Indústria do alumínio: A floresta virada em pó
por Bruna Engel - do Núcleo Amigos da Terra Brasil
Violação
aos direitos humanos e degradação da natureza andam juntos quando o tema é
territórios ocupados pelas corporações de mineração e produção de alumínio. Tão
útil e adaptado aos modos de vida moderno, por ser leve, macio e resistente,
esse metal esconde um processo industrial penoso e degradante. A reportagem
cinematográfica publicada aqui revela casos de destruição social e ambiental
que empresas transnacionais provocam nos Estados do Pará e Maranhão, onde está
concentrada mais de 80% da bauxita explorada no Brasil.
Ao percorrer todas as etapas do processo industrial
(mineração da bauxita, transporte por mineroduto, refino da alumina e a redução
desta para obtenção do alumínio), a equipe de repórteres flagra diversas
ameaças aos povos tradicionais e aos trabalhadores da indústria, e dá voz aos
afetados. São populações rurais de baixa renda e sem assistência dos poderes
públicos - com exceção do Ministério Público Federal, que ainda exige o
cumprimento das leis e busca assegurar as reparações aos povos afetados.
A maioria das comunidades, até que a destruição
comece, desconhece as estratégicas de inserção e apropriação de territórios
exercidos pelas corporações mineiras, assim como seus direitos e a legislação
que rege as relações comerciais do setor no Brasil. Só depois dos danos
causados é que passam a se organizar e lutar por melhores condições de vida. O
mesmo acontece com os trabalhadores, que aliciados por oportunidades de
trabalho não imaginam que estão sendo pagos para adoecerem e terem reduzido o
tempo de vida laboral.
A pressão do capital
Com o avassalador ingresso das indústrias, a região
de mineração passa a depender economicamente do empreendimento. O processo
anterior à mina, de expropriação e compra de terras, gera especulação
imobiliária inflacionando o valor da terra. Esse processo incentiva pequenos
agricultores a venderem suas terras, seduzidos pelas quantias oferecidas (de
grande monta para a realidade deles, mas de baixo impacto para o mercado
imobiliário), e engrossar as periferias dessas pequenas cidades, com aumento da
violência, prostituição, analfabetismo, entre outros graves problemas sociais.
Quando as empresas se instalam sobre essas áreas
fatalmente cessa a atividade de extração sustentável dos recursos na floresta,
porque extrativismo e mineração são atividades excludentes. A degradação
ambiental provocada pela instalação e operação das fábricas também resulta em
impactos na economia local: a contaminação de igarapés, lagos e rios por lama
vermelha (rejeito tóxico da limpeza da bauxita) provoca mortandade de peixes e
destrói a possibilidade de pesca artesanal; com a poluição pelo ar, as árvores
frutíferas próximo das fábricas não dão frutos, os açaizais (principal fonte de
renda das famílias camponesas da região) sofrem queda de produtividade, assim
como outras culturas tradicionais das regiões.
Hidrelétricas e financiamento público
A cadeia produtiva do alumínio é eletrointensiva,
ou seja, necessita de grande quantidade de energia elétrica e de água para se
viabilizar. Para a expansão da produção do alumínio, o governo federal vem promovendo
a construção de novas barragens na Amazônia, entre elas Belo Monte, que cederá
70% de sua energia para as indústrias de mineração. Além disso, bancos
públicos, como o BNDES, assumiram papel fundamental para o fortalecimento da
cadeia produtiva.
O financiamento público, aliado ao reaquecimento do
mercado internacional, impulsionou a expansão das fábricas da Alunorte/Albrás,
Alumar e CBA, incluindo o financiamento de novos projetos de refinaria em
Barcarena, maior pólo do setor, a 50
km de Belém. E as fábricas não se expandem sozinhas,
junto com elas vem a abertura de novas lavras, a construção de novas usinas
hidrelétricas e termelétricas, duplicação de ferrovias, minerodutos e etc. Ou
seja, a degradação ambiental que foi registrada nesta reportagem cinematográfica.
A força da grana
A exportação do setor metalúrgico, pelos dados mais
atualizados, de 2009, correspondeu a 2,1% da balança comercial. Por sua vez, as
exportações influenciam em 2% do PIB nacional. O alumínio é uma das principais
commodities brasileiras e o país é o 6º produtor mundial do metal, atrás da
China, Rússia, Canadá, Austrália e Estados Unidos. O Brasil possui a terceira
maior jazida de bauxita do mundo e é o quarto maior produtor mundial de
alumina. Contando toda a cadeia, foram produzidas 26074,4 mil toneladas de
bauxita, 8625,1 mil toneladas de alumina e 1690 mil toneladas de alumínio.
Em termos de negócio, a produção brasileira perde
muito em valor agregado, pois só produz produtos primários, concentrando
somente os processos mais agressivos ao meio ambiente. Exportamos, no máximo,
lingotes de alumínio. Quando chegam nos outros países, para as etapas seguintes
de transformação do metal, o alumínio para a valer quatro vezes mais.
(*) O Núcleo Amigos da Terra Brasil, em contato com
organizações e movimentos locais, foi registrar esses conflitos com ribeirinhos
para avaliar os impactos sociais e ambientais que a indústria do alumínio
provoca desde à década de 80 no Brasil. Para isso, organizou visitas técnicas
em pelo menos um local de cada etapa da cadeia produtiva. Essa reportagem,
acompanha a pesquisa de campo e revela os casos de ameaças aos povos
tradicionais e aos trabalhadores da indústria, dando voz aos afetados.
Abaixo, a versão em inglês do documentário:
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