Paraulas para Palau*
Por Augusto de Campos
Encantam-me esses textos pela naturalidade e diretidade villonescas do discurso, qualidades raras na poética quase que inevitávelmente rebuscada e “self conscious” da modernidade. Dialogar com o desconhecido, o desvalimento e a estraneidade com tão claras, precisas e belas palavras? Não é para qualquer um.
* PARAULAS (provençal) = PARAULES (catalão) = PALAVRAS.
* * *
CANT ESPIRITUAL
No crec en tu, Senyor, però tinc tanta necessitat de creure en tu, que sovint
parlo i t`imploro com si existissis.
Tinc tanta necessitat de tu, Senyor, i que siguis, que arribo a creure en tu
— i penso creure en tu quan no crec en ningú.
Però després em desperto, o em sembla que em desperto, i m`avergonyeixo
de la meva feblesa i et detesto. I parlo contra tu que no ets ningú. I parlo
mal de tu com si fossis algú.
¿Quan, Senyor, estic despert, i quan sóc adormit?
¿Quan estic més despert i quan més adormit? ¿No serà tot un son i,
despert i adormit, somni la vida? ¿Despertaré algun dia d`aquest doble son
i viuré, lluny d`aquí, la veritable vida, on la vetlla i el son siguin una
mentida?
No crec en tu, Senyor, però si ets, no puc donar-te el millor de mi si no és
així: sinó dient-te que no crec en tu. Quina forma d`amor més estranya i
més dura! Quin mal em fa no poder dir-te: crec.
No crec en tu, Senyor, però si ets, treu-me d`aquest engany d`una vegada;
fes-me veure ben bé la teva cara! No em vulguis mal pel meu amor
mesquí. Fes que sens fi, i sense paraules, tot el meu ésser pugui dir-te: Ets.
París, 14 de maig del 1950
CANTO ESPIRITUAL
Não creio em ti, Senhor, mas tenho tanta necessidade de crer em ti, que
muitas vezes falo e te imploro como se existisses.
Tenho tanta necessidade de ti, Senhor, e de que sejas, que chego a crer
em ti — e penso crer em ti quando não creio em ninguém.
Mas depois desperto, ou me parece que desperto, e me envergonho de
minha fraqueza e te detesto. E falo contra ti que não és ninguém. E falo
mal de ti como se fosses alguém.
Quando, Senhor, estou desperto e quando adormecido?
Quando estou mais desperto e quando mais adormecido? Não será tudo
um sonho e eu que, desperto e adormecido, sonho a vida? Despertarei
algum día deste duplo sonho e viverei, longe daqui, a verdadeira vida,
onde sonho e vigília sejam uma mentira?
Não creio em ti, Senhor, mas se és, não posso dar-te o melhor de mim a
não ser assim: senão dizendo-te que não creio em ti. Que forma de amor
tão estranha e tão dura! Que mal me faz não poder dizer-te: creio.
Não creio em ti, Senhor, mas se és, tira-me deste engano de uma vez.
Faz-me ver bem a tua cara! Não me queiras mal pelo meu amor
mesquinho. Faz com que, sem fim e sem palavras, todo o meu ser possa
dizer-te: És.
COMIAT
Ja no sé escriure, ja no sé escriure més.
La tinta m’empastifa els dits, les venes...
–He deixat al paper tota la sang.
¿On podré dir, on podré deixar dit, on podré inscriure
la polpa del fruit d’or sinó en el fruit,
la tempesta en la sang sinó en la sang,
l’arbre i el vent sinó en el vent d’un arbre?
¿On podré dir la mort sinó en la meva mort,
morint-me?
La resta són paraules...
Res no sabré ja escriure de millor.
Massa a prop de la vida visc.
Els mots se’m moren a dins
i jo visc en les coses.
DESPEDIDA
Já não sei escrever, já não sei escrever mais.
A tinta me empasta os dedos, as veias...
—Deixei no papel todo o meu sangue.
Onde poderei dizer, onde poderei deixar dito, onde poderei inscrever
a polpa do fruto de ouro senão no fruto,
a tempestade no sangue senão no sangue,
a árvore e o vento senão no vento de uma árvore?
Onde poderei dizer a morte senão na minha morte,
morrendo?
O resto são palavras...
Nada saberei já escrever de melhor.
Perto demais da vida vivo.
As palavras morrem em mim
e eu vivo nas coisas.
L’ESTRANGER
—¿De quin país és aquest estranger?
—No ho sé.
—¿Com se diu?
—No ho sé.
—¿Què fa? ¿Quina llengua parla?
—No ho sé.
—¿Com us dieu, bon home?
— ...
—¿De quin país veniu? ¿On aneu?
—Sóc d’aquí. Sóc estranger.
O ESTRANGEIRO
— De que país é aquele estrangeiro?
— Não sei.
— Como se chama?
— Não sei.
— O que faz? Que língua fala?
— Não sei.
— E você, que nome tem?
—…
— De que país vem? Para onde vai?
— Sou daqui. Sou estrangeiro.
Augusto de Campos nasceu
Site:http://www2.uol.com.br/augustodecampos/home.htm E-mail: a.campos@uol.com.br
Fonte: CRONÓPIOS
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