sexta-feira, janeiro 28, 2011

um verdadeiro atentado à legislação brasileira

‘Licença Específica’: Governo atropela legislação e tenta impor Belo Monte ‘goela abaixo’
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) vem a público manifestar repúdio e indignação diante da emissão da "Licença de Instalação Específica” relativa à Usina Hidrelétrica Belo Monte.
Fruto de inequívoco e sistemático processo de pressão política, do governo e de grupos econômicos envolvidos na construção da usina, sobre setores técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), este ato administrativo constitui-se num verdadeiro atentado à legislação brasileira.
A figura da "Licença Específica” simplesmente inexiste no aparato jurídico brasileiro. No entanto, a mesma vem sendo consumada "de fato” como uma prática recorrente do governo federal nestes últimos anos.
O Cimi entende que o Poder Judiciário não deve manter-se alheio frente a essa prática do Executivo. Com a emissão dessa "Licença” sem amparo legal, aprofunda-se a necessidade e a urgência do julgamento de todas as ações judiciais que questionam a legalidade do procedimento administrativo estabelecido para "liberar” a construção daUHE Belo Monte.
Reafirmamos nossa confiança no Poder Judiciário brasileiro e entendemos que é urgente a sua manifestação e tomada de decisões no presente caso, considerando as arbitrariedades e ilegalidades perpetradas e implementadas pelo Poder Executivo do nosso país.
Depois de mais de duas décadas em que o governo militar impôs a absurda construção da hidrelétrica de Balbina, reconhecidamente um "monumento à insanidade”, o atual governo utiliza-se da mesma lógica destruidora e assassina no caso da UHE Belo Monte.
Manifestamos solidariedade a todos os povos e comunidades que se contrapõe historicamente à construção de Belo Monte e reiteramos o compromisso e o apoio às suas lutas na defesa de seus direitos.
Conselho Indigenista Missionário
Brasília, 27 de janeiro de 2011
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Fonte: IHU, 28/01/2011

quinta-feira, janeiro 27, 2011

teme-se que Caetité se torne uma nova Poços de Caldas

Mina de urânio pode transformar Caetité em cidade fantasma

Nos primeiros dias do governo Dilma, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou que pretende aprovar ainda neste ano o projeto para a construção de quatro novas usinas nucleares. Atualmente, o país possui duas usinas, ambas localizadas em Angra dos Reis (RJ).
Essa retomada do programa nuclear vai aumentar a demanda por urânio.  No município de Caetité (BA) está localizada a única mina em operação no Brasil. No final de 2010 a Plataforma Dhesca denunciou que a população do município convive com níveis de radiação 100 vezes maiores que a média mundial. A INB (Indústrias Nucleares Brasileiras) negou a contaminação, baseada num estudo encomendado da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Em entrevista à Radioagência NP, Cecília Mello, integrante da Plataforma Dhesca, revela as violações de direitos identificadas durante a visita que fez a Caetité. Ela relata o caso de Poços de Caldas, em Minas Gerais, que passou de pólo turístico a cidade fantasma depois da exploração do urânio. Por fim, demonstra preocupação com a futura mina, em Santa Quitéria (CE), que já apresenta irregularidades no licenciamento ambiental.
Radioagência NP: Cecília, o que você constatou na visita a Caetité?
Cecília Mello: O quadro é de temor, angústia, incerteza por parte da população. O relato dos moradores é que está havendo uma incidência de câncer desproporcional. Conversamos com um médico de um hospital da região que se mostrou preocupado com a quantidade de diagnósticos que ele tem feito de neoplasias, de cânceres em pessoas entre 30 e 40 anos.
RNP: Como você analisa o estudo de um pesquisador da Fiocruz que nega qualquer relação entre a exploração de urânio e os casos de câncer?
CM: Como você vai tirar qualquer conclusão, se tem uma base de dados com 1/3 dos óbitos, no mínimo, que você não sabe qual é a causa. O quadro de desinformação é grave. O fato de as pessoas saírem do município para buscar tratamento em Vitória da Conquista, em Salvador ou em São Paulo faz com que a gente não consiga rastrear o que está acontecendo com a saúde da população. Se você tem algum problema e vai para São Paulo, você diz que é morador local para ter atendimento. É preciso ser feito um estudo epidemiológico consistente para acompanhar os riscos que a população está submetida.
RNP: Que medidas devem ser adotadas para amenizar os impactos sofridos pelos moradores que vivem no entorno da mina?
CM: Essa população tem que ser indenizada porque eles sofrem os impactos não só na saúde. A gente viu casas completamente rachadas. Caetité faz parte do semiárido, mas como todos sabem, o semiárido brasileiro é um dos mais chuvosos do mundo. Eles têm técnicas de construir cisternas e guardar essa água. Ali se produzia arroz, que é uma cultura que demanda muita água. Hoje, a produção está muito reduzida, estigmatizada, ninguém quer comprar mandioca, gado, leite e queijo da região.
RNP: Atualmente, que tratamento é dado ao lixo nuclear no Brasil?
CM: Essas minas duram de dez a 20 anos. Em Caetité a previsão é de 16 anos. Ou seja, depois que a exploração termina a população fica com o passivo. E Poços de Caldas [MG] tem um agravante porque depois do esgotamento do urânio a região se tornou uma espécie de “bota-fora” do nuclear brasileiro. O lixo radioativo é um problema não resolvido pela indústria nuclear. Não existem depósitos permanentes no Brasil, todos são temporários, mas acabam se mantendo ad infinitum.
RNP: Que impactos a extração de urânio provocou em Poços de Caldas?
CM: O caso de Poços de Caldas, que era uma região turística conhecidíssima, muito valorizada no Sudeste, um lugar onde os noivos iam passar a lua-de-mel hoje em dia está totalmente abandonada. Eu tive a oportunidade de passar por lá e parece uma cidade fantasma. Hoje o que se vê é um legado, um impacto sobre a saúde da população grave a ponto de duas vereadoras da região denunciarem a incidência de câncer desproporcional em relação ao resto do estado de Minas Gerais.
RNP: Caetité pode ter o mesmo destino?
CM: Teme-se que Caetité se torne uma nova Poços de Caldas. Por isso a nossa atenção especial a esse caso. Não é possível que o Brasil, que tem uma legislação ambiental supostamente avançada, continue investindo ou estimulando atividades que expõem o meio ambiente e a saúde da população a riscos que já deveriam ter sido superados.
RNP: As construções das novas usinas nucleares anunciada pelo governo federal podem agravar o problema?
CM: Com a retomada do programa nuclear brasileiro se configurou a intensificação das atividades de mineração, não só lá em Caetité, mas em Santa Quitéria (CE), que promete ser a próxima mina de urânio. Estamos muito preocupados e atentos ao licenciamento dessa mina de urânio, que foi feito pelo órgão estadual de maio ambiente, o que é ilegal porque todas as atividades que têm a ver com o ciclo nuclear devem passar obrigatoriamente pela esfera federal, pelo Ibama.
Matéria da Radioagência NP, por Jorge Américo, publicada pelo EcoDebate, 13/01/2011.

exclusivamente pela verdade e pela justiça

Julian Assange é entrevistado por internautas brasileiros

O texto a seguir foi encaminhado pela jornalista Natália Viana que tem feito a ponte com o Wikileaks no Brasil. Na semana passada ela me ligou e perguntou se toparia publicar no blog num horário pré-determinado (10h de hoje) a entrevista que segue.
Claro, que como outros blogueiros, topei [Renato Rovai – revista Fórum outro mundo em debate]. Acho fundamental abrir espaço para Assange e sua organização.
Mas também aproveito para reafirmar que discordo da opção adotada por eles de parceirizar a divugação dos dados dos documentos com a Folha de S. Paulo e O Globo no Brasil.
Segundo Assange, isso deve ao fato que o governo brasileiro é de  esquerda e os jornais de direita. Bobagem. Há muito tempo os veículos da mídia tradicional tupiniquim deixaram de fazer jornalismo. O problema é esse. E não a postura editorial que assumem.
E também vamos combinar que o governo não é exatamente de esquerda. É uma frentona que vai da centro direita à esquerda.
Mas o que importa é a íntegra da entrevista que me foi enviada na madruga de hoje pela Natália Viana. Aliás, a Natália conta com minha torcida e apoio para ser eleita a jornalista do ano da Revista Imprensa. A despeito da minha divergência em relação à parceria com a Folha e O Globo, avalio que ninguém fez  melhor jornalismo que ela no  ano passado com essa cobertura do Wikileaks.
Entrevista organizada por Natália Viana
“Não somos uma organização exclusivamente da esquerda.  Somos uma organização exclusivamente pela verdade e pela justiça”. Essa é apenas uma  das muitas afirmações feitas pelo fundador e publisher do WikILeaks, Julian Assange, em entrevista aos internautas brasileiros.
A entrevista será publicada por diversos blogs – entre eles, o Blog do Nassif, Viomundo, Nota de Rodapé, Maria Frô, Trezentos, O Escrevinhador e Blog do Guaciara.   
Julian, que enfrenta um processo na Suécia por crimes sexuais e atualmente vive sob monitoramento em uma mansão em Norfolk, na Inglaterra, concedeu a  entrevista para internautas que enviaram perguntas a este blog.
 Eu selecionei doze perguntas dentre as cerca de 350 que recebi – e não foi fácil. Acabei privilegiando perguntas muito repetidas, perguntas originais e aquelas que não querem calar. Infelizmente, nem todos foram contemplados. Todas as perguntas serão publicadas depois.
 No final, os brasileiros não deram mole para o criador do WikiLeaks. Julian teve tempo de responder por escrito e aprofundar algumas questões.
O resultado é uma entrevista saborosa na qual ele explica por que trabalha com a grande mídia – sem deixar de criticá-la -, diz que gostaria de vir ao Brasil e sentencia: distribuir informação é distribuir poder.
 Em tempo: se virasse filme de Hollywood, o editor do WikiLeaks diz que gostaria de ser interpretado por Will Smith.
 A seguir, a entrevista. 
Vários internautas - O WikiLeaks tem trabalhado com veículos da grande mídia – aqui no Brasil, Folha e Globo, vistos por muita gente como tendo uma linha política de direita. Mas além da concentração da comunicação, muitas vezes a grande mídia tem interesses próprios. Não é um contra-senso trabalhar com eles se o objetivo é democratizar a informação? Por que não trabalhar com blogs e mídias alternativas?
Por conta de restrições de recursos ainda não temos condições de avaliar o trabalho de milhares de indivíduos de uma vez. Em vez disso, trabalhamos com  grupos de jornalistas ou de pesquisadores de direitos humanos que têm uma  audiência significativa. Muitas vezes isso inclui veículos de mídia estabelecidos; mas também trabalhamos com alguns jornalistas individuais,  veículos alternativos e organizações de ativistas, conforme a situação demanda e os recursos permitem.
Uma das funções primordiais da imprensa é obrigar os governos a prestar contas sobre o que fazem. No caso do Brasil, que tem um governo de esquerda, nós sentimos que era preciso um jornal de centro-direita para um melhor escrutínio dos governantes. Em outros países, usamos a equação inversa. O  ideal seria podermos trabalhar com um veículo governista e um de oposição.
Marcelo Salles – Na sua opinião, o que é mais perigoso para a democracia: a manipulação de informações por governos ou a manipulação de informações por oligopólios de mídia?
A manipulação das informações pela mídia é mais perigosa, porque quando um  governo as manipula em detrimento do público e a mídia é forte, essa manipulação não se segura por muito tempo. Quando a própria mídia se afasta  do seu papel crítico, não somente os governos deixam de prestar contas como os interesses ou afiliações perniciosas da mídia e de seus donos permitem abusos por parte dos governos. O exemplo mais claro disso foi a Guerra do  Iraque em 2003, alavancada pela grande mídia dos Estados Unidos.
Eduardo dos Anjos - Tenho acompanhado os vazamentos publicados pela sua  ONG e até agora não encontrei nada que fosse relevante, me parece que é muito barulho por nada. Por que tanta gente ao mesmo tempo resolveu confiar em você? E por que devemos confiar em você?
 O WikiLeaks tem uma história de quatro anos publicando documentos. Nesse período, até onde sabemos, nunca atestamos ser verdadeiro um documento falso. Além disso, nenhuma organização jamais nos acusou disso. Temos um histórico ilibado na distinção entre documentos verdadeiros e falsos, mas nós somos, é claro, apenas humanos e podemos um dia cometer um erro. No entanto até o momento temos o melhor histórico do mercado e queremos trabalhar duro para manter essa boa reputação. Diferente de outras organizações de mídia que não têm padrões claros sobre o que vão aceitar e o que vão rejeitar, o WikiLeaks tem uma definição clara que permite às nossas fontes saber com segurança se vamos ou não publicar o  seu material.  Aceitamos vazamentos de relevância diplomática, ética ou histórica, que  sejam documentos oficiais classificados ou documentos suprimidos por alguma ordem judicial.
Vários internautas - Que tipo de mudança concreta pode acontecer como  consequência do fenômeno Wikileaks nas práticas governamentais e empresariais? Pode haver uma mudança na relação de poder entre essas esferas  e o público?
James Madison, que elaborou a Constituição americana, dizia que o conhecimento sempre irá governar sobre a ignorância. Então as pessoas que pretendem ser mestras de si mesmas têm de ter o poder que o conhecimento traz. Essa filosofia de Madison, que combina a esfera do conhecimento com a esfera da distribuição do poder, mostra as mudanças que acontecem quando o conhecimento é democratizado. Os Estados e as megacorporações mantêm seu poder sobre o pensamento individual ao negar informação aos indivíduos. É esse vácuo de conhecimento que delineia quem são os mais poderosos dentro de um governo e quem são os  mais poderosos dentro de uma corporação. Assim, o livre fluxo de conhecimento de grupos poderosos para grupos ou indivíduos menos poderosos é também um fluxo de poder, e portanto uma força  equalizadora e democratizante na sociedade.
Marcelo Träsel - Após o Cablegate, o Wikileaks ganhou muito poder. Declarações suas sobre futuros vazamentos já influenciaram a bolsa de valores e provavelmente influenciam a política dos países citados nesses alertas. Ao se tornar ele mesmo um poder, o Wikileaks não deveria criar mecanismos de auto-vigilância e auto-responsabilização frente à opinião pública mundial?
O WikiLeaks é uma das organizações globais mais responsáveis que existem. Prestamos muito mais contas ao público do que governos nacionais, porque todo fruto do nosso trabalho é público. Somos uma organização essencialmente  pública; não fazemos nada que não contribua para levar informação às pessoas. O WikiLeaks é financiado pelo público, semana a semana, e assim eles “votam” com as suas carteiras. Além disso, as fontes entregam documentos porque acreditam que nós vamos protegê-las e também vamos conseguir o maior impacto possível. Se em algum momento acharem que isso não é verdade, ou que estamos agindo de maneira antiética, as colaborações vão cessar. O WikiLeaks é apoiado e defendido por milhares de pessoas generosas que oferecem voluntariamente o seu tempo, suas habilidades e seus recursos em nossa defesa. Dessa maneira elas também “votam” por nós todos os dias.
Daniel Ikenaga - Como você define o que deve ser um dado sigiloso?
Nós sempre ouvimos essa pergunta. Mas é melhor reformular da seguinte maneira: “quem deve ser obrigado por um Estado a esconder certo tipo de informação do resto da população?”  A resposta é clara: nem todo mundo no mundo e nem todas as pessoas em uma determinada posição. Assim, o seu medico deve ser responsável por manter a confidencialidade sobre seus dados na maioria das circunstâncias – mas não em todas.
Vários internautas - Em declarações ao Estado de São Paulo, você disse que  pretendia usar o Brasil como uma das bases de atuação do WikiLeaks. Quais os planos futuros?  Se o governo brasileiro te oferecesse asilo político, você aceitaria?
Eu ficaria, é claro, lisonjeado se o Brasil oferecesse ao meu pessoal e a mim asilo político. Nós temos grande apoio do público brasileiro. Com base nisso e na característica independente do Brasil em relação a outros países, decidimos expandir nossa presença no país. Infelizmente eu, no momento, estou sob prisão domiciliar no inverno frio de Norfolk, na Inglaterra, e não posso me mudar para o belo e quente Brasil.
Vários internautas - Você teme pela sua vida? Há algum mecanismo de proteção especial para você? Caso venha a ser assassinado, o que vai acontecer com o WikiLeaks?
Nós estamos determinados a continuar a despeito das muitas ameaças que sofremos. Acreditamos profundamente na nossa missão e não nos intimidamos  nem vamos nos intimidar pelas forças que estão contra nós. Minha maior proteção é a ineficácia das ações contra mim. Por exemplo, quando eu estava recentemente na prisão por cerca de dez dias, as publicações de documentos continuaram. Além disso, nós também distribuímos cópias do material que ainda não foi publicado por todo o mundo, então não é possível impedir as futuras publicações do WikiLeaks atacando o nosso pessoal.
Helena Vieira - Na sua opinião, qual a principal revelação do Cablegate? A sua visão de mundo, suas opiniões sobre nossa atual realidade mudou com as informações a que você teve acesso?
O Cablegate cobre quase todos os maiores acontecimentos, públicos e privados, de todos os países do mundo – então há muitas revelações importantíssimas, dependendo de onde você vive. A maioria dessas revelações ainda está por vir. Mas, se eu tiver que escolher um só telegrama, entre os poucos que eu li até agora – tendo em mente que são 250 mil – seria aquele que pede aos diplomatas americanos obter senhas, DNAs, números de cartões de crédito e números dos vôos de funcionários de diversas organizações – entre elas a ONU. Esse telegrama mostra uma ordem da CIA e da Agência de Segurança Nacional aos diplomatas americanos, revelando uma zona sombria no vasto aparato secreto de obtenção de inteligência pelos EUA.
Tarcísio Mender  e Maiko Rafael Spiess - Apesar de o WikiLeaks ter abalado as relações internacionais, o que acha da Time ter eleito Mark Zuckerberg o homem do ano? Não seria um paradoxo, você ser o “criminoso do ano”, enquanto Mark Zuckerberg é aplaudido e laureado?
A revista Time pode, claro, dar esse título a quem ela quiser. Mas para mim foi mais importante o fato de que o público votou em mim numa proporção vinte vezes maior do que no candidato escolhido pelo editor da Time. Eu ganhei o voto das pessoas, e não o voto das empresas de mídia multinacionais. Isso me parece correto. Também gostei do que disse (o programa humorístico da TV americana)  Saturday Night Live sobre a situação: “Eu te dou informações privadas sobre  corporações de graça e sou um vilão. Mark Zuckerberg dá as suas informações privadas para corporações por dinheiro – e ele é o ‘Homem do Ano’.” Nos bastidores, claro, as coisas foram mais interessantes, com a facção pró- Assange dentro da revista Time sendo apaziguada por uma capa bastante impressionante na edição de 13 de dezembro, o que abriu o caminho para a escolha conservadora de Zuckerberg algumas semanas depois.

Vinícius Juberte - Você se considera um homem de esquerda?
Eu vejo que há pessoas boas nos dois lados da política e definitivamente  há pessoas más nos dois lados. Eu costumo procurar as pessoas boas e trabalhar por uma causa comum.  Agora, independente da tendência política, vejo que os políticos que deveriam controlar as agências de segurança e serviços secretos acabam, depois de eleitos, sendo gradualmente capturados e se tornando obedientes a eles. Enquanto houver desequilíbrio de poder entre as pessoas e os governantes,  nós estaremos do lado das pessoas. Isso é geralmente associado com a retórica da esquerda, o que dá margem à visão de que somos uma organização exclusivamente de esquerda. Não é  correto. Somos uma organização exclusivamente pela verdade e justiça – e  isso se encontra em muitos lugares e tendências.
Ariely Barata - Hollywood divulgou que fará um filme sobre sua trajetória. Qual sua opinião sobre isso?
Hollywood pode produzir muitos filmes sobre o WikiLeaks, já que quase uma dúzia de livros está para ser publicada. Eu não estou envolvido em nenhuma produção de filme no momento. Mas se nós vendermos os direitos de produção, eu vou exigir que meu papel seja feito pelo Will Smith. O nosso porta-voz, Kristinn Hrafnsson, seria interpretado por Samuel L Jackson, e a minha bela assistente por Halle Berry. E o filme poderia se chamar “WikiLeaks Filme Noire”.
Fonte: Blog do Rovai, 26/01/2011

quarta-feira, janeiro 26, 2011

pelos trilhos!..., sete vezes o valor do minério bruto embarcado?

NEGÓCIOS DA CHINA: BRASIL EXPORTA FERRO E IMPORTA TRILHO
Em 2010, Brasil -- leia-se, a Vale -- vendeu cerca de US$ 28 bi em minério de ferro bruto, fundamentalmente para a China, a um valor médio de US$ 130 a tonelada. Em compensação, o país acaba de lançar um edital internacional para adquirir -- fundamentalmente  da China e leste europeu-- 244,6 mil toneladas de trilhos, ao preço médio de US$ 864 a tonelada - quase sete vezes o valor do minério bruto embarcado. A fabricação própria viabiliza-se, segundo os especialistas, a partir de uma demanda de  500 mil toneladas de trilhos/ ano. O Brasil chegou a 496 mil toneladas em 2010. Mas é  só o começo. O país mobiliza o maior investimento ferroviário dos últimos 40 anos, com expansão prevista  de 20 mil km de malha até 2025, conforme  o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT). Projetos já em andamento, incluídos no PAC 2, somam mais 3.757 km até 2014. A montagem de uma fábrica de trilhos requer investimentos da ordem de US$ 1,5 bilhão. Em 1996, um ano antes de privatizar a Vale do Rio Doce, o governo Fernando Henrique Cardoso desativou também o laminador de produção de trilhos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Fez barba e bigode: entregou o minério bruto e inviabilizou a agregação de valor local. A Vale foi privatizada por R$ 3,3 bilhões, em 1997. Atualizado, o valor corresponde ao lucro líquido da empresa obtida apenas em um trimestre  (o 3º) de 2010. O lucro seria mais que suficiente para implantar uma fábrica de trilhos, algo que a empresa, dirigida pelo tucano Roger Agnelli, desde 2001, jamais cogitou. (Carta Maior, com dados Valor e Ministério dos Transportes. Leia mais:  "DILMA VAI MUDAR O MARCO REGULADOR DO SETOR MINERAL. E A VALE, COMO FICA?")
Fonte: Carta Maior, 5º feira, 27/01/2011

tea with the economist: On American banks

Davos está mal das pernas ninguém questiona

Levem ao menos uma mulher, pede Davos

A fim de "incentivar a diversidade de gênero", o Fórum Econômico Mundial está solicitando aos seus "parceiros estratégicos" que, dentre os cinco convidados a que têm direito, convidem ao menos uma mulher. Pedir aos parceiros "ao menos uma mulher" é uma confissão do embrete civilizatório em que esses patifes estão.
Que o Fórum Econômico de Davos está mal das pernas ninguém questiona. A novidade do Fórum que não é mais só do Norte, embora siga frio e dos muito ricos e riquíssimos, está num pequeno detalhe: os organizadores estão consternados com a falta de diversidade de gênero dentre os participantes do encontro na cidade suíça. 
É claro, a consternação fundamental segue sendo outra, embora não transparente enquanto agenda. Trata-se do enigma de como continuar mandando no mundo, nesta conjuntura e com as mudanças em direção da multipolaridade em curso. Vale dizer que essas decisões importantes não ocupam conferências, por mais fechadas que estas venham a ser. Para cada conferência há algum acadêmico “prêt-à-penser”, como disse o professor da Universidade de Barcelona, Toni Domènech e outros macacos de auditório do gênero, como ex-governantes, periféricos ou não, dos anos 90 e grande elenco de sumidades, do porte de um Paulo Coelho, Bono Vox e coisas assim. Eles são auditório, isso mesmo. Porque as conferências e os acordos, as decisões e os debates, em Davos, não são públicos. 
Nem a bagatela do preço dos ingressos dá acesso ao que o Fórum Econômico Mundial estabelece como agenda. Para esta não há bilhete premiado. Poder global não cai do céu nem se compra em paraíso fiscal, unicamente. 
O colunista Andrew Ross Sorkin do New York Times fez uma bem humorada crônica (24/01/2001) sobre o custo Davos para os seus participantes. Na crônica, traduzida abaixo, constam não somente os dados relativos à organização do FEM e os relatos de alguns participantes com grande expressão no encontro anual e demais atividades da área. 
Ross Sorkin refere um detalhe interessante. A fim de incentivar a diversidade de gênero, o Fórum Econômico Mundial está solicitando aos participantes de nível mais alto (ver no texto do NYT os vários níveis de associação ao WEF, conforme os títulos de sócio oferecidos) que, dentre os cinco convidados a que têm direito, convidem ao menos uma mulher. Em números, os associados com carteirinha de “Parceiro Estratégico” pagam 522 mil dólares (um milhão de reais, em média) para poderem participar do evento de uma semana na cidadela, fora os ingressos individuais, no valor de 19 mil dólares cada um e os demais custos de viagem. 
Do outro lado do mundo, em termos quase verticais, ocorrerá o Fórum Social Mundial, em Dakar, no Senegal, pouco depois do encontro dos ricos e muito ricos. Os seus organizadores costumam dizer que o caráter de contraponto a Davos foi superado e que o Fórum Social Mundial é muito maior do que um embate contra os donos do mundo poderia ser. É claro, essa não é uma posição imune a críticas e bem se sabe que o FSM tem um aspecto babilônico gratuito.
Dada a gravidade da crise econômica e financeira no mundo, há quem fale, e não são poucos, em crise civilizatória. O Fórum de Davos não tem, como é sabido e ressabido, autoridade para apresentar uma agenda para o mundo pós-crise ou mesmo de transição que conte com políticas globais para o seu enfrentamento. O Fórum Social Mundial, por outro lado, tem mais do que autoridade para debater uma agenda, aliás em gestação há mais de dez anos, entre os sujeitos objetificados pelos donos do mundo de Davos, e entre os movimentos sociais que ajudaram e estão ajudando a mudar ao menos a América Latina. 
Quando a escumalha a ser reunida em Davos apresenta uma regra para quantificar a participação feminina não está adotando mais um expediente de absorção da agenda civilizatória. Pedir “ao menos uma mulher” aos mais ricos dentre o maior encontro dos mais ricos do mundo é um pouco mais que uma confissão de culpa, porque não é errado apenas moralmente, coisa que de resto em nada incomodaria a um Fórum com aquele perfil moral.
Pedir aos bilionários ao menos uma mulher é uma confissão do embrete civilizatório em que esses patifes estão. Ao menos no Senegal há gente, e haverá muitas mulheres. Não será um Fórum somente do Sul, mas também dos do Norte empobrecido e embrutecido pelas políticas brindadas em Davos e impostas ao resto do mundo. E será na África, o continente credor da orgia de Davos, lá onde os “perdedores” e os “mal sucedidos” estarão. Parte deles, inclusive, descerá das ruas geladas para o continente africano, porque outro mundo é possível, ao menos por isso.
A seguir, a crônica de Andrew Ross Sorkin:
Um preço alto para entrar em Davos
Qual o preço do ingresso para ser um Davos Man?
Executivos, governantes, lideranças e acadêmicos ao redor do mundo estão a caminho de Davos, Suíça, para o encontro anual do Fórum Econômico Mundial nesta semana – uma reunião de poderosos que mistura negócios, políticas e Champanhe nos Alpes Suíços. 
Trata-se de um evento que pauta uma vasta agenda dos tomadores de decisão, de Jamie Dimon, o executivo-chefe do JP Morgan Chase, ao Primeiro Ministro George A. Papandreou da Grécia ao vocalista da U2, Bono, voltados ostensivamente para contemplar como resolver os problemas do mundo. 
É claro, muito do que ocorrerá na semana girará na verdade em torno de uma coisa: networking. Como o autor de “Cisne Negro”, Nassim N. Taleb o descreveu a Tom Keene, da Bloomberg Televisão, o evento está “buscando gente de sucesso que queira ser vista com outras pessoas de sucesso. Este é o jogo”. 
Todo convite para o evento é para ser considerado uma honra exclusiva. Mas para os executivos das corporações o custo de ser um Davos Man ou, sim, uma Davos Woman, mesmo somente para um casal não fica tão barato. 
Na semana passada eu entrevistei mais de doze executivos-chefes e outros executivos que regularmente peregrinam para se misturarem nas alturas, a fim de que avaliassem o custo financeiro real que as corporações tem no comparecimento a esse encontro anual. 
Mas antes de adquirirmos os ingressos para os ambientes privados, hotéis, carro e motorista, há o ingresso mais importante. E este não é grátis. Só para ter a oportunidade de visitar Davos, você deve ser convidado a ser um membro do Fórum Econômico Mundial, uma organização não-lucrativa suíça fundada por Klaus Shwab, um acadêmico de origem alemã que construiu uma conferência global na neve. 
Há vários níveis de pertencimento: o nível básico, que lhe concede um convite a Davos, custa 50 mil francos suíços, ou algo como 52 mil dólares. O ingresso mesmo custa outros 18 mil francos suíços (19 mil dólares), mais taxas, levando a um custo total de associação e ingresso de entrada no valor de 71 mil dólares. 
Mas esse ingresso só o põe na porta, com as massas, em Davos, com entrada para todas as sessões gerais. Se você quiser ser convidado por trás das cortinas de veludo a participar das sessões privadas, entre colegas empresários, você precisa subir um degrau, para o nível “Associado Industrial”, que custa 137 mil dólares, mais o preço do ingresso, levando o custo total para algo em torno de 156 mil dólares. 
É claro, como muitos executivos chefe não gostam de ir a lugar algum sozinhos, eles podem pedir a um colega para ir junto. Bem, o Fórum Econômico de Davos não permite que você compre apenas um ingresso a mais por 19 mil dólares. Mais do que isso, você precisa subir de nível de associado para o de “Parceiro Industrial”. Isso lhe custará algo como 263 mil dólares, mais o custo de dois ingressos, levando a um total de 301 mil dólares. 
E se você quiser levar uma entrourage, digamos cinco pessoas? Aí você está falando do nível “Parceiro Estratégico”. O preço do crachá: 527 mil dólares. (Esta é apenas a associação anual, autorizando você a convidar até 5 pessoas. Cada convite custa ainda 19 mil dólares, de modo que cinco pessoas chega a 95 mil dólares, dando um total de 622 mil dólares. Este ano, todos os Parceiros Estratégicos estão sendo demandados a convidarem ao menos uma mulher dentre aqueles a que tem direito, num esforço para diversificar a lista de participantes. 
Como parte do nível de Parceiro Estratégico você tem acesso às sessões privadas e às salas de conferência especiais, onde ocorrem encontros. E talvez a maior vantagem de todas: seu carro e motorista tem um adesivo com acesso livre a todos os ambientes.
No momento o Fórum diz que não está aceitando inscrições para se tornar Parceiro Estratégico, a não ser que a corporação seja da China ou da Índia, e deve ser alguns dentre os 250 mais ricos do mundo. É o caso de observar, para ser imparcial, que a associação em todos os níveis não lhe permite acesso apenas ao encontro em Davos, mas também para, ao menos, meia dúzia de outros encontros ao redor do mundo. A associação também lhe dá acesso aos diversos projetos de pesquisa do Fórum. 
Todos esses custos, é claro, não incluem os gastos de uma viagem a Suíça, naquela vida dura e talvez indo a um jantar ou a um cocktail para clientes (onde as coisas em todo caso realmente acontecem). 
Um grande investidor está alugando este ano um chalé de cinco quartos ao lado de Davos, para ele e seu staff. O custo? 140 mil dólares pela semana. Um carro e um motorista que o Fórum Econômico Mundial providenciará para você gira em torno de 10 mil dólares por semana, para um Mercedes S Class. 
Uma tarifa de primeira classe de Nova York para Zurique está custando algo como 11 mil dólares. Mas um jatinho privado da NetLets custará algo como 70 mil dólares pela viagem, de acordo com um executivo que usou o serviço. O serviço de helicóptero de Zurique a Davos? 3400 reais cada perna. (O Fórum providencia um serviço grátis de ônibus para aqueles que se preocupam com a área de cobertura do entorno). 
É claro, muitas companhias oferecem jantares para clientes, com vários eventos para algumas firmas. 
No Posthotel, por exemplo, o restaurante está cobrando um mínimo de 210 dólares por cabeça. Um festa cocktail para 60 a 80 por cabeça por apenas uma hora? Isso custa algo como 8000. Duas horas? 16 mil dólares.
As grandes festas, como aquela da Google na sexta-feira à noite para centenas de pessoas pode custar mais de 250 mil dólares o evento. (Em anos passados a Google ofereceu bandas de rock e atendentes de bar; num ano a companhia ofereceu um bar de O2).
Todos esses custos incluídos ajudaram a tornar o Fórum Econômico Mundial um grande negócio – talvez a maior conferência estruturadora de agenda do mundo. De acordo com seu relatório anual, ela gera algo como 185 milhões de dólares entre receitas e despesas; aproximadamente tudo dessa quantia vai para a organização (quase metade) de eventos e outra metade, com pessoal. 
Mas todo esse gasto pode em breve sair de moda. Como um dos organizadores, o autor David Rothkopf escreveu recentemente no seu blog, “A coisa toda está decaindo por vários razões, todas associadas à inadequação de Davos como fórum de networking”.
Ele explicou que, “Como Steve Case, fundador da AOL me disse uma vez, no bar no meio do tumulto do principal centro de conferências: “Você sempre se sente como se estivesse no lugar errado, em Davos. Como se houvesse um encontro melhor acontecendo em outro lugar, em algum hotel onde você realmente deveria estar. Como se Davos de verdade estivesse acontecendo em segredo, em algum lugar”.
Tradução: Katarina Peixoto
(*) Katarina Peixoto é doutoranda em Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Fonte: Carta Maior, 26/01/2011

essa lógica dominante do pensamento único neoliberal

O saber como mercadoria
“A Embrapa sempre foi uma empresa pública pautada pelos interesses das classes dominantes no campo”, critica o agrônomo Horácio Martins de Carvalho na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line. Horácio é enfático ao dizer que o trabalho da Embrapa foi tomado pela lógica neocapitalista. “Os processos de formação do pessoal da Embrapa, desde sua instituição, se colocavam entre os mais ousados do mundo. No entanto, apesar da multiplicidade de escolhas de onde estudar, a natureza da formação tendeu, mesmo que por vezes inconscientemente, para a construção de saberes no âmbito da racionalidade capitalista”, explica.
Entrevista especial com Horácio Martins de Carvalho*
IHU On-Line – De que forma a Embrapa foi envolvida pelo neocapitalismo?
Horacio Martins de Carvalho – A Embrapa sempre foi uma empresa pública pautada pelos interesses das classes dominantes no campo, ainda que dentro dela tenha havido, desde a sua instituição em 1973, uma grande multiplicidade de opiniões técnico-científicas e linhas de pesquisa que abrangessem não somente a ampla diversidade da agropecuária e florestas do país como as dimensões social e ecológica na proposição de novas tecnologias.
Instituída em plena ditadura militar, ela recebeu ao menos três grandes legados: uma gama de instituições de pesquisa e experimentação agropecuária e florestal do então Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação (DNPEA) com todas as suas qualidades e vícios; uma cultura da pesquisa e desenvolvimento e da inovação tecnológica da denominada “revolução verde”, implantada no país de cima para baixo pelos governos da época e responsável pela modernização conservadora dos latifúndios; e uma racionalidade dominante, logo capitalista, na qual a possibilidade de chamado desenvolvimento rural era, nada menos, do que a expansão capitalista no campo.
O tratamento dado ao pequeno produtor rural – ainda que sempre contemplado nos programas da empresa – tem sido o de apoio ao enjeitado, semelhante à lógica de todos os governos federais e estaduais e de diversos setores de centro-esquerda política brasileira. Isso não significa que todos os pesquisadores e administradores da Embrapa tenham assim se comportado no seu dia a dia técnico-científico e administrativo. Porém, o referencial básico da percepção do mundo é a racionalidade da empresa capitalista. A questão mais relevante, a meu ver, é que essa lógica dominante da economia rebuçada pelo pensamento único neoliberal tenha se tornado hegemônica e base da visão estratégica da empresa em relação à geração de tecnologia.
IHU On-Line – Como isso muda o processo de trabalho e pesquisa da Embrapa?
Horacio Martins de Carvalho – Mesmo se considerando os esforços em alguns setores da empresa para dar conta da geração de tecnologias que contemplem a manutenção e ou a ampliação da biodiversidade nas ações antrópicas da produção rural, o que predominou foi a opção por uma lógica de gestão rural centrada na empresa capitalista, portanto, altamente predadora do social e dos recursos naturais. Essa alternativa dominante induziu a oferta de novas tecnologias que fossem adequadas, por exemplo, à economia de escala, ao monocultivo, à motomecanização pesada, ao uso intensivo de insumos e à padronização final do produto. Enveredou-se, em consequência, por proposições muito além das sementes hídricas, caminhando-se celeremente pelos quintais metodológicos da geração de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs).
"O que predominou foi a opção por uma lógica de gestão rural centrada na empresa capitalista"
Duas forças internas relacionadas com o paradigma de agricultura no país aparentam se conflitarem entre si: a oferta de tecnologias que resgate e amplie a biodiversidade e aquelas que são favoráveis à manutenção dos monocultivos, monocriações e ao oligopólio privado das sementes, base da erosão genética. A própria construção da problemática de pesquisa segue, nessa perspectiva, paradigmas distintos.
Os processos de formação do pessoal (recursos humanos) da Embrapa, desde sua instituição, se colocavam entre os mais ousados do mundo. No entanto, apesar da multiplicidade de escolhas de onde estudar, a natureza da formação tendeu, mesmo que por vezes inconscientemente, para a construção de saberes no âmbito da racionalidade capitalista. A diversidade deu-se no interior dessa lógica, não contemplando outras possibilidades ou formas de se fazer agricultura, amplo senso.  E nesse sentido, e para não ficar fora do contexto mundial, que se enveredou para a engenharia genética contemporânea, para o registro de patentes das inovações tecnológicas e para as parcerias público-privado.
Não suponho que os pesquisadores fiquem à margem dos novos e complexos processos e métodos de pesquisa, entre eles a engenharia genética. Mas, uma coisa é se ser capaz de gerar OGMs que sejam de interesse social dos produtores e consumidores, ainda que na agricultura estejamos muito longe disso. Outra coisa são as parcerias duvidosas com empresas transnacionais da indústria química que usufruem da capacidade instalada física e de recursos humanos da Embrapa e as usam para legitimar suas decisões de Pesquisa e Desenvolvimento que favorecem seus lucros, em detrimento de outras dimensões como a social e a ecológica.
A questão central das minhas observações não é, por exemplo, sobre a necessidade de ampliação de conhecimentos científicos os mais distintos, mas sim o uso que se fará dele. Nem mesmo o patenteamento é um viés, no mundo contemporâneo. O viés está no quem é e com quem se produz a tecnologia a ser patenteada. E, mais ainda, o que se faz com a patente concedida.
IHU On-Line – Onde vemos a presença desse neocapitalismo no trabalho desenvolvido pela Embrapa hoje?
Horacio Martins de Carvalho – Principalmente nas parcerias público-privadas com as grandes empresas transnacionais como Monsanto, Bayer, Basf, Syngenta e outras; na disponibilização do seu estoque de genomas, como o caso da soja, para empresas privadas; na sua presença no âmbito da cooperação internacional tendo como eixo central o processo (historicamente autoritário) de transferência de tecnologias para povos e sociedades com menor conhecimento técnico-científico organizado e instituições de produção de novas tecnologias, sem considerar as dimensões sócio-antropológicas e étnicas em presença; a própria natureza da tecnologia a ser “transferida”, quando nela se pode constatar e presença de OGMs, numa explícita afronta aos saberes populares de outros povos e à sua potencial capacidade de melhorar o desempenho da agricultura a partir das sementes convencionais melhoradas e de aprimoramento de seus processos de cultivos tradicionais criticamente considerados.
Neste sentido, a pressa de transferência tecnológica para povos de outros paises latinoamericanos e africanos, em nome do aumento da oferta de alimentos, reproduz as mesmices neocolonialistas do Banco Mundial, da FAO (sigla para Food and Agriculture Organization of the United Nations), do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da Organização Mundial do Comércio (OMC) e das grandes empresas oligopolistas transnacionais. E porque não dizer do próprio governo brasileiro. Essa opção concorre para a negação da importante história construída por amplas parcelas dos pesquisadores da Embrapa, tornando-a um instrumento acrítico de novas formas nada sutis de imperialismo técnico-científico, bem ao modo de ser das grandes empresas transnacionais oligopolizadoras de sementes, de insumos de origem industrial, de saberem técnico-científicos. E mais do que tudo, de concepções de mundo que favorecem as práticas de ampliação da acumulação oligopolizada do capital e o incremento indireto das desigualdades sociais.
"O que se espera de uma grande empresa pública de pesquisa é ser capaz de evoluir no âmbito das contradições"
A Embrapa, enquanto empresa governamental, portanto, prestadora de serviços ao público, não deveria se deixar conduzir pela lógica liberal que tem no mercado o guia supremo do que-fazer. O que se espera de uma grande empresa pública de pesquisa é ser capaz de evoluir no âmbito das contradições, inclusive indo no sentido contrário aos interesses dominantes que tem sido anti-sociais e anti-ecológicos. Deixar-se levar pela cultura de inovações tecnológicas das empresas multinacionais, mesmo que seus saberes técnico-científicos sejam considerados como ‘avançados’ do ponto de vista da geração tecnológica, é se alinhar com a cultura do atraso em relação à construção de uma sociedade que se deseja mais igualitária e harmoniosa.
O governo de uma sociedade não pode ser conduzido pelo mercado, menos ainda a geração de conhecimentos científicos e tecnológicos.  O mercado, de fato, é apenas um elemento que aí está, necessário em parte, e na maioria das vezes nem sempre relevante no governo de uma sociedade complexa.
IHU On-Line – Quem se beneficia com isso?
Horacio Martins de Carvalho – Quando a inovação tecnológica obedece aos interesses do lucro, quem se beneficia são os acionistas das empresas privadas. Retira-se da geração tecnológica pelas empresas estatais o caráter de serviço ao público para se tornarem - os seus negócios e os seus produtos, apenas mercadorias, sem qualquer compromisso com a democratização e universalização desejável da produção científica e tecnológica.
Esse “que-fazer” da produção tecnológica das empresas privadas é um que-fazer que se submete à competição doentia da geração de novidades que lhes permitam auferir uma taxa de lucro superior à de seus concorrentes, também possuídos pela patológica capacidade de ter mais destruindo seus concorrentes. O progresso técnico e as patentes que lhes permitem o usufruto da venda dos inventos e dos processos são indispensáveis para a realização da empresa capitalista. E, repetindo-se na história, os mercados tornaram-se cada vez subordinados aos interesses dos grandes grupos financeiros mundiais.
A oligopolização dos mercados agrícolas mundiais evidencia que o crescimento dos impérios setoriais de alimentos, fibras e agroenergia está diretamente associado ao da geração de inovações tecnológicas, de tendência em evidência para a consolidação do oligopólio do saber científico e tecnológico pelas grandes empresas transnacionais da indústria química, tais como exemplos, a Bayer, Basf, Syngenta, Dow, DuPont, Monsanto, articulados a outros conglomerados como Cargill, Bunge, ADM, Yara, Mosaic, Wall Mart, Souza Cruz, Nestlé, JBS, Marfrig, Unilever, entre outros poucos.
A crescente privatização da produção científica e tecnológica evidencia a natureza autoritária e discriminatória das sociedades contemporâneas, onde as pessoas são tornadas consumidores compulsivos das inovações tecnológicas, na sua maior parte socialmente inúteis, que garantem maiores e mais constantes lucros para os grupos privados multinacionais.
A Embrapa, ainda que no seu interior fermente a idéia e a proposta da sua abertura formal a capitais privados, não deveria ser objeto, enquanto instituição pública, dos mercados privados de saberes. Caso isso ocorra, pois é patente a tendência privatizadora dos governos, se confirmará, mais ainda, que o conhecimento e seu uso formal nos processos de pesquisa como a agropecuária e florestal, tornou-se uma mercadoria que é e será mais ainda monopolizada por alguns grupos econômicos de âmbito mundial. Contribuirá, em nome de uma modernidade absolutamente decadente, para a consolidação dos impérios de saberes, já caminhando em largos passos nas universidades direta ou indiretamente privatizadas.
Negar-se-á, nesse modo de ser atual da Embrapa, o que Hilton Japiassu denominou e sob outra perspectiva também o fez Paulo Freire, o papel de ser “educador da inteligência”, arrastando para os cantos encardidos da história a concepção libertadora de que o conhecimento é uma procura e não uma posse. Nessa dimensão o saber não deve se tornar uma mercadoria.
IHU On-Line – Que consequências o neocapitalismo pode trazer para o trabalho da Embrapa?
Horacio Martins de Carvalho – Já trouxe diversas conseqüências, inclusive a perda relativa da sua autonomia enquanto empresa pública geradora de tecnologias para os produtores rurais.  Mas, creio eu, que o mais indelével efeito é a dependência da Embrapa perante os interesses do grande capital multinacional da indústria química relacionada com a agricultura, expresso nas parcerias público-privado com empresas tipo Monsanto e outras, anteriormente citadas. Tais parcerias representam, assim como os OGMs que geram, o que há de mais condenável a partir da opinião pública esclarecida nacional e internacional. Significa, antes de tudo, que se concorda com o monopólio privado das sementes e dos genes, assim como com a mercantilização da vida.
Há uma conseqüência geral mais drástica, embora não envolva a todos os pesquisadores, que é a corrosiva perda de ética da ação pública, sendo gradativamente substituída pela ética do negócio privado.
IHU On-Line – A questão dos biocombustíveis tem a ver com esse processo dentro da Embrapa?
Horacio Martins de Carvalho – A Embrapa sempre dedicou linhas de pesquisas para a melhoria da matéria prima necessária à agroenergia. A onda dos agrocombustíveis, entre eles o etanol a partir da cana-de-açúcar, é relativamente recente, uma década, talvez. Mas, a pesquisa e experimentação com cana-de-açúcar e ou com outras matérias primas para a produção de etanol e mesmo de óleos combustíveis já possui muitas décadas, bem anterior mesmo à implantação do Próalcool em 1975.
A produção de energia a partir da biomassa é da maior relevância no âmbito da matriz energética brasileira. E a Embrapa assume seu papel de geradora de tecnologias para melhor produzir a matéria prima, assim como de determinadas tecnologias que contribuam para alguns processos de agroindustrialização.
O que representa um desvio político nessa oferta de tecnologias é a ênfase dada na geração de variedades de cana e outros cultivos para a agroenergia no âmbito dos OGMs. E a aceitação relativamente passiva desse modelo de produção de agroenergia a partir da biomassa dominante no país onde a grande empresa privada nacional e estrangeira decide o que é melhor para nossa sociedade.
A Embrapa, com a massa de talentos científicos e tecnológicos que possui, deveria ter sido a primeira a contestar esse modelo. Afinal, como coordenadora do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária – SNPA, ela poderia apresentar outros paradigmas para o componente energia a partir da biomassa na matriz energética brasileira.  Mas, diga-me com quem andas que direi... o que serás capaz de fazer.
O agrocombustível tornou-se uma questão polêmica internacional em função da disputa entre terras destinadas para a produção de biomassa e aquelas terras destinadas à produção de alimentos. Essa questão em princípio não é a básica no Brasil em relação aos agrocombustíveis, ainda que a cada dia se reveste de maior relevância. O fundamental nessa temática é o modelo de produção e tecnológico adotado para tal iniciativa. Ele reproduz, com pequenos matizes distintos, a lógica escravagista na relação capital-trabalho, assim como no trato predatório com o meio ambiente.
Entre os seus diversos desvios, a política nacional de produção de etanol combustível estimulou a concentração e a desnacionalização das terras, o monocultivo, a concentração corporativa das usinas produtoras e, ainda que não generalizado, mas com relativa incidência de relações de trabalho similares ao do trabalho escravo.  
 "A política nacional de produção de etanol combustível estimulou a concentração e a desnacionalização das terras"
Tanto os programas governamentais Próalcool I como o atual (Próalcool II) poderiam ter optado por um outro paradigma na oferta de matérias primas e a sua industrialização a partir de uma nova organização dos pequenos e médios produtores rurais, ampliando o processo de democratização do acesso à terra e do seu uso. Todavia, na prática, terminaram por consolidar, com recursos públicos, a grande empresa capitalista, a maior parte das quais nas mãos de usineiros tradicionais portadores de mentalidade escravagista e desgraçadamente alçados a “heróis nacionais” por um populismo de rodapé.
A Embrapa fez e faz parte desse movimento geral do governo federal com relação ao modelo de produção e tecnológico adotado no país e que contribui, em nome das parcerias científicas e da cooperação internacional, para a desnacionalização do saber científico e tecnológico nacional.
IHU On-Line – Quem esta por trás desse processo dentro da Embrapa?
Horacio Martins de Carvalho – Sem dúvida alguma que é o governo federal e o Congresso Nacional, enquanto responsáveis pela definição das macroestratégias nacionais e as de cooperação internacional de seus organismos de geração de tecnologias para a agricultura, entre outros. E, nesses contextos históricos, a concepção hegemônica reinante no interior da Embrapa. Além, evidentemente, das grandes empresas transnacionais ligadas direta e indiretamente ao agronegócio.
Mas há contradições internas na Embrapa. Há parcelas de pesquisadores e administradores que não aceitam esse “retalhamento interno da empresa” para se oferecer nos mercados, pela troca por melhores saberes e a obtenção dos melhores preços de conveniência, a massa de conhecimentos e resultados obtidos e acumulados pelo trabalho de seus pesquisadores e que foram gerados com recursos públicos nacionais.
IHU On-Line – Para que esse processo não se agrave, que medidas precisam ser tomadas dentro do instituto de pesquisa?
Horácio Martins de Carvalho – Na Embrapa, caso se exercite a democracia interna e se rompa com o corporativismo agônico, ela mesma poderá encontrar nos seus próprios quadros, na massa crítica que eles constituem – desde que os medos crônicos devidos a uma história interna eivada de mandonismos sejam sobrepujados, os melhores caminhos para se superar a tendência dominante de ser subserviente ao grande capital agrário e industrial.
A defesa do nacional não pressupõe o isolamento dos nossos cientistas, pesquisadores e professores do que se faz no mundo. Muito ao contrário, só pode haver identidade nacional perante os outros, quando se supõe que os outros são conhecidos.
Porém, a universalização do conhecimento vem enfrentando diversas barreiras econômicas, políticas e ideológicas devidas, sobretudo, à privatização crescente dos saberem científicos e tecnológicos. Não há uma inovação tecnológica gerada por empresas privadas que não tenha nela embutida a intenção explícita de monopolização temporária do segredo industrial e um preço de venda capaz de gerar lucros continuados, os mais altos sempre que possível. Daí a oligopolização dos saberes e fazeres na área da produção científica e tecnológica das empresas privadas.
Quem sabe a Embrapa, enquanto empresa que se deseja cada vez mais estatal e prestadora de serviços públicos, assim como pela qualidade de parte substancial de seus quadros, seja capaz de purgar suas deficiências e tornar-se cada vez melhor sem continuar sendo, por um lado,  submissa aos grandes grupos privados multinacionais e, por outro, arrogante perante os povos supostamente mais débeis como os das jovens repúblicas africanas.
(*) Horácio Martins de Carvalho é engenheiro agrônomo formado pela Escola Nacional de Agronomia da Universidade Rural do Brasil e especialista em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É membro do Conselho da Associação Brasileira de Reforma Agrária – ABRA, onde também foi presidente.
Fonte: IHU, 26/01/2011

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