por Emanuella Sombra
À beira da estrada, no distrito de Brejinho das Ametistas, em Caetité, o lavrador José Francisco da Silva pede carona. Havia andado cinco léguas – ou 30km – até ali, vindo de sua propriedade. Para chegar à sede do município, onde tinha marcada um cirurgia na vesícula, seriam outros 28 km. Dois ônibus quebrados em um posto próximo dimensionavam a dificuldade da tarefa. “A gente vive há mais de 40 anos em cima de um morro de pedra onde só pousa urubu”, lastima o baiano de sotaque amineirado.
Próximo à divisa entre Bahia e Minas Gerais, a 757km da capital baiana, Caetité tem um imbróglio nas mãos. De um lado, a chegada da mineradora Pedra de Ferro, empreendimento que em 15 anos deverá extrair do subsolo algo em torno de 15 milhões de concentrado do minério.
Do outro, Igreja Católica e ambientalistas denunciam impacto ambiental e crescimento desordenado na região, além de uma pressão psicológica, já existente, para que agricultores vendam suas terras. Possibilidade que, aos olhos de José Francisco, passa longe de ser compulsória. Minutos de conversa, e um quase delírio: “Se quisessem comprar minha terra eu vendia era correndo”.
A especulação imobiliária de que são alvo moradores da zona rural daquela cidade e da vizinha Pindaí ainda não lhe bateu à porta. Do compadre, que deixou a casa depenando-lhe as telhas, recorda o que disse. “Zé, agora eu tô é rico”. Do padre, contrário ao êxodo “forçado”, o sertanejo desdenha: “Queria ver é ele morar aqui”.
Em fase de licenciamento, o projeto carrega a marca da Bahia Mineração (Bamin), controlada pelo investidor indiano Pramod Argawal e pela ENRC, do Cazaquistão. Em troca da promessa de 4 mil empregos na construção da mina – reduzidos a 1,3 mil na fase de extração – Pedra de Ferro se beneficiará de 765m³ de água/hora do São Francisco, canalizada por 150 km de um duto até Malhada (BA).
Uma hipótese para o escoamento do ferro é a concretização da Ferrovia Bahia Oeste, entre Ilhéus (Ba) e Alvorada (TO). Apesar de já possuir outorga prévia da Agência Nacional de Águas (ANA) para extração no Velho Chico, a Bamin não tem o apoio de ambientalistas.
Fonte: A Tarde on Line CIDADES 16/08/2009 às 21:19 ATUALIZADA EM: 17/08/2009 às 11:44
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