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sábado, agosto 27, 2011

quantos questionamentos, indecisões, cálculos.

Dar: o dilema

por Marcelo Rubens Paiva - O Estado de S.Paulo
Peço desculpas ao leitor. Pensei muitas vezes no verbo a ser utilizado no relato abaixo. "Ceder" seria menos ofensivo. Mas "dar" foi exaustivamente utilizado pelas personagens em questão. É com ele que elas costumam pontuar suas aventuras e seus segredos.
Numa mesa de bar com três mulheres: uma carioca, uma mineira e uma paulista. Na faixa dos 30 anos. Profissionais liberais, que moram sozinhas, donas de si. Rodadas. Com alguns matrimônios interrompidos nas costas.
A mineira teorizou. Se você sai com um carinha três vezes, terá que dar na quarta. Seria uma afronta às regras da corte. Afinal, há uma ética no jogo da sedução.
Ela aprendeu com a mãe que é sempre vantajoso para o espelho ter uma legião de admiradores. Mulheres adoram ser paparicadas, lembrou. Se rolar a quarta vez, seu papel de diva a obrigará a ceder aos óbvios interesses masculinos. Se não, perde-se o trono. E, para o horror das mulheres, a maior heresia: será malvista.
A paulista contou. Que no começo do ano saiu com um cara, mas não ficou tão a fim. Não rolou nada. Ele insistiu para que houvesse um outro encontro. Ela dispensou com carinho e educação. Porque sabia que, se desse, ele poderia se apaixonar, e ela não conseguiria encarar tamanho paradoxo. Então, quebrou o encanto já na raiz.
A carioca contou. Que tem filhos, ex-maridos, dois empregos, o que filtra consideravelmente o assédio, para o bem. Se depois de todas as informações, o carinha continua a saga da conquista e ultrapassa as etapas da prova, ela dá. Afinal, um cara como esse merece consideração.
E ela não se preocupará com o grau de paixão do admirador, pois os filhos, os ex-maridos e os dois empregos já trarão muito trabalho pela frente, e será natural o termômetro do amor cair ao nível baixo. Ela dará e se esquecerá naturalmente. E esperará que ele também siga por outra trilha.
As três falavam sem parar o que para elas seguia uma lógica incontestável, comum, apesar do UF de seus documentos serem distintos. Cigarros e mais chopes contribuíam para a enumeração das convicções femininas. Contavam casos esdrúxulos com carinhas sem noção, experiências fracassadas, xavecos tolos, excessos improdutivos.
Enquanto eu, pasmo, só acompanhava em silêncio, com muita pena da minha categoria, dos meus camaradinhas, aprisionada pelas garras da lógica feminina, perdida num mar sem vento. Até a carioca contar a sua última bizarrice:
Foi muito cortejada por um músico que não se dispensa. Daqueles que manipulam as palavras e ideias com capricho, para obter o suspiro incontrolável de uma garota carente, viciada em elogios doces e pensamentos bem encaixados.
Carinha com um tremendo prestígio no meio, idealista, que milita em causas justas. Que se educou no exterior. Cuja produção é sempre bem recebida, premiada, elogiada, invejada. E que fala da alma da mulher, consegue penetrar no desconhecido, seduzir e encantar.
Ela saiu com ele duas vezes. Descobriu, como ela descreveu, que era meio "afeminado", termo incorreto que só utilizamos quando o grau de álcool no sangue beira o nível de ser repreendido numa blitz da Lei Seca. O que foi uma surpresa, já que o currículo do carinha era digno de matéria de capa da revista Vogue. Aliás, ilustrada por algumas de suas conquistas.
Apesar de não corresponder aos elementos da paixão, nem de estar tanto a fim, acabou vencida pela curiosidade. Foi a um motel com o músico-poeta, quando, não mais que de repente, o sangue dele parou de fluir nos dutos do desejo, impedindo a vascularização das veias dorsais e da artéria profunda do seu membro.
O prepúcio não se deslocava, nem a glande se expunha, levando pânico ao córtex cerebral dele, induzindo a uma infeliz, incontestável e categórica broxada!
Dilema da minha amiga. Mesmo não querendo, refletiu diante do fracasso, terei que sair com ele outra vez, não poderei deixar uma mácula no seu inconsciente, sua produção artística será afetada, decairá, seu talento passará a ser questionado, o mercado o considerará o artista promissor que, de repente, do nada, perdeu o eixo.
Ela saiu com ele de novo. Quase por obrigação. Foram ao mesmo motel. Escolheram o mesmo quarto e, no mesmo ambiente, repetiram a coreografia da cobiça. Dessa vez, o chamado corpo cavernoso, ou esponjoso, foi preenchido devidamente pelo pulsar e sangue do macho. Rolou. Ele cumpriu o seu papel. Ela, idem, e disse um penoso adeus, convicta de que a arte não imita a vida.
Neste momento, elas pararam de falar e me olharam indignadas com o meu "não acredito!" Pediram explicações diante da minha exclamação. Queriam minha opinião a respeito do que acabara de ouvir.
Eu disse, sem pestanejar: "Como vocês racionalizam o sexo! Sempre têm explicações, motivos extras. Não é tesão que comanda? Não basta se sentir atraída, ir lá e, como vocês dizem, dar?"
Se seguiu aquele blablablá sonolento das diferenças de gênero, que uma mulher tem que ceder, um homem, apenas penetrar, que uma mulher tem que se abrir, um homem, introduzir, e por aí foi, o mesmo de sempre, apesar de vivermos numa nova era, de a emancipação comandar grandes transformações.
As revoluções não mudaram as explícitas diferenças entre querer e poder. Aliás, qual homem já não escutou "quero, mas não posso", e, em seguida, a promessa de quem sabe numa outra ocasião?
Quantos questionamentos, indecisões, cálculos. O amanhã é muito mais importante para as mulheres do que para nós, machos ligados no aqui e já. Ainda bem que existe a diferença. Se não, esta aliança não teria tanta graça.
Narrei a conversa para uma campineira esclarecida, estudante de filosofia da Unicamp, lésbica, conhecedora do gênero; já foi casada com outra garota.
"Ah, mulher é tão maternal...", justificou. E contou que estava numa festinha de universitários esclarecidos de Barão Geraldo, louca para fumar um baseado. Descobriu que um carinha tinha. Foram até o carro dele, cometer o ato ilícito. No caminho, ela pensava, "terei que dar". Seria uma troca de gentilezas. E foi o que aconteceu. Mulheres... 
Fonte: Estadão | Cultura, 27/08/2011

terça-feira, abril 19, 2011

“não existe povo, existem povos indígenas”

FALTA EDUCAÇÂO PARA PRESERVAR O MEIO AMBIENTE

Os índios têm percebido muitas mudanças no ecossistema amazônico nos últimos anos. Exemplo disse pode ser conferido no “clima, extinção de animais e espécies, desmatamentos e queimadas, fauna não respeitada na época de desova”, disse o coordenador secretário da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) do Amazonas, Saturnino W. Rudzane’edi. Líder xavante do Estado do Mato Grosso, ele enfatizou em sua entrevista por e-mail a IHU On-Line que falta educação para preservar o meio ambiente, e que “não existe povo, existem povos indígenas”.
IHU On-Line – Qual a experiência do povo indígena na Amazônia? Como os índios se sentem vivendo na Amazônia?
Saturnino W. Rudzane’edi – a) Não existe povo, existem povos indígenas, e a experiência de cada um é diferente do outro vivendo em realidades totalmente diferentes, com os costumes e línguas diferentes, diversas culturas, porém temos algo que nos une.
Porque somos parentes
Temos os mesmos direitos
Lutamos em comum como por conquista e autonomia
Respeito à biodiversidade
Sonhos: de ter educação e saúde diferenciada
Respeito à cultura, etc.
b) Nós indígenas sentimos como todas as minorias negras, caboclas, etc. Somos felizes de morar em nossas terras; ter nossos rios limpos sem poluição; ter fartura de caça, coleta de frutas e peixes; felizes de morar fazendo nossos rituais, tendo nossas culturas, nossas tradições, costumes….
Porém nos sentimos ameaçados frequentemente por ter
Nossas terras ainda sem demarcar,
Terras invadidas por questões de interesse pessoais,
Saúde ameaçada como por ex: os indígenas do Vale do Javari, com epidemias cada vez piores acabando com essa população; como hepatite A, B, C etc.
A educação indígena diferenciada é esquecida em muitos lugares, não respeitam a legislação que reza na Constituição Brasileira.
A propriedade intelectual, os conhecimentos tradicionais roubados, pirateados, etc., sem conhecimento ou consulta dos povos.
As águas poluídas, os peixes contaminados, etc.
A mudança climática: ex.: o rio, as enchentes bravas ou inundações e muitas secas tão fortes nos dias de hoje.
Não poder ter acesso à participação nos fóruns internacionais (por falta de convite ou dinheiro) onde se discute e se decide sobre os povos indígenas….
IHU On-Line – Quais têm sido os principais desafios da Coordenação das Organizações Indigenas da Amazônia Brasileira, a COIAB?
Saturnino W. Rudzane’edi – Os principais desafios:
Mudança climática
A água
Conquista do direito na política Nacional e Internacional
IHU On-Line – Quais as características do movimento indígena na Amazônia? Quais as lutas dos povos indígenas na Amazônia hoje? Quais as principais reivindicações?
Saturnino W. Rudzane’edi – a) A COIAB , está composta por inúmeras organizações, existem as organizações locais e as regionais em toda a Amazônia, as características da COIAB instituição indígena sem fins lucrativos, criada para defender a demarcação de terras, defender os direitos dos povos.
IHU On-Line – Os índios têm percebido alterações na floresta amazônica, nos rios, lagos,na fauna e na flora da Amazônia ao longo dos anos? O que mais mudou nos últimos tempos?
Saturnino W. Rudzane’edi – Clima
Extinção de animais de espécies
Mudanças conjuntura políticas, em nível Nacional e Internacional.
Fora os desmatamentos e queimadas.
Fauna não respeitada n época de desova.
Falta de educação para preservar o meio ambiente.
IHU On-Line – Como o movimento indígena se articula com as bases e com o governo? Como os índios da Amazônia avaliam o governo Lula?
Saturnino W. Rudzane’edi – a) A COIAB é o movimento indígena e se articula com suas bases através de organização regionais e locais. Também são realizadas assembléias gerais  da COIAB com participação das organizações da Amazônia Brasileira.
Por em seguida todas as demandas são avaliadas na assembléia do CONDEF  e posteriormente aprovadas as deliberações. Como conquista ou desafio para o movimento indígena organização (COIAB).
O movimento se articula junto com instituições ambientalistas federais e estaduais, indigenista como: CIMI, FUNAI , FUNASA , ISA , IBAMA ,GTA , FEPI  e outros.
b) Nos últimos anos o governo Lula tem esquecido e não valorizando o movimento social indígena, também não tem cumprido com as promessas feita durante a campanha de governo anterior. Atualmente esperamos e estamos com esperança na sensibilidade do governo como todo que a política voltada na questão indígena seja executada junto com o movimento indígena organizado.
Finalizando as respostas da entrevista agradeço em nome dos povos indígenas da Amazônia Brasileira o interesse e respeito desta revista na publicação deste texto da fala de líder Xavante do Estado de Mato Grosso e atualmente membro da Coordenação da COIAB.
Fonte: Ecodebate, 19/04/2011) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

quinta-feira, março 10, 2011

olha o bloco da pipoca chegando...

É CARNAVAL, ACELERA AÍ !
Bloco Olodum na Avenida Sete - Politeama
Foto: Ivan Ferreira
Como mudou o carnaval de Salvador! Se diz que foi para melhor, pode até ser, depende do ponto de vista do observador. Estava em casa vendo a passagem de blocos e trios pela TV, os Corujas despontava no Campo Grande e me animei para sair, queria ver a cantora Ivete Sangalo ao vivo! Calculei uns vinte minutos até chegar em tempo da chegada do trio na Praça da Piedade... se fosse combinado não daria tão certo, pude encontrar o bloco, o trio e Ivete. Antes disso, na minha caminhada, avistei o cantor Tomate que cantava o hit “eu te amo, porra!”, mas resolvi dar uma volta por trás da aglomeração da avenida, que estava pura muvuca. Contornei pela Direita da Piedade até a rua da Caixa Econômica das Mercês, já conseguia ouvir a voz da Ivete chegando, e me arrumei no meio do povo para escutar e “quebrar” com a música poderosa do trio, lá vinha a grande estrela do axé music, boa pagodeira de acordo com a repórter Wanda Chase; Sem ter uma boa visão dela, corri de volta para a praça da Piedade, querendo aproveitar melhor a ocasião, ter uma visão da estrela mais de perto. Mas Ivete passou como um foguete, ligeirinha... e passou com seu brilho, mais magra, acenou indo, indo, soltando beijinhos para a multidão. A sua voz continuava ao longe, gostosa, carregada pelo trio, dentro do bloco. Como chegou, se foi.
Ivete acelerou! O trio elétrico passou reto, não parou um segundo sequer, fez uma graça que só deu para vê-la rapidinho, o chão da praça não balançou direito, o trio pisou fundo, saiu embalado. Tinha de ser assim mesmo? Será que havia um compromisso urgente mais adiante? E então ficamos nós parados, boquiabertos. Faltou aquela pausa nas rodas do caminhão, a grande estrela esqueceu de conter o motor que não tinha tempo. Parar a máquina e aquecer o coração de quem esperou na praça lotada, cheia de muitos fãs. Também queria o prazer de escutá-la, mas com o veículo freado. Não vibrei como antes. Anos atrás, gravei uma música cantada por ela no celular, fiz um clip para o Youtube, não esqueço, ela brilhava mais, deu uma palhinha para o “pipoca” lhe acompanhar, momento que pareceu uma eternidade, minutos contados, presenteados, depois ela seguiu no pique dela, deixando o pessoal estropiado, de pular ao som do trio, alimentado pelos bordões mais cantados, e as mãos levantadas indicava um adeus, enquanto todos ainda tiravam o pé do chão. Seguiu Ivete, e a gente com os olhos de emoção, de suor, cerveja e felicidade, ela seguiu na direção do Relógio de São Pedro, radiante, para a Praça Castro Alves, voltando de novo a incendiar mais gente noutro canto da cidade.
Olha, foi pouco o carinho, quase uma decepção essa passagem, dela, pela Piedade, Ivete acelerou mesmo! Em pleno início da tarde de sábado (07/03). Pensei, seria uma consequência da mutação que sofre o carnaval de Salvador? Cidade da alegria, que em anos recentes vem recebendo recursos de grandes empresas como parceiros dessa inigualável festa, com influência clara desses patrocinadores? Também refleti: a grande indústria de produtos e serviços (de bebidas, eletro-eletrônicos, cosméticos, dos bancos etc) parece desconhecer ou não considerar a importância do crescente contingente da população que ano a ano vem ocupando os pontos centrais dessa festa, o que possibilitou somar, abrir, consequentemente um acentuado e variado volume de comércio, trabalho, temporários, mas de valor significativo para a economia local; pois, é responsável pelo escoamento de tudo que é consumido no interior dessa festa sem fronteiras.
O “pipoca”, em sua maioria é gente simples, a rigor, sem fantasia; sai de qualquer jeito, são tipos fantásticos, ambulantes (que também vivem da e na festa), trabalhadores aproveitando o feriadão, desempregados inclusive (10,7% em janeiro, dado do IBGE), crianças de colo, garotos super-heróis, meninas enfeitadas pelas mães, jovens ansiosos pelo namoro e o primeiro beijo (roubado), malhados espaçosos, pagodeiros remexendo a bunda, o povo da periferia, se acotovelando, todos gente cidadã da grande metrópole, e também a sabedoria dos idosos e aposentados conhecedores dos “antigos carnavais”. Se “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”, também não vai quem vê o caminhão “acelerado”, ir embora sem “notar” a vontade dos foliões que esperam tanto ansiosos para curtir o seu ídolo, sentir o som do caminhão parado, escutar (ao vivo) por um tempo juntos, gritar bem alto, ao primeiro chamado.
Sabe, desisti da maratona carnavalesca, nessa hora, voltei pra casa preocupado, magoado, pelo “pipoca”, como um “pipoca”, apesar de não me considerar um ouvinte integral do axé, ou admirador incondicional da Ivete, só esperava algo melhor, na moral.
Já descansado, liguei a TV, lá estava o prefeito João falando algo para ser ouvido; o entrevistador obtinha como resposta os números da arrecadação (R$ 15 milhões) obtida por meio de parcerias com o setor privado, verba para ser alocada nas necessidades da organização e montagem do carnaval, recursos oriundos de patrocinadores para serem empregados no evento que atrai centenas de milhares de turistas e muito mais baianos que investem antecipadamente, e esperam por isto o ano inteiro. O carnaval vem se profissionalizando mais e mais a cada ano. Tudo isso seria muito bom caso a “pipoca” desfrutasse igualmente dessa festa tanto quanto os foliões do circuito Barra-Ondina, lugar onde parece receber cuidados distintos, maiores recursos, melhor estrutura (circuito de monitoramento digital com transmissão de dados e imagens por fibra ótica, iluminação especial, câmeras permanentemente ligadas em tudo que acontece etc), maior fluxo de trios, artistas nacionais de destaque, o foco das principais emissoras de televisão, uma vista de matéria global e internacional. Os helicópteros sobrevoam o circuito de ângulos inimagináveis, as câmeras revelam (quase) tudo por suas lentes. Há uma política de segurança mais inteligente atuando que impõe respeito. É, vemos se formar uma distribuição diferenciada dos foliões no novo traçado que forma o carnaval soteropolitano. Números e projeções antecipam dados sobre “o melhor carnaval dos últimos anos”, são ótimas as expectativas para os investidores e parceiros do Estado e da Prefeitura.
A busca de melhores oportunidades de negócio e de lucro amplia o brilho produzido pelo grande evento, que é mostrado e observado por gente de todo o planeta. Hoje mais que nacional, é internacional, e os esforços são redobrados para que ele fique com uma cara ainda mais profissional, empresarial, globalizado. Obviamente, o carnaval caiu nas mãos do poder do grande mercado, e nesse processo vai enriquecendo os grandes grupos econômicos, e é uma mina muito valiosa para os polpudos ganhos de estrelas globais, que arrastam a alegria dos foliões e dos patrocinadores com cacife e lastro para investimentos rentáveis.
É evidente, o carnaval depois de eletrizado (por Dodô, Osmar e Armandinho), está ficando elitizado. Há foliões com espaços privilegiados, benefícios da crescente profissionalização do carnaval, tudo de bom, pois pagam por uma “festa particular”, embora se realize bem no bojo de um caldeirão de energia popular. O sucesso da festa se comprova quando ressaltado através de breves informes institucionais, indicando menos violência na estatística oficial, apresentando resultados “extremamente positivos” do ponto de vista de determinadas variáveis de controle, principalmente as relacionadas com a segurança publica. Na verdade, o planejamento atual repete o dos carnavais passados, e além disso mostra que os problemas de transporte (coletivo, táxi) para atender a grande demanda, agravou-se ainda mais nesse período, inclusive com a migração acentuada de foliões para o circuito Barra-Ondina, que mesmo com toda boa intenção dos governos e o jogo de interesses dos produtores, se mostra realmente insustentável. Resta ver outras informações diretamente ligadas ao tratamento dado ao meio ambiente (as praias do circuito Dodô ao final do carnaval mostram danos ambientais sérios, causados pelo lixo acumulado e resíduos deixados pelos foliões que se vão), sobre o trabalho e a saúde da população envolvida no evento, dados de consumo geral e dos camarotes, o orçamento dos grandes trios, a distribuição de renda promovida nesse período, os reais impactos na economia local.
Paulatinamente, o carnaval vai deixando de ser, digamos, como era. Sem saudosismos. Isso sob um ponto de vista que é bom para alguns, no melhor sentido econômico. Vemos o crescimento de um carnaval que é reflexo de grandes marcas, de empresas multinacionais de peso, que leva os ídolos para demandas de outras regiões, países, com outra agenda, com contratos milionários, objetivando mais os interesses desses mercados, segmentos específicos, que “importam” foliões de qualquer lugar, que aumentam expectativas e os recursos necessários para o Estado e município aplicarem na grande festa, portanto, mais ganhos para as empresas e comerciantes.
E a “pipoca” como fica? Tem opção, tem lugar, tem praça, é o que nisso tudo? Certamente tem a emoção, e o coração batendo forte. A cantora Daniela, rainha do axé, num certo instante, de cima do trio, desabafou: “quando cheguei aqui, não queriam preto aqui, não queriam gay, nem lésbica... hoje pode tudo aqui... somos tudo isso, podemos ser o que quiser, somos gente”. Um discurso emblemático, de uma mulher guerreira, sem demagogia, espontânea e sem hipocrisia. Achei um desafio e tanto se dirigir ao povo, ao “pipoca”, colocando essa questão publicamente, assim na lata, expondo-se em cima do palco ambulante, o trio elétrico.
O compositor e cantor, Moraes Moreira, em entrevista cedida a tv Record, após o “encontro de trios” (vi mais trios no Arrastão da Barra-Ondina na quarta-feira de cinzas), também declarou: “no carnaval da Bahia pode tudo, só não pode se esquecer do povo, do “pipoca”, que não pode ficar marginalizado fora das cordas...”. Também sou “pipoca”, sim! Apertado entre as cordas esticadas dos blocos e as paredes das casas de comércio e os edifícios da avenida, porque? Sou parte dessa maioria da população que incrivelmente faz acontecer o carnaval popular. Somado aos vários fatores sócio-econômicos que influem, aqui não pontuados, somos empurrados para a margem mesmo, socados por cordeiros mal preparados, cutucados ostensivamente e intimidados pela passagem da tropa policial, porque quando o pau come a repressão sempre baixa o pau no “pipoca” -sabe-se lá, “são todos pretos, quase brancos, quase pretos...” -, talvez pobres vagabundos, sem noção de autoridade, a violência solta, quem sabe; uns ignorantes da lei, uns sem educação. Muitos vagam pela arquitetura anárquica do centro da cidade e pelas imediações do circuito Osmar, “sem lenço, sem documento”, sem direção, são assemelhados a “penetras” na grande festa do “novo circuito” do carnaval.
O calor no asfalto aumenta, o verão desaba do céu, esquenta ainda mais. O “pipoca” compra quatro “piriguetes” por cinco reais na promoção, bebe uma “batida do diabo” numa barraca improvisada perto dos sanitários químicos, mastiga uma comida exposta à poeira e ao tempo, belisca um “churrasco de gato” na farofa, abatido não se sabe onde, contrariando os avisos da Saúde pública, que preventivamente cuida das DST e AIDS, distribuindo camisinhas para o folião desprevenido para o sexo seguro. O “pipoca” carrega a lôra fria no latão por dois reais, bebidas de tipos variados, tem de todo preço, que são comercializadas livremente – “aquela verde é de menta”-, excessos. Levam à boca a garrafa d’água, as bolhas frescas do refrigerante, embalagens depositadas no “líquido gelado” do isopor encardido e remendado, onde bóiam outras latas, outras “coisas”, tudo junto ao mesmo tempo agora. O trocado que traz escondido do “dono” é para matar a sede insaciável, minimizar a fome de um estômago que ronca o dia todo sob um sol que arde, esturricante. Todos circulam obrigatoriamente pra lá e pra cá esperando um trio, o seu ídolo, que demora demais, e na espera se batem uns com os outros sem qualquer intenção, e riem à toa, mesmo que seja curtíssimo o tempo que passem em companhia da alegria tão aguardada; o folião “pipoca” se acha muito bem preparado para o carnaval, feliz no meio desse inferno na terra, chapa fervente, purgatório de processos e patologias humanas. Quer extravasar, brincar até cair, cansado, grogue, inconsciente da realidade, tontos com toda essa infalível droga, que pode conduzir, tanto ao drama, à overdose, quanto ao devaneio, ao delírio de estar no paraíso. Há quem percorra o caminho do meio.
Ivete no circuito Barra-Ondina
Foto: Dilson Silva/AgNews
Essa alegria de ver e ouvir o ídolo na avenida, estar na praça pública como parte socialmente incluída, como cidadãos, sem discriminação por ser gente do subúrbio, segue sem dúvida como parte intrínseca da esperança de todos, de que tudo o que se faz pelo carnaval leve em consideração a participação do povo, do folião “pipoca”, como uma questão importante na organização da festa, um evento que é de natureza popular. O “pipoca” não pode nem deve ficar no esquecimento dos planejadores, dos promotores, dos patrocinadores e dos artistas que pensam e fazem o carnaval. Por exemplo, no circuito da Avenida Oceânica (Dodô) e no Campo Grande, vemos foliões que dispõem de shows de grandes artistas, exclusividade de espaço para turistas, e blocos protegidos pelas cordas, frutos de um “certo investimento” anual, consumidores de abadás caros, de camarotes vip caros, onde se serve do melhor, boa comida e tratamento sofisticado que custam os olhos da cara. São contribuintes diferenciados, com uma pronta e discreta segurança oficial ao seu dispor, que recebem de uma produção fabulosa tudo que uma grande festa pode oferecer, além dos trios que desfilam pausadamente, e param, diante dos stands das emissoras de TV. São verdadeiros shows, levantam os foliões que abraçam a atração da hora, coroam sua festa contando com personalidades políticas e famosos do meio artístico brasileiro. Uma festa reservada, uma verdadeira corte, que se finge não ver, mas na verdade, existe e é tratada como tal.
Percebe-se claramente a velha política da boa vizinhança de alguns políticos, dançam no meio do povo dando seu recado, no Campo Grande é muito comum, fazem o agá no lugar e hora certos, e são elogiados pelos artistas saídos do povo, novos ganhadores da loteria dos patrocínios, aquela verba, que dá expressão a muitos talentos do gosto popular, fazedores da alegria “aqui e agora” do “bloco da pipoca”. A Praça Castro Alves quase nem aparece mais na televisão, insiste-se em revitalizá-la (Saulo Fernandes deu uma força a alguns artistas que ficaram fora da mídia), pensa-se em retomá-la como parte do grande circuito (“ano que vem, Daniela Mercury voltará para a Avenida Sete, circuito Osmar, depois de dois anos afastada”) será, ou é só boato? A Praça tem uma importância histórica, é a origem do carnaval, os braços do poeta, mas parece que o encontro de trios ficou para o apagar das luzes, só para o bloco da “pipoca”.
O Pelourinho, também, é parte desse circuito histórico, resgata o “carnaval da magia”, das marchinhas, e tem a presença de artistas como Mariene de Castro, Sarajane, Gerônimo, Pepeu, Moraes Moreira e grupos que, estiveram mais presentes em carnavais passados, hoje animam com o samba de roda, afoxé, samba reggae, frevo e com repertórios que marcaram época. Lá tem shows sobre palco fixo, muita gente bonita de todo lugar, o “pipoca” brinca livremente, arrasta a sandália, interage no encontro com artistas reconhecidos, compositores e cantores da boa música baiana, brasileira. A TVE (órgão oficial que tem um papel importante na manutenção desse circuito) é a única que se destaca nessa divulgação, as demais, fazem matérias relâmpagos, dão um tapinha e logo voltam para o circuito Dodô ou para o Campo Grande. Até onde irá a magia do Pelourinho? Da Praça do Poeta? Também, devo ressaltar, não mostram (muito) do carnaval de bairro na grande mídia. Certo é, que o mapa da folia mudou, fez-se outro, a geografia econômica do carnaval foi redesenhada.
Ironicamente, justamente o povo que compra as centenas de milhares de cd’s e dvd’s (e os artistas reconhecem isto), mal pode ver o seu ídolo. Um comércio fantástico que premia produtores, cantores e autores, empresários agentes econômicos vitoriosos desse mercado “oligopolizado”, de estrelas globalizadas, um excelente negócio. Infelizmente, os consumidores representados pelo “bloco da pipoca” (acredito que a maioria presente nas ruas durante o carnaval) ficam sem o devido retorno do seu ídolo, dos organizadores, das instituições, e ainda assim continuam sendo admiradores, fãs não atendidos, mesmo com o direito legítimo de ser feliz, brincar uma festa melhor, que poderia ser realmente melhor. Afinal, a divulgação de uma vendagem superior a 500 mil discos é boa para quem? Na passagem, Ivete agradeceu ao público da praça por todo seu sucesso de vendas, mas ficou devendo aquela paradinha, um simples agrado para o seu público fiel da Piedade.
Embora isso tudo esteja acontecendo, o carnaval dos baianos ainda se mantém popular, pois existem os blocos afro (Ilê Ayê, Filhos de Gandhy, Olodum, Araketu, Muzenza, Male Debalê etc) que “mesmo desfilando quando as câmeras estão desligadas", eles constituem o melhor dessa festa maravilhosa. Sem esquecer da presença significativa, também importante, dos demais blocos tradicionais (Mudança do Garcia, Os Corujas, Pinel, As Muquiranas, Inter, Traz a Massa etc), pois, eles oferecem uma participação popular decisiva na construção do carnaval baiano, com sua base cultural, presente na beleza musical, percussiva, rítmica, das melodias e na expressão corporal, que são riquezas da criatividade das composições e danças populares. A força do carnaval é essencialmente de natureza coletiva, surge das comunidades. Felizmente temos esse outro lado, da face original da festa, com seus talentos artísticos, que exige prioridade, atenção, das autoridades, uma maior preocupação e importância dos recursos obtidos através de parcerias interessadas no grande evento. Esses componentes de características arraigadas no trabalho social, cultural, plural e inclusivo, simultaneamente popular e universal, são sustentados na matriz da alma popular e suas relações de generosa distribuição da alegria, sem o que não seria "o melhor carnaval do mundo".

domingo, novembro 28, 2010

¿una educación mercantilista?

UN MUNDO DE GENTE RENTABLE

Un ensayo de la filósofa Martha Nussbaum y expertos españoles alertan del peligroso arrinconamiento de las humanidades en favor de una educación mercantilista

por Jesús Miguel Marcos 
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Seguro que recuerdan aquel chiste de un ingeniero, un físico y un informático que se quedan tirados en una autopista. Los dos primeros se enzarzan en una discusión sobre si hay que revisar la correa de distribución o la temperatura del radiador. El informático, mirándoles con cierta incredulidad, concluye con esta pregunta: ¿Y si salimos y volvemos a entrar? Da risa, pero es probable que su sugerencia sea incluso más práctica que la que hubiera ofrecido un filósofo. Por ejemplo: ¿Qué premisas podemos establecer para construir argumentos válidos que nos encaminen a una solución a nuestro problema en la autopista?
"¿Cómo se nos ha ocurrido meter a este en el coche?", dirían los otros tres, pensando con razón que las elucubraciones del filósofo podían abrir sus mentes, pero de ningún modo iban a arrancar el vehículo.
Que un chiste cuente que lo que no tiene un valor práctico inmediato no tiene valor nos hace reír, pero cuando se hace realidad se puede transformar en la peor broma macabra. Desde hace algunos años, existe la tendencia en los sistemas educativos de todo el mundo de arrinconar las humanidades (Filosofía, Filología, Historia...) en favor de los estudios con una proyección mercantilista.
"Los ciudadanos serán máquinas utilitarias", adivierte Nussbaum
El reciente Plan Bolonia o la reducción de la carga horaria de Filosofía en la Educación Secundaria son sólo dos ejemplos de un fenómeno que ha sido contestado con ruidosas protestas desde la comunidad académica. "Se están produciendo cambios drásticos en aquello que las sociedades democráticas enseñan a sus jóvenes. Sedientos de dinero, los estados nacionales y sus sistemas de educación están descartando sin advertirlo ciertas aptitudes que son necesarias para mantener viva la democracia", escribe la filósofa estadounidense Martha C. Nussbaum en Sin fines de lucro (Katz).
Nussbaum, prestigiosa profesora en Harvard y una de las cien intelectuales más relevantes de 2010 según la revista Foreign Policy, ha escrito un libro en el que alerta del peligro de que aparezcan "generaciones enteras de máquinas utilitarias, en lugar de ciudadanos cabales capaces de pensar por sí mismos". 

CIUDADANO ROBOT

No pienso, no protesto

En el año 2001, la compañía de energía Enron entró en bancarrota después de que sus dueños protagonizaran uno de los fraudes empresariales más espectaculares de la historia. Muchos trabajadores sabían lo que estaba pasando, pero ninguno alzó la voz. "La autoridad y la presión de los pares hacían que la gente no protestara, incluso cuando las cosas se pusieron realmente feas. Necesitamos producir gente que se sienta impulsada a ser crítica, tanto para lograr un futuro saludable en la cultura de empresa como, por supuesto, para la política", responde a Público Nussbaum.
El ciudadano adquiere las herramientas para desempeñar un trabajo, aprende conocimientos de aplicación inmediata y claramente dirigidos a promover el desarrollo económico, pero se deja a un lado la formación de su capacidad intelectual, de pensamiento crítico y de reflexión. "Se están cambiando las premisas de la educación: de un sistema donde se primaba la formación intelectual se está pasando a una enseñanza utilitaria. Estamos viviendo un proceso de conversión de las universidades en un modelo muy impreciso de escuelas laborales", razona el decano de Filología de la UNED, Antonio Moreno.

CIUDADANO ÚTIL

Produzco, luego existo

Existe un abandono de aquellos conocimientos que no tengan una aplicación mercantil directa. Ahora prima la empleabilidad. No se forma a la persona de forma integral, sino que se persigue una educación que la convierta en sujeto de rendimiento inmediato en el ámbito económico. El ser humano como una pieza más del engranaje de un sistema productivo que requiere de ciudadanos fácilmente intercambiables que no se planteen otros posibles escenarios.
Para Ángeles J. Perona, profesora de Filosofía de la Complutense de Madrid, "esto conduce al adocenamiento del individuo, cierra su vida, su horizonte, e incluso limita mucho los criterios sobre su propia valía. Si haces algo que no tiene rendimiento mercantil, eres una persona excéntrica o un vago. Y hoy en día el criterio para juzgar es sólo ese".

CIUDADANO NEOLIBERAL

El mundo, un mercado

"Se está cambiando el modelo educativo de forma opaca", dice Antonio Moreno
El arrinconamiento de las humanidades está directamente relacionado con una concepción neoliberal de la educación: se forma a los individuos en función de las necesidades económicas de un país. "Las universidades pierden una de sus funciones fundamentales, fomentar la conciencia crítica respecto al status quo. Se propicia la integración económica, pero vamos a crear ciudadanos que no cuestionan el modelo económico y social porque no tienen herramientas para hacerlo", afirma la escritora Marta Sanz.
La universidad y la Educación Secundaria Obligatoria cada vez ofrecen programas más acordes con las necesidades de las empresas. Carlos Fernández Liria, profesor de Filosofía de la Complutense, lo ilustra con un ejemplo: "En una ocasión, un economista vino a dar una charla a la facultad para decir que las empresas necesitaban las humanidades, que los ejecutivos tuvieran cultura general, porque no podían ir a hacer una entrevista a Japón y no saber que hay que descalzarse para entrar en una casa. Eso van a ser las humanidades". 

CIUDADANO INFANTIL

Me quejo, no actúo

Estas tendencias aparecen, precisamente, en lo que se ha llamado la sociedad del conocimiento, un mundo interconectado donde los individuos tienen acceso a un volumen de información inimaginable. Sin embargo, conocer no es sólo saber cifras y datos, sino analizar los contenidos que la persona recibe y devolver algo nuevo y distinto a la sociedad. 
"Se está instalando el fenómeno del infantilismo, donde el individuo se cree que tiene acceso a todo, sin trabas, lo que es algo falaz. Cuando no lo consigue aparece el victimismo: la sensación de que se nos debe todo y nos quejamos de forma permanente. En lugar de asumir el papel de sujeto que actúa, somos pasivos, víctimas de un conjunto de factores que sencillamente nos impiden ser niños otra vez", explica Antonio Moreno.

CIUDADANO INMEDIATO

Logros a golpe de ‘click'

Las nuevas consignas educativas también quieren controlar el tiempo. "Ahora nos piden cronogramas de los programas: el tema 1 en dos semanas, el tema 2 en una semana... Eso impide que yo pueda cambiar el ritmo de mis clases en función de las preguntas de mis alumnos. El tiempo se mecaniza, se instala una sensación de seguimiento de las personas con la excusa de que te preocupas, cuando en realidad lo que haces es ahogarles", indica Ángeles J. Perona.
Se impone la idea de inmediatez, aumentada por las infinitas posibilidades que ofrece una tecnología cuyo poder no parece tener límites. Para Antonio Moreno, "el deslumbramiento de la tecnología, que aparentemente nos suministra un acceso a toda la información, crea una ficción de interpretación de la realidad y no contempla los intangibles del conocimiento. No son datos, son operaciones que tiene que realizar el sujeto. Y al sujeto hay que ilustrarlo, porque si lo toma de la red son opiniones prestadas, no un análisis propio".

CIUDADANO AISLADO

El otro no existe

Martha Nussbaum cree que una educación errónea es una de las causas que conducen a sistemas como el totalitarismo. Considera vital que se instruya a las personas desde muy pequeñas en la comprensión y experiencia de los otros. "La incapacidad para entender a los otros como seres humanos plenos fue una parte prominente del nazismo. El psicólogo Robert Jay Lifton hablaba del fenómeno de la disociación: los alemanes de la época eran capaces de tratar con gran humanidad a su familia y a continuación tratar a los judíos como meros objetos", explica Nussbaum.
"Esto conduce al adocenamiento del individuo", según Ángeles J. Perona 
Los problemas de la actualidad, descontextualizados, aislan al ciudadano, que sin los conocimientos de fondo que aportan las humanidades se vuelve más vulnerable. "Se cercena su curiosidad y se le priva de muchos placeres, como es el disfrute de la cultura. Esta educación tan enfocada a satisfacer las necesidades del mercado incluso atenta contra la posibilidad de ser felices y de ser buenos. Moralmente buenos. Ser mejores personas: más solidarios, más consecuentes, más generosos...", sostiene Marta Sanz.

CIUDADANO INDEFENSO

Soy lo que quieren que sea

Las posibilidades para el individuo se reducen a una sola variable: el valor de su producción en el mercado. "Se nos impone una noción de producción muy mercantil, muy capitalista. ¿Porque qué se entiende por producción? Un libro de poesía es una producción, algo nuevo y valioso, pero claro, su rentabilidad económica no es tan valiosa", explica Ángeles J. Perona.
Carlos Fernández Liria cree que "el totalitarismo neocon, que es el que ha impulsado este tipo de educación, va a imponer en la cabeza de la gente que nada que no tiene valor en el mercado tenga valor en sí mismo". Las personas, por lo tanto, tendrán valor cuando el mercado lo decida.
Fonte: Público.es, Madrid 28/11/2010

domingo, novembro 07, 2010

"Não existe mais um centro de gravidade."

"Houve uma atomização do pensamento.”

   "No nosso aniversário isolamos cinco novos eixos do pensamento: o impulso ao individualismo, o retorno das religiões, o nascimento de uma consciência ecológica, a importância da pesquisa científica e a revolução das comunicações digitais. Mas é o próprio modo de refletir que hoje mudou. Nesse período, houve como que uma atomização do pensamento. Não existe mais um centro de gravidade. É uma afirmação um pouco esquemática, mas Debray não está equivocado. A hegemonia da ideologia ou do pensamento foi substituída pela da tecnologia [...] completou-se a dissociação definitiva entre o intelectual como figura social e ator político, e aquele que produz ideias e conhecimento. O motivo é simples. Falharam os fios de transmissão entre esses dois mundos, ou seja, os partidos e a escola". Pierre Nora*. 
   O intelectual comprometido está morto, viva o intelectual democrático. No seu escritório da maison Gallimard, o historiador Pierre Nora tem sobre a escrivaninha o número que celebra os 30 anos da revista Le Débat, incessante laboratório de ideias, ponto de referência da vida cultural francesa, muitas vezes de estilo polêmico e anticonformista. "É verdade que o nosso trabalho pode parecer um pouco antigo e talvez austero nesta época que premia a comunicação mais do que a reflexão. Somos pouco consensuais, mas isso não nos desagrada", diz ele em entrevista ao jornal La Repubblica, de 05-11-2010. Traduzida pelo site IHU (http://www.ihu.unisinos.br/index.php), por Moisés Sbardelotto.
Eis sua entrevista.
Pierre Nora, o que será do nosso futuro intelectual?
Uma comparação histórica com 1980 seria impossível. No meio, está o fim da Guerra Fria, a desagregação do sistema soviético, a onda longa da globalização, o novo mundo que se assoma da Ásia. No nosso aniversário, isolamos cinco novos eixos do pensamento: o impulso ao individualismo, o retorno das religiões, o nascimento de uma consciência ecológica, a importância da pesquisa científica e a revolução das comunicações digitais. Mas é o próprio modo de refletir que hoje mudou. Nesse período, houve como que uma atomização do pensamento. Não existe mais um centro de gravidade. Os jovens intelectuais não se sentem mais parte de uma geração. Estão isolados no seu trabalho, têm dificuldade de emergir. Muitos autores do nosso primeiro número tinham menos de 30 anos. Hoje, confesso ter dificuldade para encontrar pensadores tão jovens. Eles existem, certamente. Mas poucos e bem escondidos.
Na Le Débat, o escritor Regis Debray diz que agora o verdadeiro poder intelectual é o Google. 
É uma afirmação um pouco esquemática, mas Debray não está equivocado. A hegemonia da ideologia ou do pensamento foi substituída pela da tecnologia. Dentro da Internet, pode-se encontrar de tudo e o contrário de tudo. Nós somos chamados a ser intérpretes dessa democracia intelectual. Por sorte, não existem mais maître à penser e profetas. É preciso um papel de análise e de divulgação mais modesto, diria quase de serviço. Mas certamente não vou ser eu que vai lamentar o "grande intelectual" que, do seu púlpito, dizia a primeira coisa que passava pela cabeça.
O senhor fundou a Le Débat para romper com a militância do famoso intellectuel engagé.
A nossa ambição, naquele momento, era nos isentar do feudalismo político dos intelectuais que muitas vezes recobriam uma função servil, às vezes comprometedora e exclusivamente decorativa. Pelo contrário, queríamos afirmar a independência e a autonomia de uma atividade livre e igualmente necessária. Aqueles eram os anos de uma esquerda que chegava ao poder em um estado avançado de dissolução ideológica. E era também o momento dos nouveaux philosophes que levaram a figura do compromisso intelectual a se encerrar no campo político e midiático.
Essa tradição, para entender, está morta e sepultada.
Permaneceu aquilo que eu chamo de intelectual midiático. Uma dezena de nomes. O mais famoso deles é obviamente Bernard-Henri Levy. Com efeito, é o fim de uma grande histórica, que começou com Voltaire e Zola. Mas não devemos nos esquecer que o affaire Dreyfus, graças ao qual nasceu a figura do intelectual moderno que viveu até Sartre, foi também a época dos totalitarismos. Justamente a morte de Sartre, em 1980, abriu uma nova fase. Por um período, a vida cultural francesa beneficiou-se de um clima de abertura em todos os campos. Sectarismo e terrorismo, contra os quais alguns de nós se insurgiram, estavam em declínio. Infelizmente, são ameaças que voltaram com estreita atualidade.
Qual é então o papel do intelectual dos anos 2000?
Vivemos em uma sociedade sempre menos decifrável, na qual se dedica pouco tempo à reflexão e muito à comunicação. Um modo prisioneiro de um presente perpétuo, condenado ao zapping e à onipotência das mídias. É uma época, a nossa, na qual a vida política está fechada nos jogos de interpretação de personagens e tem poucas ideias. Falta a distância certa, a perspectiva. Nós, intelectuais, não devemos dizer aos políticos o que eles devem fazer, mas iluminar as suas ações. Não devemos fornecer aos cidadãos julgamentos pré-fabricados, mas torná-los verdadeiramente padrões das suas escolhas.
O fato de se ter um chefe de Estado alérgico aos intelectuais pode incidir sobre isso?
A vida política reflete a intelectual. Quando você ouve o presidente da França dizer que acha entediantes livros como "Princesse de Clèves" há com o que se preocupar, de fato. Até Jacques Chirac, talvez o menos intelectual dos nossos presidentes, tinha mais gosto pela vida cultural. Nicolas Sarkozy é a imagem de uma geração enérgica, sempre na ação. Não sei dizer que ele é o símbolo de um provincialismo nacional destinado a durar. Talvez dentro de dois anos a sua parábola estará concluída. O que é certo, ao contrário, é que hoje a figura que trabalha nas ciências sociais não tem mais a força civil e a credibilidade de tempos atrás. Nestes anos, completou-se a dissociação definitiva entre o intelectual como figura social e ator político, e aquele que produz ideias e conhecimento. O motivo é simples. Falharam os fios de transmissão entre esses dois mundos, ou seja, os partidos e a escola.
Essa não é uma boa razão para se comprometer ainda mais na vida pública?
É verdade. É preciso resistir à tentação de protestar abstendo-se do confronto. Ao mesmo tempo, não podemos nos reduzir a ser os histriões para atrair um pouco de público. Só procurando os instrumentos para entender um mundo sempre mais complexo é possível, verdadeiramente, tentar mudá-lo. Infelizmente, a nossa atividade de estudo e de análise ocorre em circuito fechado e quase sempre na indiferença geral. Mas também é verdade que ela age em profundidade, e os resultados são vistos em longo prazo. Não é preciso ter medo de ser minoria. Como dizia André Gide, o mundo será salvo por alguma pessoa.
(*)Pierre Nora é Membro da Academia da França e diretor do departamento de Ciências Sociais da editora Gallimard, Pierre Nora contribuiu na publicação, dentre outros, dos livros de Raymond Aron, Michel Foucault, François Furet e Jacques Le Goff. Junto com o 30º número da revista, também deu à imprensa um número especial intitulado "De quoi l'avenir intellectuel sera-t-il fait?", a pergunta que havia inaugurado o lançamento da revista, fundada em 1980 junto com o filósofo Marcel Gauchet, reproposta a alguns dos autores da época e aos novos jovens pensadores dos anos 2000.
Fonte: Carta Maior, 06/11/2010

domingo, outubro 24, 2010

uma constatação tão perspicaz

Tropa de Elite 2 – A saga do “herói brasileiro” e o quanto há de política na afirmação de que “filme é apenas arte”
por Fabiana Melo Sousa

Assistir o filme “Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro” e não fazer comparações com o primeiro é tarefa muito difícil, tanto no que diz respeito à estética quanto à repercussão da opinião pública a respeito da violência no Rio de Janeiro. Mas será possível encaminhar uma análise destas duas instâncias de forma separada? Talvez a maior indagação seja: quais são os limites que separam arte e política?
No início do filme somos avisados que “qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência”. Esta é a primeira imagem-aviso que recebemos numa afirmação diagética do espaço onde estamos: expectadores numa sala escura, comendo pipoca numa tarde de sábado. E somos muitos: 3 milhões em menos de uma semana de exibição, chegando ao valor de R$30 milhões arrecadados com a bilheteria do filme, somente na primeira semana de exibição. 
        Mas o que leva tantas pessoas ao cinema? Em primeiro lugar, o tema do filme é mais do que nacional. Ao contrário dos discursos hegemônicos de que brasileiro só gosta de filmes estrangeiros e de que estamos cansados de tanta violência sobre o Brasil no cinema, o longa retrata a crise que as grandes cidades brasileiras estão passando hoje, transformando-se em palco principal dos contrastes sociais que o país vive, em que a riqueza e beleza, no caso de Tropa, da cidade maravilhosa, convivem lado-a-lado com as favelas.
O argumento da obra tem como principal pensador o ex-comandante do BOPE do Rio de Janeiro, Rodrigo Pimentel, e mostra neste cenário desigual um policial humanizado como protagonista desta cidade em crise. Esta saga do “herói brasileiro” é novamente vivida por Wagner Moura que dessa vez traz uma densa atuação, conforme o filme pede, com uma expressão corporal que diria tudo por si, mas que fica prejudicada em diversos momentos por uma maquiagem exagerada.
Nosso herói agora está com outros problemas: separado de sua esposa Rosane interpretada por Maria Ribeiro, ela agora é casada com Fraga (Irandhir Santos), um militante de direitos humanos e um dos maiores críticos da atuação do BOPE que mais tarde candidata-se a deputado estadual, tentando instaurar uma CPI para investigar as milícias do Rio de Janeiro. É claro que este conflito confunde-se entre ideológico e pessoal quando o que está em questão é o filho de Nascimento e sua formação de opinião quanto ao trabalho de seu pai. 
        Um homem que, primeiramente, precisava escolher entre a ética que envolve seu trabalho e o futuro de sua família, agora vive um policial maduro e vê a sua crença de colocar ordem nesta sociedade corrupta através de sua “tropa de elite” cair por terra ao descobrir que existe uma lógica de sistema que sustenta toda esta desordem. Lógica que é maior do que a relação dualista e estreita entre bandido (traficante e policial corrupto) e mocinho (o policial do BOPE). O Capitão Nascimento agora está dentro do sistema e, ao tentar combatê-lo, percebe que a corrupção está em seu cerne. Muito tarde, o militar se dá conta de que ela não é um defeito, mas sim parte da concepção de Estado que é exercida neste país. “O inimigo agora é outro” aponta o próprio título do filme.
Nosso herói agora está arrependido e tenta de muitas formas desfazer o mal feito, mas percebe que o problema é muito mais grave do que imaginava, pois está cercado de inimigos: o governador que apoia a milícia por questões eleitorais, os deputados estaduais que ganham muito com a ascensão da milícia e todas as outras figuras conhecidas, até a mídia que atua como poderosa arma na opinião pública para legitimar a violência.
      A sensação de impotência diante de algo que já está ali há muitos anos sendo vivenciado pelo herói é claramente identificada pelo expectador. Quem de nós como cidadãos brasileiros nunca tivemos essa sensação numa fila de hospital público ou ao tentar educar nossos filhos nas escolas do Estado. Para os poucos que chegam à universidade é de indignar ver a estrutura física das instituições de ensino sucateadas ou mesmo, quando no limite desta questão, sofremos com a violência propriamente dita, executada por aqueles que cedem ao abandono da humanidade e se assumem como parte da barbárie com o outro. 
A estética documental que é mantida neste segundo filme também ajuda muito na aproximação com a “realidade” e na simpatia dos 3 milhões de expectadores. 
          A fotografia lavada de Lula Carvalho, onde as imagens não são retocadas deixam um clima tenso e ao mesmo tempo parece que estamos assistindo cenas que vimos todos os dias nos noticiários. A câmera é inquieta e em algumas sequências a instabilidade do enquadramento chega a incomodar, como é o caso da primeira, que retrata uma rebelião numa penitenciária. 
     Daniel Rezende respeita o tempo interno que o filme exige numa montagem, valorizando os atores em cena e dando maior intensidade à câmera perturbadora e com movimentos inquietos, que também são explorados em primeiríssimos planos nos momento em que Nascimento conversa sobre seu filho com sua ex-esposa.
O elenco como um todo é atravessado pelo trabalho de Fátima Toledo que mais uma vez deixa sua marca na preparação de elenco em filmes que exigem dos atores intensidade e entrega total para viver o instante das cenas: suas vozes, posturas e olhares passam para o expectador todos os incômodos e emoções possíveis, principalmente nas cenas de violência explícita, assim como nos diálogos improvisados que marcam muitos momentos do filme.
Mas será que estes elementos estéticos do filme dão conta de responder a pergunta: o porquê de o público brasileiro identificar-se tanto com Tropa de Elite 2? Estes elementos fílmicos nos levam a outra pergunta: o que estes elementos em conjunto contribuem ou não para a nossa construção de mundo que por sua vez influenciariam em nossa construção política de mundo?
Esta questão não é só de quem escreve estas palavras, a declaração do atual comandante do BOPE, Paulo Henrique Moraes também aponta esta preocupação, pois ele mesmo declarou em entrevista coletiva sobre o filme no dia 14/10/2010 que, ao misturar ficção e realidade, o filme pode vir a confundir a opinião dos expectadores. Atrevo-me a afirmar que o capitão pode estar certo e errado ao mesmo tempo.
O grande incômodo que o primeiro filme “Tropa de Elite” causou nos grupos de direitos humanos foi exatamente a respeito de sua estética documental que aproximava acontecimentos reais vividos pela sociedade carioca, que era o caso da guerra entre o tráfico de drogas do Rio de Janeiro e a relação com a polícia, mas que tinha como pano de fundo a saga de um herói que em muitos momentos aparecia em cenas de tortura. Não são necessários estudos muito profundos para perceber o quanto o personagem Capitão Nascimento caiu no gosto popular: fantasia de carnaval da tropa de elite, o jargão “pede pra sair” que estava na boca das crianças e mesmo a opinião pública a favor da atuação da polícia nas favelas são sinais do quanto a população como um todo foi influenciada pelo o que o filme retratou. Sobre este aspecto, talvez o atual comandante tenha razão.
O fato da produção do segundo filme ter esperado as eleições passarem para ser lançado pode ter explicações políticas também: seus personagens são idênticos a algumas personalidades públicas do atual cenário carioca, principalmente os que representavam o corpo político de nossa câmara de vereadores. 
O desfecho do filme também traz uma mensagem explícita: sobre o Planalto do Palácio em Brasília, Capitão Nascimento em off narra a verdadeira raiz da falha das políticas de segurança pública do país, que é não conseguir chegar ao verdadeiro crime organizado. Se as investigações fossem levadas a sério iriam chegar aos senadores, à bolsa de valores e às grandes esferas de poder do Brasil e do mundo.
Neste sentido sim, o comandante Moraes tem razão em preocupar-se com os resultados de um filme que retrata a política brasileira com o que ela de fato é: o resultado de um Estado que serve aos interesses de um projeto de mundo neoliberal que ao criminalizar a pobreza desvia a atenção do eleitor para as verdadeiras causas da violência que estamos inseridos e, como lembra Milton Santos, que organiza a cidade dentro destes interesses.
E criminalizar a pobreza é coisa que a mídia sabe fazer muito bem. A mídia, assim como todas as empresas, representam os interesses deste sistema e percebem que numa sociedade midiática tudo o que se produz em imagens é percebido como mensagem e é sempre carregado de ideologia. 
Mas por outro lado, esta mesma indústria de imagens que transmite, divulga e reafirma a criminalização da pobreza, é a mesma que aliena com a indústria do entretenimento, e aí é que começo a pensar que Moraes talvez possa ficar despreocupado.
As ditaduras militares nos anos 60 aqui no Brasil e na América Latina fizeram mais do que torturar, instalaram em nós um pensamento difícil de desconstruir, que é o da descrença numa mudança de sociedade. O grito de esperança de um mundo sem injustiças foi amordaçado pelas mãos do mesmo sistema que o filme “Tropa de Elite 2” denuncia. Hoje, como resultado, temos uma sociedade que a cada dia luta para seus interesses individuais, desta forma, ir ao cinema e assistir um filme que traz uma constatação tão perspicaz é apenas entretenimento.
Voltamos então a pergunta: quais são os limites entre arte e política? E a ela acrescento outra: para que serve a arte se ela não transforma nada ou para que serve hoje lutar se atualmente temos uma sociedade que não se interessa pelas lutas coletivas?
Os limites que separam arte e politica são tênues e muitas vezes a confusão entre os dois é criticada tanto por aqueles que atuam na primeira quanto na segunda esfera, mas se o que nos difere na maioria dos outros animais é o fato de sermos seres sociais e culturais, isso quer dizer que procurar estabelecer lugares opostos para cada coisa é perder a oportunidade de trazer a tona questões que estão em nossa vida.
Não vamos esperar, assim como o Capitão Nascimento, que algo nos atravesse de forma avassaladora e destruidora para que tenhamos mais do que indignação, mais coragem para enfrentar os problemas em nossa sociedade. Precisamente, no caso da violência do Rio de Janeiro, estar sensibilizado com as lutas de heróis como o Nascimento e o deputado Fraga são importantes, mas é em nossa participação ativa e coletiva que podemos ver transformações.
Ir ao cinema, assistir um filme e comentar com os amigos, debatê-lo em sala de aula, conversar com as pessoas na fila do banco, promover exibições coletivas em casa ou em cineclube é mais do que um ato pela divulgação da indústria cultural em nosso país, é um ato político.
Santiago Alvarez, grande representante do cinema latino-americano dos anos 1960, diz ter muitas dificuldades em distinguir o que não é um filme político e talvez a sua dificuldade seja em conseguir perceber o que não é política nas ações humanas. 
Identificar o filme “Tropa de Elite 2” com a nossa realidade brasileira é perceber que o tema ainda não se esgotou, portanto ele não é a única e verdadeira realidade Brasileira.
Se existe uma coisa que aproxima o fazer artístico da atuação política é o fato que em ambos nos sentimos mais vivos e mais humanos, que não vale a pena viver apenas para sobreviver. Se a arte serve para mexer com os nossos sentimentos e, se a indignação tanto com a imagem de um torturador quanto com a de um deputado honesto que tenta denunciar uma milícia é algo provocado por um filme, e se esta indignação é uma mola motora para transformação, então fazer arte é um ato político.
Ao final do filme, o filho então adolescente do Capitão Nascimento leva um tiro numa tentativa de assassinato, pois estava no mesmo carro do seu padrasto que, enfim, consegue aprovar a CPI das milícias. Na última cena, o garoto numa cama de hospital abre os olhos. E então, vamos abrir os nossos? Qualquer semelhança com a realidade é coincidência? 
Fonte: Blog Leia Cinema, 18/10/2010

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  • O Preço da Coragem
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  • O Som do Coração (August Rush)
  • O Tempo e Horas
  • O Troco
  • O Último Vôo
  • O Visitante
  • Old Guard
  • Olhos de Serpente
  • Onde a Terra Acaba
  • Onde os Fracos Não Têm Vez
  • Operação Fronteira
  • Operação Valquíria
  • Os Agentes do Destino
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  • Os homens que não amavam as mulheres
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  • Password, uma mirada en la oscuridad
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