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quarta-feira, maio 25, 2011

a academia está em dívida

“A DOUTRINA NEOLIBERAL ENJAULOU A ECONOMIA POLÍTICA”


A doutrina neoliberal enjaulou o livre pensamento da política econômica através do estudo criptografado de uma pretensa ciência exata. Por detrás da enganosa bandeira do liberalismo, se pretende incorporar no programa uma matematização derivada de abstrações que funcionam sob supostas simplificações da realidade. A academia está em dívida. Não apenas por não ter feito uma autocrítica, mas também porque avança no objetivo de formar economistas que não serão capazes de perceber as relações de poder.

Na contramão do processo de recuperação da soberania nacional, iniciado após a grande crise da conversibilidade, a proposta de reforma no currículo de estudos da carreira de Licenciatura em Economia da Universidade Nacional de La Plata representa uma anacrônica tentativa de aprofundar nichos ao anti-desenvolvimentismo. 
Por detrás da enganosa bandeira do liberalismo, se pretende incorporar no programa rigorosa matematização derivada de abstrações que funcionam sob supostas simplificações da realidade. Desse modo, os propulsores da reforma buscam retirar da disciplina boa parte do conteúdo social, político e histórico e os principais instrumentos metodológicos para o desenvolvimento de pesquisas.
A estratégia para encobrir as mudanças consiste em agregar um sistema de disciplinas optativas. De um total de quinze matérias sob essa nova modalidade, os alunos devem escolher dez para cumprir o programa. No entanto, das quinze matérias propostas como não obrigatórias, treze são de conteúdos sociais, ficando apenas quatro dessas sob o regime obrigatório de um total de vinte e duas matérias. Além disso, o plano do novo curso pretende continuar orientando as habilidades dos alunos para o desenvolvimento de projetos de lucro privado de caráter individual, apesar dessa fórmula ter alimentado a decadência da economia nacional.
As políticas econômicas neoliberais, caracterizadas pelas regras de mercado como orientadoras do funcionamento da sociedade se impuseram no país a partir do terrorismo de Estado em meados dos anos setenta. A estratégia foi ampla, renomearam a economia política como ciência econômica e passaram a influenciar a imprensa, a cultura e a administração pública. Essas áreas foram complementares para cumprir o objetivo de desintegrar a indústria, romper com a organização operária, despolitizar a sociedade, exacerbar o consumismo promover o individualismo, controlar os recursos nacionais e desprestigiar o papel do Estado.
O surpreendente do poder anti-desenvolvimentista foi tanto o ocultamento das relações de força como também a permanência de sua legitimidade, apesar de sua ineficácia em responder a favor dos interesses nacionais nas crises. O paradigma neoliberal não foi capaz de oferecer explicações consistentes e propostas de mudança que não agravassem a crescente depressão e desigualdade social.
Na última fase da crise sobreveio o Plano Félix que se constituiu no primeiro espaço acadêmico que sem abandonar a lógica capitalista, se tratou de um plano – publicado em dezembro de 2011 – de recuperação da economia, afastando-se da ortodoxia. 
A consolidação do neoliberalismo se conseguiu, principalmente, através do êxtase diante dos centros do poder mundial, de uma academia dominante e vazia de nacionalismo. Ela desacreditou a todos aqueles que a enfrentaram. A sua lógica discriminatória foi se fortalecendo através de prêmios (bolsas, subsídios e estágios) que as universidades das nações mais desenvolvidas deram aos graduados com melhores notas dos países periféricos.
As inconsistências do modelo de estudo neoliberal fracassaram também no resto do mundo. A crise internacional atual e os enormes custos sociais são uma clara amostra da incapacidade da teoria neoliberal em prevenir as crises e projetar políticas que as resolvam. De fato, hoje, até no mundo desenvolvido essas questões estão sendo colocadas. Por isso tudo, o plano de estudos proposto revela uma grande desatualização por aqueles que o propõe. 
Lamentavelmente os conteúdos debatidos na universidade platense, agravarão a desumanização do estudo da disciplina. A doutrina neoliberal enjaulou o livre pensamento da política econômica através do estudo criptografado de uma prentesa ciência dura. A academia está em dívida. Não apenas por não ter feito uma autocrítica, mas também porque avança no objetivo de formar economistas que não serão capazes de perceber as relações de poder. 
Se pensarmos bem, veremos que não desenvolverão condições de cumprir o seu principal dever profissional: realizar pesquisas sobre os problemas existentes e planejar políticas que permitam alterar as relações de força para gerar mudanças estruturais de promoção do desenvolvimento.
Tradução: Cepat
Artigo publicado originalmente em português no IHU/Unisinos
(*) Mariano Kestelboim é economista e diretor da Fundação Pro Tejer.
Fonte: Carta Maior | Economia, 24/05/2011

segunda-feira, dezembro 20, 2010

o REDD é bom demais para ser verdade?

REDD: as realidades em branco e preto

Quando se trata de mudanças climáticas, o mecanismo de REDD é o assunto do momento. “Redução de Emissões por Desmatamento nos Países em Desenvolvimento” traz a perspectiva atraente de mitigação das mudanças climáticas, conservação da biodiversidade ameaçada e de trazer o tão necessário financiamento para o desenvolvimento para os povos indígenas e povos e comunidades que vivem nas florestas – e ao mesmo tempo, oferecer ganhos significativos para investidores. Tudo isto junto levanta uma questão imediata: o REDD é bom demais para ser verdade?
A resposta, infelizmente, é “sim”. Apesar de REDD poder beneficiar algumas comunidades e a biodiversidade em áreas específicas, em termos globais REDD está emergindo como um mecanismo que tem o potencial de exacerbar a desigualdade, colhendo recompensas enormes para as empresas e outros grandes investidores e trazer benefícios consideravelmente menores – ou até mesmo sérias desvantagens – para os povos indígenas e outras comunidades dependentes da floresta. Além disso, se os governos focarem isoladamente em REDD, ele poderia se tornar uma distração perigosa e ineficaz com relação à necessidade de implementar políticas públicas reais e eficazes para a mitigação e adaptação das mudanças climáticas.
Os estudos de caso deste informe mostram claramente que uma corrida para implementar REDD já está em andamento. Os estudos de caso também mostram que os projetos de REDD variam significativamente, dependendo do país de implementação e os objetivos dos patrocinadores do projeto. Embora alguns projetos sejam mais bem elaborados, outros são claramente focados em maximizar os lucros.
Mesmo no caso do melhor cenário, contudo, parece que os povos indígenas devem trabalhar arduamente para se fazerem ouvir ou para se beneficiarem dos projetos de REDD de uma forma equitativa. Além disso, organizações da sociedade civil consideradas críticas aos projetos de REDD são muitas vezes excluídas das consultas e suas contribuições anteriores são ignoradas. Além disso, alguns investidores estão obviamente tentando apressar o processo de negociação dos projetos tão rapidamente quanto possível, mesmo que isso signifique exercer pressão indevida sobre os parceiros de negociação ou pular partes já acordadas de processos, como a necessidade de consulta prévia.
Uma das conclusões mais claras é que as grandes corporações transnacionais, especialmente aquelas envolvidas no setor de energia ou indústrias dependentes de energia intensiva estão rapidamente se perfilando para os projetos de REDD porque estes lhes oferecem – talvez mais do que para qualquer outro participante – uma verdadeira oportunidade de “ganha-ganha”. Através de REDD estes atores são capazes de remodelar-se como campeões na luta contra as mudanças climáticas, mesmo que continuem ou até mesmo expandam suas operações para extrair combustíveis fósseis. Ao mesmo tempo, eles têm a possibilidade de lucrar com REDD centenas de milhões de dólares.
* Para acessar o documento, na íntegra e no formato PDF, clique aqui
Análise originalmente publicada no Informe Nº 241 do Portal Biodiversidad en América Latina y el Caribe.
Fonte: EcoDebate, 20/12/2010

quarta-feira, novembro 24, 2010

maior pacote de cortes de gastos públicos

VEJA COMO EUROPA E JAPÃO ESTÃO ENFRENTANDO SEUS DÉFICITS
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George Osborne, ministro britânico das FinançasGoverno britânico promoverá cortes para conter déficit
O governo britânico anunciou nesta terça-feira o maior pacote de cortes de gastos públicos desde a Segunda Guerra Mundial, na tentativa de economizar 81 bilhões de libras (cerca de R$ 214 bilhões) em quatro anos.
O objetivo é conter o déficit público do país, calculado em 11,5% do PIB. O ministro das Finanças, George Osborne, disse que o déficit estrutural (que se mantém mesmo quando a economia está em seu máximo potencial e que deriva de problemas de longo prazo) britânico é o maior entre os países europeus.
A BBC Brasil preparou um guia com as medidas que países da Europa e o Japão vem adotando para, como o Reino Unido, combater déficits públicos crescentes e recuperar suas economias, duramente afetadas pela crise financeira global.
Grã-Bretanha
O governo de coalizão entre conservadores e liberais-democratas vem anunciando cortes que devem incluir reduções médias de 25% em cada departamento e o fechamento de 490 mil postos de trabalho no funcionalismo até o ano fiscal de 2014/15. O motivo, diz Osborne, é que “acabou o dinheiro do país”.
A defesa perderá 8% de seu orçamento, 17 mil postos militares e 25 mil civis, segundo anúncio do premiê David Cameron nesta terça-feira.
Não houve manifestações populares antes dos anúncios de cortes, mas o secretário-geral do sindicato Unison, Dave Prentis, acusou o governo de “usar uma serra elétrica” contra os serviços públicos com motivações ideológicas.
França
O governo de Nicolas Sarkozy anunciou planos de cortes de gastos de 45 bilhões de euros (R$ 104 bilhões) pelos próximos três anos, para alcançar a meta de redução do déficit.
Parte desse dinheiro deve ser economizada por meio de correção de vácuos no sistema tributário e pela suspensão temporária de estímulos fiscais.
Protesto em Paris contra reforma previdenciáriaMas a proposta que tem causado mais polêmica é a reforma da previdência, que almeja aumentar a idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos. Os contribuintes donos das maiores rendas devem ser forçados a pagar 1% a mais em impostos.
Manifestantes rejeitam aumento na idade para se aposentar na França
Em reação à reforma, a França está vivendo uma onda de protestos e greves.
Irlanda
O país orçou em 45 bilhões de euros (R$ 104 bilhões) o pacote de ajuda financeira a bancos endividados, o que aumentou o buraco nas finanças irlandesas.
Com isso, o déficit orçamentário, calculado atualmente em 14,3%, deve aumentar temporariamente para 32%.
A meta original era reduzi-lo para 3% até 2014, seguindo orientações da União Europeia, por meio de economias de 7,5 bilhões de euros (R$ 17,3 bi) no período. Parlamentares da oposição dizem que um corte de 10 bilhões de euros seria mais realista.
O salário dos funcionários públicos sofreu um corte de ao menos 5%, e seus benefícios sociais foram reduzidos.
O auxílio estatal a casais com filhos também sofreu reduções.
Holanda
O governo de coalizão de centro-direita formado em 8 de outubro afirmou que deseja cortar o custos orçamentários em 18 bilhões de euros (R$ 41,6 bi) até 2015, mas não está claro se terá apoio para aprovar a medida.
Espanha
O governo aprovou um plano de austeridade para 2011 que inclui um aumento nos impostos para os mais ricos e cortes de gastos de 8%.
Madri prometeu a seus pares europeus que cortará seu déficit de 11,2% do PIB para 6% no próximo ano.
O funcionalismo sofrerá um corte salarial de 5%, e os salários serão congelados em 2011.
Um auxílio estatal de 2,5 mil euros a novas mães foi eliminado.
A Espanha viu sua taxa de desemprego dobrar para cerca de 20% desde 2007.
Grécia
Atenas prometeu um corte drástico de custos em troca de um pacote de resgate de 110 bilhões de euros (R$ 254 bilhões) que recebeu da União Europeia e do FMI.
O país começou a atacar a evasão fiscal, a corrupção nos setores públicos e os esquemas de aposentadoria antecipada. A média de idade para se aposentar deve ser elevada de 61,4 anos para 63,5.
Endividada, Grécia tomou medidas de austeridade
Protestos em Atenas contra medidas de austeridadeOutras medidas incluem o fim de bônus para funcionários estatais, o congelamento de salários e pensões no setor público por ao menos três anos, o aumento em impostos sobre vendas de 19% para 23% e o aumento em taxas sobre combustível, bebidas e fumo.
As medidas mais drásticas resultaram em greves no setor público e em violência nas ruas de Atenas.
O país tem um déficit de 13,6% em relação ao PIB.
Romênia
O governo propôs cortes de 25% em salários e de 15% em pagamentos de aposentadorias para reduzir seu déficit orçamentário.
A economia romena encolheu mais de 7% em 2009, e o país necessitou auxílio do FMI.
São esperadas novas medidas de austeridade para cumprir com as demandas do Fundo ao receber uma nova parcela do empréstimo de 20 bilhões de euros (R$ 46 bilhões).
Itália
O governo aprovou medidas de austeridade que visam economizar 24 bilhões de euros (R$ 55,5 bilhões, ou 1,6% do PIB italiano) em 2001 e 2012.
O país também deve cortar salários públicos e congelar novas contratações. Aposentadorias do funcionalismo e gastos de governos locais também podem ser afetados.
Quem alcançar a idade para se aposentar em 2011 terá sua aposentadoria adiada em seis meses.
A chanceler Angela MerkelAlemanha
Berlim propôs cortes de 80 bilhões de euros (R$ 185 bilhões) pelos próximos quatro anos, a maior medida de austeridade adotada pelo país desde a Segunda Guerra. A chanceler (premiê) Angela Merkel disse que os alemães têm a chance de “dar o bom exemplo”.
Merkel disse que Alemanha tem de dar o exemplo
O plano inclui reduções em subsídios para famílias com filhos, o fechamento de 10 mil cargos públicos e impostos mais altos em energia nuclear.
O déficit do país foi de cerca de 3% em 2009, mas projeções indicam que ele vai passar de 5% neste ano.
Portugal
O governo socialista anunciou medidas para reduzir seu déficit de 9,4% para 7,3% neste ano e 4,6% em 2011.
Salários dos funcionários públicos mais bem pagos, inclusive políticos, serão reduzidos em 5%.
Haverá aumentos de impostos, principalmente para os contribuintes de maior renda. Até 2013, os gastos militares terão de ser cortados a 40%, e o governo deve adiar investimentos em duas linhas de trem de alta velocidade.
Japão
O premiê Naoto Kan propôs aumento drástico no imposto sobre consumo nos próximos dez anos, com o objetivo de alcançar a meta de superávit primário. Mas a derrota do partido do premiê nas eleições legislativas, em julho passado, dificultará a aprovação da medida, de baixa aceitação popular.
O déficit do país gira em torno de 200%, muito superior às cifras europeias.
Neste mês, o Japão interveio em seu câmbio para conter a alta do iene, atitude inédita em quase sete anos, na tentativa de evitar a perda de competitividade de sua indústria.
Fonte: BBC | Brasil – Economia, 20 de outubro, 2010 - 19:01 (Brasília) 21:01 GM

terça-feira, novembro 16, 2010

volta à política de classe

A História da Austeridade
A recente reunião do G-20 em Seul foi um fracasso e mostrou que a ordem econômico-financeira criada no final da Segunda Guerra Mundial está colapsando, indicando no horizonte a eclosão de graves conflitos comerciais e monetários. Por toda parte, os cidadãos vão são sendo bombardeados pelas mesmas ideias de crise, de tempo de austeridade, de sacrifícios compartilhados. O que não é dito é que a crise foi provocada por um sistema financeiro desregulado, chocantemente lucrativo e tão poderoso que, no momento em que explodiu e provocou um imenso buraco financeiro na economia mundial, conseguiu convencer os Estados (e, portanto, os cidadãos) a salvá-lo da bancarrota e a encher-lhe os cofres sem lhes pedir contas.
por Boaventura de Sousa Santos
A recente reunião do G-20 em Seul foi um fracasso total. Chegou a ser constrangedora a perda de credibilidade dos EUA, como suposta economia mais poderosa do mundo, e o modo como tentaram acusar a China de comportamentos monetários afinal tão protecionistas quanto os dos EUA. A reunião mostrou que a “ordem” econômico-financeira, criada no final da Segunda Guerra Mundial e já fortemente abalada depois da década de 1970, está a colapsar, sendo de prever a emergência de conflitos comerciais e monetários graves. Mas curiosamente estas divergências não têm eco na opinião pública mundial e, pelo contrário, um pouco por toda a parte os cidadãos vão sendo bombardeados pelas mesmas ideias de crise, de tempo de austeridade, de sacrifícios repartidos. Há que analisar o que se esconde por detrás deste unanimismo. 
Quem tomar por realidade o que lhe é servido como tal pelos discursos das agências financeiras internacionais e da grande maioria dos Governos nacionais nas diferentes regiões do mundo tenderá a ter sobre a crise econômica e financeira e sobre o modo como ela se repercute na sua vida as seguintes ideias: todos somos culpados da crise porque todos, cidadãos, empresas e Estado, vivemos acima das nossas posses e endividamo-nos em excesso; as dívidas têm de ser pagas e o Estado deve dar o exemplo; como subir os impostos agravaria a crise, a única solução será cortar as despesas do Estado reduzindo os serviços públicos, despedindo funcionários, reduzindo os seus salários e eliminando prestações sociais; estamos num período de austeridade que chega a todos e para a enfrentar temos que aguentar o sabor amargo de uma festa em que nos arruinamos e agora acabou; as diferenças ideológicas já não contam, o que conta é o imperativo de salvação nacional, e os políticos e as políticas têm de se juntar num largo consenso, bem no centro do espectro político.
Esta “realidade” é tão evidente que constitui um novo senso comum. E, no entanto, ela só é real na medida em que encobre bem outra realidade de que o cidadão comum tem, quando muito, uma ideia difusa e que reprime para não ser chamado ignorante, pouco patriótico ou mesmo louco. Essa outra realidade diz-nos o seguinte. A crise foi provocada por um sistema financeiro empolado, desregulado, chocantemente lucrativo e tão poderoso que, no momento em que explodiu e provocou um imenso buraco financeiro na economia mundial, conseguiu convencer os Estados (e, portanto, os cidadãos) a salvá-lo da bancarrota e a encher-lhe os cofres sem lhes pedir contas. Com isto, os Estados, já endividados, endividaram-se mais, tiveram de recorrer ao sistema financeiro que tinham acabado de resgatar e este, porque as regras de jogo não foram entretanto alteradas, decidiu que só emprestaria dinheiro nas condições que lhe garantissem lucros fabulosos até à próxima explosão. A preocupação com as dívidas é importante, mas, se todos devem (famílias, empresas e Estado) e ninguém pode gastar, quem vai produzir, criar emprego e devolver a esperança às famílias? 
Neste cenário, o futuro inevitável é a recessão, o aumento do desemprego e a miséria de quase todos. A história dos anos de 1930 diz-nos que a única solução é o Estado investir, criar emprego, tributar os super-ricos, regular o sistema financeiro. E quem fala de Estado, fala de conjuntos de Estados, como a União Europeia e o Mercosul. Só assim a austeridade será para todos e não apenas para as classes trabalhadoras e médias que mais dependem dos serviços do Estado.
Porque é que esta solução não parece hoje possível? Por uma decisão política dos que controlam o sistema financeiro e, indiretamente, os Estados. Consiste em enfraquecer ainda mais o Estado, liquidar o Estado de bem-estar onde ele ainda existe, debilitar o movimento operário ao ponto de os trabalhadores terem de aceitar trabalho nas condições e com a remuneração unilateralmente impostas pelos patrões. Como o Estado tende a ser um empregador menos autônomo e como as prestações sociais (saúde, educação, pensões, previdência social) são feitas através de serviços públicos, o ataque deve ser centrado na função pública e nos que mais dependem dos serviços públicos. Para os que neste momento controlam o sistema financeiro é prioritário que os trabalhadores deixem de exigir uma parcela decente do rendimento nacional, e para isso é necessário eliminar todos os direitos que conquistaram depois da Segunda Guerra Mundial. O objetivo é voltar à política de classe pura e dura, ou seja, ao século XIX.
A política de classe conduz inevitavelmente à confrontação social e à violência. Como mostram bem a recentes eleições nos EUA, a crise econômica, em vez de impelir as divergências ideológicas a dissolverem-se no centro político, agrava-as e empurra-as para os extremos. Os políticos centristas (em que se incluem os políticos que se inspiraram na social democracia europeia) seriam prudentes se pensassem que na vigência do modelo que agora domina não há lugar para eles. Ao abraçarem o modelo estão a cometer suicídio. Temos de nos preparar para uma profunda reconstituição das forças políticas, para a reinvenção da mobilização social da resistência e da proposição de alternativas e, em última instância, para a reforma política e para a refundação democrática do Estado.
(*) Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).
Fonte: Carta Maior, 15/11/2010

terça-feira, novembro 09, 2010

desordem monetária e cambial

"Quando a realidade muda, minhas convicções também mudam." John M. Keynes (1883-1946)
por Antonio Corrêa de Lacerda*
A guerra cambial é um dos principais pontos de discussão na pauta da reunião do G-20, que ocorrerá em Seul, na próxima semana. O mundo vive um quadro de desordem monetária e cambial, que se agravou depois da crise mais recente, o que tem imposto enormes desafios aos países em desenvolvimento. 
A recente decisão do FED (Federal Reserve) de injetar US$ 600 bilhões no mercado, mantendo baixas taxas de juros, deve estimular as operações carry trade, a arbitragem entre taxas de câmbio e de juros, deslocando-as para países em desenvolvimento, especialmente aqueles que praticam taxas de juros superiores à média dos países centrais.
Do outro lado, a China mantém há décadas uma política de câmbio desvalorizado como fator crucial de competitividade. Mas, a guerra cambial não é um movimento que se restringe aos dois países citados. Há muitos outros países se aproveitando do momento para se fortalecer.
Para a economia brasileira, especialmente, o novo quadro representa, ao mesmo tempo, desafios e oportunidades. A relevância do problema cambial brasileiro e seus impactos negativos sobre a estrutura produtiva e no balanço de pagamentos, está na ordem do dia. 
A discussão cambial até então restrita aos fóruns econômicos ou de demandas empresariais, muitas vezes tidas como "corporativas", ganha relevância e amplitude, inclusive no discurso e decisões do governo. O desafio é ir além do simplismo do "câmbio flutuante que flutua" e da definição das taxas de juros unicamente baseada no sistema de metas de inflação de curto prazo. 
Em relação ao déficit em conta corrente, o que impressiona é a velocidade da sua deterioração.
Na questão cambial, a mudança não requer, necessariamente, o abandono do regime flutuante - que já se mostrou o mais adequado - mas sim, o seu aperfeiçoamento, levando em conta as circunstâncias impostas pela conjuntura internacional. Seria ingênuo de nossa parte deixá-lo simplesmente oscilar ao sabor dos movimentos dos fluxos de capitais. A recente elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) tem se mostrado uma medida acertada, porém insuficiente, por si só, de fazer frente à magnitude do problema a ser enfrentado. O quadro requer mais ousadia.
Cada vez mais países estão instrumentalizando a sua política cambial como incentivo às suas exportações e de proteção à produção doméstica como antídoto para os efeitos da crise, visando principalmente a retomada da atividade, assim como preservar emprego e renda. Da mesma forma, EUA, Europa e Japão reduziram a suas taxas nominais de juros a quase zero, o que na prática significa juro real negativo, com o mesmo objetivo.
É essa a circunstância que impõe ao Brasil a necessidade de mudar para manter. Ou seja, é preciso utilizar todos os instrumentos possíveis, de políticas macroeconômicas (fiscal, monetária e cambial), assim como as políticas de competitividade (políticas industrial, comercial e tecnológica/inovacional) para fazer frente à guerra cambial instalada. 
Assim como o regime de câmbio flutuante, o nosso sistema de metas de inflação tem seus méritos, mas, tem que ser aperfeiçoado. É preciso levar mais em conta a conjuntura internacional, para evitar manter a nossa política monetária na contramão dos demais países, pois isso nos torna alvo fácil da especulação. A inflação de commodities, por exemplo, não pode implicar automaticamente em uma elevação da taxa de juros básica, até mesmo porque ela tem pouco efeito sobre esses preços.
Faz-se necessário ainda ampliar a desindexação da economia, definir um horizonte mais estendido no prazo de cumprimento da meta, além de rever o que considerar como definidor da taxa de juros. O quadro atual de juros nos faz incorrer em um custo muito elevado tanto de financiamento da dívida pública quanto de carregamento das reservas cambiais. Aí está uma oportunidade para o Brasil. Temos hoje um déficit nominal das contas públicas de cerca de 2% do PIB, muito abaixo de muitos países. Por outro lado, o custo do financiamento da dívida pública representa 5,5% ao ano. Há um evidente espaço para reduzir juros e, consequentemente, diminuir o custo de financiamento da dívida pública e o déficit nominal.
Outra oportunidade decorrente é que o juro alto agrava a valorização do real e suas consequências. Reduzir os juros ajudaria a conter a pressão pela valorização do real. Além disso, a deterioração do déficit em transações correntes do balanço de pagamentos e os estragos na estrutura produtiva e de padrão de comércio exterior brasileiro, derivados da apreciação cambial, requerem mudanças. Há uma perversa desintegração das cadeias produtivas locais, muitas vezes inviabilizadas pela impossibilidade de exportar, ou pelo crescimento expressivo que temos observado no coeficiente de importação. Estas não mais se restringem a matérias primas, componentes, ou máquinas e equipamentos, mas a todos os elos da produção.
A deterioração das balanças comercial e de serviços e rendas têm provocado o crescimento do déficit em conta corrente de balanço de pagamentos, que deve atingir US$ 50 bilhões este ano. Mais do que o montante em si, pouco significativo, relativamente às reservas cambiais, ou ao PIB, o que de fato impressiona é a velocidade da sua deterioração. 
Como bem define a frase em epígrafe, atribuída a Keynes, quando um interlocutor questionou por que havia alterado sua posição, em relação a um posicionamento passado, as circunstâncias advindas da guerra cambial internacional nos impõem o imperativo da mudança. Até mesmo porque, a relutância em fazê-lo, implicaria custos econômicos, sociais e, consequentemente, políticos, muito mais elevados em um futuro, que se mostra cada vez mais próximo. 
(*)Antonio Corrêa de Lacerda economista, doutor pelo IE/Unicamp [Valor 08-11]
Fonte: Carta Maior | Blog das Frases| 08/11/2010

sexta-feira, outubro 29, 2010

José e nossas palavras

Democracia substancial
por Fundação José Saramago

A democracia não pode limitar-se à simples substituição de um governo por outro. Temos uma democracia formal, necessitamos de uma democracia substancial.
“Soy un comunista libertario”, El País, Madrid, 26 de Abril de 2004
In José Saramago nas Suas Palavras

Fonte: Outros Cadernos de Saramago, 28/10/2010

quinta-feira, outubro 28, 2010

tempos de conflito regulado

Reflexões na Reta Final de Campanha

por Jaldes Reis de Meneses* 
Desde o começo do ano, em conversa com amigos e em debates nas minhas aulas de Teoria Política, ao contrário dos que julgavam que as eleições gerais de 2010 seria um espetáculo desinteressante e rotineiro, eu pensava o inverso simétrico: as eleições seriam das mais interessantes e animadas a quem se posta como observador, uma luta renhida, muitas vezes sem quartel, envolvendo, na cena principal, os dois principais grupos em disputa pelo poder político brasileiro, o PT e o PSDB, além de uma extensa série de interesses a tomar partido nos rumos da disputa.
Esses interesses não são apenas os clássicos de uma disputa na sociedade capitalista, cujo cerne é o conflito entre a grande burguesia e os trabalhadores sindicalizados. Ou seja: a contenda entre a renda do capital e os rendimentos do trabalho, mediada pelo Estado. Na Europa (França, Grécia, Espanha, etc.) os efeitos da crise econômica de 2008 puseram na ordem do dia o conflito aberto entre o capital e o trabalho, por meio de uma pauta de reformas de iniciativa estatal.
No velho continente, da parte dos Estados nacionais, da burguesia e da tecnocracia ilustrada predominante nos cargos de mando da União Européia, busca-se a saída da crise através da remoção de direitos sociais já tradicionais, conquistados depois da segunda guerra mundial.
As soluções em curso na Europa assemelham a um dolorido um ato cirúrgico sem anestesia: pensemos na radicalidade do chamamento intrínseco ao conflito imerso na proposta de aumentar a idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos. O welfare state empacou na Europa: a greve e a luta de rua voltaram à moda. (Em outro diapasão, justiça se faça a Barack Obama: enquanto na Europa busca-se programar reformas antissociais, nos Estados Unidos, o presidente enfrentou contra a direita republicana o combate pelas políticas de saúde e, logo depois de vencida essa batalha, propôs um plano de obras públicas tipicamente keynesiano).
Diferente do europeu, ou mesmo americano, é o caso brasileiro, podendo vir a ser – para ficar numa questão pontual, mas de interesse analítico – o fio da meada explicativo, afora as incompetências políticas do doutrinarismo, ao fracasso eleitoral dos partidos de discurso classista nas eleições de 03 de outubro, principalmente o PSOL. A idéia do conflito aberto encontra-se fora do lugar, atualmente. Estamos em tempos de conflito regulado.
A regulação pelo bonapartismo. O segundo mandato de Lula, na prática, congelou a pauta das reformas antissociais, ao molde das que estão estourando na Europa. Neste sentido, conciliador, ele prestou um relevante serviço à incompleta burguesia e ao inacabado capitalismo brasileiro. Getúlio Vargas costumava dizer, irônico e melancólico, que a burguesia não entendia o trabalho orgânico que ele fazia para ela porque ele se adiantava. Fez-se demiurgo. Pode-se afirmar o mesmo de Lula: nunca as taxas de lucro estiveram tão elevadas, em tempos de regime democrático, nem a paz social tão festejada na esfera política.
Teria a luta de classes desaparecido na paradisíaca terra colonial dos papagaios, como a chamavam os primeiros portugueses? Nada disso. Nosso cotidiano continua cruento, em estado de sítio popular permanente, à maneira da ficção de uma tropa de elite. A guerra de classes brasileira continua seu curso: encontramo-la no registro naturalista da luta pela sobrevivência e no conflito agônico e sem quartel das ruas, repletas de assaltos e homicídios, de saltimbancos improvisados nos sinais de trânsito e na faina sem descanso do trabalho informal.
No entanto, surgiu um balsamo. Comentava em debate com João Pedro Stedile na UFPB, ano passado: a crueldade das ruas afastou-se e não reverbera no terreno da política. A pauta política, contraditoriamente, exala o otimismo do desenvolvimento, das novas oportunidades de investimento, a exemplo do pré-sal. Na esfera política, a guerra de classes se dispersou ao mesmo tempo em que temporariamente se dissolveu o conteúdo exclusivamente classista.
Como veio à luz a prestidigitação?
Do ponto de vista estritamente político, o governo Lula permanece compondo com os mesmos setores acantonados no Estado durante o período FHC. Mas qual a novidade essencial da mesmice: doravante, na era Lula, os antigos movimentos sociais oposicionistas às reformas de FHC passaram a fazer parte do governo. Lula estendeu ao máximo a base política do Estado. Quase nenhum setor social e de classe se põe de fora do Estado, desde a FENABAM ao MST.
Novamente, é de alvitre invocar o espectro de Vargas: o caudilho gaúcho costumava deixar os órgãos de política monetária para os marginalistas e os de desenvolvimento para os cepalinos. Outro exemplo das práticas de Vargas: entregou o nordeste às velhas oligarquias, mas estimulava o crescimento do PTB nos centros urbanos emergentes do processo de industrialização. O conflito era o próprio governo, mas a palavra final era do presidente, que até estimulava o conflito sob as rédeas internas.
Como cogitar entender tanta coisa nova, ainda mais este modo heterodoxo de operar a política, conquanto de raízes fincadas na história do país?
Tornei a cogitar o populismo como categoria explicativa ao formidável movimento societário que se passa aos nossos olhos. Populismo e hegemonia, ou a construção de uma fase de hegemonia populista no Brasil.
Em teoria política, populismo é um conceito polissêmico, mais descritivo que rigoroso. Há vários mal-entendidos sobre o populismo.
Em primeiro lugar, precisa-se conhecer a história do populismo, desde a origem romântica e russa, no século XIX, até a influente corrente norte-americana antitruste, em começos do século passado. Desprovido de análise histórica e repleto de preconceitos, a corrente principal do mundo acadêmico norte-americano sempre tratou os regimes populistas liminarmente, em insossa abordagem economicista. Conforme os autores do maistream, populistas são os regimes “gastadores”, voluntaristas, avessos à disciplina fiscal, preocupados com o crescimento e a distribuição de renda, todavia sem medir os riscos de inflação e de déficit externo, as coerções externas e a resposta dos agentes econômicos às políticas agressivas contrárias ao mercado (Rudiger Dornbush & Sebastián Edwards, The macroeconomics of populism in Latin America).
Na verdade, o alvo de tais definições são as políticas redistributivas dos diferentes populismos. Escapam a estas definições os contextos políticos, contrastantes no tempo e no espaço, principalmente abordar a riqueza social e dramática de todo populismo: a necessidade, para se manter vivo ou sobrevivendo, da compulsão de crescer economicamente.
A nota curiosa é que a sociologia paulista – um dos braços intelectuais tanto do PSBD como do PT – recebeu o populismo brasileiro com aguda desconfiança. Florestan Fernandes costumava dizer alto e bom som que sequer tivemos populismo, como na Argentina, mas simplesmente demagogia. Caio Prado Jr. cuidou de definir a “era Vargas” em “A revolução brasileira” na condição de “malfadado” período histórico. Francisco Weffort estudou a “manipulação” dos trabalhadores.
Justifica-se a posição acre dos intelectuais paulistas. Entre vários aspectos nocivos, por exemplo, quanto à estrutura sindical, o regime populista foi de tutela corporativa do Estado sobre a organização dos trabalhadores. Ironia da história, o PT nasceu sob a influência dessa crítica sociológica. Com o tempo, na medida em que foi se amoldando à vida política institucional, passou a gerir e a gostar da estrutura herdada. Nos dias de hoje, o governo Lula, no âmbito das várias acomodações, conseguiu conciliar o antigo sindicalismo pelego (representando pela Força Sindical) e o novo/velho sindicalismo neoestatal dos fundos de pensão (CUT e consortes). Fez-se a partilha: a Força Sindical dirige o Ministério do Trabalho (ou seja, os negócios atinentes a quem representa e deixa de representar os trabalhadores), ao passo que a CUT comanda os negócios da china dos fundos de pensão.
Enganam-se, no entanto, aqueles que vêem na adesão das massas ao populismo simplesmente manipulação. Apesar de tudo, as massas não são simplesmente “traídas”. Há um jogo de perde e ganha, ontem e hoje, de apelo hegemônico, nas fimbrias do sistema institucional construído, caso contrário o regime sumiria rapidamente do mapa.
Nestes termos, para abreviar, penso que o segundo governo Lula moveu as peças do xadrez, gerando tanto adesão como oposição. A engenharia política permitiu o acesso à criação social. Passamos da política institucional às placas tectônicas que se movem no subsolo. São muitas as transformações sociais, a mais importante das quais a mobilidade dos grupos que transpuseram nos últimos anos o umbral da pobreza absoluta, da carência, integrando, a partir do acesso permanente ao consumo com base no mercado interno, o embrião de uma nova classe média de origem popular. Estimativas conjeturam 36 milhões de cidadãos, na fronteira entre a cidadania passiva e ativa.
A propósito, no clima de campanha eleitoral, há muita confusão a respeito do fenômeno da pobreza. Setores dilmistas, bem intencionados e ingênuos, aludem uma hipotética “erradicação” da pobreza. É preciso ir devagar com o andor. Caso haja continuidade das políticas sociais, alçamos a um processo, talvez, de erradicação da pobreza absoluta. Diverso é o problema da pobreza relativa, que persistirá, pois como denota a própria expressão, ela é relativa, tem como medida a desigualdade social capitalista. Ademais, a problemática desigualdade no capitalismo, deve desaguar na comparação dos rendimentos do trabalho vis-à-vis os rendimentos do capital.
Por outro lado, a oposição ao governo tem sido chamada a dar respostas políticas a uma série de fatos novos. O grupo de Serra/PSDB/DEM/PPS responde de duas maneiras: a primeira, dominante no primeiro turno, buscando aparentar ser mais lulista que o lulismo, nas promessas de continuidade, 13º da bolsa família e 600 reais de salário mínimo. Mais que proposta para valer, o objetivo é disputar simbolicamente com o populismo emergente. Pode-se ser contra, mas demonstra argúcia tática. Em segundo lugar, a oposição pratica zoologia política. Gosto muito dessa expressão de Leon Trotsky, que significa a política que apela aos baixos instintos. Neste sentido, a campanha eleitoral tucana desentupiu do poço da irracionalidade, dos recalques e da ignorância, os argumentos mais vis de que se tem notícia em eleições presidenciais desde 1989. Trata-se de um jogo perigoso, nos termos do que fazer com esse espólio sujo no caso de operar a difícil almejada virada. Os tucanos desceram dos salões ao prostíbulo.
*Jaldes Reis de Meneses é professor de Teoria da História (UFPB).
Fonte: Blog Campo de Ensaio, 15/10/2010

terça-feira, outubro 26, 2010

écoutez la colere du peuple


A greve francesa

por Jaldes Reis de Meneses*
Há um belo soneto do grande poeta francês Charles Baudelaire que começa assim: a rua em torno era um frenético alarido (A uma passante).
Paris, Lyon, Marseille, julho, 1789; fevereiro, 1848; maio, 1968; outubro, 2010: tão longe, tão perto. 
Sem dúvida, o alarido das multidões nas ruas vem a ser, junto com o vinho e os queijos, uma moderna tradição francesa. A explicação estrutural do fenômeno de protestar nas ruas e erguer barricadas deita no próprio processo da revolução francesa de 1789: na radicalização jacobino (1792), os franceses fizeram uma reforma agrária ousada, fatiando os antigos feudos em pequenas propriedades camponesas. Dessa maneira, a acumulação primitiva de capitais no campo foi relativamente lenta, tendo em vistas o acelerado processo inglês. Ou seja: a transferência de renda e capital do campo para a cidade se deu de modo constante, mas num ritmo equilibrado, tanto que até os dias de hoje os pequenos proprietários rurais são uma voz política importante na França.
Qual a conexão da evolução das estruturas econômicas da industrialização francesa com o mundo da política? O processo de revolução na França configurou um tipo de hegemonia no qual as figuras do camponês e do artesão, lado a lado com as formas sociais novas do operário fabril e do burguês, tiveram que estabelecer formas de convivência, certamente conflituosas, de hegemonia burguesa, decerto incorporadora, embora muitas vezes assumindo contornos bonapartistas, das demandas sociais dos de baixo. Enfim, o paradoxo do processo de revolução burguesa na Franca lídimo e simples: o desmoronamento dos estamentos aristocráticos, e do clero, requisitou de um amplo consentimento social.
Foi esta sui generis configuração da econômica com a política, o solo no qual germinaram as idéias radicais republicanas e socialistas que tanto agradou o jovem Marx e tanto ódio despertou, em uníssono, de todos os membros, sem exceção, do pensamento conservador, numa escala de Burke a Nietzsche. Neste ínterim, é o caso de recordar o pensamento corporativista de Saint-Simon – fundamento ideológico do Estado Social Francês –, atentando ao fato de que o corporativismo pregava a paz social, mas a partir do acordo entre as partes litigantes.
Deve-se perceber que as raízes do Estado de Bem Estar Social francês estão arraigadas na cultura política do país. Desmontá-lo, portanto, se assemelha a uma autêntica operação de guerra. Por isso, o atual movimento grevista contra a lei de Sarkozy, que eleva a idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos (na verdade, o fio do novelo de outras medidas), conta a adesão, conforme pesquisas, de 71% da população.
É fato que as bases definitivas do Estado Providência Francês é relativamente recente: adveio dos chamados acordos de Grenoble, acordo corporativo entre o Estado gaulista e os sindicatos comunistas que selou o fim dos movimentos de 1968, reiterando a tradição dos acordos de classe se seguirem aos estertores do movimento revolucionário.
Para entender Sarkozy e os acontecimentos da greve francesa, talvez seja o caso de recuar a maio de 1968.
No movimento do século passado, tínhamos a circunstância da irrupção de surpresa de um protesto juvenil, nascido nas Universidades, que se espalhou como um barril de pólvora para muito próximo de uma classe operária fabril compacta, massiva e sindicalizada. Mais ainda: a aliança entre operários e estudantes estava acompanhada de um audacioso projeto de emancipação social e humana – a imaginação histórica estava funcionando a pleno vapor –, no qual os intelectuais tiveram um papel de destaque, sem comparação em nenhum movimento político recente, na Europa ocidental.
Não devemos fantasiar 1968, até porque tínhamos a outra face da moeda, afinal vitoriosa. Do ponto de vista político, rememorando as melhores tradições bonapartistas francesas, tivemos a atuação do General de Gaulle, que sabia ser fundamental que o aparelho de Estado e as elites agissem sob um comando único (o seu) durante a crise, sem apresentar sequer nesgas de dissidências.
Todos deram carta branca ao comando unipessoal do general, que agiu em dois flancos: não pestanejou no uso dos instrumentos constitucionais de exceção ao seu dispor; porém, a dissuasão aos movimentos de rua foi dura, mas a repressão policial seguinte relativamente branda, poucas pessoas foram presas e ninguém condenado – “não se pode prender Sartre, não se pode prender Voltaire” disse o general em plena crise, uma frase de efeito que denota uma estratégia.
Resultado: o movimento deixou poucas cicatrizes (é lembrado até com bom humor e saudosismo), e algumas bandeiras do movimento foram sendo paulatinamente absorvidas pelo establishment – ao menos em sua dinâmica cultural e comportamental –, contíguo com boa parte das lideranças estudantil e os intelectuais, sendo perfeitamente integrados.
Revendo a poeira de 1968, Nicolas Sarkozy, estava ao lado do Estado e contra as barricadas. Não mudou de lado. Contudo, há uma novidade de perfil. Trata-se de um político-camaleão sem medo de usar o discurso da externa direita.
Bem define Sarkosy, no atual momento da Europa, o sociólogo Pierre Rosanvallon, “Houve, sucessivamente, o sarkozysmo liberal, o nacional-colbertista [protecionista], o securitário e o quase xenófobo. Berlusconi, na Itália, e Cameron, no Reino Unido, são parecidos. Representam uma direita conquistadora e sem complexos.
O verdadeiro fenômeno na Europa é essa guinada geral à direita. Desde junho de 2009, quando houve as últimas eleições para o Parlamento europeu, os 13 pleitos legislativos nacionais que ocorreram na Europa deram vitória à direita.
Mas, ao contrário da direita social e republicana de gente como Jacques Chirac, a ruptura que Sarkozy representa não é somente uma questão de estilo.
Sarkozy não hesita em tomar emprestado parte da linguagem e da agenda da extrema direita. Mas, aí também, é algo comum a todos os países europeus. Até a Suécia, fortaleza social-democrata, viu a extrema-direita se impor como fiel da balança na última eleição”.
Sarkozy, até o momento, não dispõe da unidade da assustada classe média e das elites, como De Gaulle em 1968. Virá a ter no futuro próximo? Dificilmente, pois a crise econômica atual é mais grave e profunda que a de 68.
Na greve atual, ao contrário da irrupção de surpresa do passado, que paralisa os operários, os transportes públicos, as refinarias, as escolas, os hospitais, enfim, a maioria dos serviços estatais, era uma queda de braço anunciada pelo menos desde a crise econômica de 2008. A atitude inicial de parecer um político “durão” foi um completo desastre. Passava pela cabeça do marido de Carla Bruni o ganho simbólico de derrotar o antagonismo dos sindicatos, cabeça ceifada a ser exibida ao mundo dos negócios, e aos consortes chefes de Estado da União Européia.
Qualquer que seja o desfecho, o Presidente Francês encontra-se encurralado. Evidentemente, ele sabe que depois de um ápice, em algum momento, a greve vai arrefecer. Talvez negocie algumas reivindicações secundárias dos grevistas, sem abrir mão do essencial: o aumento no tempo de aposentadoria. De todo modo, o desgaste é irremediável. Não é pouco, quando se sabe que a direita européia tem sido vitoriosa em todas as eleições recentes, depois de 2008. Pode-se abrir um espaço para a esquerda e até para a emersão de um projeto político de classe em um país fundamental do capitalismo mundial.
Tivemos uma greve geral dos serviços públicos na Franca em 2007. É impressionante como a opinião pública se deslocou de lá para cá: dois anos passados, era difícil explicar aos usuários a greve nos serviços públicos. Hoje, o apoio é generalizado. Criou-se uma greve de força popular, no qual a situação dos sindicatos é de ofensiva. Quando é criada uma situação dessas, sem negociar as reivindicações, caso o movimento se mantenha firme e unitário, no limite só resta uma alternativa ao poder do Estado: a repressão e até o Estado de Sítio. Vamos aguardar os próximos acontecimentos.
*Jaldes Reis de Meneses é Professor de Teoria da História (UFPB). 
Fonte: Blog Campo de Ensaio, 20/10/2010

sábado, agosto 14, 2010

lógica em descontrole

O Insaciável Moloch[1]
por Luiz Gonzaga Belluzzo*
O indivíduo racional e maximizador da utilidade é a argamassa do pensamento social dominante. Nas versões eruditas ou nas traduções vulgares, a hipótese da racionalidade individual é um pressuposto metafísico da ideologia dominante, necessária para apoiar a “construção” do mercado como um servomecanismo capaz de conciliar os planos individuais e egoístas dos agentes.
Para esse paradigma, a sociedade onde se desenvolve a ação econômica é constituída mediante a agregação dos indivíduos, articulados entre si por nexos externos e não necessários, tais como os que atavam Robinson Crusoé ao Sexta-Feira. Essa operação ideológica permite a oposição entre Estado e Mercado como instâncias antitéticas da vida social. Trata-se de uma operação de “limpeza ideológica” que pretende eliminar as condições em que se trava a luta social, conflito que nasce na “esfera das necessidades”, ou seja, no âmbito das relações de produção e da concorrência, inescapavelmente mediado na esfera política pela intervenção do Estado. Na visão liberal conservadora, Estado e Mercado deixam de ser instâncias da constituição do capitalismo como sistema histórico de relações sociais, políticas e econômicas e passam a representar alternativas abstratas de organização da sociedade. Desde o início dos anos 1980, sob a liderança do Ronald Reagan e Margareth Thatcher[2], foi desaçaimada a ofensiva global – ideológica e política – contra as práticas do Estado regulador e os direitos criados pelo Estado do Bem-Estar. A “ideologia economicista” que viria conquistar os corações e as mentes de todos estava comprometida com uma ideia fundamental: é preciso libertar as forças criativas da iniciativa privada e permitir a fluência mercantil, na medida do possível desimpedida das restrições impostas pela intervenção estatal.
Os liberais de todos os matizes sustentam que o Estado interventor criou uma clientela que, entre outras coisas indevidas, quer garantia de emprego, além de sombra e água fresca, tudo fornecido graciosamente pelo Estado munificente. Garantem os adversários do Estado Social que a insistência em políticas “irracionais e populistas” produziria menos crescimento e mais desemprego a longo prazo, ao contrário do que pretendem os defensores das iniciativas voltadas intencionalmente para contrabalançar os efeitos dos solavancos da economia. Em uma versão um pouco mais sofisticada, essa pérola poderia ser assim engastada nos adornos do livre-pensamento: está fadada ao fracasso qualquer proposta de intervenção, em nome da segurança coletiva, que esteja em desacordo com as hipóteses científicas  da escolha racional do indivíduo “utilitarista”, cuja ação deve estar apenas limitada por restrições impostas pela escassez de recursos e pelo funcionamento dos mercados competitivos.
A recomendação para os mercados financeiros, por exemplo, é a desregulamentação e a eliminação das barreiras à entrada e saída de capital-dinheiro nos países, seja fracos ou fortes, de modo que a taxa de juro possa exprimir, sem distorções, a oferta e a demanda de “poupança” nos espaços integrados da finança mundial.
Para os mercados de bens, submeter as empresas à concorrência global, eliminando os resquícios do protecionismo ou quaisquer políticas deliberadas de fomento. E para os mercados de trabalho, a flexibilização e a remoção de cláusulas sociais, ineficientes e danosas para os trabalhadores.
Tais reformas devem ser levadas a cabo num ambiente macroeconômico em que a política fiscal esteja encaminhada para uma situação de equilíbrio intertemporal sustentável e a política monetária controlada por um banco central independente.
Essas condições macroeconômicas significam que as duas dimensões públicas das economias de mercado – a moeda e as finanças do Estado – devem ser administradas de forma a não perturbar o funcionamento das forças que sempre reconduzem a economia privada ao equilíbrio de longo prazo.
Mas escapou a esse ideário bem-comportado que os fenômenos centrais do capitalismo destravado de nosso tempo são o acirramento da concorrência entre as grandes empresas internacionais, a escalada da financeirização e as rápidas mudanças na geoeconomia mundial. As posições relativas de países, continentes e classes sociais sofrem, já há algum tempo, alterações tão radicais quanto perturbadoras. O economista Richard Freeman, da Universidade de Harvard, diz, em artigo recente, que a velha conversa sobre os benefícios do comércio – na situação em que os países avançados produzem bens de alta tecnologia com trabalho qualificado enquanto os menos desenvolvidos se dedicam aos setores de mão-de-obra não qualificada – “tornou-se obsoleta com a presença da China e da Índia”.
No anos 1990, Paul Krugman, o economista recém laureado com o Nobel, patrocinou uma cruzada ideológica contra os movimentos antiglobalização que protestavam pela perda dos bons empregos americanos para os trabalhadores produtivistas da Ásia. Em artigo recente sobre os efeitos da migração de empresas para a China, Krugman foi obrigado a reconsiderar seus pontos de vista. Os moradores de Flitch, no estado de Michigan, perderam o emprego na fábrica de autopeças fechada sob pressão da concorrência chinesa.
Indagado sobre o destino dos desempregados, o economista Gregory Mankiw respondeu candidamente: “As pessoas têm de se mover”. Afirmou isso depois de ter proclamado a necessidade de se ministrar um curso de economia no ensino médio para que o público em geral possa ter uma visão maia acurada da globalização. A internacionalização da economia é um fenômeno constitutivo do capitalismo, o que não significa que haja uma única maneira de lidarmos com os processos que a constituem. É fácil, hoje, confundir as limitações crescentes impostas ao Estado nação com a construção de um espaço de livre circulação dos indivíduos, promovido pelo movimento desembaraçado de mercadorias e capitais. Os entusiastas da globalização asseguram que a liberdade humana decorre do impulso natural do homem à troca, ao intercâmbio, à aproximação por meio do comércio etc. Adam Smith corretamente chamou a atenção para o caráter libertador da economia mercantil capitalista e para as suas potencialidades. Marx, herdeiro e defensor das postulações do iluminismo e da Revolução Francesa, indagou se as relações de produção e as forças produtivas do capitalismo permitiriam, de fato, a realização da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.
O capitalismo pode se definido como a coexistência entre a enorme capacidade de criar, transformar e dominar a natureza, suscitando desejos, ambições e esperanças, e as limitações intrínsecas à sua capacidade de entregar o que prometeu. Não se trata de uma perversidade, mas do seu modo de funcionamento. As novas formas financeiras contribuíram para aumentar o poder das grandes corporações. As fusões e aquisições suscitaram um maior controle dos mercados e promoveram campanhas contra os direitos sociais e econômicos, considerados um obstáculo à operação das leis de concorrência. A abertura dos mercados e o acirramento da concorrência coexistem com a tendência ao monopólio e, assim, restringem a soberania estatal e impedem que os cidadãos, no exercício da política democrática, tenham capacidade de decidir sobre a própria vida.
Na visão da psicanalista e historiadora francesa Elizabeth Roudinesco, o sujeito moderno, aquele “constante de sua liberdade, mas atormentado pelo sexo, pela morte, pela proibição”, é substituído pela concepção “mais psicológica de um indivíduo depressivo que foge de seu inconsciente e está preocupado em retirar de si a essência de todo o conflito”.
Os trabalhos de destruição da subjetividade moderna são realizados por uma sociedade que precisa exaltar o sucesso econômico e abolir o conflito. As ciências humanas e sociais contemporâneas exprimem essas necessidades da sociedade capitalista, ou seja, desse sujeito abstrato, mediante duas visões: a universalidade naturalista, deduzida de disciplinas sérias como as neurociências ou a genética, e a diversidade do culturalismo empírico.
Para os primeiros, os males do mundo podem ser solucionados com doses maciças de Prozac ou de qualquer substância química capaz de aliviar o sofrimento dos “aparelhos biológicos”. Para os outros, os do culturalismo, o melhor é abandonar as dores que acompanham a constituição de um saber universal e eternamente inacabado, refugiando-se na completude do mundo mítico e mágico das verdades particulares e supostamente originárias. As duas visões do sujeito, aparentemente antitéticas, têm em comum o horror à diversidade concreta e irredutível do mundo da vida. Esse horror não pode ser aplacado pela sociabilidade do mercado que transforma o Outro num inimigo competidor.
Apoiados em convenções e constrangidos pela concorrência, essas subjetividades, os detentores da riqueza não podem escapar dos estados de euforia e apetite pelo risco que culminam na decepção, na crise e na desvalorização da riqueza. Os indivíduos racionais e calculadores são atropelados pela “busca desesperada da riqueza líquida”, a volúpia coletiva pela forma geral da riqueza que, em seu movimento maníaco, termina por destruir não só as suas formas particulares como também os particularismos dos indivíduos tomados pelo instinto de manada. Em todas as crises, o descontrole da manada só é aplacado com intervenções de suporte de liquidez que visavam e visam impedir que a busca da riqueza geral produza e generalização do empobrecimento causado pela “sagrada fome do ouro”. Auri Sacra Fames.
A intervenção salvadora dos bancos centrais, sem dúvida, corre o risco de fortalecer a crença de que os desatinos dos investidores estarão sempre a salvo de perdas pronunciadas e definitivas. As eventuais crises seriam momentâneas, apenas oportunidades em que se apresentariam pontos de compra convidativos para o início de uma nova temporada de alta generalizada.
Ainda assim, a experiência dos últimos anos, estimulada, entre outras causas, pela imprevidência do ex-presidente do banco central dos Estados Unidos, Alan Greenspan, não é suficiente para assegurar que a sucessão de episódios de euforia e depressão vá terminar sempre com a salvação dos protagonistas mais alavancados. Os ataques frenéticos mais explicitamente homicidas do capitalismo “financeirizado”. Nele, a pretensão dos bem sucedidos de acumular “tempo livre” sob a forma de capital fictício é, ao mesmo tempo, a “liberação” dos dependentes para as agruras do desemprego, da crescente insegurança e precariedade das novas ocupações, da queda dos salários reais, da exclusão social.
Nesse ambiente darwinista são cada vez mais frequentes as arengas dos economistas, sacerdotes da religião dos mercados, contra as tentativas dos simples cidadãos e cidadãs de barrar a marcha do Moloch insaciável e ávido por expandir o seu poder. A grita dos sábios da finança é desferida conta os “desvios” da política, os surtos de “populismo”. Com esses slogans os ideólogos pretendem enquadrar a sociedade na camisa de força de uma suposta racionalidade econômica. Os mercados e seus agentes, diga-se, não estão certos nem errados. Estão simplesmente obrigados a tomar decisões que, em seu imaginário peculiar, são as apropriadas para proteger ou acrescentar o valor de sua riqueza. Na verdade eles são “pensados” por uma lógica que não controlam.

[1] Artigo publicado originalmente em Carta Capital 518, 22/10/2008, in SISTER, Sérgio (org.). O abc da crise. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2009. Na tradição bíblica, Moloch, é o nome de um deus dos amonitas, uma etnia de Canaã, ao qual se ofereciam recém-nascidos em sacrifício, jogando-os em uma fogueira.
[2] Ronald Reagan, presidente dos EUA de 1981 a 1989. Margaret Thatcher foi primeira-ministra da Grã-Bretanha de 1979 a 1990.
* Luiz Gonzaga Belluzzo é professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). Foi secretário nacional de política econômica (1985-1987) e secretário estadual de Ciência e Tecnologia de São Paulo (1988-1990).

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