Mudança climática: o futuro é agora
A mudança climática no Brasil ou no mundo ainda é tratada como uma
questão de ambientalistas contra setores da economia em expansão, ou contra os
tradicionais emissores de gases estufa, como as petrolíferas, montadoras, siderúrgicas.
No país mais poderoso do mundo, ainda hoje elas controlam o debate. Levando em
consideração apenas eventos extremos recentes, a partir de 2009, o inventário
de tragédias no mundo é muito grande, impressionante, e não reflete a
preocupação das lideranças em definir medidas para enfrentar a situação.
por Najar Tubino
Até setembro, o Brasil sofreu 18 horas de apagões
de energia elétrica. Uma das razões foi explicada pelo coordenador do grupo de
Eletricidade Atmosférica do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
Osmar Pinto Jr.
- Nos últimos 50 anos a temperatura média em São Paulo (capital)
aumentou cerca de 2 graus centígrados, quatro vezes mais que a média nacional.
"As chuvas acima de 100mm/dia, eram extremamente raras, tornaram-se eventos
comuns.”
Hoje o ano tem pelo menos 100 dias com tempestades
nessa intensidade, diz o pesquisador. Há 50 anos, eram 60 dias, no máximo. Nos
últimos 13 anos houve três tempestades em São Paulo com mais de 1.500 raios em um mesmo dia
– uma em 2009 e duas em 2011.
A estiagem favorece as queimadas e o Organizador
Nacional do Sistema (ONS) comunicou que ocorreram seis interrupções com carga
superior a 1000 MW em 2010, o dobro dos três anos anteriores. Por outro lado, a
quebra da safra da cana-de-açúcar no estado de São Paulo foi consequência de
excesso de chuva, geada e seca, nas palavras do diretor técnico da União das
Indústrias (UNICA), Antônio de Pádua.
Na região de Champagne, na França, a colheita da
uva ocorreu em agosto e não mais em outubro, em função do calor. Esses são
relatos pequenos das mudanças climáticas, que estão acontecendo no país e no
mundo. Aliás, mudanças no clima envolvem o planeta inteiro. Não tem como
proteger, bloquear, combater. No máximo, as populações e os ecossistemas se
adaptarão. Ou perecerão.
Crônica da morte anunciada
Levando em consideração apenas eventos extremos recentes, a partir de 2009, o inventário de tragédias no mundo é muito grande, impressionante, e não reflete a preocupação das lideranças em definir medidas para enfrentar a situação. No dia 28 de novembro, começou mais uma convenção do clima da ONU. Mais uma com resultados negativos, para dizer o mínimo. Porque Estados Unidos, China, Canadá, Japão já anteciparam que não querem definições sobre redução das emissões de gases estufa, na prática significa menor uso de combustíveis fósseis – petróleo, carvão e gás.
Levando em consideração apenas eventos extremos recentes, a partir de 2009, o inventário de tragédias no mundo é muito grande, impressionante, e não reflete a preocupação das lideranças em definir medidas para enfrentar a situação. No dia 28 de novembro, começou mais uma convenção do clima da ONU. Mais uma com resultados negativos, para dizer o mínimo. Porque Estados Unidos, China, Canadá, Japão já anteciparam que não querem definições sobre redução das emissões de gases estufa, na prática significa menor uso de combustíveis fósseis – petróleo, carvão e gás.
Essa é a crônica da morte anunciada, pois desde a
vergonhosa cúpula de Copenhagen, os líderes dos países ricos – ou mais ou menos
– anunciaram que não participariam do Protocolo de Kyoto, termina no ano que
vem.
Kyoto foi aprovado em 1997, mas só entrou em vigor em 2007, quando a Rússia resolveu aderir, posição já alterada. A meta era reduzir 5% das emissões, na comparação com 1990. O Canadá assinou o protocolo e investiu na pior exploração de petróleo da atualidade – as areias de piche, ou betuminosas. Estourou a cota. Nada acontece. Em tempos de recessão econômica e crise dos bônus soberanos, que envolve a Europa inteira, nenhuma liderança da OCDE quer ouvir falar em reduzir o ritmo da economia e o consumo dos combustíveis fósseis. No início de outubro, os 27 ministros de meio ambiente da União Europeia, se reuniram em Luxemburgo e decidiram:
Kyoto foi aprovado em 1997, mas só entrou em vigor em 2007, quando a Rússia resolveu aderir, posição já alterada. A meta era reduzir 5% das emissões, na comparação com 1990. O Canadá assinou o protocolo e investiu na pior exploração de petróleo da atualidade – as areias de piche, ou betuminosas. Estourou a cota. Nada acontece. Em tempos de recessão econômica e crise dos bônus soberanos, que envolve a Europa inteira, nenhuma liderança da OCDE quer ouvir falar em reduzir o ritmo da economia e o consumo dos combustíveis fósseis. No início de outubro, os 27 ministros de meio ambiente da União Europeia, se reuniram em Luxemburgo e decidiram:
- Se Estados Unidos e China, assim como outras
nações com economias fortes não aderirem ao Protocolo de Kyoto, mesmo com
posições diferenciadas, a União Europeia não participará mais do acordo. A
comissária de ambiente da União Europeia, Connie Hedegard, disse : qual o
sentido de manter algo vivo se estamos sozinhos nisso.”
Alguns países da Europa mantém uma posição de
investir em energia renovável e reduzir até em 50% as emissões, como é o caso
da Dinamarca.
Irreversíveis em cinco anos
Ainda em novembro, a Agência Internacional de Energia lançou um comunicado, onde ressalta a importância dos países reduzirem as emissões de gases estufa (CO2, CH4 e N2O, carbônico, metano e óxido nitroso, respectivamente), nos próximos cinco anos, sob pena de tornarem as mudanças climáticas irreversíveis.
Ainda em novembro, a Agência Internacional de Energia lançou um comunicado, onde ressalta a importância dos países reduzirem as emissões de gases estufa (CO2, CH4 e N2O, carbônico, metano e óxido nitroso, respectivamente), nos próximos cinco anos, sob pena de tornarem as mudanças climáticas irreversíveis.
- Os governos precisam mudar sua política de
consumo de combustíveis até 2017, senão as emissões alcançarão 450 ppm (partes
por milhão) e a temperatura aumentará 2 graus centígrados”.
A parte mais importante do comunicado são as
previsões até 2035. O consumo de combustíveis fósseis vai cair de 81% para 75%
e as energias renováveis crescerão de 13 para 18%. Uma mudança na estrutura do
consumo de 5%. Os subsídios governamentais para as fontes energéticas serão de
US$ 250 bilhões para renováveis em 2035 – hoje é de US$ 64 bilhões – enquanto
as fósseis receberão US$ 409 bilhões, em 2035. O consumo diário de petróleo
passará de 87 milhões barris/dia para 99 milhões, em 2035, e a frota mundial
alcançará 1,7 bilhão de veículos.
No final a AIE, mais uma vez, comenta o fato de que
cada dólar não investido na economia de baixo carbono, agora, resultarão num
gasto de quatro dólares no futuro. Esse é um receituário mais do que conhecido.
Assim como os eventos extremos ocorridos no planeta, a partir de 2009. Esta
lista está no site das seguradoras, como a Allianz, o maior grupo mundial. Elas
são as mais preocupadas com a situação, porque pagam os prejuízos, tem
aumentado 10% ao ano, e podem chegar em 2050, em US$ 500 bilhões.
Inventários de tragédias
- Enchentes na Austrália em 2010-11,
a pior dos últimos 50 anos. O ano de 2010 foi o terceiro
mais úmido em todo o país, recordista em umidade foi o estado de Queensland.
- Enchentes na Austrália em 2010-
- Rússia, verão de 2010: calor extremo e a seca
registrados em julho de 2010 provocaram incêndios florestais desastrosos em
toda a Federação Russa. Efeitos combinados de onda de calor mataram 56 mil
pessoas. Julho foi o mês mais quente registrado em Moscou.
- Paquistão, verão de 2010: inundação no noroeste
do país, piores enchentes da história, chuvas de extrema intensidade,
alagamentos e transbordamentos de rios. Esses fatores combinados criaram um
corpo de água em movimento de dimensão equivalente à massa de terra do Reino
Unido. As enchentes atingiram 84 dos 121 distritos do Paquistão, mais de 20
milhões de pessoas, devastando vilarejos desde os Himalaias (são 45 mil
geleiras) até o Mar Arábico. Foram mortas 1.700 pessoas e 1,8 milhão de
moradias danificada ou destruídas.
- Grã-Bretanha, abril de 2011: o mês mais quente
desde que foram iniciados os registros em 1659. Chuvas chegaram apenas a 52% da
média. Isso depois de um mês de março mais seco em 60 anos, segundo o Instituto
de Meteorologia Britânico.
- Estados Unidos, abril de 20ll: o desastre natural
mais letal do país, desde o furacão Katrina, consistiu de um número sem
precedentes de tornados, que varreram o sudeste do país, vitimando mais de 220
pessoas, seguido por enchentes de vários rios de grande porte, como o
Mississipi e o Missouri.
- Setembro de 2011: a camada de gelo do Oceano
Ártico caiu para 4,24 milhões de km2, segundo a Universidade de Bremem. Em 1970, a camada era de 7
milhões de km2, na época do verão.
- Brasil, janeiro de 2011: uma violenta tempestade
despencou sobre a serra do Rio de Janeiro matando mais de mil pessoas.
Uma explicação técnica no final do comunicado da
seguradora: as emissões de gases estufa criaram ambientes mais quentes e úmidos
nos quais essas tempestades se formam, emprestando-lhes um poder destruidor
ainda maior.
São Paulo, ilha de calor
Caso típico, a capital paulista, megacidade com 11 milhões de habitantes, mas principalmente a região metropolitana, que atinge 20 milhões de pessoas. O INPE fez um estudo sobre o assunto – o risco que corre a região metropolitana paulista. Área com mais de 40 mil indústrias, acima de 6 milhões de carros. São realizadas mais de 30 milhões de viagens diárias na região metropolitana, 12 milhões em transporte coletivo e 8,1 milhões em transportes individuais. Nas ruas circulam mais de 3 milhões de carros por dia. As indústrias e os veículos são responsáveis pelo lançamento diário de 6.575 toneladas de poluentes atmosféricos, equivale a 2.400.000 toneladas/ano. Os veículos são responsáveis por 40% das emissões de particulados, a fuligem dos veículos, e 31% do dióxido de enxofre (SO2). As indústrias por outra parte de particulados e 67% do SO2.
Caso típico, a capital paulista, megacidade com 11 milhões de habitantes, mas principalmente a região metropolitana, que atinge 20 milhões de pessoas. O INPE fez um estudo sobre o assunto – o risco que corre a região metropolitana paulista. Área com mais de 40 mil indústrias, acima de 6 milhões de carros. São realizadas mais de 30 milhões de viagens diárias na região metropolitana, 12 milhões em transporte coletivo e 8,1 milhões em transportes individuais. Nas ruas circulam mais de 3 milhões de carros por dia. As indústrias e os veículos são responsáveis pelo lançamento diário de 6.575 toneladas de poluentes atmosféricos, equivale a 2.400.000 toneladas/ano. Os veículos são responsáveis por 40% das emissões de particulados, a fuligem dos veículos, e 31% do dióxido de enxofre (SO2). As indústrias por outra parte de particulados e 67% do SO2.
Registra o estudo do INPE: ”a densa urbanização
constitui importante fonte de calor e os poluentes também afetam o balanço
radioativo. A Região Metropolitana de São Paulo é uma das realidades climáticas
urbanas mais críticas e insuficientemente estudadas no Brasil. A área central
de São Paulo, por exemplo, com seus edifícios altos e próximos uns dos outros,
ruas estreitas e pátios confinados, forma tipicamente o centro de uma ilha
urbana de calor”.
Nessa região central a capacidade térmica das áreas
cobertas por edifícios e pavimentação é maior e a circulação de ar é menor. Sob
nebulosidade, menos radiação solar atinge o solo, tornando o fenômeno da ilha
de calor menos pronunciado. Sob condições de inversão térmica a ilha de calor é
intensificada.
- A urbanização dos vales, dos rios Tietê,
Tamanduateí e Pinheiros ocorreu em tempos diferenciados, mas esses valores hoje
se assemelham climatologicamente a grandes bacias aquecidas, produtoras de
toneladas de poluentes, originários das indústrias e da circulação dos
veículos. A crescente urbanização das periferias atuando em sinergia com o
aquecimento global projeta que eventos com grandes volumes de precipitações
pluviométricas (chuvas) vão ocorrer com mais frequência no futuro, abrangendo
cada vez mais uma área geográfica maior da região metropolitana”.
O estudo é um relato técnico do noticiário
frequente das inundações e enchentes na região. Qualquer chuva acima de 30mm já
produz enchente na capital e arredores. E não é diferente em outras capitais do
país.
Novo clima já
começou
Outra região estratégica no Brasil, com poder
global, a Amazônia. Em cinco anos, três eventos extremos: a seca de 2005, uma
das maiores da história, a enchente de 2009, também recordista de inundação, e
a seca de 2010. A
primeira década do século XXI só confirmou ainda mais as tragédias anunciadas
pela mudança climática. Os anos 1990-2000 foram os mais quentes do registro
meteorológico, desde 1861. O ano de 1998 varreu o planeta com o fenômeno El
Nino, que atingiu todos os continentes, com secas e inundações alternadas. O
sudeste asiático queimou mais de 10 milhões de hectares de florestas, 5 milhões
somente na Ilha de Bornéu.
Mas a década, além do mais violento El Nino,
registrou depois o mais devastador furacão em 200 anos (Mitch), o verão europeu
mais quente (2003), matando entre 26 e 45 mil pessoas, o primeiro furacão do
Atlântico Sul, ventos de 150 quilômetros que atingiram a costa do
Brasil, entre Torres (RS) e Laguna (SC), desalojando 30 mil pessoas e matando
11 e uma das piores tempestades já experimentadas na Flórida (2004).
Como relata em seu livro “Senhores do Clima”, o
cientista australiano, Tim Flannery, “essa série de eventos indica que o
potencial do novo clima para gerar eventos extremos já começou”.
Ou seja, para mudança climática o futuro é agora. É
claro, que os indícios e os fatos também envolvem uma série de outros estudos,
acompanhados pelos membros da Organização Meteorológica Mundial, com mais de 10
mil estações associadas. A equação não é complicada e fácil de entender: gases
estufa significa mais calor retido na atmosfera, com maior concentração de
vapor de água. Isso transformado em nuvens numa ilha de calor, quer dizer,
perigo iminente. Se for em
São Paulo , pode se precaver, porque vai despencar.
Tim Flannery explica o que é um furacão:
- É uma máquina de calor abastecida pelo calor
latente liberado quando imensas quantidades de vapor de água se condensam. Para
botar essa máquina em funcionamento é preciso uma grande quantidade de ar úmido
e quente”.
Quando suamos nosso suor carrega calor do nosso
corpo para o ar. A evaporação de apenas 1 grama de nossa pele é suficiente para
transportar 580 calorias. Agora imaginem, a quantidade de calor evaporada dos
oceanos, junto com o vapor de água.
Estados Unidos, o n° 1 em eventos extremos
Para cada 10 graus centígrados de aumento em sua temperatura, a quantidade de vapor de água que o ar pode conter dobra. Assim o ar a 30ºC pode conter quatro vezes mais “combustível de furacão” do que o ar a 10ºC. Por sinal, o furacão Mitch matou 10 mil pessoas no Caribe e deixou 3 milhões de desabrigados, os ventos atingiram 290km, foi o quarto mais forte registrado na bacia do Atlântico. Desde 1950, que as variações de temperatura na América do Norte se alteraram, diminuiu o diferencial entre a temperatura do norte e sul, mudou o contraste entre a temperatura em terra e no mar e reduziu a variação de temperatura durante o dia.
Para cada 10 graus centígrados de aumento em sua temperatura, a quantidade de vapor de água que o ar pode conter dobra. Assim o ar a 30ºC pode conter quatro vezes mais “combustível de furacão” do que o ar a 10ºC. Por sinal, o furacão Mitch matou 10 mil pessoas no Caribe e deixou 3 milhões de desabrigados, os ventos atingiram 290km, foi o quarto mais forte registrado na bacia do Atlântico. Desde 1950, que as variações de temperatura na América do Norte se alteraram, diminuiu o diferencial entre a temperatura do norte e sul, mudou o contraste entre a temperatura em terra e no mar e reduziu a variação de temperatura durante o dia.
Os Estados Unidos já tem o clima mais variável
entre os países do mundo inteiro. São os tornados mais intensos e destruidores,
enchentes súbitas, trovoadas intensas, furacões e nevascas superiores as de
qualquer outro lugar. Uma das causas mais citadas na mudança climática é a
temperatura dos oceanos. Ora é a enchente, porque as águas do Atlântico estão
mais quentes no norte, ou as do Pacífico mais quentes, como no caso do El Nino
– traduz o nome do evento, quando as águas do Pacífico atingem o litoral do
Peru no mês de dezembro. É uma expressão climática cristã.
Todo mundo sabe que esse planeta é formado por água
e não por terra.
Quem absorve a maior parte da radiação solar são os
oceanos. Eles também têm absorvido a lixeira da poluição da civilização
moderna. Aliás, os cientistas descobriram que a maior parte do gás carbônico
produzida pelos europeus desde a revolução industrial foi absorvida pelo Mar do
Norte e depois lançada no Atlântico Norte pelas correntes. O CO2 absorvido
pelos oceanos é calculado em 2 bilhões de toneladas, enquanto a vida vegetal
consumiria mais 1,5 gigatoneladas (usada na fotossíntese).
Nos oceanos também são seres microscópicos que
absorvem gás carbônico – as algas, o chamado fitoplâncton, a comida de milhares
de espécies.
Oceanos mais quentes
O que vem acontecendo com o efeito estufa e os oceanos? Eles estão ficando mais quentes, e em consequência, absorvem menos CO2 e ficam mais ácidos, o que é péssimo para os corais (resulta na morte das bactérias que dão o colorido aos recifes). Principalmente, desorganiza os ciclos da vida marinha. Muitas espécies transformam CO2 junto com o cálcio, em carapaças, conchas, como queiram.
O que vem acontecendo com o efeito estufa e os oceanos? Eles estão ficando mais quentes, e em consequência, absorvem menos CO2 e ficam mais ácidos, o que é péssimo para os corais (resulta na morte das bactérias que dão o colorido aos recifes). Principalmente, desorganiza os ciclos da vida marinha. Muitas espécies transformam CO2 junto com o cálcio, em carapaças, conchas, como queiram.
Também influenciam na evaporação. No regime de
chuvas. O Pacífico, maior oceano do mundo, na região da Indonésia, é uma
fábrica de nuvens importantes. São trazidas pelos ventos alísios, os ventos
permanentes, atravessam a África e chegam à América do Norte. Elas dependem de
partículas sólidas para condensar o vapor de água. Não existe gota de chuva sem
uma partícula sólida. Pode ser a poeira que sai do deserto, ou as partículas
das queimadas das florestas da Amazônia ou do sudeste da Ásia. As partículas
das queimadas são maiores, normalmente não caem na região, e podem se
transformar em tempestades de granizo, ou simplesmente se dispersar.
Os cientistas já sabem que a floresta amazônica
recicla entre 30 e 50% da umidade, transformando em chuvas na própria região.
Junto ficam os nutrientes necessários à manutenção da floresta. Mecanismos que
funcionam a milhares ou milhões de anos. E agora estão sendo alterados.
Um dos maiores estudos da região amazônica, o
Experimento em Larga
Escala da Biosfera e Atmosfera, constatou que uma área de
mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, envolvendo Pará, Mato Grosso,
Rondônia, durante os meses de agosto - novembro, época das queimadas, tem uma
quantidade de partículas poluentes superior às do centro de São Paulo, no pior
período do inverno. E que as queimadas mudam o clima da região, alterando o
tamanho das nuvens, e até mesmo o tamanho e quantidade de gotas de chuva. Além
de levar os nutrientes, como fósforo e o nitrogênio (evaporam na queima), para
longe da floresta.
Porta mágica
Quando acontecem eventos extremos, como a enchente de 2009, quando o rio Negro alcançou seu maior nível em Manaus, quase30 metros , e um ano
depois, o menor índice, pouco mais de 13 metros , Tim Flannery, citando vários
climatologistas da atualidade, como Julia Cole, comenta que existe uma
alteração permanente no clima.
Quando acontecem eventos extremos, como a enchente de 2009, quando o rio Negro alcançou seu maior nível em Manaus, quase
Começou com os dois últimos fenômenos El Nino mais
forte – em 1976 e 1998. Chamaram isso de “porta mágica”. Desde então, as
temperaturas do oceano Índico não voltaram aos padrões normais, e o Pacífico
Tropical ocidental, cujas temperaturas de superfície caíam normalmente abaixo
de 19,2ºC, desde 1976, raramente de 25ºC. O Pacífico tropical ocidental é a
área mais quente do oceano global e constitui um grande regulador do clima.
- O aquecimento global altera o clima aos
solavancos, nos quais os padrões climáticos saltam de um estado estável para
outro. E, devido à natureza telecinética da atmosfera, essas mudanças podem se
manifestar instantaneamente através do globo”, explica Tim Flannery.
Ele também cita a mudança climática no Sahel
africano, região desértica. As chuvas começaram a desaparecer em 1960 e não
voltaram mais. A mudança climática saheliana é tão dramática que pode afetar o
clima de todo o planeta, junto com o aquecimento do oceano Índico.
- Cerca da metade da poeira, partículas que
carregam nutrientes para o oceano favorecendo o crescimento de plantas e
plâncton, e paira no ar do mundo, hoje em dia, se origina na África árida. E o
impacto da seca foi tão grande que a carga de poeira na atmosfera do planeta
aumentou em torno de 1/3”, diz o cientista.
E esta é a verdadeira causa da miséria dos países africanos dessa região, que em 2011 formaram um acampamento de refugiados da seca na Etiópia, Somália e Quênia, com mais de 500 mil pessoas, na fronteira entre os dois primeiros países. A questão é política, afinal, o CO2 produzido pelos países ricos está na atmosfera e é um dos responsáveis pela mudança climática.
Não é esse tipo de discussão que acontecerá em mais uma conferência mundial do clima.
E esta é a verdadeira causa da miséria dos países africanos dessa região, que em 2011 formaram um acampamento de refugiados da seca na Etiópia, Somália e Quênia, com mais de 500 mil pessoas, na fronteira entre os dois primeiros países. A questão é política, afinal, o CO2 produzido pelos países ricos está na atmosfera e é um dos responsáveis pela mudança climática.
Não é esse tipo de discussão que acontecerá em mais uma conferência mundial do clima.
Mudança na vazão dos rios
Quanto ao Brasil, fora as regiões metropolitanas, devem se preparar para a temporada de chuvas que vai iniciar, a Amazônia volta à discussão. Não pelo Código Florestal, deverá ser mais num aliado da mudança climática, mas pelas hidrelétricas. Na projeção oficial, a região Norte terá mais 11 usinas, além das três maiores conhecidas, 2 no rio Madeira, e Belo Monte, no rio Xingu. A política energética brasileira prevê 30% da energia elétrica do país, oriunda desta região, a partir de 2024.
Quanto ao Brasil, fora as regiões metropolitanas, devem se preparar para a temporada de chuvas que vai iniciar, a Amazônia volta à discussão. Não pelo Código Florestal, deverá ser mais num aliado da mudança climática, mas pelas hidrelétricas. Na projeção oficial, a região Norte terá mais 11 usinas, além das três maiores conhecidas, 2 no rio Madeira, e Belo Monte, no rio Xingu. A política energética brasileira prevê 30% da energia elétrica do país, oriunda desta região, a partir de 2024.
Ocorre que alguns estudos sobre o regime de chuvas
na área citada tem sido divulgados, prevendo uma alteração na vazão dos rios. O
próprio presidente da Eletrobras, José Costa Neto, declarou ao jornal Valor
Econômico, no final de outubro, que os ministérios do Meio Ambiente e Energia
precisam ampliar o entendimento para possibilitar a volta da construção de
hidrelétricas com reservatórios:
- Existem estudos recentes elaborados por órgãos domésticos
e internacionais alertando para mudanças no regime de vazão dos rios devido ao
aquecimento global tornam mais prementes a necessidade de construção de
hidrelétricas com reservatórios. O custo ambiental do acionamento de térmicas
para cobrir a demanda de energia elétrica na ponta ou para poupar água nos
reservatórios existentes é maior que o impacto gerado pela construção de novos
reservatórios”, disse ele.
Os reservatórios das três hidrelétricas em
construção são pequenos, em relação aos anteriores. Num encontro da Fundação de
Pesquisa de São Paulo, realizado na mesma época em Washington, o pesquisador
Paulo Artaxo também comentou o assunto; “são necessários aprofundar os estudos
sobre regime de chuvas nas regiões onde as hidrelétricas serão construídas”.
José A. Marengo, em estudo sobre as secas de 2005 e
2010 na Amazônia, realizado no INPE, registrou:
- A seca de 2010 afetou grande área que compreendia
o noroeste, centro e sudoeste da Amazônia, incluindo partes da Colômbia, Peru e
norte da Bolívia. As secas de 2005 e 2010 foram semelhantes em termos de
gravidade meteorológica, no entanto, os impactos hidrológicos sobre os níveis
das águas do último evento foram mais fortes... isso pode estar associado à
temperatura mais elevada na superfície do oceano Atlântico, ao norte do
Equador. A temperatura do ar na superfície da Amazônia em ambos os anos foi
mais elevada que a média, maior ainda em 2010. As secas de 2005 e 2010
alinham-se bem às projeções de longo prazo de alguns modelos climáticos sobre
seca e aquecimento da Amazônia até o final do século XXI”.
Mudança no uso do solo
Como consequência da seca de 2005, no trabalho de José Marengo, os efeitos devastadores sobre as populações ao longo do principal canal do Amazonas e seus afluentes, tanto a oeste quanto a sudoeste – o rio Solimões e o rio Madeira. Os níveis dos rios atingiram os menores valores observados em sua história e a navegação ao longo dos canais teve que ser suspensa. A queda nos níveis dos rios e a seca dos lagos das planícies aluviais levaram a alta mortalidade de peixes e afetou o consumo da população.
Como consequência da seca de 2005, no trabalho de José Marengo, os efeitos devastadores sobre as populações ao longo do principal canal do Amazonas e seus afluentes, tanto a oeste quanto a sudoeste – o rio Solimões e o rio Madeira. Os níveis dos rios atingiram os menores valores observados em sua história e a navegação ao longo dos canais teve que ser suspensa. A queda nos níveis dos rios e a seca dos lagos das planícies aluviais levaram a alta mortalidade de peixes e afetou o consumo da população.
Um outro estudo do pesquisador Flávio J. Luizão, do
Instituto de Pesquisas do Pará (INPA), analisa as mudanças provocadas pela
mudança no uso do solo, ou seja, transformação da floresta em pastagem ou
lavoura de soja.
- “As alterações provocadas pelo homem durante os
últimos 25-30 anos vêm provocando alterações inesperadas no ciclo hidrológico
dos rios e lagos da Amazônia, indicando possíveis mudanças permanentes, que são
ainda mais preocupantes ao se constatar, que estão ocorrendo num intervalo de
tempo extremamente reduzido, se comparado às mudanças naturais do passado”.
E ele acrescenta: “presume-se que essas alterações
dos ciclos de água, energia solar, carbono, nitrogênio e outros nutrientes,
resultantes da mudança no uso da cobertura do solo na Amazônia possam também
acarretar sérias consequências climáticas e ambientais em escalas local,
regional e global”.
Flávio Luizão e um grupo de pesquisadores fizeram
simulações sobre o aumento, na verdade, e extensão do desmatamento no futuro e
concluíram:
- Indicam o aumento de 1 a 2,5ºC na temperatura de
superfície, redução de 10 a
20% no escoamento superficial da água, de 15 a 30% na evapotranspiração, de 5 a 20% das chuvas,
principalmente durante a seca, com consequente alongamento dos períodos secos”.
Esquentar o planeta com CO2
Os efeitos nas chuvas podem atingir até mesmo a parte central e sul do país, afetando o ciclo hidrológico da maior parte do Brasil, nos meses em que as emissões causadas por queimadas nas porções oeste, centro e sul da Amazônia, são importantes de agosto a novembro.
Os efeitos nas chuvas podem atingir até mesmo a parte central e sul do país, afetando o ciclo hidrológico da maior parte do Brasil, nos meses em que as emissões causadas por queimadas nas porções oeste, centro e sul da Amazônia, são importantes de agosto a novembro.
A mudança climática no Brasil ou no mundo ainda é
tratada como uma questão de ambientalistas contra setores da economia em
expansão, ou contra os tradicionais emissores de gases estufa, como as
petrolíferas, montadoras, siderúrgicas. No país mais poderoso do mundo, ainda
hoje elas controlam o debate. Até o ano 2000 chegaram a organizar uma coalizão
global para desmentir a mudança climática. Também tentam desmerecer os
pesquisadores que alertam sobre o problema. Talvez voltem no próximo ano.
Na época da coalizão investiram US$ 60 milhões de
dólares em doações políticas. Na época da Eco 92, período de George Bush, seu
chefe de gabinete, John Sununu, era fã e divulgador de um vídeo produzido por
Fred Palmer, depois virou executivo da Peabody Energy, maior produtora de
carvão da Austrália. No vídeo eles pregavam a necessidade de esquentar o
Planeta, produzindo mais gás carbônico para a atmosfera.
Pensavam em 1000ppm (partes por milhão). A taxa
atual gira em torno de 385ppm. Também afirmavam que as colheitas aumentariam em
30 a 60%.
A terra seria fertilizada com CO2 e viveríamos um verão eterno. Não poderia de
fazer parte do criativo documento: a fome no mundo acabaria. Não é difícil
raciocinar sobre a capacidade desse pessoal em manter seu modelo econômico
delirante. Pior é saber que eles ainda vão aprontar muito mais.
Fotos: Vista
aérea de cidade chinesa. Aquecimento global terá efeitos devastadores nos
países mais pobres, alerta a ONU. (Foto: CHINA OUT AFP PHOTO).
Fonte: Carta Maior | Meio Ambiente, 03/12/2011
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