segunda-feira, dezembro 12, 2011

"...é só a imposição de maior austeridade..."

Stiglitz: "A Europa e o euro caminham para o suicídio"

Em entrevista ao jornal Página/12, o Prêmio Nobel de Economia 2001, Joseph Stiglitz, analisa a evolução da crise na zona do euro e afirma categoricamente: os dirigentes europeus não aprenderam nada com a experiência da Argentina. "A Europa e o euro caminham para o abismo". Para Stiglitz, o esquema que a Alemanha está impondo ao resto da Europa vai conduzir à mesma experiência desastrosa que a Argentina teve com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Joseph Stiglitz é um militante contra as receitas de ajuste fiscal que propõem uma “desvalorização interna” pela via da diminuição de salários e da submissão dos devedores aos credores. Anos atrás, a Argentina padeceu esses males como nenhum outro país, situação que conseguiu superar a partir da aplicação de um conjunto de políticas econômicas de sinal oposto, como a recomposição da competitividade a partir de uma forte desvalorização, compensada com a expansão do gasto público e política de renda ao estilo keynesiano, e uma forte reestruturação da dívida externa que repartiu os custos da quebra. 
Por isso, Stiglitz se tornou um defensor do modelo argentino. “Nos anos 90, foi o FMI que orientou a Argentina a aplicar as políticas de austeridade, com resultados desastrosos. Na Zona Euro não aprenderam a lição. Agora de novo, a Europa deveria prestar atenção ao crescimento argentino, que mostra que há vida depois da quebra”, explicou em uma conversa exclusiva com o jornal Página/12.
A primeira hora da manhã, um pouco antes de partir para o Chile, o Prêmio Nobel de Economia 2001, enquanto saboreava um abundante café da manhã americano ao ar livre com pão, ovos, bacon e frutas, abordou em profundidade a crise do euro, as saídas possíveis para as economias mais débeis, a incapacidade dos governos de Alemanha e França e das novas administrações de corte “tecnocrata” que surgiram na Itália e na Grécia. Stiglitz lembrou a reportagem que o Página/12 fez, em agosto, na cidade alemã de Lindau, onde ocorreu a conferência mundial de Prêmios Nobel de Economia. Admitiu que, em relação com aquela conversa, sua percepção a respeito da crise europeia tornou-se mais negativa. “A Europa e o euro caminham para o suicídio”, resumiu. Ele recomendou que a Grécia abandonasse a moeda comum.
Ele também destacou a relativa relevância do contexto internacional favorável para explicar o desempenho econômico argentino, referiu-se à inflação e ao giro de rendimentos das multinacionais. Esta semana Stiglitz reuniu-se com a presidenta, Cristina Fernández. “Tanto Néstor, quando tive a oportunidade de conhecê-lo, como Cristina, me pareceram duas pessoas muito interessantes. Ainda que ela seja mais passional”, relatou.
Você menciona que a “Argentina desta vez está fazendo melhor”. Qual a explicação para o bom desempenho da economia nacional e de outros países emergentes?
Na Argentina, o fim do regime da convertibilidade e a quebra geraram um alto custo e um intenso período de queda. Logo depois a economia começou a crescer muito rápido, inclusive na ausência daquilo que muita gente considera ser as “melhores” práticas econômicas. Creio que a Argentina, o Brasil e a China adotaram políticas macroeconômicas muito boas, ao aplicar estímulos keynesianos bem desenhados, para alavancar a economia, diversificá-la e melhorar a situação do mercado de trabalho. Além disso, as regulações bancárias em muitos países em desenvolvimento são de melhor qualidade que as dos Estados Unidos e Europa. Em alguns casos, isso se deveu a que esses países já tinham atravessado grandes crises.
Qual o papel do contexto internacional favorável neste processo?
Vocês se beneficiaram do contínuo crescimento econômico da China. Neste sentido, pode-se dizer que tiveram sorte.
Refere-se ao chamado “vento de popa”?
Sim, mas para explicar o resultado final sem dúvida é preciso mais do que isso. A Argentina manteve o fluxo de crédito, desvalorizou sua moeda e impulsionou o investimento em saúde e educação. Também foi importante o crescimento do Brasil. Um fator fundamental, com certeza, foi a reestruturação da dívida, que de fato pode servir como guia em outros processos similares que estão ocorrendo agora na Europa. Essas políticas aplicadas, em conjunto, permitiram ao país começar a melhorar a elevada desigualdade de renda.
O superávit em conta corrente se reduz à medida que a economia cresce. Um fator que gera uma importante perda de divisas é a remessa de lucros e dividendos das empresas multinacionais. O que a Argentina poderia fazer para enfrentar essa tensão?
Os lucros de algumas empresas tem origem em rendas de tipo monopolista, por causa da falta de competição. Para atacar isso, é preciso introduzir competição, de forma que a magnitude dessas rendas cais. Abrir os mercados pode gerar fortes retornos sociais. Provavelmente alguns dos problemas poderiam ser solucionados com mais competição. Depende muito do setor.
Em que medida os tratados bilaterais de investimentos que a Argentina assinou reduzem a margem de ação para regular as multinacionais?
Muitas ações que podem ser tomadas em termos de regulação podem terminar em demandas judiciais, argumentando que foram introduzidas mudanças nos termos do contrato. É preciso sair desses acordos e, além disso, lutar nas cortes especializadas. A política econômica não deve ser ditada por esses convênios.
A CRISE EUROPEIA
Por que a crise se instalou na Europa e não se vislumbra uma saída?
Creio que o problema fundamental é que a concepção geral da União Europeia foi errada. O Tratado de Maastricht estabeleceu que os países deveriam manter déficits baixos e uma proporção reduzida da dívida em relação ao PIB. Os líderes da UE pensaram que isso seria suficiente para fazer o euro funcionar. No entanto, Espanha e Irlanda tinham superávit antes da crise e uma boa proporção de dívida em relação ao PIB e, mesmo assim, estão com problemas. Alguém poderia pensar que, em função dos acontecimentos recentes, a UE teria se dado conta de que essas regras não eram suficientes. Mas seus líderes não aprenderam isso
A que se refere?
Agora propõem o que chamam de uma “união fiscal”, que, na verdade, é só a imposição de maior austeridade. Reclamar austeridade agora é uma forma de assegurar-se que as economias colapsem. Creio que o esquema que a Alemanha está impondo ao resto da Europa vai conduzir à mesma experiência que a Argentina teve com o FMI, com austeridade, PIB caindo, magras receitas fiscais e, por isso, a suposta necessidade de reduzir mais o déficit. Isso gera uma queda em espiral, que conduz a mais desemprego, pobreza e aprofunda as desigualdades. O déficit fiscal não foi a origem da crise, mas sim foi a crise que acabou gerando o déficit fiscal.
Que papel desempenha o Banco Central Europeu neste processo?
O BCE torna as coisas ainda mais complicadas, porque tem o mandato de preocupar-se somente com a inflação, quando, em troca, o crescimento, o desemprego e a estabilidade financeira importam muito mais agora. Além disso, o BCE não é democrático. Podem decidir políticas que não estão de acordo com o que os cidadãos querem. Basicamente, representa os interesses dos bancos, não regula o sistema financeiro de forma adequada e há uma atitude de estímulo aos CDS (Credit Default Swaps) que são instrumentos muito daninhos. Isso também é uma mostra que os bancos centrais não são independentes, mas sim são políticos.
Como explicar que Alemanha e França estejam empurrando os europeus para esse abismo?
Creio que eles querem fazer as coisas corretas, mas têm ideias econômicas erradas.
Estão errados ou, na verdade, representam interesses de determinados setores?
Creio que ambas as coisas. Por exemplo, é claro que estão colocando os lucros dos bancos acima das pessoas. Isso é claro para o caso do BCE, mas não creio que seja claro para Nicolas Sarkozi ou Angela Merkel – presidente da França e chanceler de Alemanha, respectivamente. Creio que eles estão convencidos. Podem estar protegendo os bancos, mas o fazem porque acreditam que, se os bancos caem, a economia cairá. Por isso digo que tem um olhar errado, além do que não creio que estejam colocando os interesses dos gregos ou dos espanhóis no topo da agenda. Esse é outro problema, a falta de solidariedade. Eles dizem que não é uma “união de transferência de dinheiro”. De fato, o é, mas a transferência de dinheiro vai da Grécia para a Alemanha.
A união monetária é um problema em si mesmo?
Sim, é um problema. Não há suficiente similitude entre os países para que funcione. Com a união monetária eles ficaram sem um mecanismo de ajuste, como é a modificação dos tipos de câmbio. É como ter importo um padrão ouro nessa parte do mundo. Se tivessem um banco central com um mandato mais amplo que contemplasse, além da inflação, o crescimento e o desemprego, com uma cooperação fiscal real e assistência através das fronteiras, então seria concebível o funcionamento da união monetária, e ainda assim seria difícil. No atual esquema, pode funcionar, mas com um enorme sofrimento de muita gente.
Que análise você faz da aparição de governos tecnocráticos, como o de Mario Monti, na Itália, ou o de Lucas Papademus, na Grécia?
O principal problema é ter criado um marco econômico a partir do qual a democracia ficou subordinada aos mercados financeiros. É algo que Merkel sabe muito bem. As pessoas votam, mas se sentem chantageadas. Deveria se reformular o marco econômico para que as consequências de não seguir os mercados não sejam tão severas.
Em agosto, você disse que o euro não tinha que desaparecer. Qual é sua postura agora?
Naquele momento eu era mais otimista. Pensava que os líderes iam se dar conta de que o custo de dissolver o euro era muito alto. Mas desde aquele momento, a confrontação com o mercado piorou e a incapacidade dos governos europeus tornou-se evidente. Em lugar de aprender com os erros, estão repetindo-os. Creio que realmente querem sobreviver, mas demonstraram falta de entendimento de economia básica, o que me faz ter mais dúvidas.
É possível ter um euro a duas velocidades, como alguns economistas propõem?
Um euro a duas velocidades é uma das formas de ruptura do euro. Isso pode ser possível, a solução pode ser a criação de duas moedas com mais solidariedade entre elas. A moeda única contribuiu para o problema. Não era inevitável o estouro, mas aconteceu. Quando se reconhece que os mercados têm quotas de irracionalidade, talvez seja melhor manter mais autonomia monetária.
Você disse que a reestruturação da dívida é boa para as finanças públicas europeias e citou o exemplo da Argentina. Mas nosso país também desvalorizou. Acredita que a Grécia precisa adotar essa medida?
Essa é a pergunta fundamental. A Grécia vai ter que reestruturar sua dívida, isso é algo que todos aceitam agora, ao contrário do que ocorria há um ano. Se tivessem encaminhado as coisas de outra maneira há dois anos, a reestruturação poderia ter sido evitada. Em troca, impuseram a austeridade. Agora, a pergunta é: dada a reestruturação, isso será suficiente para recompor o crescimento econômico? Acredito que a resposta, para a Grécia, é não. A menos que tenham algum tipo de ajuda externa, inclusive depois da reestruturação, estarão sob um regime de austeridade. Por isso o PIB vai cair ainda mais. Não há competitividade e há duas maneiras de consegui-la. 
Uma é através de uma desvalorização interna, mas se os salários caem, a demanda cai mais ainda e torna mais fraca a economia. Por outro lado, se a Grécia sai do euro e desvaloriza, a transição será difícil e complexa, mas uma vez que o processo tenha acabado, o fato de a Grécia fazer limite com a União Europeia será um impulso para a recuperação. Novos bancos se instalariam e haveria mais comércio.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior | Internacional, 10/12/2011

"Fracassou, como era esperado e nós, ambientalistas, temos uma boa parte da responsabilidade..."

Se a decisão é nada decidir, então chega de COPs

por Henrique Cortez
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A tão esperada COP17 chegou a duas decisões marcantes: 1) decidiu que a COP18 será no Qatar, de 26 de novembro e 7 de dezembro de 2012 e 2) que iniciaria as discussões sobre um acordo global vinculante, a ser definido até 2015, com metas obrigatórias de corte de emissão de gases de efeito estufa, para entrar em vigor logo após 2020.
O Protocolo de Kyoto foi ‘prorrogado’, pelo menos, até 2017, considerando o novo acordo global vinculante pós-2020. Segundo a Agência Reuters, a chefe de assuntos para o clima da ONU, Christiana Figueres, reconheceu que a redação final do texto legal sobre um futuro acordo, era ambígua: “O que isso significa ainda não foi decidido.”
O Fundo Verde, a ser constituído com até 100 bilhões de dólares ao ano até 2020 para combater as mudanças climáticas em países pobres em tese saiu do papel, mas não foi definido qual será, efetivamente, a forma de constituição e como e com quanto os países irão contribuir para o fundo. Ou seja, por agora, continua um consenso oco.
Este conjunto de (in)decisões foi denominado “Plataforma de Durban para Ação Aumentada”.
Na realidade, como em COPs anteriores, a COP17 decidiu nada decidir de importante e ‘empurrou’ a decisão de redução das emissões para o futuro. Fracassou, como era esperado e nós, ambientalistas, temos uma boa parte da responsabilidade nos continuados fracassos porque insistimos em acreditar que estes convescotes climáticos tem alguma razão de ser.
Na COP17, em Durban, reuniram-se mais de 20 mil pessoas, de quase 200 países, para quase nada. Salvo, talvez, as belas praias (apesar do tempo chuvoso), o excelente surf e os ótimos parques naturais da África do Sul. E só.
O caos climático é um fato e suas consequências são crescentes e para isto não precisamos de tantas COPs que nada significam e nada resolvem. Chega de turismo climático.
Ora, 5 países são responsáveis por 50% das emissões e os 20 maiores emissores respondem por 77,4% das emissões globais.
Quem são os grandes emissores de gases de efeito estufa? Fonte: IPAM
As COPs, portanto, são apenas turísticas porque o essencial, a ser decidido por apenas 10 países, pode ser perfeitamente discutido e resolvido por videoconferência.
O jornalista e militante ambientalista, George Monbiot, acertadamente, define que a luta contra o aquecimento global é uma luta contra nós mesmos. É exatamente esta batalha que estamos perdendo.
Sofreremos as terríveis consequências do aquecimento global, porque não somos capazes de reconhecer que nosso padrão de consumo é insustentável e não temos coragem de assumir que nosso modelo de desenvolvimento é predatório e injusto. Quanto mais protelamos as decisões, mais agravamos o desastre que se anuncia.
Se nossa irresponsabilidade continuar, acabaremos com a natureza tal como ainda conhecemos. Mas a história do planeta demonstra que a natureza encontrará uma alternativa, porque, mesmo com vários episódios de extinções maciças, a natureza sempre recomeçou.
Ainda não é um cenário apocalíptico, mas quase.
Mas, acima de tudo, acreditem que perdemos a batalha contra o aquecimento, mas que ainda podemos vencer a guerra contra as suas piores consequências.
Precisamos vencer a luta contra nós mesmos ou muito perderemos. Muito mais do que apenas o nosso perdulário e irresponsável padrão de consumo.
Henrique Cortez, jornalista, coordenador editorial do Portal EcoDebate
Fonte: EcoDebate, 12/12/2011

quinta-feira, dezembro 08, 2011

a excessiva exposição dos partidos ao poder econômico

A estratégia da despolitização da crise política

A presidenta Dilma emprendeu, até aqui, uma estratégia de despolitização da ofensiva sistemática aos integrantes de seu Ministério. Quando isso não for mais possível, será mais difícil formular uma agenda política com partidos desgastados num processo onde o único resultado palpável, até agora, foi o de questionar a legitimidade de cada partido da base aliada. Inclusive do próprio PT.
O que causa espécie nas crises políticas enfrentadas pela presidenta Dilma Roussef desde 1° de janeiro até o mês que encerra 2011 é a sua estratégia, até agora bem-sucedida, de despolitizar a ofensiva sistemática aos integrantes de seu Ministério pela imprensa, por partidos aliados ou, em menor intensidade, por partidos adversários. Na verdade, a despolitização é o resultado mais evidente do comportamento da presidenta, de substituir ministros num prazo não tão pequeno que pareça rendição aos ataques ou dê a impressão de que suprimiu direito de defesa do acusado, nem tão grande que pareça que vá comprar a briga por um subalterno.
De qualquer forma, um comportamento político previsível como este não deixa de alimentar, do lado da imprensa, a vaidade do poder que decorre de uma derrubada de ministro; e, dos "amigos" do poder, a tentação de aproveitar as oportunidades que se colocam para ocupar espaços dentro de seu partido ou em favor da sua legenda na base de apoio do governo. 
Para ambos, amigos e inimigos, prevalece a estratégia do "vazamento" de informações; a mídia entra com a escandalização do fato, existam ou não indícios de crimes cometidos (a estratégia da repetição é muito eficiente nisso).
Até agora, houve despolitização porque a presidenta tem demitido o auxiliar sob a mira dos atiradores de elite antes que o ataque especulativo ao governo não resulte em um grande desgaste. Convenha-se, no entanto, que a soma de pequenos desgastes resultantes da queda de sete ministros, com grandes chances de emplacar um oitavo, acaba, no mínimo, colocando o governo em constante defensiva. A opção de ir levando a administração com as orientações políticas emanadas do Palácio do Planalto, as soluções técnicas gerenciadas pela Casa Civil e uma gestão mais coesa das políticas econômica e monetária, reduzindo a importância dos ministros impostos pelos partidos da bases aliada, tem lá os seus limites.
Outra razão da despolitização é o estado de pauperização da oposição, que saiu pequena das eleições do ano passado e se viu ainda mais desimportante depois do racha do DEM, patrocinado pelo prefeito paulista Gilberto Kassab. A ofensiva oposicionista parte da imprensa, mas a denúncia, vinda de fora dos partidos e ao estilo" imprensa marrom", como já designava Antonio Gramsci no início do século passado, tem bastante eficiência na formação de consensos. 
Por enquanto, os consensos são sedimentados na parcela que lê jornal ou acessa mídias tradicionais - que no caso brasileiro é muito restrita, perto dos muitos recém-letrados que não entraram apenas na sociedade de consumo de bens duráveis, mas também na sociedade de consumo de cultura, mas pela porta da internet - são o de que todos os partidos são iguais (ou a esquerda no poder se corrompe mais do que a direita, portanto todo poder à direita); e que a democracia tem uma eficiência questionável do ponto de vista ético. 
Mais adiante, depois de mais alguns ministros derrubados, pode consolidar-se o consenso nessa classe mais tradicional (que tem mais tempo de vida na sociedade de consumo e consome mais) de que Dilma é boa técnica, mas está inviabilizada pela política. Agora, a moda é bater no "presidencialismo de coalizão", como se o problema fossem as alianças, e não a excessiva exposição dos partidos ao poder econômico, via financiamento privado de partidos e de eleições.
Quando despolitiza esse debate, colocando-o apenas na órbita das suspeitas que devem ser investigadas pela polícia e apuradas pela Justiça, Dilma se afasta dos partidos políticos que podem prejudicar a sua imagem perante a opinião pública que forma consensos via mídia tradicional (sem que possa prever até quando conseguirá separar os partidos da base aliada de seu governo). Perde, todavia, a autoridade política para discutir, junto aos partidos, soluções estruturais para a renovação da estrutura partidária brasileira. Se a postura diante das sucessivas crises com os partidos tivesse sido a de assumir a discussão sobre as necessidades de financiamento do sistema que colocam a política no submundo da economia, poderia ter liderado um debate sobre a reforma política mesmo arriscando contrariar parte da base aliada. 
Somente a Presidência da República tem, hoje, um poder de agendamento político que pode se contrapor ao da mídia - os veículos tradicionais podem estar ilhados, como formadores de opinião, nas classes tradicionais, mas ainda têm grande poder de definir os temas da agenda. Tanto que as denúncias contra ministros pautaram o cenário nacional, enquanto corria paralelamente no Congresso, a duras penas e sem qualquer ajuda do governo, o debate sobre a reforma política, adiado, como sempre, para outra oportunidade. 
A neutralização "técnica" dessas denúncias, como lembrou Luís Nassif ontem (7/12), em seu blog, foi de alguma forma sustentada pela gestão econômica. Com a errada de mão da política de juros do BC no primeiro semestre, e os resultados pífios de crescimento nesse final de ano, a eficiência da estratégia de sobrepor a gestão técnica aos problemas políticos do governo pode ser bem menor. E quando a despolitização não for mais possível, será mais difícil formular uma agenda política com partidos desgastados num processo onde o único resultado palpável, até agora, foi o de questionar a legitimidade de cada partido da base aliada. Inclusive do próprio PT.
Fonte: Carta Maior | Colunistas | Debate Aberto, 08/12/2011

''Essa é uma lei da produção agrícola e não tem nada a ver com o Código Florestal''. Entrevista especial com Francisco Milanez

''Essa é uma lei da produção agrícola e não tem nada a ver com o Código Florestal''. Entrevista especial com Francisco Milanez

quarta-feira, dezembro 07, 2011

casos de destruição social e ambiental

Indústria do alumínio: A floresta virada em pó

Reportagem produzida pelo Núcleo Amigos da Terra Brasil mostra casos de destruição social e ambiental que empresas transnacionais provocam nos Estados do Pará e Maranhão, onde está concentrada mais de 80% da bauxita explorada no Brasil. O alumínio é uma das principais commodities brasileiras e o país é o 6º produtor mundial do metal, atrás da China, Rússia, Canadá, Austrália e EUA. O Brasil possui a terceira maior jazida de bauxita do mundo e é o quarto maior produtor mundial de alumina.
Violação aos direitos humanos e degradação da natureza andam juntos quando o tema é territórios ocupados pelas corporações de mineração e produção de alumínio. Tão útil e adaptado aos modos de vida moderno, por ser leve, macio e resistente, esse metal esconde um processo industrial penoso e degradante. A reportagem cinematográfica publicada aqui revela casos de destruição social e ambiental que empresas transnacionais provocam nos Estados do Pará e Maranhão, onde está concentrada mais de 80% da bauxita explorada no Brasil.

Ao percorrer todas as etapas do processo industrial (mineração da bauxita, transporte por mineroduto, refino da alumina e a redução desta para obtenção do alumínio), a equipe de repórteres flagra diversas ameaças aos povos tradicionais e aos trabalhadores da indústria, e dá voz aos afetados. São populações rurais de baixa renda e sem assistência dos poderes públicos - com exceção do Ministério Público Federal, que ainda exige o cumprimento das leis e busca assegurar as reparações aos povos afetados.
A maioria das comunidades, até que a destruição comece, desconhece as estratégicas de inserção e apropriação de territórios exercidos pelas corporações mineiras, assim como seus direitos e a legislação que rege as relações comerciais do setor no Brasil. Só depois dos danos causados é que passam a se organizar e lutar por melhores condições de vida. O mesmo acontece com os trabalhadores, que aliciados por oportunidades de trabalho não imaginam que estão sendo pagos para adoecerem e terem reduzido o tempo de vida laboral.
A pressão do capital
Com o avassalador ingresso das indústrias, a região de mineração passa a depender economicamente do empreendimento. O processo anterior à mina, de expropriação e compra de terras, gera especulação imobiliária inflacionando o valor da terra. Esse processo incentiva pequenos agricultores a venderem suas terras, seduzidos pelas quantias oferecidas (de grande monta para a realidade deles, mas de baixo impacto para o mercado imobiliário), e engrossar as periferias dessas pequenas cidades, com aumento da violência, prostituição, analfabetismo, entre outros graves problemas sociais.
Quando as empresas se instalam sobre essas áreas fatalmente cessa a atividade de extração sustentável dos recursos na floresta, porque extrativismo e mineração são atividades excludentes. A degradação ambiental provocada pela instalação e operação das fábricas também resulta em impactos na economia local: a contaminação de igarapés, lagos e rios por lama vermelha (rejeito tóxico da limpeza da bauxita) provoca mortandade de peixes e destrói a possibilidade de pesca artesanal; com a poluição pelo ar, as árvores frutíferas próximo das fábricas não dão frutos, os açaizais (principal fonte de renda das famílias camponesas da região) sofrem queda de produtividade, assim como outras culturas tradicionais das regiões.
Hidrelétricas e financiamento público
A cadeia produtiva do alumínio é eletrointensiva, ou seja, necessita de grande quantidade de energia elétrica e de água para se viabilizar. Para a expansão da produção do alumínio, o governo federal vem promovendo a construção de novas barragens na Amazônia, entre elas Belo Monte, que cederá 70% de sua energia para as indústrias de mineração. Além disso, bancos públicos, como o BNDES, assumiram papel fundamental para o fortalecimento da cadeia produtiva. 
O financiamento público, aliado ao reaquecimento do mercado internacional, impulsionou a expansão das fábricas da Alunorte/Albrás, Alumar e CBA, incluindo o financiamento de novos projetos de refinaria em Barcarena, maior pólo do setor, a 50 km de Belém. E as fábricas não se expandem sozinhas, junto com elas vem a abertura de novas lavras, a construção de novas usinas hidrelétricas e termelétricas, duplicação de ferrovias, minerodutos e etc. Ou seja, a degradação ambiental que foi registrada nesta reportagem cinematográfica.
A força da grana
A exportação do setor metalúrgico, pelos dados mais atualizados, de 2009, correspondeu a 2,1% da balança comercial. Por sua vez, as exportações influenciam em 2% do PIB nacional. O alumínio é uma das principais commodities brasileiras e o país é o 6º produtor mundial do metal, atrás da China, Rússia, Canadá, Austrália e Estados Unidos. O Brasil possui a terceira maior jazida de bauxita do mundo e é o quarto maior produtor mundial de alumina. Contando toda a cadeia, foram produzidas 26074,4 mil toneladas de bauxita, 8625,1 mil toneladas de alumina e 1690 mil toneladas de alumínio. 
Em termos de negócio, a produção brasileira perde muito em valor agregado, pois só produz produtos primários, concentrando somente os processos mais agressivos ao meio ambiente. Exportamos, no máximo, lingotes de alumínio. Quando chegam nos outros países, para as etapas seguintes de transformação do metal, o alumínio para a valer quatro vezes mais.
(*) O Núcleo Amigos da Terra Brasil, em contato com organizações e movimentos locais, foi registrar esses conflitos com ribeirinhos para avaliar os impactos sociais e ambientais que a indústria do alumínio provoca desde à década de 80 no Brasil. Para isso, organizou visitas técnicas em pelo menos um local de cada etapa da cadeia produtiva. Essa reportagem, acompanha a pesquisa de campo e revela os casos de ameaças aos povos tradicionais e aos trabalhadores da indústria, dando voz aos afetados.
Abaixo, a versão em inglês do documentário:
Fonte: Carta Maior | Meio Ambiente, 07/12/2011

terça-feira, dezembro 06, 2011

o “cavalo de Tróia” capaz de destruir efetivamente o Estado social

O enigma da crise europeia e o sócio-metabolismo da barbárie
"Ocell de foc", de Max Ernst
por Giovanni Alves
A crise financeira de 2008 e seus desdobramentos nas crises das dívidas soberanas dos EUA e União Européia em 2011, tornaram-se meio privilegiado de afirmação daquilo que István Meszáros denominou a “grave tendência socioeconômica da equalização descendente da taxa de exploração diferencial”. Na verdade, a crise das dívidas soberanas tornou-se o “cavalo de Tróia” capaz de destruir efetivamente o Estado social no núcleo orgânico do pólo desenvolvido do capitalismo global. Os mercados financeiros impõem o ajuste neoliberal na União Européia. O Estado de Bem-estar social deve se transformar em Estado de Austeridade Social sob direção da disciplina fiscal a serviço dos interesses do capital financeiro globalizado.
Na verdade, sob pressão da concorrência internacional, principalmente com a entrada da China no mercado mundial, e da massa de capital concentrado liberalizado pelas políticas de desregulamentação financeira, operou-se o movimento de redução dos direitos dos trabalhadores assalariados conquistados na era de ouro do capitalismo.
A tendência geral de equalização descendente da taxa de exploração diferencial é um dos traços estruturais da nova dinâmica da economia global nas condições da crise estrutural do capital. As políticas neoliberais, conduzidas tanto por governos da esquerda social-democrata, quanto governos da direita neoliberal no começo da década de 1980, contribuíram para a dominância do capital financeiro no centro orgânico do sistema mundial do capital nos últimos trinta anos – os “trinta anos perversos” em contraposição aos “trinta gloriosos” do pós-guerra.
Ao desmontarem as estruturas sociais e políticas do anti-valor, construídas no pós-guerra sob o nome de Welfare State, o neoliberalismo ativou a lei do valor no plano do mercado mundial. A dominância do capital financeiro e seus espasmos especulativos tornou-se o veículo propício para a afirmação da tendência geral de equalização descendente da taxa de exploração diferencial, impulsionando, deste modo, com vigor, a precarização estrutural do trabalho sob o mito da flexibilidade.
As crises financeiras que ocorrem, principalmente a partir de 1990, por conta da financeirização da riqueza capitalista e da hegemonia do capital financeiro no processo de acumulação de riqueza fictícia, e as políticas de austeridade neoliberal baseadas na flexibilização do estatuto salarial e desmonte do Estado social, tornaram-se meios privilegiados para afirmar, no plano do mercado mundial, a grave tendência de equalização descendente da taxa de exploração diferencial. É a vigência desta tendência estrutural que explica, portanto, a ampliação do desemprego de massa e a precariedade laboral nos EUA e na União Européia, pelo menos nos últimos trinta anos.
Como tendência estrutural do sistema global do capital, a equalização descendente das taxas de exploração diferencial impulsiona a corrosão irremediável, lenta e persistente, dos pilares sociais do capitalismo europeu, principalmente nos países da Europa mediterrânea, com posição em desvantagem no plano da concorrência mundial. Ela tende a acelerar, por exemplo, o débâcle do Estado social europeu que inspirou no pós-guerra, as forças políticas e sociais que cultivam o ideal da social-democracia baseada na crença de conciliação entre capitalismo e bem-estar social.
O débâcle do capitalismo social-democrata com a crença ilusória do capitalismo ético ou capitalismo social capaz de realizar as promessas civilizatórias, tornou-se cada vez mais explícito na medida em que o movimento do capital sob hegemonia financeira corroeu as bases materiais que sustentaram a ilusão social-democrata e corrompeu os próprios partidos socialistas e sociais-democratas e sua intelectualidade orgânica, inseridos na defesa intransigente da ordem burguesa liberal-democrática.  
Podemos discriminar como pilares do modelo social europeu construído na etapa de ascensão histórica do capital (1) a disseminação do consumo de massa; (2) a presença do sistema de seguridade social e (3) a democracia representativa como sistema (e ideologia) de legitimidade política da ordem burguesa.
O tripé do capitalismo social se constituiu na Europa Ocidental no período imediato do pós-guerra nas condições de ascensão histórica do capital sob a vigência de um determinado “equilíbrio de força entre as classes”, baseado, por um lado, na presença de sindicatos de massa e partidos social-democratas e comunistas com base operária e de “classe média” assalariada, legitimando as “regras do jogo” democrático liberal; e, por outro lado, a conjuntura geopolítica singular da “guerra fria” entre EUA e URSS com ameaça perene do comunismo soviético.
Deste modo, a ordem burguesa hegemônica na Europa Ocidental do pós-guerra se constituiu como Estado do bem-estar social no interior do “círculo virtuoso” da acumulação de capital baseado no compromisso fordista-keynesiano, com a presença de organizações sindicais e políticas da esquerda social-democrata e comunista organizadas na defesa do consumo de massa e do sistema de seguridade social, aceitando as regras do jogo democrático representativo sob o contrapeso da ordem internacional bipolar sob ameaça do poder soviético.
Este “equilíbrio de forças de classe” consolidou na Europa Ocidental, de 1946 a 1976, os pilares da ilusão social-democrata baseado na crença da sustentabilidade civilizatória do capitalismo. Ao mesmo tempo, contribuiu para a ascensão da social-democracia como força política hegemônica baseada numa perspectiva de “classe média” assalariada. Na verdade, o projeto de construção social europeu paralisou-se na perspectiva do em-si da classe, seduzida pelo consumo de massa e fetichismo da mercadoria.
O modelo social europeu tornou-se modelo político da ideologia da concertação social disseminada nos países do capitalismo em desenvolvimento. A elevação do padrão de vida social europeu no pós-guerra sob os auspícios do capitalismo social-democrata tornou-se a prova irrefutável da possibilidade histórica de conciliar capitalismo e bem-estar social, levando, deste modo, a maior parte da intelectualidade europeia de “classe média” a renunciar à perspectiva crítica do capitalismo e a necessidade histórica da luta de classes.  
Entretanto, na medida em que as contradições internas da acumulação fordista-keynesiana conduziram à crise estrutural do capital em meados da década de 1970, e ocorreu o desenvolvimento da mundialização do capital predominantemente financeirizada, ocorreu, no plano da objetividade do capital, um processo de corrosão paulatina dos pilares da ordem burguesa social-democrata europeia (consumo, seguridade social e democracia). 
Com a crise estrutural do capital em 1973, emerge a mundialização do capital sob dominância financeira. De 1973 a 1980 temos um período de intensa luta de classe no centro orgânico do sistema mundial do capital. A década de 1970 caracteriza-se pela ruptura do equilíbrio de forças entre as classes no interior dos países capitalistas que garantiram o compromisso social-democrata. Intensifica-se a ofensiva do capital na produção visando destruir as bases sindicais operárias e a vitória das forças políticas conservadoras, primeiro na Inglaterra (com Margareth Thatcher) e depois nos EUA (com Ronald Reagan), impulsionam a adoção de políticas neoliberais que iriam se consolidar no decorrer da década de 1980.
A hegemonia neoliberal na década de 1980 produziu irremediavelmente a corrupção e declínio da social-democracia europeia, lastro político do capitalismo social. Ele iria se intensificar a partir de 1990 com o débâcle do arco geopolítico constituído no pós-guerra imediato: a queda do Muro de Berlim em 1989 e a implosão da URSS em 1991 aprofundariam os impasses estruturais da ordem burguesa europeia constituída sob o Estado social.
Se, de 1946 a 1973, com a etapa de ascensão histórica do capital, presenciamos a metamorfose da social-democracia, transformando-se numa força política de preservação da ordem burguesa imperial com hegemonia na “classe média” assalariada, a partir de 1980, na etapa de crise estrutural do capital, assistimos à corrupção e declínio ideológico dos partidos social-democratas que, nas condições da acumulação fordista exerciam o contrapeso à voracidade do capital no pólo europeu mais desenvolvido. Por outro lado, os partidos comunistas vêem a corrosão das bases operárias e da identidade de classe por conta da ofensiva do capital na produção e o poder da ideologia com a vigência do capitalismo manipulatário.
Deste modo, presenciamos com vigor, principalmente a partir de 1980, a intensificação e amplitude, na Europa Ocidental, da ofensiva do capital nas várias instâncias da economia (financeirização), política (neoliberalismo) e ideologia (pós-modernismo e neopositivismo), conduzindo a corrosão das bases sociais e políticas de defesa dos interesses da classe operária em-si.
A corrupção ideológica (e política) dos partidos socialistas e social-democratas inseridos na ordem burguesa sob crise estrutural foi tão-somente um dos elementos compositivos do processo mais amplo de reestruturação capitalista conservadora que ocorreu a partir de 1980. Por exemplo, no plano social, a ideologia do consumo de massa com o fetichismo da mercadoria, sedimentado na expansão capitalista do pós-guerra, contribuiu para a cegueira ideológica dos “estratos médios” do proletariado organizado – a “classe média” assalariada – e seus intelectuais orgânicos comprometidos com os ideais social-democratas.
Na medida em que se opera, no plano do pensamento, a disseminação da ideologia do pós-modernismo e do neopositivismo, assiste-se, no pólo intelectual mais desenvolvido do Ocidente, a perda da capacidade crítica de amplos estratos da intelectualidade europeia, que incorporam como horizonte estratégico único, a defesa da ordem burguesa europeia baseada nos pilares de consumo de massa, seguridade social e democracia representativa de cariz liberal.
Finalmente, com a queda do Muro de Berlim em 1989 e a implosão da URSS em 1991, assistimos à derrocada do arco geopolítico que propiciou, como contrapeso à voracidade do capital no plano das relações internacionais, a construção do Estado social social europeu. Alterou-se efetivamente o equilíbrio de forças de classe que garantiu o compromisso fordista do pós-guerra na Europa Ocidental e a construção do capitalismo social-democrata. Eliminou-se o contrapeso ideológico que operava como legitimador geopolítico do Estado social europeu. Por outro lado, impulsionou-se, para um novo patamar – com a unificação alemã – a construção da União Europeia sob hegemonia neoliberal.
Portanto, a partir de 1990, com o fim da Guerra fria, surgem novas oportunidades para a absorção do capital monetário excedentário. Por conta da queda da lucratividade das corporações industriais, acirra-se, naquele momento, a concorrência no plano mundial. Ao mesmo tempo, aumenta a instabilidade sistêmica da economia global em virtude da financeirização da riqueza capitalista. A mundialização financeira origina-se do crescimento da liquidez excedentária no centro capitalista onde se constata uma massa monetária cada vez maior a procura de algo lucrativo em que investir. 
A tendência para a financeirização, que se põe com vigor na década de 1980, expõe de forma candente, o problema da absorção de excedentes de capital como o problema crucial do capitalismo global (como salientou David Harvey no seu livro O enigma do capital, que a Boitempo acaba de lançar no Brasil). A aceleração histórica da integração europeia sob dominância neoliberal na década de 1990, com a vigência da União Européia com uma moeda única (o Euro), ocorre no interior do capitalismo global com dominância financeira, visando reconfigurar territórios de investimentos sob hegemonia do capital franco-alemão. Na verdade, a aceleração histórica das políticas de integração regional a partir de 1990 – União Européia, Nafta, MERCOSUL etc. – visam criar escoadouros lucrativos para a operação das massas monetária excedentária do capital financeiro global.
No caso da União Européia ela tornou-se projeto do protagonismo da burguesia financeira europeia sob hegemonia franco-alemã num cenário de reconfiguração radical da concorrência intercapitalista global com a entrada da China no mercado mundial. Na verdade, a ascensão do China no cenário da concorrência capitalista promoveu alterações tectônicas da concorrência capitalista global com impactos na divisão internacional do trabalho. Ela alterou o mapa da atividade produtiva e da acumulação de riqueza mundial.
Deste modo, de 1991 a 2011, em virtude da reconfiguração do capitalismo global sob dominância neoliberal, assistimos no núcleo orgânico do sistema mundial do capital, uma nova escalada de ofensiva do capital que – no plano do capitalismo europeu – conduziu a corrosão irremediável dos pilares do modelo social europeu construídos no período de ascensão histórica do capital.
A mundialização do capital sob dominância financeira e o novo cenário geopolítico a partir do débâcle do sistema soviético, corroeu irremediavlemente a materialidade do anti-valor, com a social-democracia, por exemplo, aproximando-se cada vez mais do centro conservador neoliberal, visando disputar com ele, o eleitorado de “classe média” assalariada “capturado” pelos valores-fetiches e expectativas de mercado da ordem burguesa hipertardia.
Na medida em que alterou-se, a favor do capital, o equilíbrio de forças entre as classes, tanto no plano nacional, quanto no plano internacional, opera-se com vigor a tendência de equalização descendente das taxas de exploração diferencial.  De 1991 a 2011, mesmo nos breves períodos de crescimento das economias capitalistas europeias, conduzido pela indústria do endividamento público, torna-se perceptível a persistência da mancha de precarização do trabalho, não apenas com taxas inerciais de desemprego total, mas com o surgimento da nova precariedade salarial.
A introdução da moeda única (o Euro) sob a dominância neoliberal contribuiu para acelerar a derrocada do modelo social europeu, principalmente nos países da Europa mediterrânea com economias frágeis no cenário de competitividade interna da União Europeia.  A crise financeira de 2008 que se origina dos EUA – o pólo mais desenvolvido do capitalismo neoliberal e seu desdobramento com a crise das dívidas soberanas europeias, cumpre a função histórica de realizar por meio da austeridade neoliberal imposta pela troika – FMI, BCE e Comissão Européia – a necessária equalização descendente das taxas de exploração diferencial no plano do mercado mundial, preservando, deste modo, o projeto da União Européia como construção hegemônica da grande burguesia financeira franco-alemã.
Eis portanto, o desvelamento do enigma da crise europeia: a crise financeira da Zona do Euro e as medidas de austeridade neoliberal impostas pela troika (BCE, CE e FMI) na borda periférica da União Europeia possuem como função histórica, a reprodução da ordem burguesa europeia sob dominância financeira no plano mundial, sepultando de vez as promessas civilizatórias oriundas da fase de ascensão histórica do capital.   
Na crise financeira de 2008, tanto nos EUA, quanto na União Europeia, os governos conservadores ou socialistas, correram para socorrer os bancos, mesmo que isso significasse comprometer o fundo público. Na verdade, ocorreu, neste momento, uma das mais impressionantes transferências de riquezas do fundo público para o capital financeiro. O colapso do mercado de crédito expôs a derrocada dos fundos públicos nos países capitalistas europeus mais frágeis no plano da competitividade internacional. A crise da dívida soberana sob a gestão das agências de rating, acelerou na borda periférica da União Europeia, o programa de desmonte irremediável do Estado social por meio da austeridade neoliberal.
A derrocada do consumo de massa atingiu, nesses países, o amplo contingente de desempregados e trabalhadores assalariados precários, conjunto social que cresceu nos últimos vinte anos, e principalmente amplos contingentes da “classe média” assalariada vinculada a função pública sob ameaça da programática neoliberal; a corrosão da seguridade social em virtude da restrição orçamentária a título de pagamento da impagável dívida pública expõe a ampla parcela de trabalhadores assalariados desempregados – e precários – a nova pobreza urbana; e a desmistificação da democracia representativa como ditadura do capital.
É no contexto de crise social e crise de legitimidade política da democracia liberal representativa, com altos índices de abstenções nas eleições parlamentares, que surgem movimentos sociais de “indignados” que contestam a nova ordem burguesa hipertardia. Deste modo, as políticas de austeridade neoliberal é o canto de cisne dos pilares do modelo social europeu, com a derrocada do tripé consumo de massa, seguridade social e democracia representativa.
Eis o cenário da barbárie social que caracteriza o capitalismo histórico em sua fase de crise estrutural do capital. A barbárie social caracteriza-se pela vigência candente das contradições sociais do sistema mundial do capital com a intensificação e ampliação do estranhamento social, isto é, a contradição insana entre o desenvolvimento das forças produtivas e, portanto, o desenvolvimento da capacidade humana, e o desenvolvimento da personalidade humana.
Na época da barbárie social, o desenvolvimento da capacidade humana que se manifesta no desenvolvimento espetacular das forças produtivas do trabalho social, tende a potencializar tão-somente capacidades singulares, desfigurando, aviltando etc. a personalidade do homem-que-trabalha.
A restrição do consumo, com a crise da “classe média” assalariada, o corte da seguridade social e crise da democracia representativa apontam para limites estruturais da ordem social-democrata europeia. A crise de credibilidade da democracia política burguesa aprofunda-se na medida em que não força alternativas ao esvaziamento do projeto reformista.
Giovanni Alves é doutor em ciências sociais pela Unicamp, livre-docente em sociologia e professor da Unesp, campus de Marília. É pesquisador do CNPq com bolsa-produtividade em pesquisa e coordenador da Rede de Estudos do Trabalho (RET) e do Projeto Tela Crítica.
Fonte: Blog da Boitempo, 05/12/2011

domingo, dezembro 04, 2011

ainda é tratada como uma questão de ambientalistas contra setores da economia em expansão

Mudança climática: o futuro é agora

A mudança climática no Brasil ou no mundo ainda é tratada como uma questão de ambientalistas contra setores da economia em expansão, ou contra os tradicionais emissores de gases estufa, como as petrolíferas, montadoras, siderúrgicas. No país mais poderoso do mundo, ainda hoje elas controlam o debate. Levando em consideração apenas eventos extremos recentes, a partir de 2009, o inventário de tragédias no mundo é muito grande, impressionante, e não reflete a preocupação das lideranças em definir medidas para enfrentar a situação.
Até setembro, o Brasil sofreu 18 horas de apagões de energia elétrica. Uma das razões foi explicada pelo coordenador do grupo de Eletricidade Atmosférica do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Osmar Pinto Jr.
- Nos últimos 50 anos a temperatura média em São Paulo (capital) aumentou cerca de 2 graus centígrados, quatro vezes mais que a média nacional. "As chuvas acima de 100mm/dia, eram extremamente raras, tornaram-se eventos comuns.”
Hoje o ano tem pelo menos 100 dias com tempestades nessa intensidade, diz o pesquisador. Há 50 anos, eram 60 dias, no máximo. Nos últimos 13 anos houve três tempestades em São Paulo com mais de 1.500 raios em um mesmo dia – uma em 2009 e duas em 2011.
A estiagem favorece as queimadas e o Organizador Nacional do Sistema (ONS) comunicou que ocorreram seis interrupções com carga superior a 1000 MW em 2010, o dobro dos três anos anteriores. Por outro lado, a quebra da safra da cana-de-açúcar no estado de São Paulo foi consequência de excesso de chuva, geada e seca, nas palavras do diretor técnico da União das Indústrias (UNICA), Antônio de Pádua.
Na região de Champagne, na França, a colheita da uva ocorreu em agosto e não mais em outubro, em função do calor. Esses são relatos pequenos das mudanças climáticas, que estão acontecendo no país e no mundo. Aliás, mudanças no clima envolvem o planeta inteiro. Não tem como proteger, bloquear, combater. No máximo, as populações e os ecossistemas se adaptarão. Ou perecerão.
Crônica da morte anunciada
Levando em consideração apenas eventos extremos recentes, a partir de 2009, o inventário de tragédias no mundo é muito grande, impressionante, e não reflete a preocupação das lideranças em definir medidas para enfrentar a situação. No dia 28 de novembro, começou mais uma convenção do clima da ONU. Mais uma com resultados negativos, para dizer o mínimo. Porque Estados Unidos, China, Canadá, Japão já anteciparam que não querem definições sobre redução das emissões de gases estufa, na prática significa menor uso de combustíveis fósseis – petróleo, carvão e gás.
Essa é a crônica da morte anunciada, pois desde a vergonhosa cúpula de Copenhagen, os líderes dos países ricos – ou mais ou menos – anunciaram que não participariam do Protocolo de Kyoto, termina no ano que vem.
Kyoto foi aprovado em 1997, mas só entrou em vigor em 2007, quando a Rússia resolveu aderir, posição já alterada. A meta era reduzir 5% das emissões, na comparação com 1990. O Canadá assinou o protocolo e investiu na pior exploração de petróleo da atualidade – as areias de piche, ou betuminosas. Estourou a cota. Nada acontece. Em tempos de recessão econômica e crise dos bônus soberanos, que envolve a Europa inteira, nenhuma liderança da OCDE quer ouvir falar em reduzir o ritmo da economia e o consumo dos combustíveis fósseis. No início de outubro, os 27 ministros de meio ambiente da União Europeia, se reuniram em Luxemburgo e decidiram:
- Se Estados Unidos e China, assim como outras nações com economias fortes não aderirem ao Protocolo de Kyoto, mesmo com posições diferenciadas, a União Europeia não participará mais do acordo. A comissária de ambiente da União Europeia, Connie Hedegard, disse : qual o sentido de manter algo vivo se estamos sozinhos nisso.”
Alguns países da Europa mantém uma posição de investir em energia renovável e reduzir até em 50% as emissões, como é o caso da Dinamarca.
Irreversíveis em cinco anos
Ainda em novembro, a Agência Internacional de Energia lançou um comunicado, onde ressalta a importância dos países reduzirem as emissões de gases estufa (CO2, CH4 e N2O, carbônico, metano e óxido nitroso, respectivamente), nos próximos cinco anos, sob pena de tornarem as mudanças climáticas irreversíveis.
- Os governos precisam mudar sua política de consumo de combustíveis até 2017, senão as emissões alcançarão 450 ppm (partes por milhão) e a temperatura aumentará 2 graus centígrados”.
A parte mais importante do comunicado são as previsões até 2035. O consumo de combustíveis fósseis vai cair de 81% para 75% e as energias renováveis crescerão de 13 para 18%. Uma mudança na estrutura do consumo de 5%. Os subsídios governamentais para as fontes energéticas serão de US$ 250 bilhões para renováveis em 2035 – hoje é de US$ 64 bilhões – enquanto as fósseis receberão US$ 409 bilhões, em 2035. O consumo diário de petróleo passará de 87 milhões barris/dia para 99 milhões, em 2035, e a frota mundial alcançará 1,7 bilhão de veículos.
No final a AIE, mais uma vez, comenta o fato de que cada dólar não investido na economia de baixo carbono, agora, resultarão num gasto de quatro dólares no futuro. Esse é um receituário mais do que conhecido. Assim como os eventos extremos ocorridos no planeta, a partir de 2009. Esta lista está no site das seguradoras, como a Allianz, o maior grupo mundial. Elas são as mais preocupadas com a situação, porque pagam os prejuízos, tem aumentado 10% ao ano, e podem chegar em 2050, em US$ 500 bilhões.
Inventários de tragédias
- Enchentes na Austrália em 2010-11, a pior dos últimos 50 anos. O ano de 2010 foi o terceiro mais úmido em todo o país, recordista em umidade foi o estado de Queensland.
- Rússia, verão de 2010: calor extremo e a seca registrados em julho de 2010 provocaram incêndios florestais desastrosos em toda a Federação Russa. Efeitos combinados de onda de calor mataram 56 mil pessoas. Julho foi o mês mais quente registrado em Moscou.
- Paquistão, verão de 2010: inundação no noroeste do país, piores enchentes da história, chuvas de extrema intensidade, alagamentos e transbordamentos de rios. Esses fatores combinados criaram um corpo de água em movimento de dimensão equivalente à massa de terra do Reino Unido. As enchentes atingiram 84 dos 121 distritos do Paquistão, mais de 20 milhões de pessoas, devastando vilarejos desde os Himalaias (são 45 mil geleiras) até o Mar Arábico. Foram mortas 1.700 pessoas e 1,8 milhão de moradias danificada ou destruídas.
- Grã-Bretanha, abril de 2011: o mês mais quente desde que foram iniciados os registros em 1659. Chuvas chegaram apenas a 52% da média. Isso depois de um mês de março mais seco em 60 anos, segundo o Instituto de Meteorologia Britânico.
- Estados Unidos, abril de 20ll: o desastre natural mais letal do país, desde o furacão Katrina, consistiu de um número sem precedentes de tornados, que varreram o sudeste do país, vitimando mais de 220 pessoas, seguido por enchentes de vários rios de grande porte, como o Mississipi e o Missouri.
- Setembro de 2011: a camada de gelo do Oceano Ártico caiu para 4,24 milhões de km2, segundo a Universidade de Bremem. Em 1970, a camada era de 7 milhões de km2, na época do verão.
- Brasil, janeiro de 2011: uma violenta tempestade despencou sobre a serra do Rio de Janeiro matando mais de mil pessoas.
Uma explicação técnica no final do comunicado da seguradora: as emissões de gases estufa criaram ambientes mais quentes e úmidos nos quais essas tempestades se formam, emprestando-lhes um poder destruidor ainda maior.
São Paulo, ilha de calor
Caso típico, a capital paulista, megacidade com 11 milhões de habitantes, mas principalmente a região metropolitana, que atinge 20 milhões de pessoas. O INPE fez um estudo sobre o assunto – o risco que corre a região metropolitana paulista. Área com mais de 40 mil indústrias, acima de 6 milhões de carros. São realizadas mais de 30 milhões de viagens diárias na região metropolitana, 12 milhões em transporte coletivo e 8,1 milhões em transportes individuais. Nas ruas circulam mais de 3 milhões de carros por dia. As indústrias e os veículos são responsáveis pelo lançamento diário de 6.575 toneladas de poluentes atmosféricos, equivale a 2.400.000 toneladas/ano. Os veículos são responsáveis por 40% das emissões de particulados, a fuligem dos veículos, e 31% do dióxido de enxofre (SO2). As indústrias por outra parte de particulados e 67% do SO2.
Registra o estudo do INPE: ”a densa urbanização constitui importante fonte de calor e os poluentes também afetam o balanço radioativo. A Região Metropolitana de São Paulo é uma das realidades climáticas urbanas mais críticas e insuficientemente estudadas no Brasil. A área central de São Paulo, por exemplo, com seus edifícios altos e próximos uns dos outros, ruas estreitas e pátios confinados, forma tipicamente o centro de uma ilha urbana de calor”.
Nessa região central a capacidade térmica das áreas cobertas por edifícios e pavimentação é maior e a circulação de ar é menor. Sob nebulosidade, menos radiação solar atinge o solo, tornando o fenômeno da ilha de calor menos pronunciado. Sob condições de inversão térmica a ilha de calor é intensificada. 
- A urbanização dos vales, dos rios Tietê, Tamanduateí e Pinheiros ocorreu em tempos diferenciados, mas esses valores hoje se assemelham climatologicamente a grandes bacias aquecidas, produtoras de toneladas de poluentes, originários das indústrias e da circulação dos veículos. A crescente urbanização das periferias atuando em sinergia com o aquecimento global projeta que eventos com grandes volumes de precipitações pluviométricas (chuvas) vão ocorrer com mais frequência no futuro, abrangendo cada vez mais uma área geográfica maior da região metropolitana”.
O estudo é um relato técnico do noticiário frequente das inundações e enchentes na região. Qualquer chuva acima de 30mm já produz enchente na capital e arredores. E não é diferente em outras capitais do país.
Novo clima já começou
Outra região estratégica no Brasil, com poder global, a Amazônia. Em cinco anos, três eventos extremos: a seca de 2005, uma das maiores da história, a enchente de 2009, também recordista de inundação, e a seca de 2010. A primeira década do século XXI só confirmou ainda mais as tragédias anunciadas pela mudança climática. Os anos 1990-2000 foram os mais quentes do registro meteorológico, desde 1861. O ano de 1998 varreu o planeta com o fenômeno El Nino, que atingiu todos os continentes, com secas e inundações alternadas. O sudeste asiático queimou mais de 10 milhões de hectares de florestas, 5 milhões somente na Ilha de Bornéu. 
Mas a década, além do mais violento El Nino, registrou depois o mais devastador furacão em 200 anos (Mitch), o verão europeu mais quente (2003), matando entre 26 e 45 mil pessoas, o primeiro furacão do Atlântico Sul, ventos de 150 quilômetros que atingiram a costa do Brasil, entre Torres (RS) e Laguna (SC), desalojando 30 mil pessoas e matando 11 e uma das piores tempestades já experimentadas na Flórida (2004).
Como relata em seu livro “Senhores do Clima”, o cientista australiano, Tim Flannery, “essa série de eventos indica que o potencial do novo clima para gerar eventos extremos já começou”.
Ou seja, para mudança climática o futuro é agora. É claro, que os indícios e os fatos também envolvem uma série de outros estudos, acompanhados pelos membros da Organização Meteorológica Mundial, com mais de 10 mil estações associadas. A equação não é complicada e fácil de entender: gases estufa significa mais calor retido na atmosfera, com maior concentração de vapor de água. Isso transformado em nuvens numa ilha de calor, quer dizer, perigo iminente. Se for em São Paulo, pode se precaver, porque vai despencar.
Tim Flannery explica o que é um furacão:
- É uma máquina de calor abastecida pelo calor latente liberado quando imensas quantidades de vapor de água se condensam. Para botar essa máquina em funcionamento é preciso uma grande quantidade de ar úmido e quente”.
Quando suamos nosso suor carrega calor do nosso corpo para o ar. A evaporação de apenas 1 grama de nossa pele é suficiente para transportar 580 calorias. Agora imaginem, a quantidade de calor evaporada dos oceanos, junto com o vapor de água.
Estados Unidos, o n° 1 em eventos extremos
Para cada 10 graus centígrados de aumento em sua temperatura, a quantidade de vapor de água que o ar pode conter dobra. Assim o ar a 30ºC pode conter quatro vezes mais “combustível de furacão” do que o ar a 10ºC. Por sinal, o furacão Mitch matou 10 mil pessoas no Caribe e deixou 3 milhões de desabrigados, os ventos atingiram 290km, foi o quarto mais forte registrado na bacia do Atlântico. Desde 1950, que as variações de temperatura na América do Norte se alteraram, diminuiu o diferencial entre a temperatura do norte e sul, mudou o contraste entre a temperatura em terra e no mar e reduziu a variação de temperatura durante o dia.
Os Estados Unidos já tem o clima mais variável entre os países do mundo inteiro. São os tornados mais intensos e destruidores, enchentes súbitas, trovoadas intensas, furacões e nevascas superiores as de qualquer outro lugar. Uma das causas mais citadas na mudança climática é a temperatura dos oceanos. Ora é a enchente, porque as águas do Atlântico estão mais quentes no norte, ou as do Pacífico mais quentes, como no caso do El Nino – traduz o nome do evento, quando as águas do Pacífico atingem o litoral do Peru no mês de dezembro. É uma expressão climática cristã.
Todo mundo sabe que esse planeta é formado por água e não por terra. 
Quem absorve a maior parte da radiação solar são os oceanos. Eles também têm absorvido a lixeira da poluição da civilização moderna. Aliás, os cientistas descobriram que a maior parte do gás carbônico produzida pelos europeus desde a revolução industrial foi absorvida pelo Mar do Norte e depois lançada no Atlântico Norte pelas correntes. O CO2 absorvido pelos oceanos é calculado em 2 bilhões de toneladas, enquanto a vida vegetal consumiria mais 1,5 gigatoneladas (usada na fotossíntese). 
Nos oceanos também são seres microscópicos que absorvem gás carbônico – as algas, o chamado fitoplâncton, a comida de milhares de espécies.
Oceanos mais quentes
O que vem acontecendo com o efeito estufa e os oceanos? Eles estão ficando mais quentes, e em consequência, absorvem menos CO2 e ficam mais ácidos, o que é péssimo para os corais (resulta na morte das bactérias que dão o colorido aos recifes). Principalmente, desorganiza os ciclos da vida marinha. Muitas espécies transformam CO2 junto com o cálcio, em carapaças, conchas, como queiram.
Também influenciam na evaporação. No regime de chuvas. O Pacífico, maior oceano do mundo, na região da Indonésia, é uma fábrica de nuvens importantes. São trazidas pelos ventos alísios, os ventos permanentes, atravessam a África e chegam à América do Norte. Elas dependem de partículas sólidas para condensar o vapor de água. Não existe gota de chuva sem uma partícula sólida. Pode ser a poeira que sai do deserto, ou as partículas das queimadas das florestas da Amazônia ou do sudeste da Ásia. As partículas das queimadas são maiores, normalmente não caem na região, e podem se transformar em tempestades de granizo, ou simplesmente se dispersar.
Os cientistas já sabem que a floresta amazônica recicla entre 30 e 50% da umidade, transformando em chuvas na própria região. Junto ficam os nutrientes necessários à manutenção da floresta. Mecanismos que funcionam a milhares ou milhões de anos. E agora estão sendo alterados.
Um dos maiores estudos da região amazônica, o Experimento em Larga Escala da Biosfera e Atmosfera, constatou que uma área de mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, envolvendo Pará, Mato Grosso, Rondônia, durante os meses de agosto - novembro, época das queimadas, tem uma quantidade de partículas poluentes superior às do centro de São Paulo, no pior período do inverno. E que as queimadas mudam o clima da região, alterando o tamanho das nuvens, e até mesmo o tamanho e quantidade de gotas de chuva. Além de levar os nutrientes, como fósforo e o nitrogênio (evaporam na queima), para longe da floresta.
Porta mágica
Quando acontecem eventos extremos, como a enchente de 2009, quando o rio Negro alcançou seu maior nível em Manaus, quase 30 metros, e um ano depois, o menor índice, pouco mais de 13 metros, Tim Flannery, citando vários climatologistas da atualidade, como Julia Cole, comenta que existe uma alteração permanente no clima.
Começou com os dois últimos fenômenos El Nino mais forte – em 1976 e 1998. Chamaram isso de “porta mágica”. Desde então, as temperaturas do oceano Índico não voltaram aos padrões normais, e o Pacífico Tropical ocidental, cujas temperaturas de superfície caíam normalmente abaixo de 19,2ºC, desde 1976, raramente de 25ºC. O Pacífico tropical ocidental é a área mais quente do oceano global e constitui um grande regulador do clima.
- O aquecimento global altera o clima aos solavancos, nos quais os padrões climáticos saltam de um estado estável para outro. E, devido à natureza telecinética da atmosfera, essas mudanças podem se manifestar instantaneamente através do globo”, explica Tim Flannery.
Ele também cita a mudança climática no Sahel africano, região desértica. As chuvas começaram a desaparecer em 1960 e não voltaram mais. A mudança climática saheliana é tão dramática que pode afetar o clima de todo o planeta, junto com o aquecimento do oceano Índico.
- Cerca da metade da poeira, partículas que carregam nutrientes para o oceano favorecendo o crescimento de plantas e plâncton, e paira no ar do mundo, hoje em dia, se origina na África árida. E o impacto da seca foi tão grande que a carga de poeira na atmosfera do planeta aumentou em torno de 1/3”, diz o cientista.
E esta é a verdadeira causa da miséria dos países africanos dessa região, que em 2011 formaram um acampamento de refugiados da seca na Etiópia, Somália e Quênia, com mais de 500 mil pessoas, na fronteira entre os dois primeiros países. A questão é política, afinal, o CO2 produzido pelos países ricos está na atmosfera e é um dos responsáveis pela mudança climática. 
Não é esse tipo de discussão que acontecerá em mais uma conferência mundial do clima.
Mudança na vazão dos rios
Quanto ao Brasil, fora as regiões metropolitanas, devem se preparar para a temporada de chuvas que vai iniciar, a Amazônia volta à discussão. Não pelo Código Florestal, deverá ser mais num aliado da mudança climática, mas pelas hidrelétricas. Na projeção oficial, a região Norte terá mais 11 usinas, além das três maiores conhecidas, 2 no rio Madeira, e Belo Monte, no rio Xingu. A política energética brasileira prevê 30% da energia elétrica do país, oriunda desta região, a partir de 2024.
Ocorre que alguns estudos sobre o regime de chuvas na área citada tem sido divulgados, prevendo uma alteração na vazão dos rios. O próprio presidente da Eletrobras, José Costa Neto, declarou ao jornal Valor Econômico, no final de outubro, que os ministérios do Meio Ambiente e Energia precisam ampliar o entendimento para possibilitar a volta da construção de hidrelétricas com reservatórios:
- Existem estudos recentes elaborados por órgãos domésticos e internacionais alertando para mudanças no regime de vazão dos rios devido ao aquecimento global tornam mais prementes a necessidade de construção de hidrelétricas com reservatórios. O custo ambiental do acionamento de térmicas para cobrir a demanda de energia elétrica na ponta ou para poupar água nos reservatórios existentes é maior que o impacto gerado pela construção de novos reservatórios”, disse ele.
Os reservatórios das três hidrelétricas em construção são pequenos, em relação aos anteriores. Num encontro da Fundação de Pesquisa de São Paulo, realizado na mesma época em Washington, o pesquisador Paulo Artaxo também comentou o assunto; “são necessários aprofundar os estudos sobre regime de chuvas nas regiões onde as hidrelétricas serão construídas”.
José A. Marengo, em estudo sobre as secas de 2005 e 2010 na Amazônia, realizado no INPE, registrou:
- A seca de 2010 afetou grande área que compreendia o noroeste, centro e sudoeste da Amazônia, incluindo partes da Colômbia, Peru e norte da Bolívia. As secas de 2005 e 2010 foram semelhantes em termos de gravidade meteorológica, no entanto, os impactos hidrológicos sobre os níveis das águas do último evento foram mais fortes... isso pode estar associado à temperatura mais elevada na superfície do oceano Atlântico, ao norte do Equador. A temperatura do ar na superfície da Amazônia em ambos os anos foi mais elevada que a média, maior ainda em 2010. As secas de 2005 e 2010 alinham-se bem às projeções de longo prazo de alguns modelos climáticos sobre seca e aquecimento da Amazônia até o final do século XXI”. 
Mudança no uso do solo
Como consequência da seca de 2005, no trabalho de José Marengo, os efeitos devastadores sobre as populações ao longo do principal canal do Amazonas e seus afluentes, tanto a oeste quanto a sudoeste – o rio Solimões e o rio Madeira. Os níveis dos rios atingiram os menores valores observados em sua história e a navegação ao longo dos canais teve que ser suspensa. A queda nos níveis dos rios e a seca dos lagos das planícies aluviais levaram a alta mortalidade de peixes e afetou o consumo da população.
Um outro estudo do pesquisador Flávio J. Luizão, do Instituto de Pesquisas do Pará (INPA), analisa as mudanças provocadas pela mudança no uso do solo, ou seja, transformação da floresta em pastagem ou lavoura de soja.
- “As alterações provocadas pelo homem durante os últimos 25-30 anos vêm provocando alterações inesperadas no ciclo hidrológico dos rios e lagos da Amazônia, indicando possíveis mudanças permanentes, que são ainda mais preocupantes ao se constatar, que estão ocorrendo num intervalo de tempo extremamente reduzido, se comparado às mudanças naturais do passado”.
E ele acrescenta: “presume-se que essas alterações dos ciclos de água, energia solar, carbono, nitrogênio e outros nutrientes, resultantes da mudança no uso da cobertura do solo na Amazônia possam também acarretar sérias consequências climáticas e ambientais em escalas local, regional e global”.
Flávio Luizão e um grupo de pesquisadores fizeram simulações sobre o aumento, na verdade, e extensão do desmatamento no futuro e concluíram:
- Indicam o aumento de 1 a 2,5ºC na temperatura de superfície, redução de 10 a 20% no escoamento superficial da água, de 15 a 30% na evapotranspiração, de 5 a 20% das chuvas, principalmente durante a seca, com consequente alongamento dos períodos secos”.
Esquentar o planeta com CO2
Os efeitos nas chuvas podem atingir até mesmo a parte central e sul do país, afetando o ciclo hidrológico da maior parte do Brasil, nos meses em que as emissões causadas por queimadas nas porções oeste, centro e sul da Amazônia, são importantes de agosto a novembro.
A mudança climática no Brasil ou no mundo ainda é tratada como uma questão de ambientalistas contra setores da economia em expansão, ou contra os tradicionais emissores de gases estufa, como as petrolíferas, montadoras, siderúrgicas. No país mais poderoso do mundo, ainda hoje elas controlam o debate. Até o ano 2000 chegaram a organizar uma coalizão global para desmentir a mudança climática. Também tentam desmerecer os pesquisadores que alertam sobre o problema. Talvez voltem no próximo ano. 
Na época da coalizão investiram US$ 60 milhões de dólares em doações políticas. Na época da Eco 92, período de George Bush, seu chefe de gabinete, John Sununu, era fã e divulgador de um vídeo produzido por Fred Palmer, depois virou executivo da Peabody Energy, maior produtora de carvão da Austrália. No vídeo eles pregavam a necessidade de esquentar o Planeta, produzindo mais gás carbônico para a atmosfera. 
Pensavam em 1000ppm (partes por milhão). A taxa atual gira em torno de 385ppm. Também afirmavam que as colheitas aumentariam em 30 a 60%. A terra seria fertilizada com CO2 e viveríamos um verão eterno. Não poderia de fazer parte do criativo documento: a fome no mundo acabaria. Não é difícil raciocinar sobre a capacidade desse pessoal em manter seu modelo econômico delirante. Pior é saber que eles ainda vão aprontar muito mais.
Fotos: Vista aérea de cidade chinesa. Aquecimento global terá efeitos devastadores nos países mais pobres, alerta a ONU. (Foto: CHINA OUT AFP PHOTO).
Fonte: Carta Maior | Meio Ambiente, 03/12/2011

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