao elevar a taxa de juros, a intenção é que ocorra uma redução no nível do chamado “consumo agregado”. Isso porque a maior rentabilidade dos instrumentos de poupança atrairia os recursos para esse fim, reduzindo a pressão da demanda agregada. Obviamente, tudo isso partindo do pressuposto de que a elevação dos preços estaria associada exclusivamente a um problema de excesso de demanda face à escassez de oferta. Assim, em tese, ao elevar a taxa de juros o governo estaria controlando a inflação.
Porém, o fenômeno econômico é bem mais complexo do que pretendem nos fazer crer esses modelos simplificadores e o buraco, na verdade, está muito mais embaixo. Existem vários trabalhos de economistas e pesquisadores que utilizam os mesmos dados sobre inflação e taxa de juros para chegar a conclusões opostas às dos modelos que embasam as decisões do “establishment”. Há um conjunto de fatores, que apenas listo abaixo, sem perder espaço com argumentação. Percebe-se uma diferença enorme entre a eficácia da política monetária, de acordo com os países considerados e a institucionalidade econômica. Por exemplo, uma coisa é o FED norte-americano elevar a sua taxa oficial de juros de 0,25% para 0,50% ao ano. Trata-se de um aumento de 100%, a taxa dobrou. Outra bem diferente, é o COPOM aumentar a SELIC de 11,75% para 12%. As conseqüências sobre a demanda agregada são bem menores. Uma coisa é tentar controlar a inflação quando a pressão dos preços se dá em setores em que há concorrência e outra bem distinta é atuar em situações em que os preços crescem por condições chamadas “exógenas”, pois tem origem fora do País e não conseguimos interferir diretamente nelas.
No caso atual, é importante separar o joio do trigo. Os grandes órgãos de comunicação prepararam a terra durante vários dias que antecederam a reunião do COPOM, criando o falso clima catastrofista – como costumam fazer sempre, aliás. As manchetes dos jornais e de seus cadernos de economia giravam em torno de variações no mesmo tema: “inflação está fora de controle”, “mercado espera que COPOM eleve a taxa de juros”, “analistas econômicos reafirmam necessidade de elevação da SELIC”, “governo não tem outra opção para evitar volta da inflação”, “previsão de inflação supera a meta oficial”, e por aí vai. Uma verdadeira faca no pescoço nos responsáveis pela área econômica e no COPOM para que eleve a taxa SELIC.
Ocorre que não cabe à Presidenta Dilma ficar refém de um reduzido grupo, que defende exclusivamente seus próprios interesses e não se preocupa com as necessidades do conjunto do País e da maioria de sua população. Face a tais pressões oportunistas, caberia ao governo responder com os argumentos e fatos da realidade e não se deixar levar pelo clima irresponsável dessas propostas, com receio de não enfrentar as “forças de mercado”. Afinal, quem é mesmo essa tão temida entidade - o “mercado” - que tudo pode, que tem tantos desejos assim e a quem não se pode contrariar? Por que não ouvir também a opinião de economistas ligados ao movimento sindical (além do patronal), a opinião dos pesquisadores das universidades que têm avaliação diferente dos interesses do sistema financeiro? Afinal, até mesmo Delfim Netto vem declarando ultimamente que a economia não é uma ciência exata e sim uma ciência social! Ou seja, a constatação de que há mais de uma avaliação a respeito de uma conjuntura e também mais de uma solução para um mesmo problema.
Antes de mais nada, é importante reafirmar que não é líquido e certo que a inflação esteja fora de controle. O modelo adotado pelo BC contém um chamado “centro” da meta e um intervalo de dois pontos percentuais para cima ou para baixo como margem de erro. Ou seja, com o centro definido em 4,5%, uma inflação de até 6,5% para os próximos 12 meses está dentro do aceitável. E as previsões ainda não chegaram a tanto. Os fatos demonstram que boa parte das pressões para a alta de preços estão localizadas nos preços das chamadas “commodities”, bens comercializáveis internacionalmente e sobre os quais o Brasil tem pouca capacidade de interferência, como petróleo, minério de ferro, soja, trigo, milho, arroz, etc. Tanto é assim, que boa parte dos países desenvolvidos estão sofrendo os efeitos também dessa alta de preços em seus próprios mercados. Além disso, há sinais que apontam para uma desaceleração da atividade econômica em cursos, em função das 2 elevações que o COPOM já promoveu na SELIC no início do ano.
De outro lado, vale a pena reforçar o argumento de que a elevação da taxa SELIC tem efeito muito reduzido sobre a demanda interna, ao contrário do que pretende o atual modelo usado pelo BC. As camadas de renda mais elevada são as que mais se beneficiam da alta dos juros, pois conseguem aumentar seus rendimentos nas instituições financeiras. Com a alta dos juros e a disponibilidade de aplicações de curtíssimo prazo, elas ficam inclusive com maiores recursos disponíveis para... consumir! Ou seja, ocorre um resultado oposto ao esperado no modelo. A demanda desses setores pode até aumentar. Já as camadas de renda mais baixa apresentam comportamento oposto. As famílias dessas faixas de rendimento são caracterizadas pelo que o “economês” classifica como “baixa ou nula propensão a poupar”. Como têm renda reduzida e muita deficiência no atendimento das necessidades básicas de uma vida digna e cidadã, acabam gastando tudo o que ganham no consumo de bens e serviços básicos. Assim, esse tipo de demanda não é praticamente afetada pela elevação da SELIC. Os juros sobem, mas nem por isso as pessoas vão deixam de comprar. Esse comportamento ainda é reforçado por uma particularidade cultural de nosso povo, onde domina a lógica da “prestação que cabe no orçamento” ao invés da lógica racional de adiar o consumo para um momento de juros mais baixos.
Por tudo isso é que a continuidade da política de elevação da taxa de juros oficial é um verdadeiro tiro no pé. Não apenas por que ela deixa de resolver adequadamente a questão que se propõe solucionar (queda da demanda). O pior é que ela provoca dois efeitos perversos que fragilizam ainda mais o quadro da macroeconomia. De um lado, eleva os gastos públicos de forma extraordinária através aumento das despesas com uma atividade absolutamente improdutiva: pagamento de juros e serviços da dívida pública. Há projeções que falam de um total de 230 bilhões para esse item orçamentário até o final do ano. De outro lado, essa política perpetua o fluxo internacional do capital especulativo em busca da rentabilidade fácil e elevada. Com isso, mantém-se a armadilha do real valorizado em sua taxa de câmbio com as demais moedas do mundo. Nossas exportações perdem competitividade lá fora e nosso País fica exposto à competição injusta face aos produtos industrializados estrangeiros que para cá se dirigem.
A busca de soluções alternativas exige a coragem política de enfrentar os agentes do mercado financeiro. A elevação da taxa de juros pode ser substituída por outras medidas, a exemplo da elevação dos depósitos compulsórios dos bancos. A medida tem o mesmo efeito sobre a demanda e não eleva as despesas orçamentárias com juros. Já a questão da valorização cambial deve ser enfrentada de maneira urgente, para evitar os riscos do processo de desindustrialização já em marcha. Para tanto, o governo deve elevar de forma efetiva a taxação do capital especulativo do exterior e definir uma quarentena mínima de permanência após o ingresso no País.
(*) Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.
Fonte: Carta Maior | Debate Aberto, 20/04/2011

terça-feira, abril 26, 2011

conflitos ecológicos distributivos e os diversos discursos de valoração

Origens e alcance da economia ecológica*
por Juan Martínez Alier
A economia ecológica proporciona uma visão sistêmica das relações entre a economia e o meio ambiente. Portanto, o estudo dos conflitos ambientais não se reduz a uma coletânea de episódios interessantes, mas antes constitui uma parte do estudo do enfrentamento em evolução entre economia e meio ambiente. Observamos as economias do ponto de vista do “metabolismo social”. De acordo com o “perfil metabólico” dessas economias, assim serão seus conflitos ambientais.
            A economia – a economia de um “mundo cheio” de pessoas, para utilizar a expressão de Herman Daly – está incrustada nas instituições sociais e na percepção social dos fluxos físicos e dos impactos ambientais. A relação entre natureza e sociedade é histórica em dois sentidos. Primeiro, a história humana também modifica a natureza. Segundo, a percepção da relação entre os humanos e a natureza tem sido alterada ao longo do tempo. Exemplificando, as leis da termodinâmica não foram enunciadas ou estabelecidas até 1840-1850. A conexão entre a termodinâmica e a evolução não foi traçada até a década de 1880. A economia ecológica deve estar consciente desses aspectos históricos, mesmo tendo renunciado, fato com o qual concordo, ao entendimento da natureza como uma “construção social”.
            A economia ecológica é às vezes equivocadamente concebida como uma tentativa de impingir valores monetários aos recursos e serviços ambientais. Mas, isso seria apenas um fragmento de uma tarefa mais ampla, crucial para o problema principal levantado neste livro: as relações entre os conflitos ecológicos distributivos e os diversos discursos de valoração. Temos como exemplo de valoração em um contexto não-ambiental: as empresas e o governo alemães acordaram em 1999 compensar os sobreviventes do trabalho forçado no período nazista (após 55 anos), mediante o pagamento de 5,2 bilhões de dólares. Um evento pode ser julgado de acordo com diversos critérios ou escalas de valor. Podemos dizer: foi um ato desumano fazer uso de mão-de-obra escrava, e, além do mais, a compensação é demasiadamente barata. Entretanto, também é possível dizer que nenhuma compensação “real” é possível, mesmo que 5,2 bilhões de dólares configurem um razoável montante monetário (tendo de resto em conta que a maioria dos afetados já estão mortos). A compensação monetária não significa de forma alguma que as empresas ou os Estados possam utilizar mão-de-obra escrava desde que, quando são desmascarados, procedam ao pagamento de uma compensação. Finalmente, como conclusão, qualquer um poderia ponderar que o sacrifício humano observado durante o nazismo não pode ser avaliado em termos monetários.
            A economia ecológica é um campo de estudos transdisciplinar estabelecido em data recente, que observa a economia como um subsistema de um ecossistema físico global e finito. Os economistas ecológicos questionam a sustentabilidade da economia devido aos impactos ambientais e a suas demandas energéticas e materiais, e igualmente devido ao crescimento demográfico. As pretensões de atribuir valores monetários aos serviços e às perdas ambientais, e as iniciativas no sentido de corrigir a contabilidade macroeconômica, fazem parte da economia ecológica. Todavia, sua contribuição e eixo principal é, mais precisamente, o desenvolvimento de indicadores e referências físicas de (in)sustentabilidade, examinando a economia nos termos de um “metabolismo social”. Os economistas ecológicos também trabalham com a relação entre os direitos de propriedade e de gestão dos recursos naturais, modelando as interações entre economia e meio ambiente, utilizando ferramentas de gestão como avaliação ambiental integrada e avaliações multicriteriais para a tomada de decisões, propondo novos instrumentos de política ambiental.
            O livro resultante da primeira conferência mundial de economistas ecológicos em Washington D.C. em 1990 (Constanza, 1991) definiu o campo conceitual como “a ciência e gestão da sustentabilidade”. No final do século XIX e princípio do XX, o biólogo e planejador urbano Patrick Geddes, o revolucionário “narodnik” e médico Sergei Podolinsky e o engenheiro social Josef Popper-Lynkeus pretenderam sem êxito promover uma visão biofísica da economia como um subsistema incorporado a um sistema mais amplo sujeito às leis da termodinâmica (Martínez Alier e Schlüpmann, 1987). Por volta de 1850 ou 1880, o ciclo de carbono e os ciclos de nutrientes das plantas tinham sido descobertos, e na sequência foram estabelecidas a primeira e a segunda lei da termodinâmica (a conservação e transformação da energia, mas também a dissipação da energia e aumento da entropia). O conflito criado entre a teoria “otimista” da evolução, que explica a diversidade da vida, e a “pessimista” segunda lei da termodinâmica constituiu um importante elemento da dieta cultural do início do século XX. Desse modo, as contribuições essenciais de uma visão ecológica da economia existiam muito antes do nascimento de uma economia ecológica consciente de si mesma. Essa demora é explicada pela rigidez das fronteiras existentes entre as ciências naturais e sociais.
            O biólogo e ecólogo de sistemas Alfred Lotka, nascido em 1880, introduziu, entre os anos 1910 e início de 1920, a distinção fundamental entre os usos endossomático e exossomático da energia por parte dos humanos ou, em outras palavras, entre “biometabolismo” e “tecnometabolismo”. O prêmio Nobel de Química, Frederick Soddy, nascido em 1877, e que também escreveu sobre energia e economia, comparou a “riqueza real”, que evolui acompanhando o ritmo da natureza, esgotando-se quando transformada em capital manufaturado, com a “riqueza virtual”, na forma de dívidas que à primeira vista podem crescer exponencialmente de modo incessante com taxas de juros compostos. Mais tarde, quatro reconhecidos economistas, que no entanto não formavam um escola, foram retrospectivamente vistos como economistas ecológicos. São eles: Kenneth Boulding, nascido em 1910, e que trabalhou principalmente na análise de sistemas; K. W. Kapp, também nascido em 1910, e S. Von Ciriacy-Wantrup, que nasceu em 1906, sendo estes dois últimos economistas institucionalistas; por fim, Nicholas Georgescu-Roegen, autor de A lei da entropia e do processo econômico (1971). Já o ecólogo de sistemas H. T. Odum (1924-2002) voltou-se para o estudo do uso da energia na economia. Alguns dos seus ex-alunos integraram o grupo fundador da Sociedade Internacional de Economia Ecológica. Outras inspirações da economia ecológica podem ser encontradas na economia ambiental e dos recursos naturais (isto é, na microeconomia aplicada à contaminação ambiental e ao esgotamento dos recursos do meio ambiente), na ecologia humana, na antropologia ecológica,[1] na ecologia urbana e também no estudo do “metabolismo industrial”, tal como foi desenvolvido por Robert Ayres, hoje conhecido como ecologia industrial.
            Após uma importante reunião organizada na Suécia em 1982 pela ecóloga Ann Mari Jansson a respeito da integração da economia e da ecologia (Jansson, 1984), foi tomada a decisão de lançar a revista Economia ecológica. Além disso, durante uma oficina realizada em Barcelona em 1987 – o mesmo ano em que foi publicado o Relatório Brundtland sobre o “desenvolvimento sustentável” -, foi deliberada a fundação da Sociedade Internacional de Economia Ecológica, a ISEE, em conformidade com a sua sigla em inglês (Internacional Society for Ecological Economics). Herman Daly (um ex-aluno de Georgerscu-Roegen, o mais conhecido economista ecológico de hoje) propõe que a palavra “desenvolvimento” implica mudanças na estrutura econômica social, enquanto “crescimento” significa uma expansão na escala de economia que provavelmente não tem condições de se sustentar ecologicamente. Por essa exata razão, “desenvolvimento sustentável” é aceito pela maioria dos economistas ecológicos, ao passo que “crescimento sustentável” não é. No meu ponto de vista, “desenvolvimento” é uma palavra detentora de uma forte conotação de crescimento econômico e modernização uniforme. Nessa ordem de colocações, seria proferível deixá-la de lado e falar somente de “sustentatibilidade”.
            Nesse mesmo ano de 1987 surgiu o primeiro livro intitulado Economia ecológica (Martinez Alier e Schlüpmann, 1987), e com esse mesmo título foi publicado, sob a responsabilidade de Daly e Costanza, um número monográfico de Ecological Modeling. A bem-sucedida revista acadêmica Ecological Economics teve seu primeiro número publicado em 1989, sendo dirigida desde essa data por Robert Costanza, que, ademais, foi o primeiro presidente da ISSE, que conta com sociedades afiliadas na Argentina e Uruguai, Austrália, Nova Zelândia, Brasil, Canadá, União Europeia, Índia e Rússia. Fora dos Estados Unidos e da Europa, a “escola de entropia” japonesa (Tamanoi et al., 1984) estudou os serviços ambientais proporcionados pelo ciclo hídrico, bem como o ecossistema urbano de Edo, nome que antigamente designava a capital do Japão, Na Índia, vários economistas e biólogos (Madhav Gadgil) vêm realizando trabalhos desde os anos 1970 sobre a relação entre manejo florestal e o da água e os direitos comunitários de propriedade (Jodha, 1986, 2001). Essa constitui atualmente uma importante área de interesse tanto para a economia ecológica quanto para a ecologia política (Berkes e Folke, 1998). Outros economistas ecológicos europeus dos anos 1970 e 1980, cuja obra principal não foi publicada inicialmente em inglês, foram, na França, Rena Passet (1979, 1996) e Inacy Sachs, que propôs no início dos anos 1970 a concepção de “ecodensenvolvimento”; Roefie Hueting (1980), na Holanda; Cristian Leipert, 1989), na Alemanha; José-Manuel Naredo, na Espanha (para uma introdução geral: Costanza et al. (eds.), 1977; Costanza et al., 1997; Common, 1995).
            Na economia ecológica, considera-se que a economia está inserida ou incrustada no ecossistema – ou para dizê-lo do modo mais preciso – animada pela historicamente cambiante percepção social do ecossistema. A economia também está incrustada na estrutura de direitos de propriedade sobre os recursos e serviços ambientais, numa distribuição social do poder e da riqueza em estruturas de gênero, de classe social ou de casta, vinculando a economia ecológica com a economia política e com a ecologia política (figura 1). Para compreender esse ponto sugiro o seguinte exemplo. O crescimento de uma economia baseada na utilização de combustíveis fósseis pode (ou não) encontrar um primeiro limite na estrutura dos direitos de propriedade sobre os sumidouros e os depósitos de carbono. Pode encontrar um segundo limite na capacidade de absorção da biosfera através da qual o dióxido de carbono é reciclado num determinado tempo, sem provocar alteração do clima. Outra possibilidade é que as excessivas emissões de carbono sejam reduzidas através da alteração dos direitos de propriedade sobre os sumidouros e os depósitos de carbono e/ou por mudanças na estrutura de preços, através de ecoimpostos ou licença de emissão. A política a respeito do clima requer uma integração de análise dos três níveis.
            Por outro lado, a ciência econômica convencional observa o sistema econômico como um sistema auto-suficiente no interior do qual são formados os preços dos bens e serviços de consumo, assim como os dos serviços e dos fatores de produção. Tal posição pré-analítica se reflete na categoria das “externalidades”. Os economistas ecológicos simpatizam com as intenções no sentido de “internalizar” as externalidades no sistema de preços, aceitando de bom grado as propostas para corrigir os preços através de impostos (como os tributos sobre o esgotamento do capital natural ou taxas incidindo sobre a contaminação). Contudo, negam a existência de um conjunto de “preços ecologicamente corretos”.
            Por fim, a economia ecológica constitui um novo campo transdisciplinar que desenvolve e introduz temas e métodos, tais como os que seguem:
·    Novos indicadores e índices de (in)sustentabilidade da economia;
·    A aplicação, nos ecossistemas humanos, de concepções ecológicas como capacidade de carga e resiliência;
·    A valoração dos serviços ambientais em termos monetários, mas também a discussão sobre a incomensurabilidade dos valores, e a aplicação de métodos de avaliação multicriterial;
·    A análise do risco, da incerteza, da complexidade e da ciência pós-normal;
·    Avaliação ambiental integral, incluindo a construção de cenários, modelagem dinâmica e métodos participativos na tomada de decisões;
·    Macroeconomia ecológica, a contabilidade do “capital natural”, o debate entre as noções de sustentabilidade “fraca” e sustentabilidade “forte”;
·    As relações entre economia ecológica e economia feminista;
·    Os conflitos ambientais distributivos;
·    As relações entre a atribuição dos direitos de propriedade e o manejo de recursos, as velhas e as novas instituições públicas para a gestão ambiental;
·    O comércio internacional e o meio ambiente, a dívida ecológica;
·    As causas e consequências ambientais das mudanças tecnológicas ou do lock-in tecnológico, as relações entre economia ecológica e a economia evolucionista;
·    As teorias do consumo (necessidades, “satisfatores”), e como o consumo se relacional com os impactos ambientais;
·    O debate sobre a “desmaterialização”, as relações com a ecologia industrial, aplicações na administração de empresas;
·    Os instrumentos de política ambiental, muitas vezes baseados no “princípio da precaução” (ou em “standards mínimos de segurança”, tal como desenvolvidos por Ciriacy-Wantrup).
[...]
Não existe produção sem distribuição
            Embora na teoria econômica neoclássica o estudo do direcionamento dos recursos para a produção esteja analiticamente dissociado da distribuição da produção em distintas categorias sociais, na economia ecológica esses dois aspectos são enfocados conjuntamente. Além disso, na economia ecológica “distribuição” não significa somente distribuição econômica, pois igualmente diz respeito à distribuição ecológica. Por essa razão, nesta obra as “considerações de equidade” não são apresentadas como é feito pelos economistas, ou seja, como um pensamento caridoso que aparece no último momento, mas, sim, considera-se que os aspectos distributivos são centrais para que sejam entendidas as valorizações e os aportes dos recursos naturais e serviços ambientais.
            Na economia clássica, antes da revolução neoclássica da década de 1870, não se separava analiticamente a produção econômica da distribuição. A teoria de Ricardo sobre a renda da terra refere-se à distribuição da produção e também, por sua vez, a uma teoria da dinâmica capitalista. Suponhamos uma estrutura agrária tríplice, composta de grandes latifundiários e de agricultores capitalistas que alugam a terra dos grandes proprietários, contratando diaristas para o trabalho agrícola. À medida que a agricultura avança na direção dos terrenos de menor fertilidade (modo extensivo), ou utilizando mais insumos nos campos (modo intensivo), se iniciará uma fase de rendimentos decrescentes. Caso os salários sejam estáveis em um nível de subsistência, os rendimentos decrescentes, conjuntamente com a competição entre os agricultores capitalistas que visam a alugar os melhores solos, induzirão ao crescimento a renda a ser paga aos grandes senhores de terras. Supondo-se que os latifundiários gastem as rendas obtidas em consumo suntuoso (ao invés de investi-las), então, o fato de que os ganhos de capital diminuam enquanto as rendas de latifundiários aumentam se desdobra numa estagnação da economia.
            São bastante conhecidas as objeções aos prognósticos traçados por Ricardo. O mesmo Ricardo posicionou-se a favor das importações de trigo. E os novos territórios agrícolas, não na Grã-Bretanha, mas sim no ultramar, foram mais e não menos férteis. Ademais, as famílias dos capitalistas e dos grandes proprietários de terras da Grã-Bretanha estabeleceram laços de parentesco entre si. Analiticamente, quero aqui destacar que a análise econômica da produção e da distribuição foi combinada em um só modelo ou esquema. Note-se igualmente que a distribuição ecológica não foi levada em consideração. Ponderações similares se aplicam à economia marxista. Uma maior capacidade de produção, origem da acumulação de capital, conjuntamente com uma deficiente capacidade de compra de um proletariado explorado (e dos igualmente explorados fornecedores de matérias-primas e mão-de-obra nos territórios coloniais, como depois acrescentou Rosa Luxemburgo), produzia uma contradição inescapável do capitalismo, empurrando-o para uma crise periódica. O proletariado estaria social e politicamente mais bem organizado e as crises do capitalismo desencadeariam a revolução. A famosa frase de Henry Ford propondo que os trabalhadores se tornassem capazes de adquirir os automóveis que produziam (algo sem sentido em nível de uma só indústria ou empresa) deu seu nome (graças à análise de Gramsci) ao “fordismo” e à escola de “regulação” da economia política, enquanto a economia keynesiana igualmente se baseou na concepção de que a demanda efetiva podia, nas economias capitalistas, ser inferior do que a oferta potencial em plena utilização da capacidade produtiva e nível máximo de emprego. Por isso, a política estatal deveria estar orientada a aumentar a demanda efetiva. Aqui, mais uma vez a análise da distribuição econômica e da produção se manteve articulada. Não obstante, essas escolas econômicas não incluíram nas suas análises a deterioração ambiental (ainda que exista uma interessante discussão sobre o uso do “metabolismo social” na obra de Marx).
            Não se toma nenhuma decisão produtiva a menos que existam de antemão normas ou práticas a respeito da distribuição. Um senhor de terras que utiliza parceiros não iniciará a produção a menos que se chegue a um acordo ou que exista uma norma costumeira sobre a proporção da colheita que lhe corresponderá. Exemplificando, caso 40% da colheita sejam orientados para os parceiros, a terra será utilizada para o cultivo do algodão; se os parceiros exigirem 70%, o grande proprietário terá que mudar o uso da terra para um cultivo muito mais produtivo e intensivo em mão-de-obra ou descartá-los e usar a terra como pastagens. A distribuição precede as decisões da produção. Esse é um ponto também óbvio para outras relações de produção, como a escravidão ou o trabalho assalariado. Nesse sentido, o pleno emprego dos anos 1960 na Europa orientou um forte poder de negociação por parte dos trabalhadores e um pressão sobre os lucros dos empresários (o profit squeeze[2]), resolvida mais tarde na recessão econômica de meados dos anos 1970, e por novas políticas neoliberais.
            Considerando agora não a distribuição econômica, mas sim a distribuição ecológica, pode-se argumentar que não será tomada nenhuma decisão sobre a produção enquanto não existir um acordo ou norma habitual sobre como os recursos naturais serão apropriados ou como serão destinados seus resíduos. Por exemplo, a decisão de produzir energia nuclear requer uma decisão sobre o armazenamento dos resíduos radioativos. Serão guardados nas centrais nucleares? Serão transladados para um distante depósito final (como Yucca Mountain nos Estados Unidos)? Mesmo a localização das centrais nucleares requer uma decisão sobre a distribuição social e geográfica doa perigos da radiação nuclear. Da mesma forma, a decisão de produzir energia elétrica a partir do carvão requer uma decisão prévia sobre a destinação dos dejetos da mineração, sobre o dióxido de enxofre, os óxidos de nitrogênio e o dióxido de carbono em distintas escalas geográficas. Quem desfruta do direito de propriedade sobre esses lugares? Em termos econômicos, se as externalidades podem permanecer como tais – isto é fora da contabilidade dos resultados e do balanço da empresa -, as decisões seriam diferentes caso tais passivos ambientais fossem incorporados na sua conta (inserindo algum valor econômico). Efetivamente, caso os produtores de veículos sejam obrigados a não produzir externalidades ou incluí-las no preço final dos seus produtos – e me refiro a todas as externalidades inevitáveis presentes ao longo de seu ciclo de vida, desde o berço até o túmulo, e depois, desde o túmulo até o berço quando reciclamos os materiais, incluindo as externalidades produzidas pelo dióxido de carbono -, então, as decisões relativas à produção na nossa economia seriam outras, dependendo em parte do preço associado a essas externalidades. O poder de jogar os veículos (distribuí-los) em depósitos de sucata e o poder de emitir (distribuir) na atmosfera os contaminantes a baixo preço ou gratuitamente detêm influencia decisiva no momento de assumir decisões sobre a produção. Questionando com maior precisão: existem grupos sociais que reclamam das externalidades produzidas? Devemos argumentar em termos de definir um valor crematístico às externalidades ou utilizar outros discursos de valoração?
             Por exemplo, se uma fábrica de celulose no Brasil pode plantar eucaliptos ignorando a compensação pela perda de fertilidade e pode lançar os efluentes exercendo de fato direitos de propriedade sobre o rio ou o mar, suas decisões de produção são diferentes das que existiriam na hipótese de se ver obrigada a pagar por essas externalidades ou caso tivesse que se confrontar com normas legais mais estritas, sendo essas levadas a efeito à risca. A idéia da “segunda contradição” do capitalismo foi introduzida por James O’Connor em 1988. Não se pode levar a produção a cabo sem a utilização dos recursos naturais e sem gerar resíduo. Pode ser que os diaristas agrícolas e os parceiros mal remunerados em termos econômicos também sofram os efeitos do malathion[3] na sua saúde juntamente com suas famílias e seus vizinhos que não trabalham nas plantações. Nesse contexto, os aspectos distributivos ambientais não recaem unicamente sobre os produtores. Isso possui influência nas formas assumidas pelos conflitos ecológicos distributivos. Afinal, os protagonistas dos conflitos não necessariamente são trabalhadores assalariados, mesmo que casualmente o sejam. Senão vejamos: podemos aventar que a luta contra os efluentes de um fábrica de celulose seja liderada por um grupo de naturalistas, por um grupo local de mulheres, ou, como acontece no Brasil, por um grupo indígena, todos exigindo compensação (na linguagem dos economistas, a internalização das externalidades) ou utilizando outras linguagens (direitos territoriais indígenas, direitos humanos pela saúde...). Caso obtenham êxito, os custos serão diferentes para as empresas envolvidas e as decisões da produção serão igualmente diferentes. Os agentes dos conflitos ambientais distributivos não estão bem definidos como os agentes econômicos de Ricardo ou de Marx – grandes proprietários e agricultores capitalistas no primeiro caso, capitalistas industriais e proletários no segundo.
___________________________________
(*) Extraído de: Martinez Alier, Juan. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração. Trad. Maurício Waldman. 1ª ed., 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2009.

[1] N.T.: Recorde-se a distinção realizada a partir dos finais dos anos 1990 entre antropologia ecológica e antropologia ambiental, sendo a primeira próxima das ciências naturais e a segunda, das ciências sociais.
[2] N.T.: Literalmente “arrocho dos lucros”.
[3] N.T.: Malathion é a denominação de um inseticida, também conhecido como Carbophos na ex-URSS, Maldison na Austrália e Nova Zelândia, e Mercaptothion na República Sul-Africana. Embora possuindo toxidade relativamente baixa para seres humanos, sua degradação no ambiente tem por subproduto o Malaoxon, que é sessenta vezes mais tóxico do que a substância original. Por isso, o uso do Malathion é objeto de agudas polêmicas em muitos países.

quarta-feira, abril 20, 2011

a particularidade do auge do ciclo recente

A BOLHA RESTAURADA (OU A TURBULÊNCIA EM CÉU AZUL)

O duplo choque ao qual estão sujeitos os países periféricos, após o desdobramento da crise de 2008, traz novos constrangimentos e não pode ser gerido tão somente com instrumentos macroeconômicos convencionais, sob pena de produzir graves crises nesses países. Por exemplo, a tentativa de reduzir o choque inflacionário decorrente do aumento de preços das commodities, por meio da política monetária, além de relativamente inócuo, exacerba a atração de novos capitais. Deixar a moeda nacional apreciar como resposta, compromete de modo significativo a competitividade das exportações de manufaturados. 
.
por Ricardo Carneiro (*)
.
A economia brasileira, da América Latina, e por que não dizer, do conjunto dos países periféricos, vive hoje uma conjuntura peculiar marcada por um duplo choque: o dos elevados e crescentes fluxos de capitais para eles direcionados, e o dos altos e voláteis preços das commodities. Aquilo que poderia ser uma benesse termina por se constituir numa perturbação, internalizando desde fora desequilíbrios com quais a política econômica tem que lidar, obrigando-a a abandonar prioridades domésticas em benefício da gestão desses choques externos.
O momento atual ressalta como patéticas as interpretações das agências multilaterais – FMI e Banco Mundial – e segmentos dos mercados financeiros internacionais, que desde alguns anos vêm insistindo no decoupling das economias emergentes, entendida como a capacidade dessas últimas em manter elevados ritmos de crescimento, de forma independente da trajetória das economias desenvolvidas. Esta tese esteve ancorada em observações empíricas - como o ritmo mais rápido de crescimento dos emergentes – desconsiderando os mecanismos de geração e transmissão desse crescimento e, mais recentemente, enfatizou a capacidade de preservação desse último, sem novamente atentar para as implicações da forma pela qual a crise foi equacionada nos países centrais.
O que parecia ser uma trajetória benigna e independente, tem se transformado numa crescente perturbação, com apreciações cambiais indesejadas, pressões inflacionárias e desaceleração do crescimento doméstico nos países periféricos. Para lidar com essas consequências do duplo choque, a política macroeconômica convencional tem sido impotente exigindo a crescente utilização de instrumentos não convencionais, como as políticas macro-prudenciais e de regulação, sob pena de agravar ainda mais os desequilíbrios iniciais e lançar essas economias numa trajetória de baixo crescimento ou recrudescimento da inflação. As tarefas que se exige da política econômica no plano nacional são, portanto, ingentes e tão mais complexas quanto menores forem as mudanças a serem implementadas no plano internacional.
1. Os choques internacionais
Em trabalho recente, Ilmar Akyuz, o economista chefe do South Center, discute os determinantes dos fluxos de capitais para os países periféricos nos vários ciclos, desde o pós-guerra. Com a correta perspectiva de que esses fluxos tem seu determinante principal, nas variações da preferencia pela liquidez/aversão ao risco nas economias centrais, o autor chega aos determinantes do ciclo recente associando-os à política monetária americana, de criação de liquidez por meio do quantitative easing, uma forma de injeção de moeda na economia, em alta escala, por meio de compra de títulos públicos de maturidade variada e, portanto, de manutenção de baixas taxas de juros em vários prazos. O autor ressalta o baixíssimo patamar de taxa de juros de curto prazo, próxima da fronteira zero, com fator crucial na originação de fluxos de capitais especulativos em direção aos países periféricos, cujo sentido maior é a busca de retorno mais altos proporcionados por diferencial por taxas de juros ou, simplesmente por rendimentos mais altos nos vários mercados de ativos. Como tem sido observado historicamente, esses fluxos de capitais geram bolhas expressivas nos mercados cambiais, de ativos e de crédito, além de deprimirem a competitividade das exportações de manufaturas.
A particularidade do auge do ciclo recente, após 2003, é que nele se observa também um substancial aumento e volatilidade nos preços das commodities. Com o mesmo padrão dos fluxos de capitais, esses preços sobem continuadamente desde essa data, sofrendo uma brusca queda em 2009, mas já ultrapassando o pico anterior após o primeiro trimestre de 2011. O essencial a destacar é que a simultaneidade entre os dois movimentos cria uma situação peculiar, de duplo choque, com determinantes semelhantes, exacerbando as suas implicações e as dificuldades em lidar com seus movimentos.
Atribuir ao ciclo de preços de commodities, as mesmas causas dos fluxos de capitais parece, à primeira vista, uma impropriedade. Isto porque a elevação desses preços está bastante associada ao ciclo forte e continuado de crescimento dos países asiáticos, em particular da China e da Índia, e às características da produção desses bens. Todavia, o argumento não desconhece esses importantes impulsos para o aumento dos preços, mas ressalta o caráter especulativo implícito tanto na magnitude da sua variação como também na sua volatilidade.
Diversos trabalhos da UNCTAD têm procurado caracterizar a relevância dos processos especulativos na formação dos preços das commodities. O aspecto mais saliente é a crescente dominância dos mercados de derivativos – futuros e opções - e dos investidores financeiros, na determinação dos preços nesses mercados que se transmitem por arbitragem para os mercados à vista. A presença maciça desses especuladores, para os quais as commodities passam a constituir parte relevante de seus portfólios, termina por conectar os mercados desses bens ao comportamento de variáveis-chave com a taxa de juros de curto prazo, conformando uma operação de carry trade. O baixo patamar da taxa de juros e as expectativas de sua preservação, decorrentes da política monetária americana, têm estimulado as operações de especulação, o overshooting, e a volatilidade dos preços das commodities.
O mesmo tipo de argumentação pode ser utilizado para explicar o aumento desmesurado dos fluxos de capitais. De um lado, não se pode negar que há fatores de atração relevantes, pois a melhora do comércio exterior desses países, decorrentes do crescimento global e, para vários latino-americanos, da melhoria dos preços de intercâmbio, permitiu aprimorar consideravelmente os fundamentos, por meio da acumulação de reservas internacionais e redução do endividamento público líquido, externo e interno. Mas, o overshooting só se explica pelo diferencial de rentabilidade que foi significativamente ampliado com a redução da taxa de juros americana e das demais economias desenvolvidas.
Em defesa da política econômica vigente, argumentam as autoridades monetárias norte-americanas que esta é a única forma de manter o estímulo ao crescimento, em uma economia debilitada pela crise financeira. Dado que o socorro inicial, por parte do setor público, implicou numa absorção de dívida do setor privado e num aumento substancial do déficit, o que contribuiu ainda mais para ampliar a dívida pública, a política fiscal viu-se crescentemente manietada. De novo, embora não falte significância ao argumento, ele não explica porque se despreza os efeitos que esse perfil de política tem no restante do mundo, ainda mais porque se trata de ações de política em torno de uma moeda reserva.
O fato apontado acima põe em relevo a contradição clássica, da moeda reserva internacional ser uma moeda nacional, no caso, o dólar. Sendo assim, a política deveria prever salvaguardas para os demais países contra os seus efeitos colaterais. Se estas salvaguardas existissem, na forma, por exemplo, de limitação da mobilidade de capitais, elas certamente não inviabilizariam a implementação e a efetividade das políticas monetárias. 
Todavia, implicariam em reduzir o papel do dólar como moeda reserva. Essa é a razão essencial que explica a sua não disseminação, ou seja, o interesse norte-americano em preservar o papel do dólar e sua seignioriage.
2. Os contornos da política econômica
Num importante documento lançado após a crise de 2008, o FMI examina criticamente a política econômica posta em prática nos países desenvolvidos, concluindo que a ênfase exclusiva na estabilidade de preços e, a despreocupação com as dimensões regulatórias do sistema financeiro, terminaram por engendrar a crise. Dentre as suas propostas de revisão do arcabouço da política econômica nos países centrais, destaca-se claramente uma revisão do papel e ênfase acentuada na política regulatória. A combinação desta última com políticas macroeconômicas adequadas – sem precedências ou hierarquias – criaria o clima de estabilidade para a operação da economia, sem os riscos de eventuais desequilíbrios financeiros como os observados na crise recente.
Não deixa de ser curioso que ao tratar da mesma questão com foco nos países emergentes, o FMI mude as suas ênfases. Assim, por exemplo, ao discutir as relações entre as políticas macroeconômicas e a política regulatória – no caso a política de controle dos fluxos de capitais – estabelece uma hierarquia entre elas propugnando que as últimas só devam ser utilizadas como instrumento de última instância. Partem do princípio de que as políticas de regulação dos fluxos de capitais seriam utilizadas para reparar o mau funcionamento das políticas macroeconômicas, ou seja, o caráter disciplinador da abertura financeira sobre o perfil da política macroeconômica seria impedido de funcionar, num contexto de restrição da mobilidade de capitais.
O argumento, além de incoerente; talvez porque questiona a mobilidade de capitais, e fira os interesses do maior sócio do FMI; deixa de considerar importantes implicações dos fluxos de capitais para os países periféricos: a desregulação desses fluxos tem os mesmos efeitos para esses países, do que a desregulação financeira para os países centrais. Ou seja, por meio da valorização/desvalorização das moedas locais, o movimento de capitais tem sido um dos principais determinantes das bolhas de preços de ativos e/ou de crédito, do seu inflar quando da fase de absorção e, do estouro, durante a saída. De forma diferente do que diz o FMI, em muitas ocasiões, um perfil saudável e adequado de políticas e situações macroeconômicas se viu deteriorado pelo excessivo afluxo de capitais.
O duplo choque ao qual estão sujeitos os países periféricos, após o desdobramento da crise de 2008, pela sua intensidade, traz novos constrangimentos e não pode ser gerido tão somente com os instrumentos macroeconômicos convencionais, sob pena de produzir graves crises nesses países. Por exemplo, a tentativa de reduzir o choque inflacionário decorrente do aumento de preços das commodities, por meio da política monetária, além de relativamente inócuo, exacerba a atração de novos capitais. Deixar a moeda nacional apreciar como resposta, compromete de modo significativo a competitividade das exportações de manufaturados. A utilização da política fiscal via saldo primário, para anular o choque, tem os mesmos inconvenientes no que tange à trajetória inflacionária. Pode ser mais eficaz, no que se refere à esterilização do saldo de divisas, mas a magnitude do choque pode torná-la insuficiente, além de inviabilizar políticas redistributivas e de estímulo ao crescimento em curso nesses países.
De tudo isso, se conclui que a política econômica dos países periféricos terá que mudar necessariamente seu perfil encaminhando-se para práticas não canônicas, sem esperar mudanças significativas no arcabouço da regulação global. O seu sentido geral, será o de combinar a política regulatória com as políticas macroeconômicas convencionais, sem estabelecimento de hierarquias ou prioridades. O objetivo maior, pelo menos na atual conjuntura, será o de insular as economias do duplo choque em andamento. Para tanto, terá que aperfeiçoar os instrumentos de controle dos fluxos de capitais com a preocupação de estendê-los aos mercados de derivativos. Por outro lado, precisará criar ou aperfeiçoar políticas capazes de dirimir os choques de preços das commodities. Nessa direção, uma medida importante seria o estabelecimento ou ampliação dos fundos de estabilização com recursos oriundos da tributação extraordinária das exportações de commodities.
(*) Professor do Instituto de Economia e Diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da UNICAMP.
Fonte: Carta Maior | Economia, 19/04/2011

terça-feira, abril 19, 2011

“não existe povo, existem povos indígenas”

FALTA EDUCAÇÂO PARA PRESERVAR O MEIO AMBIENTE

Os índios têm percebido muitas mudanças no ecossistema amazônico nos últimos anos. Exemplo disse pode ser conferido no “clima, extinção de animais e espécies, desmatamentos e queimadas, fauna não respeitada na época de desova”, disse o coordenador secretário da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) do Amazonas, Saturnino W. Rudzane’edi. Líder xavante do Estado do Mato Grosso, ele enfatizou em sua entrevista por e-mail a IHU On-Line que falta educação para preservar o meio ambiente, e que “não existe povo, existem povos indígenas”.
IHU On-Line – Qual a experiência do povo indígena na Amazônia? Como os índios se sentem vivendo na Amazônia?
Saturnino W. Rudzane’edi – a) Não existe povo, existem povos indígenas, e a experiência de cada um é diferente do outro vivendo em realidades totalmente diferentes, com os costumes e línguas diferentes, diversas culturas, porém temos algo que nos une.
Porque somos parentes
Temos os mesmos direitos
Lutamos em comum como por conquista e autonomia
Respeito à biodiversidade
Sonhos: de ter educação e saúde diferenciada
Respeito à cultura, etc.
b) Nós indígenas sentimos como todas as minorias negras, caboclas, etc. Somos felizes de morar em nossas terras; ter nossos rios limpos sem poluição; ter fartura de caça, coleta de frutas e peixes; felizes de morar fazendo nossos rituais, tendo nossas culturas, nossas tradições, costumes….
Porém nos sentimos ameaçados frequentemente por ter
Nossas terras ainda sem demarcar,
Terras invadidas por questões de interesse pessoais,
Saúde ameaçada como por ex: os indígenas do Vale do Javari, com epidemias cada vez piores acabando com essa população; como hepatite A, B, C etc.
A educação indígena diferenciada é esquecida em muitos lugares, não respeitam a legislação que reza na Constituição Brasileira.
A propriedade intelectual, os conhecimentos tradicionais roubados, pirateados, etc., sem conhecimento ou consulta dos povos.
As águas poluídas, os peixes contaminados, etc.
A mudança climática: ex.: o rio, as enchentes bravas ou inundações e muitas secas tão fortes nos dias de hoje.
Não poder ter acesso à participação nos fóruns internacionais (por falta de convite ou dinheiro) onde se discute e se decide sobre os povos indígenas….
IHU On-Line – Quais têm sido os principais desafios da Coordenação das Organizações Indigenas da Amazônia Brasileira, a COIAB?
Saturnino W. Rudzane’edi – Os principais desafios:
Mudança climática
A água
Conquista do direito na política Nacional e Internacional
IHU On-Line – Quais as características do movimento indígena na Amazônia? Quais as lutas dos povos indígenas na Amazônia hoje? Quais as principais reivindicações?
Saturnino W. Rudzane’edi – a) A COIAB , está composta por inúmeras organizações, existem as organizações locais e as regionais em toda a Amazônia, as características da COIAB instituição indígena sem fins lucrativos, criada para defender a demarcação de terras, defender os direitos dos povos.
IHU On-Line – Os índios têm percebido alterações na floresta amazônica, nos rios, lagos,na fauna e na flora da Amazônia ao longo dos anos? O que mais mudou nos últimos tempos?
Saturnino W. Rudzane’edi – Clima
Extinção de animais de espécies
Mudanças conjuntura políticas, em nível Nacional e Internacional.
Fora os desmatamentos e queimadas.
Fauna não respeitada n época de desova.
Falta de educação para preservar o meio ambiente.
IHU On-Line – Como o movimento indígena se articula com as bases e com o governo? Como os índios da Amazônia avaliam o governo Lula?
Saturnino W. Rudzane’edi – a) A COIAB é o movimento indígena e se articula com suas bases através de organização regionais e locais. Também são realizadas assembléias gerais  da COIAB com participação das organizações da Amazônia Brasileira.
Por em seguida todas as demandas são avaliadas na assembléia do CONDEF  e posteriormente aprovadas as deliberações. Como conquista ou desafio para o movimento indígena organização (COIAB).
O movimento se articula junto com instituições ambientalistas federais e estaduais, indigenista como: CIMI, FUNAI , FUNASA , ISA , IBAMA ,GTA , FEPI  e outros.
b) Nos últimos anos o governo Lula tem esquecido e não valorizando o movimento social indígena, também não tem cumprido com as promessas feita durante a campanha de governo anterior. Atualmente esperamos e estamos com esperança na sensibilidade do governo como todo que a política voltada na questão indígena seja executada junto com o movimento indígena organizado.
Finalizando as respostas da entrevista agradeço em nome dos povos indígenas da Amazônia Brasileira o interesse e respeito desta revista na publicação deste texto da fala de líder Xavante do Estado de Mato Grosso e atualmente membro da Coordenação da COIAB.
Fonte: Ecodebate, 19/04/2011) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

na tela ou dvd

  • 12 Horas até o Amanhecer
  • 1408
  • 1922
  • 21 Gramas
  • 30 Minutos ou Menos
  • 8 Minutos
  • A Árvore da Vida
  • A Bússola de Ouro
  • A Chave Mestra
  • A Cura
  • A Endemoniada
  • A Espada e o Dragão
  • A Fita Branca
  • A Força de Um Sorriso
  • A Grande Ilusão
  • A Idade da Reflexão
  • A Ilha do Medo
  • A Intérprete
  • A Invenção de Hugo Cabret
  • A Janela Secreta
  • A Lista
  • A Lista de Schindler
  • A Livraria
  • A Loucura do Rei George
  • A Partida
  • A Pele
  • A Pele do Desejo
  • A Poeira do Tempo
  • A Praia
  • A Prostituta e a Baleia
  • A Prova
  • A Rainha
  • A Razão de Meu Afeto
  • A Ressaca
  • A Revelação
  • A Sombra e a Escuridão
  • A Suprema Felicidade
  • A Tempestade
  • A Trilha
  • A Troca
  • A Última Ceia
  • A Vantagem de Ser Invisível
  • A Vida de Gale
  • A Vida dos Outros
  • A Vida em uma Noite
  • A Vida Que Segue
  • Adaptation
  • Africa dos Meus Sonhos
  • Ágora
  • Alice Não Mora Mais Aqui
  • Amarcord
  • Amargo Pesadelo
  • Amigas com Dinheiro
  • Amor e outras drogas
  • Amores Possíveis
  • Ano Bissexto
  • Antes do Anoitecer
  • Antes que o Diabo Saiba que Voce está Morto
  • Apenas uma vez
  • Apocalipto
  • Arkansas
  • As Horas
  • As Idades de Lulu
  • As Invasões Bárbaras
  • Às Segundas ao Sol
  • Assassinato em Gosford Park
  • Ausência de Malícia
  • Australia
  • Avatar
  • Babel
  • Bastardos Inglórios
  • Battlestar Galactica
  • Bird Box
  • Biutiful
  • Bom Dia Vietnan
  • Boneco de Neve
  • Brasil Despedaçado
  • Budapeste
  • Butch Cassidy and the Sundance Kid
  • Caçada Final
  • Caçador de Recompensa
  • Cão de Briga
  • Carne Trêmula
  • Casablanca
  • Chamas da vingança
  • Chocolate
  • Circle
  • Cirkus Columbia
  • Close
  • Closer
  • Código 46
  • Coincidências do Amor
  • Coisas Belas e Sujas
  • Colateral
  • Com os Olhos Bem Fechados
  • Comer, Rezar, Amar
  • Como Enlouquecer Seu Chefe
  • Condessa de Sangue
  • Conduta de Risco
  • Contragolpe
  • Cópias De Volta À Vida
  • Coração Selvagem
  • Corre Lola Corre
  • Crash - no Limite
  • Crime de Amor
  • Dança com Lobos
  • Déjà Vu
  • Desert Flower
  • Destacamento Blood
  • Deus e o Diabo na Terra do Sol
  • Dia de Treinamento
  • Diamante 13
  • Diamante de Sangue
  • Diário de Motocicleta
  • Diário de uma Paixão
  • Disputa em Família
  • Dizem por Aí...
  • Django
  • Dois Papas
  • Dois Vendedores Numa Fria
  • Dr. Jivago
  • Duplicidade
  • Durante a Tormenta
  • Eduardo Mãos de Tesoura
  • Ele não está tão a fim de você
  • Em Nome do Jogo
  • Encontrando Forrester
  • Ensaio sobre a Cegueira
  • Entre Dois Amores
  • Entre o Céu e o Inferno
  • Escritores da Liberdade
  • Esperando um Milagre
  • Estrada para a Perdição
  • Excalibur
  • Fay Grim
  • Filhos da Liberdade
  • Flores de Aço
  • Flores do Outro Mundo
  • Fogo Contra Fogo
  • Fora de Rumo
  • Fuso Horário do Amor
  • Game of Thrones
  • Garota da Vitrine
  • Gata em Teto de Zinco Quente
  • Gigolo Americano
  • Goethe
  • Gran Torino
  • Guerra ao Terror
  • Guerrilha Sem Face
  • Hair
  • Hannah And Her Sisters
  • Henry's Crime
  • Hidden Life
  • História de Um Casamento
  • Horizonte Profundo
  • Hors de Prix (Amar não tem preço)
  • I Am Mother
  • Inferno na Torre
  • Invasores
  • Irmão Sol Irmã Lua
  • Jamón, Jamón
  • Janela Indiscreta
  • Jesus Cristo Superstar
  • Jogo Limpo
  • Jogos Patrióticos
  • Juno
  • King Kong
  • La Dolce Vitta
  • La Piel que Habito
  • Ladrões de Bicicleta
  • Land of the Blind
  • Las 13 Rosas
  • Latitude Zero
  • Lavanderia
  • Le Divorce (À Francesa)
  • Leningrado
  • Letra e Música
  • Lost Zweig
  • Lucy
  • Mar Adentro
  • Marco Zero
  • Marley e Eu
  • Maudie Sua Vida e Sua Arte
  • Meia Noite em Paris
  • Memórias de uma Gueixa
  • Menina de Ouro
  • Meninos não Choram
  • Milagre em Sta Anna
  • Mistério na Vila
  • Morangos Silvestres
  • Morto ao Chegar
  • Mudo
  • Muito Mais Que Um Crime
  • Negócio de Família
  • Nina
  • Ninguém Sabe Que Estou Aqui
  • Nossas Noites
  • Nosso Tipo de Mulher
  • Nothing Like the Holidays
  • Nove Rainhas
  • O Amante Bilingue
  • O Americano
  • O Americano Tranquilo
  • O Amor Acontece
  • O Amor Não Tira Férias
  • O Amor nos Tempos do Cólera
  • O Amor Pede Passagem
  • O Artista
  • O Caçador de Pipas
  • O Céu que nos Protege
  • O Círculo
  • O Circulo Vermelho
  • O Clã das Adagas Voadoras
  • O Concerto
  • O Contador
  • O Contador de Histórias
  • O Corte
  • O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante
  • O Curioso Caso de Benjamin Button
  • O Destino Bate a Sua Porta
  • O Dia em que A Terra Parou
  • O Diabo de Cada Dia
  • O Dilema das Redes
  • O Dossiê de Odessa
  • O Escritor Fantasma
  • O Fabuloso Destino de Amelie Poulan
  • O Feitiço da Lua
  • O Fim da Escuridão
  • O Fugitivo
  • O Gangster
  • O Gladiador
  • O Grande Golpe
  • O Guerreiro Genghis Khan
  • O Homem de Lugar Nenhum
  • O Iluminado
  • O Ilusionista
  • O Impossível
  • O Irlandês
  • O Jardineiro Fiel
  • O Leitor
  • O Livro de Eli
  • O Menino do Pijama Listrado
  • O Mestre da Vida
  • O Mínimo Para Viver
  • O Nome da Rosa
  • O Paciente Inglês
  • O Pagamento
  • O Pagamento Final
  • O Piano
  • O Poço
  • O Poder e a Lei
  • O Porteiro
  • O Preço da Coragem
  • O Protetor
  • O Que é Isso, Companheiro?
  • O Solista
  • O Som do Coração (August Rush)
  • O Tempo e Horas
  • O Troco
  • O Último Vôo
  • O Visitante
  • Old Guard
  • Olhos de Serpente
  • Onde a Terra Acaba
  • Onde os Fracos Não Têm Vez
  • Operação Fronteira
  • Operação Valquíria
  • Os Agentes do Destino
  • Os Esquecidos
  • Os Falsários
  • Os homens que não amavam as mulheres
  • Os Outros
  • Os Românticos
  • Os Tres Dias do Condor
  • Ovos de Ouro
  • P.S. Eu te Amo
  • Pão Preto
  • Parejas
  • Partoral Americana
  • Password, uma mirada en la oscuridad
  • Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
  • Perdita Durango
  • Platoon
  • Poetas da Liberdade
  • Polar
  • Por Quem os Sinos Dobram
  • Por Um Sentido na Vida
  • Quantum of Solace
  • Queime depois de Ler
  • Quero Ficar com Polly
  • Razão e Sensibilidade
  • Rebeldia Indomável
  • Rock Star
  • Ronin
  • Salvador Puig Antich
  • Saneamento Básico
  • Sangue Negro
  • Scoop O Grande Furo
  • Sem Destino
  • Sem Medo de Morrer
  • Sem Reservas
  • Sem Saída
  • Separados pelo Casamento
  • Sete Vidas
  • Sexo, Mentiras e Vídeo Tapes
  • Silence
  • Slumdog Millionaire
  • Sobre Meninos e Lobos
  • Solas
  • Sombras de Goya
  • Spread
  • Sultões do Sul
  • Super 8
  • Tacones Lejanos
  • Taxi Driver
  • Terapia do Amor
  • Terra em Transe
  • Território Restrito
  • The Bourne Supremacy
  • The Bourne Ultimatum
  • The Post
  • Tinha que Ser Você
  • Todo Poderoso
  • Toi Moi Les Autres
  • Tomates Verdes Fritos
  • Tootsie
  • Torrente, o Braço Errado da Lei
  • Trama Internacional
  • Tudo Sobre Minha Mãe
  • Últimas Ordens
  • Um Bom Ano
  • Um Homem de Sorte
  • Um Lugar Chamado Brick Lane
  • Um Segredo Entre Nós
  • Uma Vida Iluminada
  • Valente
  • Vanila Sky
  • Veludo Azul
  • Vestida para Matar
  • Viagem do Coração
  • Vicky Cristina Barcelona
  • Vida Bandida
  • Voando para Casa
  • Volver
  • Wachtman
  • Zabriskie Point