aos jovens futuros economistas e aos que desejam estudar Economia
por Hugo Eduardo Meza Pinto e Marcus Eduardo de Oliveira
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As personalidades listadas a seguir têm algo em comum – Alan Greenspan (ex-presidente do Banco Central americano), Peter Druker (guru da Administração), Philip Kotler (guru dos Negócios Empresariais), Kofi Anan (ex-Secretário Geral da ONU), Mick Jagger (cantor), Arnold Schwarzenegger (ator e governador da Califórnia), Ivan Zurita (presidente da Nestlé), Roger Agneli (presidente da Vale) e Bernardinho (técnico de vôlei da seleção brasileira) – todos, sem exceção, passaram por uma faculdade de Economia.
Apesar de não exercerem a profissão de economista, estas personalidades, certamente, utilizaram e ainda utilizam os conceitos da ciência econômica em suas vidas profissionais ou mesmo pessoais.
Qual o motivo de comentarmos isso? Durante os últimos anos tem-se falado de maneira generalizada em Economia (enquanto ciência), principalmente em alguns dos conceitos que envolvem este ramo do conhecimento.
Atualmente, percebe-se uma tendência em discutir conceitos econômicos na sociedade. Muito se fala, por exemplo, na importância da educação financeira. Nesse pormenor, já há estudos que apontam para a viabilidade de inserir conceitos sobre educação financeira na grade curricular do ensino médio. Nesta mesma linha, é comum vermos e ouvirmos em programas de TV e rádio alguém se dedicar aos assuntos do universo da Economia. Não por acaso, sempre aparecem especialistas no assunto, apresentando-se em tom de conselhos.
Diante disto, uma pergunta se apresenta como pertinente: Como explicar a diminuição de demanda de estudantes pelo curso de Economia no Brasil, e em alguns outros lugares do mundo? A Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Economia (Anges) aponta para essa diminuição desde a década de 1980. Corrobora para isso os dados apresentados pelo Censo da Educação Superior Brasileira do Ministério da Educação (MEC) mostrando que somente 3,2% do total de matrículas, no Brasil, são do curso de Economia. Nos Estados brasileiros, há uma tendência dramática de diminuição de vagas preenchida para a graduação em Economia, quer seja em instituição privada ou nas universidades públicas e federais.
Conquanto, a pergunta permanece: Como explicar essa dicotomia entre se falar e mesmo estudar Economia no dia a dia?
Uma das razões disso, talvez, seja por que os próprios economistas pecam ao se apresentarem em tons demasiadamente teóricos; pouco compreensíveis, portanto, para os não familiarizados com os jargões econômicos. Não por acaso, nós economistas, “inventamos” até mesmo um linguajar complexo e sofisticado (“economês”) na tentativa de explicar os fatos. É a linguagem tecnicista e rebarbativa, sibilina por conceito, que mais atrapalha que ajuda as pessoas a bem compreenderem o universo econômico.
Para complicar ainda mais a pouca compreensão do público em geral, nós economistas acreditamos piamente no uso de modelos matemáticos para explicar quase tudo, como se as relações sociais e econômicas fossem previsivelmente exatas e como se a vida de todos nós se resumisse a números, taxas e índices. Ora, isto mostra a frieza de uma ciência que, ao contrário, tem um lado de estudo muito humano, voltado a entender a sociedade em suas múltiplas manifestações, principalmente no aspecto social.
No entanto, ao insistirmos em teorizar de forma estritamente acadêmica e por vezes, pouco popular, criamos com isso uma espécie de ranço na aceitação social que prejudica, sobremaneira, a imagem do profissional economista. Não raro, esses profissionais são muitas vezes vistos como arautos do apocalipse; ou o que é pior: de estimuladores e entendidos apenas de crise, do caos, da confusão.
Uma segunda questão – que se alinha a primeira – sobre a dificuldade em angariar novos interessados em estudar Economia recai, em nosso entendimento, na pouca familiaridade em tentar explicar para a sociedade o campo de atuação do economista. Por vezes, não somos claros em explicar que este profissional pode ocupar espaços em atividades públicas e privadas; dada a abrangência de conhecimentos sólidos que o curso fornece. Esta abrangência somente é possível por se tratar de uma formação sólida que não se limita a dados técnicos, mas que abrange a discussão dos processos históricos e sociais que construíram, desde os escritos seminais dos clássicos ingleses, o pensamento econômico.
Todavia, nunca é tarde para a mudança. O momento que se apresenta é muito propício para tentar recuperar o interesse por estudar Ciências Econômicas. A nossa profissão de economista no Brasil tem exatamente 59 anos de existência, desde o reconhecimento formal regulamentada pela Lei n° 1.411, de 13 de agosto de 1951.
No entanto, nessas quase seis décadas, poucos foram os momentos em que professores, conselheiros, profissionais da área e estudantes se reuniram para discutir os caminhos, os valores, a missão, o propósito e a atuação do economista no exercício de suas atividades. Excetuando-se os congressos e encontros profissionais realizados, são raros os momentos de profunda reflexão em torno do objetivo de orientar os jovens futuros economistas sobre o modo de atuar e, mais que isso, sobre como a Economia – tanto na teoria quanto na prática – age e influencia no cotidiano das pessoas.
Outro fito deste artigo é, justamente, o de contribuir para a orientação futura do jovem estudante de Economia, visando também resgatar as demandas verificadas no passado, quando se formavam muitos economistas. Para isso, nos sentimos encorajados a esboçar algumas linhas direcionadas, especificamente, ao debate sobre a atuação e o papel do economista em nossa sociedade. Desnecessário afirmar, contudo, que não nos apresentamos como conselheiros e donos da verdade; não temos a prerrogativa do tom professoral.
É oportuno reiterar que apenas desejamos, tão somente, contribuir para o aprofundamento de temas que cercam a natureza da ciência econômica no que toca a discorrer sobre os propósitos mais interessantes dessa ciência – para aquilo que se convenciona entender ser uma boa economia – e, ademais, para vermos aumentar o interesse pelo curso superior.
No sentido de discutir os propósitos da ciência econômica, um primeiro ponto a ser ressaltado é que o economista que constrói hipóteses deve, obrigatoriamente, a seguir, confrontar seus modelos com a realidade social. Somente o mundo real poderá validar ou não suas idéias. É imprescindível, todavia, não perder de vista que os modelos da economia são imperfeitos; sua verificação é aproximativa. A realidade social – em todas suas manifestações – é passível de soluções econômicas. Por sinal, todo problema social exige, por contrapartida, uma solução econômica. Dessa constatação emerge afirmar que a Economia precisa, para ser aceita definitivamente como uma ciência capaz de promover boas ações, colocar o progresso a serviço dos mais pobres. Talvez o principal papel da Economia seja o de ser construtiva. Para isto, não se deve perder de vista que no atual mundo, em que um terço da humanidade continua mergulhada na miséria, a ciência econômica deve, à sua maneira, priorizar o combate às questões sociais mais agudas.
O desenvolvimento econômico quando proferido e ensinado pela economia só faz sentido se levar bem-estar aos que mais sofrem. Gandhi, uma das almas mais brilhantes que já pisou no planeta Terra, a esse respeito disse que “o desenvolvimento seria bom e justo somente se elevasse a condição dos mais necessitados”.
Os jovens futuros economistas precisam, neste pormenor, em busca de alcançar equilíbrio econômico-social, encarar que a justiça social é um imperativo que deve predominar sobre a produção. O mundo da Economia não deve, pois, ser reduzido à condição de mercado, nem de mercadoria. Antes disto, é fundamental ter ciência que existe algo de mais valioso: a vida humana. Aos jovens futuros economistas em processo de graduação, e aos que desejam se inscrever num curso de Economia, recomenda-se não se recuse ao exercício de ver a sociedade tal qual ela é. Se os economistas de hoje, de ontem e, espera-se que os do amanhã têm uma função a cumprir na sociedade, entendemos que essa é, em larga medida, a de se envolver no processo de transformação econômica e social.
Cristovam Buarque, engenheiro de formação e economista por opção do doutorado, diz brilhantemente que “não faz sentido ser economista se não for para lutar contra a fome e a pobreza que marca a vida de muitos brasileiros”.
Entendemos que o futuro economista deve, caso concorde com essa premissa e se predisponha a lutar por uma sociedade de iguais, ter clara a idéia central de que a Economia precisa ser inclusiva. A Economia, definitivamente, não funciona sem a inclusão das pessoas por um motivo bem simplista: ela é feita pelos homens e para os homens.
Por fim, reitera-se aqui que por inclusão entendemos uma vida sem dificuldades básicas; uma vida de acesso, de oportunidades iguais.
Neste pormenor, concordamos plenamente que a finalidade do economista e a da ciência econômica seria aquilo que Carl Menger argumentou, em seu tempo: “a economia precisa satisfazer as necessidades humanas”. Detalhe: não estamos nos referindo ao conspícuo. Estamos nos referindo, apenas, a necessidades básicas: comer, se vestir, se abrigar, trabalhar, buscar ser feliz.
A você, caro estudante que deseja ingressar no curso de Economia, sinta-se tocado no seguinte: esta ciência tem todas as ferramentas para ajudar no seu progresso e da sociedade. Contamos contigo para a consolidação dessa árdua tarefa. Assim como a Economia (enquanto ciência) precisa de você, você também precisa da Economia (também enquanto atividade) para fazer avançar a qualidade de vida de todos. O desafio está lançado. Venha estudar Economia!
Nós, e a maioria de economistas que sentem nas veias a profissão, garantimos que vale a pena.
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Hugo Eduardo Meza Pinto, Economista, Doutor pela (USP). É Diretor Geral das Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba – Brasil. Meza{at}santacruz.br
Marcus Eduardo de Oliveira, Economista, mestre pela (USP). É professor de Economia da FAC-FITO / UNIFIEO (S. Paulo – Brasil).
prof.marcuseduardo@bol.com.br
prof.marcuseduardo@bol.com.br
Fonte: EcoDebate, 25/08/2010
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