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terça-feira, setembro 27, 2011

os governos não controlam o mundo, os bancos controlam o mundo

'Nosso trabalho é ganhar dinheiro com crise', diz operador de mercados
O mercado financeiro não liga para o novo plano de resgate preparado para tentar salvar a economia da zona do euro e se interessa apenas em faturar com uma eventual nova recessão, revelou um operador de mercado independente entrevistado pela BBC.
"Sonho com esse momento (de declínio econômico) há três anos. Vou confessar: sonho diariamente com uma nova recessão. Se você tem o plano certo, pode fazer muito dinheiro com isso", declarou Alessio Rastani, em entrevista na última segunda-feira.
Questionado a respeito de o que faria o mercado confiar nos planos orquestrados para salvar economias em perigo, como a da Grécia, Rastani disse que, como operador, não se importa.
"Não ligamos muito para como vão consertar a economia. Nosso trabalho é ganhar dinheiro com isso", afirmou.
"Os governos não controlam o mundo. O (banco) Goldman Sachs controla o mundo. O Goldman Sachs não liga para esse resgate, nem os grandes fundos."
A entrevista, ainda que revele apenas a opinião individual de um operador, mostra que nem sempre o funcionamento dos mercados financeiros está em sintonia com o crescimento econômico.
Segundo Rastani, os grandes fundos e investidores não acreditam nas novas propostas – as quais, segundo informações preliminares, preveem a injeção de recursos em um fundo europeu de resgate e um possível calote parcial da Grécia – e estão tirando seu dinheiro da economia do euro e investindo-o em ativos mais seguros, como dólar e títulos de Tesouro.
“Essa crise é como um câncer. Se esperarmos, vai ser tarde demais. O que digo para as pessoas é: preparem-se. Não pensem que o governo vai consertar. Quero ajudar as pessoas, elas precisam aprender a fazer dinheiro com isso. Primeiro, protegendo seus ativos. Em menos de 12 meses, ativos de milhões de pessoas vão desaparecer.
Alessio Rastani, operador independente do mercado financeiro, em entrevista à BBC
Na opinião do operador, "qualquer um pode fazer dinheiro" com a crise, agindo no mercado de hedge e investindo em títulos de Tesouro.
'Governados pelo medo'
"Estou confiante que esse plano não vai funcionar, independentemente de quanto dinheiro (os governos) puserem. O euro vai desabar", afirmou ele. "Os mercados estão sendo governados pelo medo."
A âncora da BBC Martine Croxall disse que todos no estúdio estavam surpresos com as declarações. "Agradecemos sua sinceridade, mas (a atitude dos mercados) não nos ajuda muito, não?"
Rastani respondeu: "Essa crise é como um câncer. Se esperarmos, vai ser tarde demais. O que digo para as pessoas é: preparem-se. Não pensem que o governo vai consertar. Quero ajudar as pessoas, elas precisam aprender a fazer dinheiro com isso. Primeiro, protegendo seus ativos. Em menos de 12 meses, ativos de milhões de pessoas vão desaparecer".
Fonte: BBC Brasil | Economia, 27/09/2011 - 09:35 (Brasília) 12:35 GMT

sábado, agosto 06, 2011

uma minoria que irradia a treva

Colapso do neoliberalismo sob o tacão dos ultra-neoliberais: é a treva!”
“Não, não é um quadro como o de 1929. Aquele teve um ápice, com recidivas, mas ensejou um desdobramento político que inauguraria um outro ciclo, com Roosevelt e o New Deal. O que passamos agora é distinto de tudo isso”, diz a economista Maria da Conceição Tavares, em entrevista à Carta Maior. E adverte: “Todavia não menos grave e talvez mais angustiante. É um colapso enrustido, arrastado, latejante. Sim, você tem a comprovação empírica do fracasso neoliberal; mas e daí? São eles que estão no comando, ou será o quê esse arrocho fiscal nos EUA enfiado pelo Tea Party na goela do Obama? Vivemos um colapso do neoliberalismo sob o tacão dos ultra-neoliberais: isso é a treva!"
As manifestações mórbidas de ortodoxia fiscal nos EUA e, antes, o martírio inútil da Grécia, mas também as rebeliões de indignação que tomam as ruas do mundo, em contraste com o alarme sangrento da intolerância neonazista vindo da Noruega, romperam uma blindagem de opacidade e resignação que revestia a crise mundial.
Depois de anos de abordagem asséptica por parte dos governos, e do tratamento complacente e obsequioso desfrutado na mídia, causas e conseqüências da débâcle mais ruidosa do capitalismo desde 1929 adquirem progressiva transparência.
Arcado sob um vácuo de liderança assustador, os EUA de Obama e do Tea Party, mas também a Europa da rendição socialdemocrata, expõem a dimensão política da crise, que realimenta seu impasse econômico.
Nos confrontos de rua entre uma população desesperada e um poder político de representatividade dissolvente, desnuda-se a brutal incompatibilidade entre os mercados financeiros desregulados e os valores da democracia. Na ascendência do Tea Party, pautando um arrocho ortodoxo que joga o planeta às portas de uma Depressão, desaba a confiabilidade na democracia norte-americana que se transforma em fator de insegurança mundial.
A conversa fiada dos centuriões midiáticos que durante o ciclo neoliberal venderam o peixe podre, segundo o qual, democracia e laissez-faire selvagem são personas indissociáveis do capitalismo desregulado, derreteu. Da poça de desilusão escorre um veio de discernimento que se espalha aos poucos pelas praças do mundo: a crise só será efetivamente superada com uma democracia reinventada pela participação popular. 
O movimento não se completa, todavia, apesar da truculência incomum, porque a explosão carece, ainda, daqueles atores dos quais se espera, historicamente, a expressão organizada e programática do conflito social: os partidos políticos, mais especificamente, as legendas alinhadas ao campo da esquerda.
Tal vazio afirma a natureza verdadeiramente sistêmica da atual crise, cujo atributo não se restringe ao colapso do corpo econômico de uma época. A crise paradoxalmente trouxe a política de volta porque nenhuma solução de mercado resolverá os impasses causados por ele e por seus mitos. 
Essa singularidade não passa desapercebida pelos que se debruçam, como sempre se debruçaram, na análise das crises e impasses do sistema capitalista em busca de respostas progressistas para o presente e o futuro do desenvolvimento brasileiro. Entre as mais importantes contribuições desse indispensável engajamento intelectual está a voz da professora Maria da Conceição Tavares.
Em março deste ano, quando Obama se preparava para aterrissar no Brasil, em meio a confetes e serpentinas de uma mídia obsequiosa, a narrativa dominante saltitava ao som de um novo samba enredo. 
Um esforço coreográfico enorme procurava convencer o distinto público sobre a veracidade de algumas fantasias e adereços. A saber: a viagem era um ponto de ruptura entre a ‘política externa de esquerda’ do Itamaraty – leia-se de Lula , Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães – e o suposto empenho da Presidenta Dilma em uma reaproximação ‘estratégica’ com o aliado do Norte; a visita selaria um a nova agenda, ‘uma reconciliação’ entre Brasília e Washington ancorada em concessões e acordos expressivos; Obama seria o paradigma de uma modernidade a ser seguida por Dilma, distinta do ‘populismo’ político e econômico da ‘escumalha’ latinoamericana –ele usa twitter, é cool, não gosta de Lula, nem de Chávez. Em entrevista à Carta Maior algumas horas antes daquela prometida apoteose que, como é sabido, redundou em fiasco, a professora Maria da Conceição Tavares aspergiu certeiras bisnagas de realismo sobre o entrudo inebriado. E avisou: “Obama não tem nada a nos oferecer. Quase nada depende da vontade de Obama, ou dito melhor, a vontade de Obama quase não pesa nas questões cruciais. A sociedade norte-americana encontra-se congelada pelo bloco conservador por cima e por baixo. Os republicanos mandam no Congresso; os bancos tem hegemonia econômica; a tecnocracia do Estado está acuada.”E arrematou: “Obama foi anulado pelo conservadorismo de bordel da direita norte-americana”.
Carta Maior voltou a conversar agora com a economista a quem todos ligam quando o mundo despenca e é preciso saber para que lado ir. E é isso que o mundo está fazendo há dias, metafórica e financeiramente: despencando. 
A extrema direita republicana pautou Obama, como Conceição havia antevisto; asfixiou a política fiscal da maior economia do planeta. O anúncio de cortes de gastos públicos da ordem de US$ 2,4 trilhões de dólares sobre um metabolismo econômico combalido, equivale a ordenar aos mercados que imitem o Barão de Munchausen e se ergam pelos próprios cabelos. O Barão de Munchausen era um contador de lorotas. Só a convicção colegial desastrosa do Tea Party no laissez-faire - cujo equivalente nativo é a mídia e seus consultores - pode inspirar-se nas metáforas capilares do velho Barão para pautar os destinos da economia e da sociedade.
Os mercados sabem que a coisa não funciona assim. Investidores e especuladores urbi et orbi farejaram o desastre e se anteciparam fugindo em massa de ações e títulos, candidatos a perder o valor de face na recessão em curso. 
Antes de atender Carta Maior, a professora Maria da Conceição já havia recebido telefonemas de Brasília, com a mesma inquietação: ‘E agora?’. 
A decana dos economistas brasileiros entende de crise. Ela nasceu em abril de 1930, poucos meses depois da 5º feira negra de outubro de 1929, quando as bolsas reduziram todo um ciclo a riqueza especulativa a pó e pânico. Em questão de horas.
A voz rouca de quem viveu e estudou todas as demais crises do capitalismo no século XXI, vai logo avisando: “Não, não é um quadro com o de 1929. Aquele teve um ápice, com recidivas, mas ensejou um desdobramento político que inauguraria um outro ciclo, com Roosevelt e o New Deal. O que passamos agora é distinto de tudo isso”.
Maria da Conceição faz uma pausa para para advertir em seguida: “Todavia não menos grave e talvez mais angustiante. É um colapso enrustido, arrastado, latejante. Sim, você tem a comprovação empírica do fracasso neoliberal; mas e daí? São eles que estão no comando, ou será o quê esse arrocho fiscal nos EUA enfiado pelo Tea Party na goela do Obama? Vivemos um colapso do neoliberalismo sob o tacão dos ultra-neoliberais: isso é a treva!’ , desabafa a professora que recém passou por uma cirurgia delicada, tenta moderar a voz e a contundência, mas seu nome é Maria da Conceição Tavares. Bem, ela reforça o torque satisfeita com a síntese enunciada e sublinha, inclemente: ‘É a treva!’
A professora de reconhecida bagagem intelectual, respeitada mesmo pelos que divergem de seus pontos de vista, normalmente prefere não avançar na reflexão política e ideológica. Mas neste caso insiste: ‘Não é um fascismo explícito, como se viu na Europa, em 30. Até porque o nazismo, por exemplo - e isso não abona em nada aquela catástrofe genocida, postulava o crescimento com forte indução estatal. O que se tem hoje é o horror de um vazio político de onde emergem as criaturas do Tea Party e coisas assemelhadas na Europa. Não há ruptura na crise, mas sim, permanência e aprofundamento. Será uma crise longa, penosa, desagragdora, mais próxima da Depressão do final do século XIX, do que do crack de 1929”.
A seguir, trechos da conversa de Maria da Conceição Tavares com Carta Maior:
Carta Maior - No caso do Brasil, no que esta crise difere da de 2008 que superamos rapidamente? Dá para usar a mesma receita de então?
Maria da Conceição Tavares— “É muito difícil (suspira). Primeiro, pela natureza arrastada, enrustida desse longo crepúsculo. Você fica a tomar medidas pontuais. Tenta mitigar a questão do câmbio para evitar a concorrência predatória das importações. Mas tem efeito limitado. Voce aperta os controles aqui, mas o dólar está derretendo lá fora. Está derretendo sob o peso da recessão e do imobilismo político de quem deveria tomar as rédeas da situação. O Brasil não tem como impedir que o dólar derreta no sistema financeiro mundial.
CM—Isso foi diferente em 2008...
MCT—Em 2008 nós tivemos um efeito oposto; capitais em fuga migraram de várias partes do mundo, de filiais de bancos e multinacionais, para socorrer a quebra das matrizes na Europa e nos EUA. Então o que houve ali foi uma desvalorização cambial; o Real ficou mais fraco. Isso facilitou as coisas pelo lado das exportações e da contenção de importações, ainda que quase tenha levado à breca aqueles que especulavam contra a moeda brasileira, fazendo hedge fictício para ganhar na desvalorização. Mas do ponto de vista macroeconômico foi um quadro mais favorável. Hoje é o inverso.
CM - As reservas atuais, da ordem de US$ 340 bilhões são um alento?
MCT—Também há diferenças desfavoráveis nas contas externas. As reservas hoje são basicamente formadas pela conta de capitais; não tanto pelo superávit comercial, como era então. Significa que hoje são a contrapartida de algo fluido, capitais que não sabemos exatamente se representam investimento produtivo, de mais longo curso, ou especulação capaz de escapar abruptamente. Sobretudo, tenho receio porque uma parte considerável desse ingresso é dívida privada. Com a anomalia dos juros, os maiores do mundo – a nossa herança maldita - e a oferta barata e abundante de dinheiro lá fora, nossas empresas se endividaram a rodo. Se houver uma reversão do ciclo, se o dólar se valorizar, o descasamento entre um passivo em dólar e receitas em reais, no caso de quem não exporta, ou exporta pouco, será traumático. Essa contabilidade hoje por certo é mais grave do que o passivo em hedge que quase quebrou grandes grupos brasileiros em 2008.
CM - Então a margem de manobra do governo Dilma é menor?
MCT - (suspira) Estávamos melhor antes. E muito do que fizemos então não dá para fazer agora...
CM—Mas o governo pode...
MCT— O governo Dilma poderá agir de forma distinta e contundente se a crise virar o Rubicão; aí tudo é lícito e possível. 
CM - Por exemplo?
MCT - Por exemplo centralizar o câmbio; controlar importações, remessas etc.
CM— E enquanto isso não ocorre?
MCT - Mas enquanto se arrasta assim, uma crise enrustida, que vai minando, desagregando, sem ser confrontada, fica difícil. Você toma medidas pontuais que se dissolvem. 
CM - Há uma superposição de colapso do neoliberalismo com esfarelamento político que realimenta e reproduz o processo?
MCT - Veja, é um colapso empírico da agenda do neoliberalismo. Avulta que a coisa é um desastre e os meus colegas economistas dessa cepa, espero, devem estar conscientes disso. Mas que poder tem os economistas? Nenhum. O poder que conta está nas em outras mãos, a dos responsáveis pela crise. Vivemos um colapso neoliberal sob o tacão dos ultra-neoliberais. Não estamos falando de gente normal, é preciso entender isso. Não são neoliberais comuns. Meu Deus, o que é isso que estão fazendo nos EUA? É a treva! Vivemos um colapso do neoliberalismo sob o tacão dos ultra-neoliberais: isso é a treva! E ela se espalha desagregando, corroendo. 
CM—Devemos nos preparar para uma crise longa?
MCT—Sem dúvida. Por conta dessa dimensão autofágica que não enseja um desdobramento político à altura, que inaugure um novo ciclo, como foi com Roosevelt e o New Deal em 29. 
CM—As bases sociais do New Deal não existem mais nos EUA?
MCT - Não existem mais. Obama é o reflexo disso. É uma liderança intrinsecamente frouxa. Não tem a impulsão trabalhista e progressista que sustentou o New Deal. É frouxo. Seu eleitorado é difuso ah, ótimo, ele se comunica com os eleitores pelo twitter, etc. E aí? É uma força difusa, desorganizada, estruturalmente à margem do poder. Está fora do poder efetivo no Congresso que é da direita, dos ricos, dos grandes bancos e grandes corporações, como vimos agora no desenho do pacote fiscal. Está fora da indústria também que foi para a China. Esse limbo estrutural é o Obama. Ele pode até ser reeleito, tomara que seja. A alternativa é amedrontadora. Mas isso não mudará a sua natureza frouxa.
CM— Se não existe o componente político que assemelhe essa crise a de 1929, então o que é isso, essa’ treva’ que estamos vivendo?
MCT— (ri) Uma treva é uma treva... O que passamos agora é distinto de tudo o que se viu em 29...Todavia não menos grave e talvez mais angustiante. É um colapso enrustido, como eu disse. Arrastado, latejante, sob o tacão de forças como essas dos ultra-neoliberais. Tampouco é um fascismo explícito, porém, como se viu na Europa, em 30. Até porque o nazismo, por exemplo, e isso não abona em nada aquela catástrofe genocida, postulava o crescimento com forte indução estatal. O que se tem hoje é o horror; um vazio político de onde emergem essas criaturas dos EUA, e coisas assemelhadas na Europa. Será uma crise longa, penosa, desagregadora, mais próxima da Depressão do final do século XIX...
CM- O declínio de um império, como foi o declínio do poder da Inglaterra no final século XIX?
MCT—Sim, é um quadro mais próximo daquele. O poder inglês foi sendo contrastado por nações com industrialização mais moderna. Um arranjo com estrutura de integração superior entre a indústria e o capital financeiro e que aos poucos ultrapassaria a hegemonia inglesa. Foi uma quebra, uma inflexão entre o capitalismo concorrencial e o capitalismo monopolista. A Inglaterra que havia sido a ‘fábrica do mundo’ perdeu o posto para o agigantamento fabril americano e alemão. Isso se arrastou por décadas. Foi uma Depressão, a primeira Depressão que tivemos no capitalismo (durou de 1873 a 1918). Levou à Primeira Guerra, que resultou na Segunda... 
CM—Os EUA são a Inglaterra da nossa longa crise... E o novo hegemon?
MCT - As forças que se articularam na sociedade norte-americana, basicamente forças conservadoras, de um reacionarismo profundo, não em condições de produzir uma nova hegemonia propositiva. Claro, eles tem as armas de guerra. Não é pouco, como temos visto. Vão se impor assim por mais tempo. Mas daí não sai um novo hegemon. Vamos caminhar para um poder multilateral, negociado, sujeito a contrapesos que nos livrarão de coisas desse tipo, como a ascendência do Tea Party nos EUA. Uma minoria que irradia a treva para o mundo.
Fonte: Carta Maior | Economia, 05/08/2011

quarta-feira, maio 25, 2011

a academia está em dívida

“A DOUTRINA NEOLIBERAL ENJAULOU A ECONOMIA POLÍTICA”


A doutrina neoliberal enjaulou o livre pensamento da política econômica através do estudo criptografado de uma pretensa ciência exata. Por detrás da enganosa bandeira do liberalismo, se pretende incorporar no programa uma matematização derivada de abstrações que funcionam sob supostas simplificações da realidade. A academia está em dívida. Não apenas por não ter feito uma autocrítica, mas também porque avança no objetivo de formar economistas que não serão capazes de perceber as relações de poder.

Na contramão do processo de recuperação da soberania nacional, iniciado após a grande crise da conversibilidade, a proposta de reforma no currículo de estudos da carreira de Licenciatura em Economia da Universidade Nacional de La Plata representa uma anacrônica tentativa de aprofundar nichos ao anti-desenvolvimentismo. 
Por detrás da enganosa bandeira do liberalismo, se pretende incorporar no programa rigorosa matematização derivada de abstrações que funcionam sob supostas simplificações da realidade. Desse modo, os propulsores da reforma buscam retirar da disciplina boa parte do conteúdo social, político e histórico e os principais instrumentos metodológicos para o desenvolvimento de pesquisas.
A estratégia para encobrir as mudanças consiste em agregar um sistema de disciplinas optativas. De um total de quinze matérias sob essa nova modalidade, os alunos devem escolher dez para cumprir o programa. No entanto, das quinze matérias propostas como não obrigatórias, treze são de conteúdos sociais, ficando apenas quatro dessas sob o regime obrigatório de um total de vinte e duas matérias. Além disso, o plano do novo curso pretende continuar orientando as habilidades dos alunos para o desenvolvimento de projetos de lucro privado de caráter individual, apesar dessa fórmula ter alimentado a decadência da economia nacional.
As políticas econômicas neoliberais, caracterizadas pelas regras de mercado como orientadoras do funcionamento da sociedade se impuseram no país a partir do terrorismo de Estado em meados dos anos setenta. A estratégia foi ampla, renomearam a economia política como ciência econômica e passaram a influenciar a imprensa, a cultura e a administração pública. Essas áreas foram complementares para cumprir o objetivo de desintegrar a indústria, romper com a organização operária, despolitizar a sociedade, exacerbar o consumismo promover o individualismo, controlar os recursos nacionais e desprestigiar o papel do Estado.
O surpreendente do poder anti-desenvolvimentista foi tanto o ocultamento das relações de força como também a permanência de sua legitimidade, apesar de sua ineficácia em responder a favor dos interesses nacionais nas crises. O paradigma neoliberal não foi capaz de oferecer explicações consistentes e propostas de mudança que não agravassem a crescente depressão e desigualdade social.
Na última fase da crise sobreveio o Plano Félix que se constituiu no primeiro espaço acadêmico que sem abandonar a lógica capitalista, se tratou de um plano – publicado em dezembro de 2011 – de recuperação da economia, afastando-se da ortodoxia. 
A consolidação do neoliberalismo se conseguiu, principalmente, através do êxtase diante dos centros do poder mundial, de uma academia dominante e vazia de nacionalismo. Ela desacreditou a todos aqueles que a enfrentaram. A sua lógica discriminatória foi se fortalecendo através de prêmios (bolsas, subsídios e estágios) que as universidades das nações mais desenvolvidas deram aos graduados com melhores notas dos países periféricos.
As inconsistências do modelo de estudo neoliberal fracassaram também no resto do mundo. A crise internacional atual e os enormes custos sociais são uma clara amostra da incapacidade da teoria neoliberal em prevenir as crises e projetar políticas que as resolvam. De fato, hoje, até no mundo desenvolvido essas questões estão sendo colocadas. Por isso tudo, o plano de estudos proposto revela uma grande desatualização por aqueles que o propõe. 
Lamentavelmente os conteúdos debatidos na universidade platense, agravarão a desumanização do estudo da disciplina. A doutrina neoliberal enjaulou o livre pensamento da política econômica através do estudo criptografado de uma prentesa ciência dura. A academia está em dívida. Não apenas por não ter feito uma autocrítica, mas também porque avança no objetivo de formar economistas que não serão capazes de perceber as relações de poder. 
Se pensarmos bem, veremos que não desenvolverão condições de cumprir o seu principal dever profissional: realizar pesquisas sobre os problemas existentes e planejar políticas que permitam alterar as relações de força para gerar mudanças estruturais de promoção do desenvolvimento.
Tradução: Cepat
Artigo publicado originalmente em português no IHU/Unisinos
(*) Mariano Kestelboim é economista e diretor da Fundação Pro Tejer.
Fonte: Carta Maior | Economia, 24/05/2011

sexta-feira, dezembro 24, 2010

uma ditadura anacrônica nos ameaça

As previsões de fim de ano e o futuro da internet

As previsões de fim de ano, por serem as cartomantes e profetas mais afeitos aos sortilégios do que à tecnologia, talvez devessem incluir um ou outro palpite quanto ao futuro da internet. O Departamento de Estado americano acaba de decretar a proibição de qualquer funcionário ou candidato a cargos no governo, de ler os documentos do WikiLeaks. É uma determinação que supõe a espionagem ou, máxime, um levantamento acurado dos subentendidos em qualquer texto para concursos a cargos públicos. Como ficará a questão da censura, e a liberdade de expressão deveria preocupar os defensores dos direitos civis, não apenas os quase todos que consideramos os EUA "a maior democracia do mundo".
Eric Hobsbawm, historiador inglês ainda vivo, logo que o neoliberalismo se impôs ao Ocidente como uma das consequências do fim do socialismo na URSS, augurou que os direitos trabalhistas estariam com seus dias contados. Não exagerou muito, já que todas as soluções para as crises na Europa e na Ásia estão a supor a diminuição dos salários e a "flexibilização das leis trabalhistas". Ademais, a censura não parece estranha nem mesmo a instituições de arte, como a Bienal de São Paulo. Por razões que o bom senso não nega, mas que a democracia não aceita, na feira de artes mais libertária que existe no País, uma moça que no ano retrasado pichou uma parede vazia da Bienal, pegou três meses de cadeia. Fica claro que o poder do mundo já não vê a democracia como um valor permanente ou absoluto. Há ameaças bem mais que previsíveis, a espreitar as diferenças.
Mas qual a importância da internet? Talvez na aparente liberdade que ela concede a quem quer que tenha um computador e a acesse. E que, em teoria, pode ter à mão todo o mundo do saber - da história, aos mais requintados cálculos matemáticos, além das informações sobre as fofocas entre diplomatas do mundo - incluindo-se os dos EUA. As previsões de fim de ano deveriam, por isso, incluir uma pitonisa da informática: ela nos contaria de que forma os filmes de ficção que previram um governo mundial a ditar o que podemos ou não ler, ou acreditar - se realizarão num contexto de controle virtual, da internet. 
Desde os tempos imemoriais, sempre houve a resistência do poder à democratização da informação. Uma das teorias mais alucinadas, e que ainda ocupa alguns especialistas ociosos, é a de que Mozart foi assassinado por conta de segredos maçônicos que ele teria deixado transparecer na sua ópera "A Flauta Mágica". A peça, de fato, tem a ver com alguns ritos maçônicos aos quais o músico tinha acesso por ser membro da tal sociedade secreta. Mas se quase ninguém, de sã consciência, leva a sério tal possibilidade. A Igreja Católica, por sua vez, jamais discutiu que seu "Index Librorum Proihibitorum" (índice dos livros proibidos) deveu-se à invenção da imprensa por Guttenberg.
Na medida em que a alfabetização se tornasse universal, censurar livros ou proibi-los aos católicos, seria a única maneira de manter intacta a visão vaticana do mundo. É infindável o número de livros que há séculos fazem uma das mais interessantes bibliotecas de quantas existem em qualquer país. É a que o Vaticano recolheu por séculos a fio, e que derrisoriamente recebia a denominação de "inferno" pelo próprio clero. Eram livros considerados heréticos, facultados apenas a teólogos e exegetas altamente confiáveis. Dela, entre milhares de livros constavam (e ainda constam, já que não se sabe que tenha sido desmobilizada) o indefectível "O Príncipe", de Maquiavel, mas também algumas obras-primas da literatura como a "Utopia" de Thomas Morus. Apesar de canonizado, o Vaticano nunca perdoou ao intelectual inglês, morto por Henrique VIII, ter inventado uma sociedade ideal sem a propriedade privada, destituída da luta de classes, e onde o coletivo se sobrepunha aos interesses individuais.
Pode-se discutir as razões da Igreja - e ela as têm além da censura - mas o fundamental era o acesso irrestrito aos livros: eles revelavam, por exemplo, como na "Religiosa", de Diderot, que os conventos não eram só rezas, ou auto-flagelação. Podiam, inclusive, eventualmente, ser depositários de moças para o deleite de reis e nobres, como foram, em certa época, principalmente para a aristocracia de Portugal. Não se deu por um descuido, enfim, que um católico fervoroso como o ex-ditador português Antônio de Oliveira Salazar defendesse o analfabetismo quase como programa de governo: os livros, no fundo, não ensinariam nada de útil aos cidadãos de seu país. Entre a difusão do pecado pelos livros, e a salvação da alma pela ignorância, o grande defensor do catolicismo preferia interditar a seus compatriotas "Os Maias", de Eça de Queirós, "Eurico, o Presbítero", de Alexandre Herculano, mas também "Os Lusíadas", de Camões.
No caso da Internet, pouco a conjeturar. No próximo ano, todo o aparato do poder, que inclui parte da grande imprensa - principalmente essa - terá certamente de se ver, mais que nunca, com a amplidão ilimitada da internet. Há que se prever o que será o futuro também aqui. Ao que tudo indica, o WiliLeaks, é apenas um começo de conversa. Por outro lado, a bola de cristal, ou o Anjo anunciador que levou a Igreja a inventar seu "Index", muito provavelmente não se revelará a qualquer visionário - ou cartomante, mais eficiente do que, as que animaram Anthony Burgess e Stanley Kubrik, a fazerem previsões apocalípticas como as revelados no filme "Laranja Mecânica". Na obra, a suposição da sociedade repressiva não se faz no mundo russo, ou chinês - o que confirmaria o "Império do Mal", de Ronald Reagan,- mas naquele falado em inglês, num meio ambiente prá lá de conhecido, de inequívoca extração cultural do Ocidente, nada estranho, em suma, aos Papai Noéis, aos Beethovens ou à Coca-Cola.
O previsível mundo novo, seria a reedição dos piores pesadelos do fascismo ou do estalinismo, mas não num contexto de filmes e romances de tipo "noir" como nos legaram os grandes cineastas do passado - Fritz Lang, ou Charles Chaplin, para só citar alguns. Ou escritores como Kafka e Orwell para, de novo, só mencionar uns poucos. Naqueles e nesses, o mundo é preto e branco; no mundo virtual nunca deixará de ser uma bela paisagem - até quando pode ser colorida - só que nos limites de uma tela de computador. O sociólogo Francisco de Oliveira, ao discutir a inevitável crise do capitalismo, lembrou, há anos, que o filósofo Theodor W. Adorno, previa o ressurgimento do fascismo exatamente nos Estados Unidos, não em outro país qualquer. 
Claro que tais assuntos não são matéria para pitonisas ou astrólogos de fim de ano - mas talvez interesse saber a forma com que o poder tratará a internet e a sua liberdade sem peias. A fogueira física dos livros - a cena famosa do "Dom Quixote", tão bem descrita no livro, quando o cura e o barbeiro queimam as obras que teriam enlouquecido o Cavaleiro da Triste Figura - é apenas um episódio exemplar do passado. Na Europa de Cervantes era corrente que os livros podiam abalar corações e mentes, o que não deixa de ser verdade ainda hoje. Santo Inácio de Loyola, criador da Companhia de Jesus, teria se convertido depois de ler "A Imitação de Cristo", de Tomas de Kempis - mas as tribos nômades e das cidades do Oriente Médio, que se juntaram ao Profeta, na formação do primeiro Império Islâmico, só o fizeram, no eco dos conceitos reunidos no Alcorão. 
Os militares de 64 no Brasil, palmilharam, sem escrúpulos, a esteira da Idade Média, e da Inquisição, ao proibirem jornais e livros (e filmes, e novelas, e peças de teatro e músicas) durante a ditadura. Como justificou um dos ministros militares da época, o ainda vivo Jarbas Passarinho, se os comunistas proibiam livros - por que não imitá-los, vetando-os também do lado de cá do mundo? Era a lógica da oposição de uma ditadura à outra, exatamente dentro da mesma dinâmica de interditos e de violências. Na era da internet isso, evidentemente, não é mais possível. Difícil para um regime medievalesco evitar o que não seja concreto, visível, ao alcance das mãos de um esbirro qualquer. 
No entanto, não só nas ditaduras, há também sempre o invisível da ficção de terror. Mesmo nos filmes e livros infantis, como "O Mágico de Oz" e "Alice no País das Maravilhas", os personagens são movidos por forças incorpóreas: conduzem-se como as Parcas da antiguidade helênica; elas tecem as existências inclusive dos deuses e nada as determina senão o Destino inexorável e inadivinhado - que, aliás, não valia só para os homens, senão também para as divindades. A internet, certamente, é também incorpórea, e num aspecto assemelha-se às parcas: em seu indeterminismo, ela traça destinos, denuncia crimes e encobre outros. Sob qualquer aspecto, porém, ela é a antítese do sistema de poder, da determinação ou do que ficou conhecido como "administração das vidas". 
Seu terreno invisível constitui-se, até agora, numa espécie de terra da liberdade, do "laissez-faire". Talvez a conclusão seja precipitada, mas é a primeira vez na história em que, uma vez ultrapassada a cultura oral - o retorno à oralidade pode-se fazer sem os ouvidos das paredes. Pelo menos é essa, por enquanto, a regra do jogo. 
Até quando?
Não para sempre, de certo. A invisibilidade da internet não é o mesmo que a opacidade do poder invisível. Esse talvez tenha como controlar as ingerências que ele próprio, o poder, nunca imaginou, embora o tenha gerado. Será, quem sabe, e - por enquanto - uma batalha virtual, mas a detenção física do dirigente do WikiLeaks, se não destrói sistemas, pode ser o mote para o seu controle. A China tem realizado ensaios aproveitáveis para quem quer que imagine uma internet devidamente domada - exequível, portanto, somente para os bem comportados. 
As previsões catastróficas talvez não requeiram pitonisas ou cartomantes - mas inventores, ficcionistas. Eles preverão que os sonhos do poder são inextinguíveis. E imprevisíveis. Nenhum marxista sincero calculava que a revolução bolchevique desse no estalinismo. Jacques-Louis Davi (748-1825), o grande pintor de Napoleão, ferrenho defensor da Revolução de 1789 na França, sonhava com que a democracia sobreviria ao Império napoleônico; morreu na Bélgica, exilado, a assistir o retorno dos Bourbons na França. 
As pitonisas e cartomantes são muito boas, parece, para preverem destinos individuais - não lêem nos astros ou nas cartas os caminhos da história. As tentativas de domar a internet são claramente uma tentativa de mudança na história. O lugar-comum de que a democracia é uma luta diária - talvez canse, mas não parece ter outro jeito de mantê-la. 
Guimarães Rosa dizia sofrer horrores à vista de um novo livro que começava a despontar em seu cérebro. É o que parece ficar ao fim de cada ano para os que sabem o que é uma ditadura anacrônica; a virtual que nos ameaça no futuro deve ser bem pior.
* Enio Squeff é artista plástico e jornalista.
Fonte: Carta Maior, 22/12/2010

quarta-feira, novembro 24, 2010

a verdadeira base da “reconstrução”

NEOLIBERALISMO GERA DESEMPREGO E PUNE OS DESEMPREGADOS

por Andre Damon
   A taxa oficial de desemprego nos EUA atingiu 10,2% em outubro, de acordo com o relatório apresentado na sexta-feira, dia 6, pelo Departamento do Trabalho do país. Trata-se da segunda vez apenas, desde a II Guerra Mundial, em que a taxa atinge dois dígitos. Trata-se, assim, do mais alto índice desde 1983.
    Os últimos relatórios evidenciam a verdadeira base da “reconstrução” clamada pelo governo Obama: aumento do desemprego, aliado ao aumento da intensidade de trabalho e ao corte nos salários. O relatório sobre o desemprego foi divulgado apenas um dia após aquele que relatava um aumento na intensidade de trabalho, numa jornada representada em menos dinheiro.
    A taxa de desemprego, medida com base numa pesquisa familiar, aumentou 0,4% em outubro, muito mais do que esperavam os economistas.
Como um todo, foram perdidos 190.000 empregos, acima dos 175.000 previstos pelos economistas. Como um todo, a pesquisa familiar realizada — incluindo aqueles que trabalham para si próprios e pequenos comerciantes — obteve um número muito maior de empregos cortados: 558.000.
    Cerca de 61.000 empregos na manufatura foram perdidos no mês, elevando o número total perdido no setor desde dezembro de 2007 para 2,1 milhões. Já no varejo o número de empregos cortados no mês foi de 40.000. O setor de serviço, como um todo, cortou 61.000 empregos.
    A taxa de desemprego no Canadá aumentou 0,2% em outubro, para 8,6%. O país perdeu 43.000 empregos no último mês, em contraste com a adição de 10.000 empregos prevista pelos economistas. Cerca de 400.000 empregos foram eliminados no país desde outubro de 2008.
    Desde o início da recessão, 8,2 milhões de empregos foram destruídos nos EUA, elevando o número de pessoas desempregadas no país para 15,7 milhões, significativamente maior que a população de Cuba, da Grécia ou da Suécia. Dentro desse quadro, cerca de 5,6 milhões, ou 35,6%, estão desempregados há 27 semanas ou mais.
    A taxa de desemprego mais ampla, que inclui aqueles que já deixaram de procurar emprego e aqueles que trabalham apenas meio-período involuntariamente, atinge números ainda mais alarmantes: 17,5% da população. Trata-se do maior número já registrado na história e cerca de 0,5% a mais que o de setembro. O número de pessoas que gostaria de ter um emprego de período integral, mas não pode, somados àqueles que tiveram as horas cortadas pela metade, atinge 9,3 milhões.
    Diante disso, os economistas revisaram para cima sua estimativa da taxa de desemprego para o próximo ano, com muitos deles prevendo algo além dos 11%. Tal número representaria a mais alta taxa desde a II Guerra Mundial.
    A última vez que a taxa ultrapassou os 10% foi durante a recessão de 1982-83, quando atingiu 10,8%. As condições para os trabalhadores, hoje, entretanto, estão muito piores que aquelas da década de 80. Nas três décadas que se passaram, avançou uma consciente campanha pela flexibilização dos direitos trabalhistas, que representou-se não apenas em cortes de empregos, como também em corte de tempo de trabalho e imposição de trabalhos mais intensos.
    Tudo isso se expressou no relatório divulgado na quinta-feira pelo Departamento do Trabalho dos EUA, que divulgou um aumento de 9,5% na produtividade do trabalho, em comparação com o último semestre do ano passado. A produtividade é calculada de acordo com o produzido durante determinado período trabalhado. Nos últimos seis meses, a produtividade aumentou no maior nível desde 1961.
     O aumento da produtividade choca-se com o fato de que os trabalhadores têm de fazer mais por menos. Muitas empresas cortam parte de sua força de trabalho e forçam aqueles trabalhadores que ficaram a trabalhar por seus companheiros demitidos.
    A resposta de Obama aos dados divulgados na sexta-feira era uma mistura de indiferença e ideias paliativas. Numa declaração na Casa Branca, afirmou: “Mesmo que isso nos tome tempo e paciência, sou confiante na recuperação da economia. Tenho confiança de que estamos no caminho certo”.
    Em seguida, Obama defendeu que as medidas de “estímulo” injetadas por seu governo “salvaram e criaram” milhões de empregos. Tal idéia baseou-se em dados altamente inflados a respeito dos empregos que seriam cortados caso não tivessem agido. Na verdade, o número de pessoas diretamente empregadas graças às medidas de Obama é insignificante.
    Em seguida, Obama anunciou a extensão do plano de benefícios aos desempregados em 20 semanas para alguns estados do país. O presidente norte-americano informou que a lei assinada por ele aumentará os benefícios existentes para mais de 700.000 pessoas. O salário-desemprego chegará a US$ 300, podendo ser estendido para até 33 semanas.
A lei também inclui um aumento da taxa de crédito para aqueles que comprarem casas. Tais programas buscam aliviar o processo, mas de forma alguma, apontam um caminho para superação da crise.
      Buscando diminuir os comentários de que seu governos está ampliando demais os gastos federais, Obama declarou que as lei que estende os benefícios aos desempregados era “neutra” do ponto de vista dos gastos do Estado. “A lei que assinei não acarretará em nossos gastos. Trata-se de algo muito pequeno e, nesse sentido, responsável do ponto de vista fiscal”, afirmou.
    O foco no corte dos gastos federais, tema repetido por muitos representantes do governo nas últimas duas semanas, surgiu após os cofres do governo serem abertos ao setor financeiro. O aumento dos lucros e dos bônus aos maiores bancos serão pagos via corte nos gastos sociais.
    Obama indicou que seu governo busca medidas adicionais, focadas em cortes fiscais para corporações, supostamente para gerar empregos. Com isso, o governo rejeitaria novos pacotes de estímulo.
    Alan Krueger, economista-chefe do Departamento do Tesouro, disse a jornalistas que não existem planos seguros sendo planejados. “Não posso falar sobre o que está sendo considerado, nem mesmo se o que está sendo considerado acontecerá”, afirmou ele.
    A esse respeito, Obama ainda defendeu “uma agenda agressiva para promover as exportações e ajudar os negócios americanos no resto do mundo”. Tal declaração refere-se a um componente chave da estratégia americana para diminuir seus gastos fiscais: a desvalorização do dólar para aumentar as exportações e diminuir importações.
    A realidade por trás de tal proposta, no entanto, é o ataque aos salários, base da competição em todo o mundo por mão-de-obra. Os salários nos EUA caíram neste ano para um nível recorde e continuará caindo.
    O próprio governo desferiu esse ataque com o processo de bancarrota da General Motors e da Chrysler no começo deste ano, vinculado ao rebaixamento dos padrões de vida da classe operária.
    No começo desta semana, Obama declarou, num encontro do Conselho de Recuperação Econômica, que gostaria de “criar algo para que os investimentos fossem alavancados”. A única forma de fazer isso, para ele, no entanto, se dá através da permanente redução dos salários e pelo aumento da produtividade dos trabalhadores americanos.
    Para Obama e o setor da burguesia que representa, altos índices de desempregos não são indesejáveis — pelo contrário, são absolutamente necessários.
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(*) Artigo originalmente publicado no World Socialist Web Site, 10-11
Fonte: Carta Maior, 18/11/2010

segunda-feira, novembro 22, 2010

a ‘agenda das reformas’

Amnésia neoliberal: como o Tigre Celta virou um Haiti financeiro

Nos anos 80 e 90, a palavra ‘Irlanda’ era pronunciada com a reverência reservada aos quitutes finos nos banquetes neoliberais. O ‘ajuste irlandês’, iguaria produzida a partir de uma receita de cortes brutais nos gastos públicos, demissão em massa de funcionalismo e isenções maciças de impostos, era vendido nas praças de alimentação do mundo pobre como o cardápio da hora. A Irlanda era por assim dizer a garota do quarteirão do Consenso de Washington. Ombrear-se a ela era possível, mas exigiria uma aplicação de ferro, explicava-nos os ventríloquos nativos que agora demonstram súbita amnésia em relação ao passado, destaque, é a bola da vez da derrocada européia. Recapitulemos então:
1. Em meados dos anos 80, a Irlanda adotou um ‘padrão perene’ de ajuste fiscal, cercado de salvas & vivas da ortodoxia mundial;
2. Um serviço a la cart foi providenciado na cozinha irlandesa para atender a freguesia do mercado: a anistia tributária veio junto com cortes de despesas e redução dos investimentos públicos em 1987;
3. 14 mil funcionários públicos foram demitidos ou aderiram a programas de demissão voluntária (isso numa população de 4 milhões de pessoas);
4. O ajuste iniciado em 87 veio para ficar. Até meados dos anos 2000, a Irlanda manteve-se fiel à santíssima trindade neoliberal: controle dos gastos públicos, teto no reajuste dos salários públicos [taxa máxima de 2,5% ao ano entre 1988 e 1990] e incentivos 'amigáveis' aos mercados [leia-se, desonerações e vale-tudo];
5. O arrocho fiscal produziu, naturalmente, uma redução substantiva da dívida interna derrubando a despesa com juros de modo a obter um permanente superávit nominal [outro mantra dos neoliberais];
6. A supremacia dos mercados desregulados cavava, porém, vertedouros subterrâneos que corroíam as bases econômicas do país. O foguetório de superfície permanecia: ‘o Tigre Celta’ crescia a taxas chinesas com macroeconomia de paraíso fiscal (nenhuma empresa pagava imposto acima de 12,5%). Quer coisa melhor que isso? Era o prato da hora. Resquícios dessa receita, agora indigesta, ainda frequentam a agenda do grupo pró-mercados que participa da equipe de transição da presidente-eleita Dilma Rousseff;
7. O desfecho irlandês recomendaria maior prudência na transposição de seus fundamentos aos ares tropicais. Os números indicam que o banquete redundou em um atordoante desarranjo gastrointestinal que transformou o ‘Tigre Celta’ numa espécie de Haiti financeiro. A saber:
a) A economia irlandesa degringola desde a explosão da bolha financeira em 2008: de lá para cá o país acumula uma queda de apreciáveis 11,6% do PIB, taxa que o coloca algumas cabeças à frente do que se poderia chamar de recessão. Depressão talvez seja um termo mais apropriado para a convalescença de sangue, suor e lágrimas que pode durar até 15 anos;
b) A Irlanda quebrou quando os fluxos de capitais deixaram de alimentar a ciranda doméstica ancorada em desonerações atraentes aos fundos especulativos, cuja maior obra foi a bolha a imobiliária, agora em estado terminal; 
c) A ex-queridinha dos mercados desregulados atingiu um déficit fiscal 12% do PIB este ano e terá que reduzi-lo a 4% até 2014. O nome disso é arrocho;
d) Os preços dos imóveis já perderam 50% do valor; a inadimplência grassa junto com o desemprego, a fuga de capitais e o arrocho salarial. Há milhares de imóveis vazios e os bancos estão virtualmente falidos: para salvá-los, o país negocia um empréstimo de 100 bilhões de euros com o FMI, sujeito às condicionalidades conhecidas;
e) O que a frivolidade midiática esquece, porém, é que o ‘Tigre Celta’ quebrou, sobretudo, porque não dispunha mais de políticas públicas, de aparato público, de fôlego fiscal e, sobretudo, de ideologia do interesse público para contrastar a derrocada dos mercados especulativos com medidas anticíclicas em defesa do emprego e da sociedade. 
f) O ajuste irlandês’ cantado em prosa e verso pelos bardos da mídia nativa havia reduzido o país à mera extensão dos mercados. Sem contrapesos institucionais soberanos, perdera a capacidade de reagir aos instintos suicidas aflorados em seu próprio metabolismo. A crise estava na essência da Irlanda e a Irlanda se transformou na essência da crise. Que sirva de alerta aos discípulos da ‘agenda das reformas’ que participam ativamente da equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff. 

Fonte: Carta Maior | Blog das Frases, 18/11/2010 postado por Saul Leblon.

quinta-feira, outubro 21, 2010

às portas de uma "guerra cambial"

Como e porque estamos numa guerra mundial de moedas
Tal como aconteceu nos anos 30, a maioria dos países está a desvalorizar a sua moeda para obter vantagens nas exportações
por Marco António Moreno
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Aos casos do Japão, do Brasil e da Coreia, juntam-se o Peru, a Tailândia e a Malásia, que começaram a desvalorizar as moedas em actos que nada mais são que proteccionismo camuflado. Isto é aquilo a que se chama guerra mundial de moedas, que, ainda que o FMI o negue, esta completamente presente. E qual é a origem de tudo isto?
Durante décadas, os países adoptaram as desvalorizações como uma saída das crises internas. Ao desvalorizarem as suas moedas, faziam com que os seus produtos ficassem mais competitivos ante o resto do mundo e com isso podiam garantir a continuação das suas fábricas. Esta foi a conduta propagada pelo próprio FMI por ordens de Washington, porque, face a uma moeda débil, o dólar adquiria grande poder e podia comprar empresas e indústrias a valores muito convenientes, às vezes irrisórios. É um procedimento que foi aplicado nos anos 70 e 80 na Ásia e na América Latina e que funcionou em casos isolados, mas que sempre empobreceu os países que a adoptavam.
Agora esta receita á aplicada em grande escala e em simultâneo, o que evidentemente não terá nenhum efeito significativo. Só o facto de empobrecer mais o ocidente, porque esta guerra comercial é produto da debilidade da procura. E foi o alto desemprego global que debilitou o consumo e por isso os países vendem menos e as fábricas fecham. E aumenta mais o desemprego. Este círculo vicioso não só deixa em perigo a competitividade dos países, mas também a sua estabilidade social. Não há duvida de que as mobilizações irão aumentar. Mais ainda depois da OIT ter sublinhado que os níveis de emprego que se verificavam antes da crise não se recuperarão até 2015.
Com este desemprego alto, os países desenvolvidos estão a sofrer uma procura altamente deficiente. Nenhuma das seis maiores economias de altos rendimentos (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália) voltou a recuperar o nível económico que tinha há três anos. A actividade destes países está até cerca de 10% abaixo da sua tendência passada. E o indício deste forte decréscimo advém do excesso de oferta. Por último, pesa o incremento nas ultimas semanas do preço do petróleo e dos alimentos básicos.
A perda de milhões de empregos desde 2008 está fortemente relacionada com o colapso da indústria da construção, que ficou paralisada nas principais economias. Mais de dois milhões de habitações nos EUA não têm comprador e, em Espanha, o stock de habitações que não são vendidas supera o milhão, apesar da queda no preço. O negócio das empresas imobiliárias acabou e demorará muitos anos até se voltar a recompor.
Parte do problema está relacionado com a origem da crise financeira na qual o poder foi transferido para uma moeda fiduciária que não tem qualquer suporte real. A honestidade do sistema diluiu-se e propagou-se a ganância e a fraude. O capitalismo real exige uma moeda forte na qual se possa confiar. Mas esta desapareceu há quase quarenta anos e, desde aí, todas as moedas se têm manipulado sem que haja qualquer vestígio de riqueza real.
Desde as guerras napoleónicas até às guerras mundiais do século XX, o sistema financeiro esteve suportado pelo ouro. Nessa altura não se podia desvalorizar nem manipular as moedas. Ninguém podia ser mais competitivo sem motivo aparente ou sequer enriquecer mais além dos limites. Tudo era como era. Com o sistema iniciado por Richard Nixon em 1971, a oferta de dinheiro pode aumentar muito mais depressa que os bens e serviços reais, dando alento à corrupção e aos especuladores. Assim, se nos anos 60 os trabalhadores (90% da população) obtinham 60% dos rendimentos da época, em 2007 obtinham somente 11%. Foi isto que deu lugar à maior desigualdade nos rendimentos da história.
Grande parte de tudo isto deve-se às políticas monetárias dos bancos centrais, que, ao tomar em conta como única variável a inflação dos produtos básicos, descuidou a inflação dos bens de capital. Entretanto, a inflação aumentou 5 vezes em 40 anos, os índices da bolsa de valores aumentaram 20 vezes (de 750 a 15.000), fazendo crer que a economia estava a funcionar perfeitamente.
Oitenta anos depois da maior das crises financeiras de que há registo, voltamos a repetir uma história que se dava por superada. O ser humano é o único animal que tropeça na mesma pedra. Desta vez não só para reviver a crise, mas também para a aprofundar.
Artigo publicado em El Blog Salmón
Tradução de Ana Bárbara Pedrosa para esquerda.net
Marco Antonio Moreno é um economista chileno, que edita o blogue Jaque al neoliberalismo
Fonte: Esquerda (http://www.esquerda.net), 18/10/2010

sexta-feira, setembro 17, 2010

a natureza do espaço híbrido

Favelização das cidades
por Ari de Oliveira Zenha
"Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem."
Manuel Bandeira
 
O capitalismo tem transformado sistematicamente as cidades em mega cidades e mais ainda, em hipercidades com população superior a 20/30 milhões de habitantes.
O desenvolvimento urbano que o capitalismo impõe ao mundo desde o seu surgimento historicamente teve e tem como centro reprodutor e de atuação as cidades. É aí que o capital se instala como modo de produção. Os assentamentos urbanos têm evoluído urbanisticamente trazendo consigo grandes núcleos urbanos que vão, na medida em que crescem, transformando estes – núcleos urbanos – numa fusão e apropriação em seu entorno das regiões rurais. Já é comum andarmos quilômetros e quilômetros dentro deste complexo de imbricamento, não sabendo aonde termina a região urbana e começa a rural, é o que os urbanistas chamam de hibridação rural/urbana.
O que tem ocorrido mais intensamente desde o inicio da década de 1980 é que, as grandes cidades aonde se localizavam as chamadas cidades industriais, têm assistido ao desaparecimento maciço das fábricas tendo como resultado a desindustrialização destas, é a urbanização sem industrialização. Este processo dual e contraditório – crescente urbanização sem crescimento econômico e emprego – tem colocado para o mundo o crescimento desmesurado da favelização urbana.
Na cidade de São Paulo as favelas, em 1970, eram de 1,2% de sua população, passando em 1993 para 19,8%, crescimento vertiginoso e explosivo de uma média anual de 16,4% ao ano na década de 1990.
Este processo de desertificação industrial não é recente no modo de produção capitalista, já ocorreu na Inglaterra nos primórdios do capitalismo e ocorreu e ocorre até hoje em todo o mundo capitalista.
O aumento generalizado da favelização é gritante no mundo, é mais intenso nos países em desenvolvimento e nos países do Terceiro Mundo aonde o crescimento urbano vem ocorrendo de forma alarmante, descontrolada e miserabilista.
O capitalismo neoliberal concebido a partir de 1970 patrocinado pelo Consenso de Washington - 1989 - colocou a situação ainda mais grave e angustiante para a maioria da sua população, expandindo vertiginosamente as favelas e cortiços. Os favelados compõem 6,0 % da população urbana nos países desenvolvidos e chega a 78,2% nos países menos desenvolvidos.
Num levantamento realizado em 2003 pela UN-Habitat coloca o Brasil com 36,6% de sua população urbana vivendo em favelas e cortiços, representando quase 52 milhões de pessoas. A maior favela do mundo encontra-se no México com quatro milhões de habitantes. Na cidade do Rio de Janeiro 23 favelas encontram-se dentro desta e 77 são periféricas.
Na cidade de São Paulo a pesquisadora Suzana Taschner diz o seguinte: “(...) o governo do Partido dos Trabalhadores (PT), a partir de 1989, tentou regularizar e melhorar a ‘imensa cidade ilegal’ dos pobres. Embora as reformas do PT tenham produzido alguns resultados admiráveis, infelizmente, com as melhorias o submercado imobiliário se consolida na favela. Terrenos e casas tornam-se bens de consumo e o preço dispara”. Os resultados do empreendimento do PT foram os surgimentos da “favela dentro da favela”, onde surgem os cortiços, onde se alugam quartos aos mais pobres dentre os pobres, como diz Mike Davis.
Nas favelas da cidade do Rio de Janeiro, devido à falta de espaço urbano (terra), aparece a procura crescente por aluguel de cômodos. Segundo Suzana Taschner com a verticalização das favelas mais antigas surgem prédios de quatro a seis andares, em geral para serem alugados.  
Ao mercantilizar a terra urbana dos favelados, o sistema capitalista mundializado, de forma imperativa e implacável os considera como lixos humanos, pois para o capitalismo a existência do ser humano não passa de mais uma mercadoria a ser comercializada no grande mercado globalizado. 
Diante disso o primeiro e mais famoso empreendimento de condomínios fechados (arquitetura do medo) construído no Brasil chamado Alphaville é uma verdadeira cidade na periferia, “cercada e americanizada na grande São Paulo”. Segundo Mike Davis, citando a brasileira Teresa Caldeira, diz o seguinte: (...) “a segurança é um dos principais elementos da publicidade e obsessão de todos os envolvidos”. Na prática, isso tem significado justiça com as próprias mãos contra criminosos e vadios invasores, enquanto a juventude dourada da própria Alphaville pode fazer loucuras; um morador citado por Caldeira afirma: “(...) a lei existe para os mortais comuns, não para os moradores de Alphaville”.     
Outro exemplo está na cidade do Rio de Janeiro onde um condomínio fechado (vertical) encravado no bairro nobre da Barra da Tijuca é todo cercado por muros altos e cercas eletrificadas, ocupa bem dizer todo um quarteirão e seus proprietários vivem em uma verdadeira concha apartada do mundo real. Este condomínio tem campo de golfe, pista de Cooper, piscinas, restaurante, lojas de conveniência, heliporto, sauna, academia de ginástica, cercas eletrificadas, segurança 24 horas, garagem para quatro carros, na sua grande maioria importado e blindado.
Nos fins de semana o heliporto chega a ficar congestionado, pois helicópteros descem e sobem levando seus moradores para suas mansões cinematográficas em Angra dos Reis (RJ). Tudo é vigiado 24 horas por câmeras e seguranças. Só para ilustrar, quando se vai utilizar a parte de piscinas, restaurante, academias, etc., o trabalhador que controla a entrada nesses recintos, está vestido como um serviçal com roupas que fazem lembrar os serviçais da nobreza inglesa. As trabalhadoras que servem aos usuários das piscinas vestidas todas de branco dos pés à cabeça, estão impecáveis para os requisitos e deleite de luxo e limpeza de seus moradores burgueses e da alta classe media.
O servilismo dos trabalhadores destes condomínios é constrangedor, pois eles se colocam em uma posição de inferioridade, de submissão e de serventia aos desejos e caprichos de seus moradores, chegando com isso, às raias do absurdo a que um ser humano pode se sujeitar. Em várias mesas a língua falada é o inglês. Os salões de festa são todos com ar condicionado, ou seja, enquanto seus moradores fazem suas festas (durante o dia) a uma temperatura de 20 a 23 graus, do lado de fora a temperatura está próxima aos 40 graus. Mas, por ironia, a vista que se tem ao se alcançar os fundos desse condomínio é contrastante: ao longe, nas encostas, nos morros, está a maior favela do Rio de Janeiro e do Brasil, a favela da Rocinha, como querendo dizer: olhem, estamos aqui!
Ari de Oliveira Zenha é economista.
Fonte: Caros Amigos | Matéria, 15/09/2010.

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  • Nina
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