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segunda-feira, maio 09, 2011

o rápido crescimento econômico aumenta o consumo de água

China enfrenta desertificação acelerada

Em Turpan, no noroeste do país, os sistemas tradicionais não conseguem mais atender à demanda de água
Sentado ao lado de seu pai no quintal de uma antiga casa tradicional uigure de tijolos ocre, Kalik comemora: “Nós conseguimos produzir 500 quilos de uva por dia”, diz. Essa produtividade é um milagre, considerando as condições climáticas às quais está submetida Turpan, oásis situado em pleno deserto, na região de Xinjiang, extremo noroeste da China. O solo é seco, muitas vezes arenoso. As chuvas não passam de 20 milímetros ao ano. Reportagem de Harold Thibault, em Le Monde.
O jovem sabe que deve sua produção, que sustenta toda sua família, ao canal que passa a alguns passos da propriedade e foi escavado quatro séculos atrás. É uma das artérias do karez, um sistema de irrigação que remonta a mais de dois milênios e que serviu de corda de segurança para esse oásis, funcionando como parada para as caravanas que tomavam a antiga Rota da Seda. Esses canais de irrigação, outrora chamados de “qanats”, se encontram em diversas regiões áridas da Ásia Central.
“A água é doce, ela provém diretamente da Tian Shan”, explica Kalik, evocando as Montanhas Celestiais, a cordilheira que atravessa a região a quilômetros de Turpan. A rede de canais subterrâneos permite que a água das montanhas chegue até essa depressão, ao mesmo tempo em que evitam a evaporação nessa zona onde a temperatura pode chegar a 50 graus Celsius durante os meses de verão.
Na frente da casa ainda florescem cerejeiras, mas o milagre tem sido colocado duramente à prova há alguns anos. A algumas ruas de lá, os trabalhadores migrantes se empenham nos canteiros de obras de concreto, que aos poucos vão tomando conta dos antigos bairros tradicionais. O sistema de irrigação acompanha com dificuldades o ritmo de crescimento. Turpan não escapa da urbanização maciça e da superexploração dos recursos naturais. Para uma cidade chinesa, ela continua tendo uma dimensão modesta, mas a população hoje ultrapassa os 600 mil habitantes, sendo que em 1949 ela possuía 67.300.
Nos lençóis freáticos
Se os habitantes conseguiram cultivar em pleno deserto uma uva que se tornou famosa em todo o país, foi graças aos 5 mil quilômetros de canais. Mas, superexplorados e mal cuidados, estes secaram. Somente 300 dos 1.237 karez registrados em 1957 ainda estão em funcionamento. O ecossistema que havia se organizado em torno deles está se degradando.
Ao mesmo tempo, a produção agrícola, principal fonte de atividade econômica em Turpan, decolou. A área a ser irrigada passou de 60 mil hectares em 1970 para 113 mil em 2008. Como os karez não fornecem mais água o suficiente para garantir os rendimentos e alimentar as habitações modernas, o vilarejo começou a retirar diretamente dos modestos lençóis freáticos.
Como consequência direta dessa decisão, seu nível tem baixado de 1,5 a 2 metros por ano, calcula o Banco Mundial. “Com o rápido crescimento econômico desses últimos anos, o consumo de água vem subindo e ultrapassa as quantidades disponíveis, levando a um uso excessivo dos lençóis”, observava a instituição em 2010.
“Nos cinco últimos anos, a água se tornou menos abundante, isso se vê particularmente em julho e agosto”, constata Liu Daohong, um trabalhador agrícola que chegou há dez anos da província central de Henan. Ele trabalha em um campo irrigado diretamente pelos lençóis freáticos. Assim como ele, muitos migrantes Han, a etnia maioritária na China, vieram se instalar em Turpan, atraídos pela possibilidade de encontrar um emprego no setor agrícola, nessa região onde a maioria da população pertence à etnia uigure.
A alguns quilômetros ao sul da cidade, a constatação é similar no “jardim botânico”, na verdade um laboratório de pesquisa no meio da natureza sobre a capacidade das plantas de resistirem em zona árida extrema e de servirem de barreira natural contra o avanço do deserto. “Há dez anos, nós podíamos encontrar água a 18 metros de profundidade, mas hoje é preciso perfurar entre 25 e 30 metros. Preferimos utilizar a água a uma profundidade de 156 metros, pois é menos salgada”, explica um professor da Academia de Ciências chinesa, especializada no combate à desertificação.
Ao se conscientizar sobre a ameaça que pesa sobre Turpan, a China deu início a grandes obras, cujo custo deverá ser de US$ 204 milhões (R$ 330 milhões). Três reservatórios serão construídos nas montanhas próximas, a fim de assegurar o abastecimento de água durante o ano, a um custo de US$ 142 milhões (R$ 230 milhões).
No papel, esses projetos apresentam o papel histórico dos karez. Mas as autoridades locais não parecem realmente convencidas do futuro desses canais: do total de somas liberadas, somente US$ 500 mil serão dedicados à recuperação de um único karez, um projeto apresentado como um experimento.
Tradução: Lana Lim
Fonet: EcoDebate, 09/05/2011

quinta-feira, maio 05, 2011

só 15% da água usada no Brasil tem tratamento adequado

Especialista brasileiro premiado por atuação em hidrologia diz que gestão da água no Brasil é ruim
Segundo Carlos Eduardo Morelli Tucci, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, só 15% da água usada no Brasil tem tratamento adequado, com eliminação de impurezas
Referência mundial na pesquisa científica sobre recursos hídricos, Carlos Eduardo Morelli Tucci, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e engenheiro civil por formação, anda às voltas na identificação dos principais problemas de recursos hídricos no Brasil. Para isso, tem entrevistado gestores e especialistas e já pode esboçar algumas estatísticas: do que se usa de água no país, só 15% têm tratamento, eliminação de impurezas.
E mais: o tratamento de esgoto deve chegar a 40% da água usada para esse fim. A falta de tratamento é o que mais afeta a disponibilidade hídrica, segundo Tucci, porque o esgoto contamina os próprios mananciais de abastecimento de água. Ele enfatiza: esse é um problema de governo. Afinal, água sem tratamento que volta para os rios traduz-se em doenças, principalmente quando ocorrem enchentes. Além disso, Tucci lembra: o mundo caminha para uma urbanização perto dos 70%. “A gestão urbana é a grande questão brasileira. Oitenta e oito por cento da população brasileira é urbana”, destaca o pesquisador.
Em julho, ele receberá o International Hydrology Prize 2011, por sua contribuição à ciência e à prática de hidrologia. O prêmio é outorgado anualmente pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Organização Meteorológica Mundial (WMO) e a Associação Internacional de Ciências Hidrológicas (IAHS). A premiação será entregue em Melbourne, na Austrália.
O pesquisador tem quase 500 artigos científicos publicados e é consultor do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Nesta entrevista, Tucci fala à Agência Brasil sobre os problemas urbanos, em especial, da falta de tratamento de esgoto e dos problemas de gestão da água. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Agência Brasil – O Brasil tem um quinto da água doce do mundo, mas há lugares no país em que a própria rede desperdiça 70% da água encanada. Essa é mais uma contradição nacional?
Carlos Tucci – Um país com perdas eficientes fica abaixo de 15%. A perda da ordem de 15% é considerada boa. Entre os países em desenvolvimento, a maioria está entre 36% e 40%. Isso depende muitas vezes da pressão, da topografia etc. Grande parte das perdas são [perdas] físicas. Nos condutos e sistemas que ficam velhos, é mais caro encontrar o vazamento do que fazer uma nova rede. Isso só ocorre quando há falta de água e os novos mananciais estão muito distantes e muito caros, aí começa haver uma preocupação em tornar o sistema mais eficiente. Como nós não cobramos pelo uso da água, ela é utilizada sem custos [abaixo do valor econômico], então não há busca pela eficiência. Há uma outra questão bem institucional. As empresas abastecedoras não são eficientes. Isso tem a ver com o fato de serem monopólios. O preço da água é subsidiado porque o Estado paga para a empresa mesmo que ela esteja funcionando mal. Ou então a empresa pode corrigir o preço da água como ela quiser. Ela não tem metas de eficiência. Este é o ponto fundamental, em que você poderia fazer reduzir perda.
ABr – Já existe engenharia em outros países para a criação de redes paralelas de reuso de água e reaproveitamento na própria residência. Por que isso é incipiente no Brasil?
Tucci – Tem “n” possibilidades de você aumentar a eficiência do sistema, mas o que adianta melhorar a eficiência nas residências, se a rede está perdendo grande quantidade de rede de água? O reuso é interessante, mas o reuso tem que ter alguns cuidados básicos, não pode reutilizar toda a água, por que ela é contaminada.
ABr – Há tecnologia e gente qualificada para fazer os sistemas de água mais eficientes?
Tucci – O Brasil tem um expressivo número de pesquisadores na área. Houve um investimento significativo na formação de pessoal no exterior. O Brasil formou um grande número de profissionais bastantes atualizados, o que, evidentemente, não quer dizer que tudo isso chegou à parte prática. Esse é um dos grandes desafios da ciência e da tecnologia: fazer com que o conhecimento adquirido se torne não um bem pessoal, mas um conhecimento adquirido para a sociedade.
ABr – O senhor já reclamou publicamente da burocracia para fazer pesquisa. Por quê?
Tucci – Parece que todo brasileiro é ladrão até que se prove o contrário. Só para se ter uma ideia, eu estou voltando a fazer o que fazia com 13 anos. Com aquela idade, eu ia ao banco, levava papéis. Agora, como coordenador de pesquisa, no nível máximo, eu sou obrigado a fazer o cheque de cada estudante bolsista. Na prestação de contas, não aceitam os extratos tirados na internet e, como eu não posso ter cartão, porque a conta não permite ter cartão, eu tenho que ir ao banco toda hora para tirar extrato assinado pelo banco. Quer dizer, isso, se você não está dizendo que todo mundo é ladrão, o que é? O país está perdendo com isso. Então, é uma burocracia insana e eu acho que nós vivemos numa era macartista [período que foi do final da década de 40 a meados da década de 50, em que os americanos eram perseguidos politicamente, acusados de serem comunistas]. Nós temos que provar todo dia que somos inocentes. Quando sai uma corrupção no andar de cima, todo o restante da sociedade paga por isso, em burocracia.
ABr – Voltando à água, como mudar a cultura do desperdício?
Tucci – Eu estou fazendo várias entrevistas [com gestores e especialistas] para identificar quais os principais problemas de recursos hídricos no Brasil e praticamente todos respondem a mesma coisa: falta de tratamento de esgoto. A falta de tratamento é o que mais retira disponibilidade hídrica, porque o esgoto contamina os próprios mananciais de abastecimento de água. O tratamento é menos do que 40%! As estatísticas são pouco confiáveis. Quando se diz que coleta de esgoto é de tanto, não significa que é tratado. Então ao coletar, o esgoto continua poluindo. Nas minhas contas, daquilo que nós usamos de água, tratamos e eliminamos as impurezas na ordem de 15% ou, no máximo, 20%. Isso é um problema de governo, de estabelecer o que vamos atingir em tal ano. É preciso estabelecer um plano estratégico para o tratamento de esgoto que defina o que vai ser feito: vou pegar as cidades menores; vou pegar as cidades maiores; onde eu vou incentivar as empresas para fazer tratamento de esgoto? Elas já cobram pelo esgoto na hora que coletam, então para que vão fazer tratamento?
ABr – Como assim?
Tucci – Elas cobram tudo que precisam cobrar de esgoto só por coletar, sem tratar. Está tudo errado nesse ponto.
ABr – Podemos dizer, então, que o Brasil domina apenas a tecnologia de transportar esgoto?
Tucci – Não faz tratamento, faz pouco tratamento. E, na grande parte do Brasil, nem transportar faz, eles jogam o esgoto na drenagem. Além de destruir o sistema de drenagem, cria outros problemas.
ABr – A consequência disso é a prevalência de doenças…
Tucci – Sem dúvida nenhuma. Há aí um potencial de doenças, principalmente quando inunda, mistura tudo e atinge as pessoas, como a leptospirose. Há outras doenças que vêm com a própria água pluvial [da chuva], que tem uma grande contaminação de metais, por causa da lavagem da superfície urbana.
ABr – O que está previsto no Programa de Aceleração do Crescimento [PAC] não é suficiente?
Tucci – Eu não conheço todos os detalhes dos investimentos [do PAC], mas me parece que são feitos por demandas específicas do município. Na minha opinião, deveria ser num plano estratégico nacional em que priorizassem a despoluição de determinadas cidades. O saneamento tem que começar do rio para a cidade e não da cidade para o rio. Ou seja, se define o que o rio precisa para estar despoluído e define o nível de tratamento que tem que ter a cidade, para reduzir, para chegar àquela meta de tratamento.
ABr – O governo [federal] já criticou os municípios pela falta de projetos dizendo que não faltam recursos…
Tucci – Sim, mas falta projeto porque o governo trabalha como se fosse um banco. Você acha que todos os municípios têm qualificação para fazer os seus projetos?
ABr – Como o senhor disse, mesmo que os municípios tenham qualificação, as companhias não ter ão interesse…
Tucci – Muitas vezes não têm. Em um programa estratégico, há capacitação, criação de incentivos econômicos. Você não pode sentar lá como se fosse um banco e falar assim: “estou aqui, vocês venham buscar dinheiro”. O sistema não funciona assim. Além disso, as obras do PAC geralmente são para canalização e só canalização aumenta o problema.
ABr – Por quê?
Tucci – Porque quando se canaliza, se transfere a enchente de um lugar para outro e com muito maior vazão. Aumenta a vazão e os custos geralmente sobem de seis a dez vezes.
ABr – O senhor pode explicar melhor?
Tucci – Por exemplo, há um local que está inundando, aí você canaliza. Essa vazão canalizada foi ampliada, só que, no rio abaixo, não houve ampliação da capacidade de recepção, então vai inundar mais abaixo. O custo de você canalizar toda a cidade é muito alto. No mundo inteiro, desde os anos 1970 não se faz mais isso.
ABr – O que fazer, então?
Tucci – Você tem que tirar o esgoto, dar uma solução para o lixo e fazer uma recuperação ambiental da área. Tem que ter terra e mecanismos de sustentabilidade. Em Seul [Coreia do Sul], um candidato a prefeito chegou em uma área que estava toda coberta de concreto. Tinha viaduto por cima, completamente fechado e ele prometeu que ia recuperar aquela área. Aí, ele ganhou a eleição. Em seis meses, eles fizeram um projeto de receptação do esgoto, retiraram todo viaduto do concreto de cima, porque não se pode admitir mais hoje fechar um rio. Isso é inadmissível ambientalmente! O prefeito recuperou tudo isso, arrumou o tráfego, pôs o transporte em gestão integrada e criou mecanismos de amortecimento de certos sistemas e tornou aquela área ambiental. Hoje, ele é o presidente da República da Coreia do Sul [Lee Myung-bak]. Isso dá voto também. Tem que haver uma busca de solução integrada: tirar o lixo, tirar o esgoto, amortecer o escoamento e fazer com que a água melhore de qualidade. Junto ainda, tem o tráfego e a urbanização. A gestão urbana é a grande questão brasileira. Oitenta e oito por cento da população brasileira é urbana e está ocupando 0,3% a 0,4% da superfície do país. Imagina o que é uma demanda de recursos naturais em um pouco espaço, imagine o caos que vai se formando…
ABr – A solução é desconcentrar a população e interiorizar o país?
Tucci – Isso não tem reversão. É a economia moderna, nós saímos da agricultura para a indústria. É o mundo dos serviços e os serviços estão nas cidades, o mundo vai chegar, em 2050, com 70% da população urbana, que hoje está em 50%. Todo mundo que nascer daqui para frente vai para a cidade e sem contar com os que vêm do campo, devemos ter uma distribuição urbana maior.
Entrevista realizada por Gilberto Costa, da Agência Brasil e publicada pelo EcoDebate, 18/04/2011
Fonte: EcoDebate, 18/04/2011

sexta-feira, janeiro 28, 2011

um verdadeiro atentado à legislação brasileira

‘Licença Específica’: Governo atropela legislação e tenta impor Belo Monte ‘goela abaixo’
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) vem a público manifestar repúdio e indignação diante da emissão da "Licença de Instalação Específica” relativa à Usina Hidrelétrica Belo Monte.
Fruto de inequívoco e sistemático processo de pressão política, do governo e de grupos econômicos envolvidos na construção da usina, sobre setores técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), este ato administrativo constitui-se num verdadeiro atentado à legislação brasileira.
A figura da "Licença Específica” simplesmente inexiste no aparato jurídico brasileiro. No entanto, a mesma vem sendo consumada "de fato” como uma prática recorrente do governo federal nestes últimos anos.
O Cimi entende que o Poder Judiciário não deve manter-se alheio frente a essa prática do Executivo. Com a emissão dessa "Licença” sem amparo legal, aprofunda-se a necessidade e a urgência do julgamento de todas as ações judiciais que questionam a legalidade do procedimento administrativo estabelecido para "liberar” a construção daUHE Belo Monte.
Reafirmamos nossa confiança no Poder Judiciário brasileiro e entendemos que é urgente a sua manifestação e tomada de decisões no presente caso, considerando as arbitrariedades e ilegalidades perpetradas e implementadas pelo Poder Executivo do nosso país.
Depois de mais de duas décadas em que o governo militar impôs a absurda construção da hidrelétrica de Balbina, reconhecidamente um "monumento à insanidade”, o atual governo utiliza-se da mesma lógica destruidora e assassina no caso da UHE Belo Monte.
Manifestamos solidariedade a todos os povos e comunidades que se contrapõe historicamente à construção de Belo Monte e reiteramos o compromisso e o apoio às suas lutas na defesa de seus direitos.
Conselho Indigenista Missionário
Brasília, 27 de janeiro de 2011
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Fonte: IHU, 28/01/2011

segunda-feira, janeiro 17, 2011

"A água precisa caminhar, chegar ao mar."

Ambientalista diz que tragédia na região serrana do Rio de Janeiro é resultado do desrespeito à Mata Atlântica
Tragédias como a que ocorreu nas cidades serranas do Rio de Janeiro são nada mais que o resultado do processo de ocupação da Mata Atlântica. A afirmação é da escritora e ambientalista Anne Raquel Sampaio, que mora no Parque do Imbuí, um dos bairros mais afetados pela catástrofe em Teresópolis.
“Nós não estamos aqui simplesmente sobre o solo de Teresópolis, e sim sobre o solo da Mata Atlântica, um bioma que precisa ser mais respeitado”, diz a escritora. Como muitos cariocas, ela se mudou há 25 anos para a cidade serrana fugindo da violência urbana do Rio e em busca de paz e de contato com o verde. “Na época, o clima era mais frio, e a cidade tinha menos favelas e menos gente.”
Com o passar dos anos, além da favelização, houve uma ocupação maior das margens dos rios, com uma grande devastação da mata ciliar. Anne Raquel, que faz pesquisas sobre a água, alerta para o problema da falta de esgotos na cidade. “Como a maior parte das cidades brasileiras, Teresópolis foi construída às margens de um rio, o Paquequer, hoje um grande esgoto atravessando a cidade. Esse rio às vezes fede, mas a população faz de conta que esse fedor não existe.”
Segundo a ambientalista, a tragédia atual mostra que o risco da ocupação irregular é o mesmo para os pobres e os ricos, já que condomínios de alto luxo e de classe média também foram igualmente atingidos. Ela chama a atenção para o fato de que a propaganda imobiliária desses condomínios não corresponde à realidade.
“Você não pode construir uma mansão sobre uma encosta que é linda, e dizer que aquilo ali é ecológico só porque algumas árvores foram preservadas. Na verdade, aquela área não deveria ser ocupada, nem por mansão nem por ninguém. As pessoas que constroem essas casas sonham com um mundo melhor para elas, mas não param para analisar que esse mundo melhor precisa, antes de tudo, que a gente respeite a natureza.”
É preciso reconstruir a cidade, partindo do princípio de que ela está sobre o solo da Mata Atlântica, que tem características próprias e é responsável pelo abastecimento de água de mais de 80% da população brasileira, diz a ambientalista. “A água precisa caminhar, chegar ao mar. Se agente constrói em cima do caminho da água, ela vai achar esse caminho de uma forma ou de outra.”
Emocionada com tragédia que presenciou, Anne Raquel acha que a solução não pode ser apenas técnica: “a questão ambiental só vai ser resolvida quando a gente olhar tudo isso com o coração, pensar em como impedir que as crianças morram, porque usamos recursos públicos para tudo, menos para cuidar da natureza.”
Autora de seis livros infanto-juvenis baseados em mitos indígenas e focados na temática ambiental, Anne Raquel concluiu a obra mais recente justamente no dia da tragédia, quarta-feira (12). “Na história de Os Filhos da Senhora das Águas, Iara está ficando cega e pede ajuda para enfrentar uma grande tempestade. “O tragicômico é que assim que eu acabei de escrever o livro aconteceu esse desastre horrível.”
Reportagem de Paulo Virgilio, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 17/01/2011
Fonte: EcoDebate, 17/01/2011

terça-feira, dezembro 14, 2010

a paisagem deixando de ser amazônica

Água no coração

por Lúcio Flávio Pinto

De uma coisa não tenho dúvida: sou um homem das águas, um ser anfíbio. Nasci no lugar do Pará em que o rio Tapajós, o mais bonito do mundo, encerra sua jornada de mil quilômetros, incluindo um dos seus formadores, o Teles Pires, onde o governo federal quer construir cinco hidrelétricas de grande porte. Na foz, que tem quilômetros de largura entre labirintos de ilhas, o Tapajós lança suas águas verdes contra o barrento Amazonas, em frente a Santarém, que era a segunda e hoje é a terceira maior cidade do Estado.
Em 1949, quando vim ao mundo, Santarém não tinha 15 mil habitantes (hoje está com quase 180 mil, mais 90 mil na zona rural do município). Com meses, eu era levado para tomar banho no rio. Aprendi a nadar antes de ter consciência de mim. Sofri os pavores de um método que só muito depois ganharia ares de cientificidade: era largado na água e só resgatado quando começava a me afogar. Logo passei a flutuar. Daí a deslizar foi questão de braçadas.
Nossa vida era demarcada pelo ciclo das águas: seis meses subindo, seis meses descendo, com todos os efeitos do avanço ou do recuo da massa aquática sobre terras que caíam pela erosão ou cresciam pela sedimentação. Em Santarém, tudo era função do encontro de rios de coloração tão contrastante, com uma peculiaridade: quando chegávamos à alva e extensa praia na orla da cidade (hoje poluída e deteriorada) e o Amazonas vencera seu constante cabo-de-guerra com o Tapajós, ninguém se atrevia a mergulhar. Acostumados à cristalinidade do Tapajós, que permitia até pesca submarina só com óculos, vendo-se o fundo lá embaixo, sentíamos nojo da cor de sujeira do “rio-mar”. Ficávamos na praia jogando futebol ou fazendo qualquer coisa. Não era dia de banho.
Eu ainda não havia completado quatro anos quando, em 1953, houve a maior das cheias do século 20. Lembro-me dela por imagens desfocadas na memória engatinhante, pelos testemunhos dos mais velhos e por álbuns de fotografias. A mais impressionante delas exibia a rua principal do comércio tomada por tábuas de madeira, que substituíam o calçamento, todo submerso, para permitir a passagem dos moradores.
Outra grande cheia, talvez mesmo a maior de todas, foi em 1976. Já como repórter, aos 26 anos, esta eu fui verificar pessoalmente os acontecimentos. Naveguei durante 13 dias pelo Amazonas, conferindo os lugares mais atingidos pelas águas.
Mais impressionado ainda fiquei em 1984, ao chegar a Tucuruí, onde foi construída a quarta maior hidrelétrica do mundo. Vi o rio Tocantins, ainda maior que o Tapajós, completamente barrado, pela primeira vez na sua história de milhões de anos, por uma monumental parede de concreto, com quase 80 metros de altura.
De uma parte alta do terreno próximo, vendo aquele espetáculo, ao mesmo tempo da espantosa engenharia humana e de sua presença inoportuna nos domínios da natureza, o moleque aquático emergiu dentro de mim sem controle. Chorei convulsivamente, antes de poder me controlar e tentar cumprir meu ofício de jornalista, objetivo por dever de ofício. A partir de então, o homem das águas passou a predominar sobre o profissional da escrita. A indignação diante da destruição cresceu mais do que a constatação da realidade.
Pensei que não teria mais impacto igual em matéria de água. Mas em 2005 fiquei ainda mais chocado quando vi rios, paranás e igarapés secos como nunca imaginei que um dia eles pudessem ficar. O nosso referencial mental esteve sempre voltado para a abundância das águas – estrondosas, destruidoras e ao mesmo tempo fecundadoras. Era da sua subida que a nossa vida dependia. Agora tínhamos que conviver com a sua ausência. A paisagem deixava de ser amazônica. Sugeria uma África em ameaça, o prenúncio de savanas, a cena seguinte à da passagem do homem, deus ex-machina.
Se é efeito da presença cada vez mais agressiva do homem ou de algum novo ciclo da própria natureza, não interessa inquirir neste artigo, o mais pessoal que já escrevi nesta seção. Escrevo-o depois de alguns dias de uma viagem à terra natal. Um vôo quase panorâmico sobre Santarém me deu a convicção de nunca ter visto uma seca do Tapajós como a deste ano. Nem a de 2005.
É impressão forte de quem já viu muitas vezes o rio subir e descer. Não só o Tapajós, mas também o Amazonas. O nível que ele atingiu no encontro com o Negro, defronte de Manaus, é o mais baixo desde que as medições começaram a ser feitas naquele ponto, em 1902.
Isto é fato, mesmo se sujeito a algum ajuste. Não há muitos a fazer nem eles são tão amplos, como se esperaria do uso de tantas ferramentas científicas e tecnológicas disponíveis atualmente, sobretudo os satélites. Mas é inegável: as secas se tornam mais rigorosas e frequentes. Vão se constituindo em acontecimento de presença tão marcante como eram as cheias.
O encolhimento das águas do Tapajós deixou à mostra suas longas e belas praias, como talvez não existam iguais em nenhum outro rio do Brasil (e do mundo?). Mas também mostrou as marcas da agressão humana, preocupantes mesmo em Alter-do-Chão, que foi considerada por um jornal inglês a melhor praia do mundo. É enorme e preocupante o volume de lixo, que as águas antes escondiam. Alguns começam a temer pela integridade futura de Alter-do-Chão. Sua fama talvez não seja suficiente para garantir sua perenidade. O mundo das águas está mudando. Provavelmente não para melhor.
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* Lúcio Flávio Pinto é paraense de Santarém; tem 61 anos e é jornalista há 44. Passou por algumas das principais publicações brasileiras, e hoje é editor do Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que circula em Belém desde 1987. Já recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, além do International Press Freedom Award. Tem 15 livros publicados, a maioria sobre a Amazônia. Escreve a coluna Cartas da Amazônia quinzenalmente, às quartas-feiras.
Fonte: Yahoo! Notícias | Opinião | Meio Ambiente, 01/12/2010

quinta-feira, novembro 25, 2010

o uso da água tem um significado diferente

A ‘PEGADA’ DO USO DA ÁGUA


a pegada do uso da águaUm relatório sobre o uso da água apresentado no mês passado pela Coca-Cola, em conjunto com a Nature Conservancy, apontou que 518 litros de água doce são necessários para produção de apenas um litro de seu suco de laranja Minute Maid, enquanto 35 litros são necessários para produção de meio litro de Coca-Cola.
A crescente conscientização sobre quanta água é necessária para produzir os bens de consumo diários está inspirando um maior interesse na “pegada de água” – semelhante à pegada de carbono – como ferramenta para analisar e guiar o desenvolvimento de novas tecnologias, investimento em infraestrutura de água e políticas para lidar com a crescente demanda por água.
Conceitualmente, a pegada de água é semelhante à pegada de carbono – um indicador de impacto baseado no volume total de água doce direta ou indireta usada na produção de um bem ou serviço.
Mas há uma diferença. Diferente do carbono na atmosfera, os recursos de água doce são localizados, não globais. Reportagem de Tanaya Macheel, no International Herald Tribune.
“Água não é carbono”, disse Jason Morrison, diretor de programa do Pacific Institute, uma organização de pesquisa em Oakland, Califórnia, que estuda questões de sustentabilidade de recursos. “Independente do que você possa dizer a respeito da validade dos créditos de carbono, será extremamente difícil ter um sucesso semelhante na área de água, porque, em termos volumétricos, um volume de água tem um significado diferente em uma parte do mundo em comparação a outra.”
Ainda assim, em julho, a Veolia Water North America, uma empresa de água e esgoto com sede em Chicago, e parte da empresa francesa Veolia Environnement, apresentou seu índice de impacto de água. A empresa disse que era o primeiro indicador a fornecer um levantamento abrangente dos efeitos da atividade humana sobre os recursos de água.
“As atuais pegadas de água se concentram quase que exclusivamente no volume”, disse Laurent Auguste, o presidente da empresa. O volume, ele disse, é “um bom indicador para aumentar a conscientização, mas é insuficiente para representar o impacto sobre um recurso de água”.
O volume de água necessário para produção de uma caixa de suco de laranja ou uma garrafa de Coca-Cola, por exemplo, pode ser fixado; mas o efeito de fato sobre um recurso de água doce, e o meio ambiente local, pode variar enormemente –incluindo a quantidade utilizada de energia e matérias-primas e os contaminantes químicos e outros resíduos criados no processo.
Para dar uma visão mais ampla, o índice da Veolia integra outras variáveis, incluindo estresse do recurso, qualidade da água e necessidades concorrentes de consumo, com ferramentas de medição existentes baseadas em volumes de água.
Mas alguns analistas questionam a utilidade dessa abordagem.
Claudia Ringler, uma pesquisadora sênior do Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar, com base em Washington, disse que a pegada de água é um bom conceito na teoria, mas nem tanto na prática.
“É quase impossível realizar uma análise abrangente”, disse Ringler. “É preciso ter muito cuidado antes de tirar conclusões baseadas nela.”
David Zetland, um economista especializado em questões agrícolas e de recursos da Universidade da Califórnia, em Berkeley, disse que a determinação da pegada teria pouca utilidade a menos que, para começar, seja cobrado pela água um preço de acordo com seu valor.
Se a água for cobrada pelo preço que vale, ele disse, o preço dos bens de consumo refletiria a quantidade de água usada para produzi-los. Como a maioria dos consumidores não entenderia a pegada, ou não se importaria, disse Zetland, eles quase sempre prestariam mais atenção ao preço daquilo que compraram do que a um certificado no rótulo.
Do ponto de vista das empresas produtoras, ele acrescentou, se a oferta de água for gratuita, ou quase gratuita, a pegada de água e os investimentos em eficiência de água permaneceriam supérfluos. “A pegada de água não tem valor operacional, econômico ou social para as empresas se o custo do trabalho e equipamento para reduzir o consumo de água ultrapassar o custo da água economizada”, disse Zetland.
O problema básico, ele disse, é que o preço da água raramente reflete seu valor ou escassez. “O preço da maioria dos produtos combina o valor para os consumidores com o custo de produção e entrega”, disse Zetland. “Como o preço da água reflete apenas o custo da entrega – a água em si é gratuita – nós não pagamos um preço que reflita seu valor ou escassez.”
Mesmo assim, nem todos os especialistas são tão desdenhosos. Apesar de a pegada de água ainda estar em sua infância e não haver um comum acordo sobre que variáveis devem ser levadas em consideração, ferramentas como o índice Veolia poderiam ajudar a mapear os riscos relativos associados ao uso da água em locais específicos, disse Morrison, o diretor de programa do Pacific Institute.
Já que os riscos ligados à água provavelmente se tornarão mais pronunciados com o passar do tempo, ele disse, “há muito valor na medição da pegada de água, independente de como seja definida”.
Um relatório recente do instituto, preparado para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, avaliou diferentes ferramentas para levantamento do uso da água e apontou que muitos, apesar de ainda estarem evoluindo, seriam essenciais para as empresas em seus levantamentos de risco, impacto e gestão de água, acrescentou Morrison.
A pegada de água também gerou interesse nos mercados como possível motivador para um uso mais inteligente da água. Os mercados de água são cheios de distorções, disse Ringler, a pesquisadora do Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar, e é quase impossível criar um mercado internacional realmente competitivo. Mas há exemplos de mercados de água domésticos bem-sucedidos, ela acrescentou, citando as bacias de rios na Austrália e no Chile.
Michael Van Patten é presidente-executivo e fundador da Mission Markets, uma empresa de serviços financeiros que opera a Earth, uma bolsa de créditos ambientais regulada pela Autoridade Reguladora da Indústria Financeira nos Estados Unidos. “Poderá levar vários anos, mas o potencial é imenso”, ele disse. “O mundo sabe que temos um problema imenso de água e ninguém sabe como resolvê-lo. Esta é uma forma de tratar dele.”
O plano de Van Patten é desenvolver créditos negociáveis a partir das compensações de projetos de água localizados. Eles poderiam ser comprados por empresas, países ou comunidades com efeito direto sobre o suprimento de água. Apesar de não existir regulamentação nos Estados Unidos para motivar um mercado desses, programas de crédito, se administrados de modo apropriado, poderiam ajudar a encorajar a proteção ambiental ao reduzir os custos envolvidos, disse Christian Holmes, um consultor de energia e meio ambiente da Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional.
Ainda assim, disse Charles Iceland, um associado do Instituto de Recursos Mundiais, a água é um instituto altamente político, e decisões de alocação não podem ser tomadas apenas com base na eficiência econômica.
“Seja qual for o sistema de gestão concebido, ele deve contar com equidade”, disse Iceland, “para que as pessoas tenham seu direito humano à água”.
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Tradução: George El Khouri Andolfato
Reportagem do International Herald Tribune/NYT, no UOL Notícias.
Fonte: EcoDebate, 25/11/2010

sexta-feira, outubro 22, 2010

Mata Atlântica, água e biodiversidade

Água para 123 milhões de brasileiros depende da Mata Atlântica

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Um dos conjuntos de ecossistemas mais ameaçados do mundo, bioma apresenta alto índice de destruição, inferior apenas ao das florestas quase extintas da Ilha de Madagascar. Mas ainda é uma das regiões do mundo mais ricas em diversidade biológica.
A Mata Atlântica apresenta hoje a área de vegetação nativa brasileira mais devastada do País. Reduzida a apenas 27% de sua cobertura original, ainda é uma das regiões do mundo mais ricas em diversidade biológica, embora dados apresentados pela SOS Mata Atlântica assegurem que apenas 7,26% de seus remanescentes permanecem bem conservados.
Sua manutenção e preservação deixou de ser uma prioridade restrita aos ambientalistas. Agora, depende do envolvimento de todos os setores produtivos, econômicos e sociais do Brasil, uma vez que em seus limites vivem 123 milhões de pessoas – 67% de toda a população brasileira.
Esse número expressivo de habitantes necessita da preservação dos remanescentes de vegetação nativa, dos quais depende o fluxo de mananciais de águas que abastecem pequenas e grandes cidades.
As áreas de cobertura vegetal nativa que ainda restam prestam serviços ambientais importantes, como a proteção de mananciais hídricos, a contenção de encostas, a temperatura do solo e a regulação do clima, já que regiões arborizadas podem reduzir a temperatura em até 2º C.
Segundo um estudo da entidade WWF, mais de 30% das 105 maiores cidades do mundo dependem de unidades de conservação para garantir seu abastecimento de água. As matas ciliares, nome dado ao conjunto de vegetação localizada às margens dos cursos de água, foram avaliadas como comprometidas na Mata Atlântica. São fundamentais para a proteção e preservação da diversidade da flora e fauna, pois além de evitar o agravamento de secas e o aumento das enchentes, também funcionam como corredores para que animais e sementes possam transitar entre as áreas protegidas e garantir a alimentação e variabilidade genética das mais diferentes espécies.
As áreas bem conservadas e grandes o suficiente para garantir a biodiversidade e manutenção da Mata Atlântica a longo prazo não chegam a 8% de sua cobertura vegetal original. A região continua a sofrer sérias ameaças, que podem se agravar caso o Código Florestal brasileiro sofra alterações que não garantam a utilização responsável e sustentável de seus recursos naturais.
Além de reduzidos, os remanescentes estão fragmentados e se distribuem de maneira não uniforme ao longo do território, fator que compromete a perpetuidade de espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção.
Hotspot – Especialistas estimam que a Mata Atlântica, considerada um hotspot (área prioritária para conservação, com alta biodiversidade e endemismo e ameaçada no mais alto grau) possua mais de 20.000 espécies de plantas, aproximadamente 35% de toda a flora existente no País.
Segundo dados da Conservação Internacional (CI), trata-se do hotspot número 1 entre as regiões monitoradas em todo o mundo. Levantamentos indicam que sua área abriga 849 espécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis , 270 espécies de mamíferos e cerca de 350 espécies de peixes. Outro dado alarmante: das 472 espécies ameaçadas de extinção em todo o território nacional, 276 (mais de 50%) estão na região.
“As ações de proteção do MMA direcionadas à Mata Atlântica incluem o aperfeiçoamento da legislação, com a aprovação da Lei da Mata Atlântica e a instituição de projetos e programas de conservação e recuperação de mata nativa”, afirma o coordenador do núcleo Mata Atlântica do MMA, Wigold Schaffer. “Também envolvem o monitoramente e fiscalização dos desmatamentos e queimadas, a criação e implementação de unidades de conservação e a ampliação de parcerias com instituições públicas e privadas da sociedade civil.”
Considerada por especialistas como um avanço na legislação ambiental brasileira, a Lei da Mata Atlântica (nº 11.428/2006) e sua regulamentação possuem regras claras e incentivos para que a conservação, proteção, regeneração e utilização sustentável de seus componentes sejam implementadas.
Schaffer explica que uma das principais metas do Governo Federal é transformar pelo menos 10% da área total da região em unidades de conservação (UCs) de proteção integral e uso sustentável. Atualmente, existem 123 UCs federais e 225 estaduais na Mata Atlântica, o que resulta em quase 1,7 milhão de hectares transformados em áreas de proteção integral (3%) e pouco mais de 2 milhões de hectares de áreas de uso sustentável.
Ameaça – Dentre as espécies de flora ameaçadas em seus limites, destacam-se o pau-brasil, araucária, palmito-juçara, jequitibá, jaborandi, jacarandá e imbuia, além de orquídeas e bromélias.
Com relação à fauna, das 202 espécies de animais consideradas oficialmente ameaçadas de extinção no País, 171 eram da Mata Atlântica. Das 20 espécies de répteis ameaçadas no Brasil, 13 ocorrem neste bioma. Entre os animais terrestres que ocorrem na região sob alto risco de extinção, 185 são vertebrados (quase 70% do total ameaçado no Brasil), entre eles 118 aves, 16 anfíbios, 38 mamíferos e 13 répteis.
Alguns deles ficaram bastante conhecidos após campanhas de preservação, como o mico-leão-de-cara-dourada, mico-leão-da-cara-preta, a saíra-sete-cores, papagaio-da-cara-roxa e o tatu-bola.
Além da perda de hábitat, as espécies da Mata Atlântica são vítimas do tráfico de animais, comércio ilegal que movimenta no mundo US$ 10 bilhões por ano.
Fatores de perda – Entre os fatores de destruição da vegetação nativa da Mata Atlântica constam a expansão da pecuária bovina, a implantação de monoculturas agrícolas, o reflorestamento com espécies exóticas, a abertura de novas fronteiras de agricultura e de ferrovias e rodovias sem estratégias sustentáveis.
O avanço desordenado das cidades, empreendimentos e grandes obras de infraestrutura, bem como a mineração e a exploração madeireira também contribuíram para a degradação da cobertura vegetal original.
De 2005 a 2008, os estados que mais desmataram foram Minas Gerais, Santa Catarina e Bahia, responsáveis por mais de 80% do total de desmatamento ocorrido no período.
Em 2006, o MMA indicou 880 áreas prioritárias para conservação distribuídas em 429 mil km2 de Mata Atlântica. Desse total, 522 são áreas novas e 358 já possuem algum tipo de proteção.
Corredor Ecológico – O conceito de corredor ecológico ou corredor de biodiversidade se refere a extensões significativas de ecossistemas nos quais ocorre o fluxo de indivíduos e genes entre áreas remanescentes de ecossistemas, unidades de conservação e áreas protegidas. Aumentam, assim, a probabilidade de sobrevivência das diferentes espécies que neles habita, e asseguram a manutenção de processos evolutivos em larga escala.
O Corredor Central da Mata Atlântica, localizado nos estados da Bahia e Espírito Santo ao longo da costa atlântica, estende-se por mais de 1.200 km no sentido norte-sul, e foi implementado desde março de 2002. O corredor agrega ecossistemas aquáticos de água doce e marinhos (dentro da plataforma continental).
O projeto conta com a assistência técnica da Cooperação Brasil-Alemanha (GTZ) e com investimentos do banco alemão KFW e da União Europeia. Também atuam em projetos de conservação da região a Fundação SOS Mata Atlântica, Conservação Internacional, WWF, Mater Natura e outras entidades não-governamentais.
Outra grande área de preservação dentro dos limites da Mata Atlântica é o Corredor da Serra do Mar, que cobre cerca de 12,6 milhões de hectares, do Paraná ao Rio de Janeiro, englobando as serras do Mar e da Mantiqueira.
Bom exemplo – Quando adquiriu a Fazenda Bulcão, em Aimorés (MG), o fotógrafo Sebastião Salgado encontrou uma propriedade quase totalmente formada por pasto degradado. Com o processo de recuperação da área, realizado pelo Instituto Terra, o local foi transformado em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), e a fazenda foi tornou-se a primeira RPPN recuperada de área degradada na Mata Atlântica.
Nela já foram plantadas mais de 1 milhão de mudas nativas desde 1999. Como resultado, o fluxo de água da região ficou mais homogêneo ao longo do ano, e foram cadastradas sete nascentes que ainda não haviam sido identificadas no Córrego do Bulcão, que passa dentro da propriedade. O local funciona também como corredor ecológico e referência de envolvimento social na preservação da Mata Atlântica.
Definição e abrangência – A Mata Atlântica é composta por um conjunto de formações florestais, campos naturais, restingas, manguezais e outros tipos de vegetação que são considerados ecossistemas associados e compõem diferentes paisagens. Essas formações cobriam originalmente total ou parcialmente 17 estados brasileiros e abrangiam uma área de aproximadamente 1,3 milhão de quilômetros quadrados.
Ilhas oceânicas também se agregam aos seus domínios, além dos encraves de Mata Atlântica – como formações florestais e brejos interioranos – existentes em meio a outros biomas. As limitações da região estão estabelecidas no Mapa da Área de Aplicação da Lei nº11.428/2006, do IBGE, que pode ser encontrado nos sites www.ibge.gov.br ou www.mma.gov.br.
Texto de Carine Corrêa e Edição de Rafael Fontana, Ministério do Meio Ambiente.
Fonte: EcoDebate, 21/10/2010

quinta-feira, outubro 21, 2010

um verdadeiro deserto verde

Deserto verde ameaça terras piauienses
A promessa de desenvolvimento com a instalação da Suzano Papel e Celulose no Piauí contradiz as reais necessidades da população.
por Leonardo Maia
Não é possível enxergar no horizonte onde termina a plantação de eucalipto. A fazenda Calumbra, município de Elesbão Veloso, 159 km de Teresina, capital do Piauí, abriga nove mil hectares de extensos corredores de pés de eucalipto, o chamado "Projeto Florestal" da Empresa Suzano Papel e Celulose. Apenas algumas áreas das Matas dos Cocais, protegidas por lei ambiental, devido ao extrativismo do pequi, buriti, babaçu e carnaúba, foram preservadas.
Enquanto 41% da população piauiense ainda é afetada pela fome, de acordo com pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Suzano, ao todo, já possui 160 mil hectares do território do Piauí, o mesmo que 1.600 km², o que corresponde a 1,57% de terras piauienses transformadas em “florestas” de eucalipto. O eucalipto não serve de alimento nem para o ser humano, nem para os animais. As plantações formam um verdadeiro deserto verde, utilizado para a produção de toneladas de papel e celulose, voltados, sobretudo, ao mercado internacional.
Além disso, de acordo com estudo realizado pelo Departamento de Ciências Naturais – DCN – da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB – árvores de crescimento acelerado, como o eucalipto, dependem de grande quantidade de água para se desenvolver e por isso provocam o secamento do solo, diminuem os mananciais e aumentam a possibilidade de desertificação dessas regiões. Sendo assim, a instalação da Suzano mais uma vez contradiz as reais necessidades da população do Piauí, já que o estado sofre, praticamente todos os anos, com os efeitos da estiagem. Só no início deste ano, mais de 155 municípios declararam estado de emergência por causa da seca, alguns deles tiveram a safra comprometida em 90% por falta de água.
Outro grande problema está relacionado às várias trilhas de devastação que separam os módulos da plantação do eucalipto. O apodrecimento dessa madeira oriunda do desmatamento, exposta no campo, produz metano, um gás tóxico, perigoso ao homem e ao meio ambiente, além de degradar o solo. Porém, a empresa se nega a encontrar um destino menos poluente para essa madeira.
Essa é uma das exigências apresentadas pela Rede Ambiental do Piauí (REAPI), que vem tentando negociar com a Suzano desde que ela chegou ao estado. Na tentativa de evitar grandes impactos ao meio ambiente e à sociedade, diante do descaso do Governo do Estado, os ambientalistas abriram um campo de diálogo, diretamente com os representantes da empresa, com a intenção de convencê-los a cumprir 11 pontos de pauta que amenizassem o cenário de devastação.
Quem deveria cumprir esse papel era o Governo do Estado, e não as Organizações Não-Governamentais. Entretanto, o governo de Wellington Dias (PT) e Wilson Martins (PSB) não foi só omisso, como abriu as portas do estado e ofereceu todos os benefícios, como a isenção de imposto de renda, para que a Suzano explorasse, da forma como quisesse, os “recursos” naturais e humanos do Piauí.
 “Tivemos três reuniões e colocamos 11 pautas de reivindicações. Acontece que não fechamos esse acordo porque a Suzano ainda não quis negociar dois importantes itens, quanto ao destino dado à madeira do desmatamento e a análise periódica da água do Rio Parnaíba que eles utilizarão no projeto. Essa análise seria feita pela REAPI e mandada para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, com despesas pagas pela empresa. Nós, da REAPI, não vamos abrir mão desses itens, e se eles não cumprirem apelaremos para a Justiça”, enfatiza Tânia Martins, representante da rede.
Com relação à madeira, a Suzano alega que está com dificuldades para encontrar quem a compre. Quanto à água, eles argumentam que não podem negociar ainda, porque ela será consumida apenas quando for instalada a indústria, em 2014. Essa análise constante da água se faz necessária, já que as fábricas de celulose promovem um uso abusivo de água potável, além de lançar resíduos nos rios.
Os detritos lançados nos rios contribuem para a contaminação do lençol freático. Ocorre também a contaminação do solo pelo uso intensivo de agrotóxicos, que se transfere para córregos, riachos e rios. De acordo com relatos de trabalhadores rurais do município de Elesbão Veloso, que prestam serviços terceirizados para a empresa, alguns animais já morreram com o veneno colocado junto com a aplicação do adubo.
Mesmo com todos esses impactos, a população que mora próxima às grandes plantações de eucalipto estão contentes com a chegada da Suzano Papel e Celulose. Um jovem, de nome Fábio, do assentamento Bebedouro, do município de Elesbão Veloso, todos os anos viajava a São Paulo para trabalhar no corte de cana, na época da colheita. Além de ter que se afastar da família, o pagamento era feito de acordo com a produtividade de cada trabalhador.
Agora Fábio está satisfeito com o novo trabalho. Ele presta serviço à Suzano, através da J.F. Sousa Serviços. No final do mês recebe um salário mínimo, o que ainda não é o suficiente, e trabalha perto de casa, das sete da manhã às quatro da tarde, fazendo pique, trabalho braçal pesado de demarcação das áreas a serem desmatadas.
Assim como Fábio, todos os trabalhadores contratados são terceirizados. Dessa forma não possuem vínculo direto com a empresa, ela não precisa se preocupar com a garantia dos direitos trabalhistas e os trabalhadores não têm nenhuma perspectiva de contratação futura, após a finalização da fase de desmatamento, adubação e plantio, já que a colheita é feita com o uso de máquinas.
Ainda assim, as famílias, tanto do assentamento Bebedouro quanto do Caraíba, deixam bem claro que elas não estão muito preocupadas com o futuro, pois antes não possuíam nenhuma fonte de renda, a não ser o que conseguiam através do extrativismo. Pensam apenas no agora, na sobrevivência do dia-a-dia.
Devido à inexistência de uma política realmente comprometida com a população do campo, essas famílias vêem a instalação dessas empresas como uma alternativa, sem qualquer preocupação com o impacto da monocultura e com as gerações futuras.
Isso se reflete na fala do presidente da Associação do Assentamento Caraíba, Antônio Avelino. “Já tem bastante gente daqui empregada, são três assentamentos, quase todo mundo trabalhando. Tem tudo, é direitim, o negócio é bem-feito, está todo mundo gostando. Muita gente disse que era ruim pra gente, porque as árvores que tem perto iam tudo embora, mas nem isso eu acredito que seja ruim. Eles ainda fizeram a proposta de alugar as terras por sete anos, arrendar 50% da área, 608 hectares. Eles fazem todo o serviço, quando fizerem a colheita pagam todas as contas, aí o lucro é dividido”, relata.
A Suzano pretende arrendar 50% das terras dos assentados, sob a alegação de que os trabalhadores rurais não gostam de trabalhar com a agricultura familiar e apenas querem saber do extrativismo. Entretanto, as famílias da região plantam arroz, feijão, mandioca e milho para a subsistência. Só não ampliam a produção pela falta da aplicação de políticas voltadas para a agricultura familiar, que deveriam ser desenvolvidas pelo Governo do Estado.
Por isso Antônio Avelino considera que a proposta feita pela Suzano poderá ser um bom negócio, mesmo sem a certeza de quais substâncias são utilizadas para adubar o solo, e se aquela terra, depois de sete anos sendo utilizada para o plantio de eucalipto, não estará improdutiva. “Eu num sei se mais tarde vai ter algum problema. Melhor do que ficar parado. Sete anos eles tiram a primeira safra, depois vão plantar de novo. A gente num pensa pro futuro, só no presente”, destaca.
Por outro lado, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Elesbão Veloso, Sebastião do Nascimento, explica que isso também acontece porque ainda não foi possível a população sentir os impactos ambientais e sociais com a instalação da Suzano. “O campo de plantação é muito bonito, mas só com o tempo é que a gente vai sentir. Algum impacto já dá pra sentir agora. Por conta do desmatamento, os bichos não estão mais ocupando aquela área. Eles estão comprando tudo em volta o que for bom pra eles. Eles tão deixando umas reservas de mata nativa, mas fora da reserva eles tão levando tudo”, relata.
De acordo com o representante do sindicato, nem Suzano nem o governo cumpriram com as promessas de desenvolvimento. “Eles prometeram que iam voltar aqui para mostrar o resultado, mas ainda hoje a gente aguarda. Hoje a gente se pergunta e não tem resposta. A promessa da empregabilidade não foi garantida. Eu não queria ouvir só as promessas, mas a resposta em cima das dúvidas. Trabalhar é um direito de cada um de nós. Alguns trabalhadores já foram dispensados, os que esperaram perderam tempo, todos ficaram com as mãos na cabeça. Hoje está todo mundo subindo e descendo, sem ter um lugar certo para trabalhar”.
Fonte: Caros Amigos | Matéria, 13/10/2010

segunda-feira, outubro 04, 2010

água: elemento essencial

Águas, pra que te quero?
por Herton Escobar
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Um estudo publicado ontem na revista Nature faz um diagnóstico científico do “estado de saúde” dos rios do nosso planeta. A água é o elemento mais essencial à vida. E apesar de 70% da superfície da Terra ser coberta por esse líquido, só 3% da água do planeta é doce (do tipo que nós gostamos), e menos de 1% está disponível para consumo humano, correndo pelos rios ou caindo do céu na forma de chuva. O resto é gelo, neve e oceano.
Vale dizer também que 70% do nosso corpo é água. Isso mesmo… água! Simples assim. Ela está no seu sangue e dentro de cada uma das suas células. É por isso que as múmias são sempre todas magrinhas e ressecadas… Se você passasse seu corpo por um moedor de cana, 70% do que sairia do outro lado seria caldo e 30%, bagaço. (Perdão pela analogia macabra, mas me pareceu bastante ilustrativa.) Basicamente, você é um saco de água ambulante. Imagine só!
Dito isso, o diagnóstico da Nature nos diz que a maioria dos rios da Terra está em péssimas condições. E que, consequentemente, 80% das pessoas no mundo vivem em situação de “risco hídrico”… ou porque não têm água suficiente para consumo, ou porque a água está tão poluída que acaba trazendo mais doença do que saúde.
Os autores principais do estudo são de Nova York, e isso me fez lembrar de um exemplo fantástico de boa gestão (e bom senso) de recursos hídricos, made in USA.
Acredite se quiser, mas Nova York não tem uma única estação de tratamento de água. Zero. A água que sai das torneiras para abastecer seus 8,2 milhões de habitantes vem direto da natureza, escoada por tubulações que descem das montanhas Catskills, 200 quilômetros ao norte da cidade, sem necessidade de tratamento. Recebe apenas uma injeção de cloro, para cumprir a legislação, e uma pitada de flúor, para fortalecer os dentes. Nada mais.
Nos restaurantes de lá, quando o cliente pede água, é comum o garçom perguntar: “Bottle or tap?”, garrafa ou torneira? A qualidade é a mesma; só muda o preço. A da torneira é de graça, claro. Na cidade ícone do capitalismo mundial, água limpa ainda é o bem de consumo mais precioso de qualquer cardápio.
A receita secreta da Big Apple, que metrópoles no mundo inteiro tentam copiar, é a conservação. Na década de 90, quando a economia regional melhorou e o crescimento populacional começou a ameaçar o abastecimento de água da cidade, Nova York se viu diante de duas opções: construir estações de tratamento ou proteger suas represas da poluição. Fez as contas e optou pela segunda. Comprou terras no entorno dos reservatórios e passou a financiar programas de boas práticas agrícolas na zona de influência do manancial.
Se você já ouviu falar de “pagamento por serviços ambientais”, mas não sabe exatamente o que significa, o conceito é exatamente esse: em vez de pagar uma empresa para despoluir a água, a cidade paga a natureza para mantê-la limpa. Ou melhor: compra terras e paga aos proprietários que vivem em torno dela para não poluí-la. E assim a natureza continua fazendo o que sempre fez de graça: captar a água da chuva, filtrá-la no subsolo e jogá-la de volta na superfície, limpinha e cristalina para nós.
“Preferimos manter nossa água limpa em vez de limpá-la”, disse-me Kathryn Garcia, então diretora de Projetos Estratégicos do Departamento de Proteção Ambiental da prefeitura de Nova York, quando estive lá para fazer uma reportagem sobre isso dois anos atrás. A opção não poderia ter sido mais acertada.
As águas dos Rios Hudson e East, que cortam a cidade, também são exemplo de qualidade. Não são potáveis, mas são limpas o suficiente para se navegar e até nadar nelas. Nova York trata 100% do seu esgoto antes de lança-lo nos rios, comparado a 66% da cidade de São Paulo e 37%, da região metropolitana.
Aí não tem preservação que dê conta.

Fonte: Estadão, 01/10/2010

na tela ou dvd

  • 12 Horas até o Amanhecer
  • 1408
  • 1922
  • 21 Gramas
  • 30 Minutos ou Menos
  • 8 Minutos
  • A Árvore da Vida
  • A Bússola de Ouro
  • A Chave Mestra
  • A Cura
  • A Endemoniada
  • A Espada e o Dragão
  • A Fita Branca
  • A Força de Um Sorriso
  • A Grande Ilusão
  • A Idade da Reflexão
  • A Ilha do Medo
  • A Intérprete
  • A Invenção de Hugo Cabret
  • A Janela Secreta
  • A Lista
  • A Lista de Schindler
  • A Livraria
  • A Loucura do Rei George
  • A Partida
  • A Pele
  • A Pele do Desejo
  • A Poeira do Tempo
  • A Praia
  • A Prostituta e a Baleia
  • A Prova
  • A Rainha
  • A Razão de Meu Afeto
  • A Ressaca
  • A Revelação
  • A Sombra e a Escuridão
  • A Suprema Felicidade
  • A Tempestade
  • A Trilha
  • A Troca
  • A Última Ceia
  • A Vantagem de Ser Invisível
  • A Vida de Gale
  • A Vida dos Outros
  • A Vida em uma Noite
  • A Vida Que Segue
  • Adaptation
  • Africa dos Meus Sonhos
  • Ágora
  • Alice Não Mora Mais Aqui
  • Amarcord
  • Amargo Pesadelo
  • Amigas com Dinheiro
  • Amor e outras drogas
  • Amores Possíveis
  • Ano Bissexto
  • Antes do Anoitecer
  • Antes que o Diabo Saiba que Voce está Morto
  • Apenas uma vez
  • Apocalipto
  • Arkansas
  • As Horas
  • As Idades de Lulu
  • As Invasões Bárbaras
  • Às Segundas ao Sol
  • Assassinato em Gosford Park
  • Ausência de Malícia
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  • Caçada Final
  • Caçador de Recompensa
  • Cão de Briga
  • Carne Trêmula
  • Casablanca
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  • Cirkus Columbia
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  • Coincidências do Amor
  • Coisas Belas e Sujas
  • Colateral
  • Com os Olhos Bem Fechados
  • Comer, Rezar, Amar
  • Como Enlouquecer Seu Chefe
  • Condessa de Sangue
  • Conduta de Risco
  • Contragolpe
  • Cópias De Volta À Vida
  • Coração Selvagem
  • Corre Lola Corre
  • Crash - no Limite
  • Crime de Amor
  • Dança com Lobos
  • Déjà Vu
  • Desert Flower
  • Destacamento Blood
  • Deus e o Diabo na Terra do Sol
  • Dia de Treinamento
  • Diamante 13
  • Diamante de Sangue
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  • Invasores
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  • Jamón, Jamón
  • Janela Indiscreta
  • Jesus Cristo Superstar
  • Jogo Limpo
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  • King Kong
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  • Leningrado
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  • Menina de Ouro
  • Meninos não Choram
  • Milagre em Sta Anna
  • Mistério na Vila
  • Morangos Silvestres
  • Morto ao Chegar
  • Mudo
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  • Ninguém Sabe Que Estou Aqui
  • Nossas Noites
  • Nosso Tipo de Mulher
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  • Nove Rainhas
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  • O Amor Não Tira Férias
  • O Amor nos Tempos do Cólera
  • O Amor Pede Passagem
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  • O Caçador de Pipas
  • O Céu que nos Protege
  • O Círculo
  • O Circulo Vermelho
  • O Clã das Adagas Voadoras
  • O Concerto
  • O Contador
  • O Contador de Histórias
  • O Corte
  • O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante
  • O Curioso Caso de Benjamin Button
  • O Destino Bate a Sua Porta
  • O Dia em que A Terra Parou
  • O Diabo de Cada Dia
  • O Dilema das Redes
  • O Dossiê de Odessa
  • O Escritor Fantasma
  • O Fabuloso Destino de Amelie Poulan
  • O Feitiço da Lua
  • O Fim da Escuridão
  • O Fugitivo
  • O Gangster
  • O Gladiador
  • O Grande Golpe
  • O Guerreiro Genghis Khan
  • O Homem de Lugar Nenhum
  • O Iluminado
  • O Ilusionista
  • O Impossível
  • O Irlandês
  • O Jardineiro Fiel
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