Por que a desigualdade faz os ricos se sentirem mais pobres?
por Paul Krugman
Catherine Rampell tem um artigo muito bom sobre por que os realmente ricos sentem-se pobres e, embora Brad de Long esteja certo, um gráfico de um “log” do nível de renda é melhor:
Níveis de renda log por porcentual
Gostaria de me deter um pouco aqui.
O que Catherine Rampell tem em mente é uma visão da sociedade como alguma coisa semelhante a uma longa rua que segue na direção de uma colina, que vai se elevando junto com a elevação da renda. E cada indivíduo ao longo dessa rua se avalia em relação aos vizinhos de ambos os lados, e não à rua inteira.
Agora, existem duas interpretações ligeiramente diferentes desta história. O que Catherine parece sugerir é que as pessoas se comparam apenas com os vizinhos que estão acima deles – e como essa colina fica cada mais escarpada à medida que você sobe a rua, os ricos sentem-se em pior situação porque o sujeito à sua direita está cada vez mais diferente deles próprios.
Uma alternativa é essas pessoas se compararem com os vizinhos de ambos os lados, mas é a convexidade que muda: se você está no nível intermediário da distribuição de renda, seu vizinho que está mais acima será muito mais rico do que o que está mais abaixo, mas nos altos níveis de riqueza isso já não vale mais. (Há muito tempo atrás, eu achava que a distribuição de renda era mais ou menos lognormal para a maioria desta faixa, mas ela se torna um diagrama de Pareto na extremidade mais alta. Se você não tem nenhuma ideia do que estou falando, esqueça.)
De qualquer maneira, a verdade é que o fosso entre ricos e super-ricos está aumentando espetacularmente. Aqui vão os dados Piketty-Saez mostrando o 1% no topo se distanciando dos 4% seguintes: a mesma coisa está sucedendo no caso do 0,1 no topo frente aos perdedores que estão na faixa 99.0-99.9, e assim por diante:
O resultado é uma sociedade de vencedores choramingas, em que as pessoas não estão apenas ganhando bem, mas muito melhor em relação à média de uma geração atrás, e no entanto sentem-se deixadas para trás.
Uma nota pessoal: sempre considerei a desigualdade extrema no topo mais relaxante do meu ponto de vista. Robin e eu estamos muito bem, naturalmente, mas outros estão numa situação muito melhor; o fato, contudo, é que, especialmente em Nova York, você sabe que não importa o quanto ganha, existem outras pessoas enriquecendo tanto que a sua renda chega a parecer insignificante. Portanto, qual a razão de uma pessoa se avaliar desse modo? Claro que é provavelmente muito mais fácil sentir-se dessa maneira quando você tem outras coisas que vão melhorar o seu ego.
Fonte: Estadão, 14/01/2011
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