blues e jazz, utopias locais...
Desde uns dois meses atrás queria ir ao Farol Music Bar, no Rio Vermelho, ouvir e assistir o "blues man" Álvaro Assmar, e decidi ir no mesmo dia do aniversário da amiga Neila, 14 de agosto. Ao chegar até lá redescobri o prazer de ouvir a guitarra “chorar” de alegria com o blues, mas encontrar o amigo foi um momento de conversa com um significado histórico, com o resgate de lembranças de um tempo que o desejo de formar uma banda e tocar os sonhos em frente, se fazia sob a luz de ídolos como Jimmy Hendrix, Bob Dylan, Jimi Page, Muddy Waters, James Brown, Robert Johnson, John Lee Hooker, Stevie Ray Vaughan, Joe Pass, B.B. King, Jeff Back etc etc Era anos setenta, e os reflexos dos ventos de Woodstock ainda se fazia sentir, remanescentes da utopia “Paz e Música”, ainda era um alento possível para os quatro jovens aspirantes ao mundo da música começar algo tão simples. Nessa caminhada ia eu, Álvaro, Macedinho, Adelmo (irmão de Álvaro) e “Eginhas” que morava atrás do Colégio Central. Nossos ensaios eram combinados no palco do "teatro" do Colégio Maristas, eram tardes de "criação coletiva", um encontro de "estrelas diferentes", um grupo que apropriadamente chamamos Kaos. Pouco tempo depois os nossos interesses individuais se confrontariam e se adequariam à necessidade das mudanças, de se dedicar aos estudos universitários e à gravidade do mercado de trabalho. Anos se passaram, uns continuariam no encalço peregrino da música, insistindo em seu próprio estilo, e outros na busca da sobrevivência, constituimos família, já que a vida de músico não oferecia promessas, um fato. Até hoje poucos são contemplados pelo “interesse” dos produtores. São as leis do mercado.
Ao relembrar muita coisa dessa época pulo para a nossa realidade de agora e o que percebo é que a vontade de muitos jovens músicos ainda se repete na busca desse sonho, só que apesar de existir um público a espera de outros estilos, da boa música, do som universal como o blues e o jazz, pouco vemos algo ser feito nessa direção, pouco se faz no sentido de divulgação e ampliação desse segmento que obviamente tem seu espaço, tem um público, mas é propositadamente afastada pelo interesse do nicho mercadológico tradicional do carnaval. Interesses que dificultam o fluxo natural de outras opções se expandirem e atender com a rica produção de seus representantes, o seu público, seu resistente ouvinte, uma demanda reprimida.
Claramente, se tornaria mais um atrativo e importante canal de democratização da música local e realização de seus músicos, instrumentistas, profissionais vinculados a outros modos de vida, uma porta que se abre para muitos soteropolitanos e turistas amantes do blues e jazz, muitos que gostam da vida cultural de uma das cidades mais recheada de diferenças, diversidades de paladares musicais, espíritos universais, embora alguns estejam abertamente submetidos a uma indústria de interesses estritamente monopolizadores, sem atentar para os variados modos de viver, sentir, e de prazeres culturais existentes em nossa pobre metrópole.
Acredito que a necessidade de romper horizontes limitados, e a dinamização de outros gêneros musicais se pronunciam cada vez mais forte, possivelmente se fortaleça a partir de projetos culturais de governo (com uma “nova administração” da Secretaria Estadual quem sabe isso se torne possível; apenas devo marcar aqui, que cultura, não se trata apenas de uma questão de gestão, mas é tão necessária quanto a distribuição dos recursos na área), ao incentivar ações onde os profissionais que não vivem do estilo predominantemente carnavalesco venha redesenhar outros padrões, novos modelos que impeçam o crivo do monopólio do axé e do pagode, sem perpetuar a monotonia singular da “madeirada”, que não deve servir de referencial, como única forma de diversão e conhecimento musical, e quiçá aconteça uma real democratização da diversidade da oferta de produção, de nossa musicalidade, que vai ficando anos e anos refém do “padrão global” e de uma clara mediocridade lucrativa de seus produtores interferindo e alterando a geografia das manifestações populares e os espaços culturais históricos da cidade. Falei, to pagando... pra ver!
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