segunda-feira, setembro 29, 2008

do Caderno de Saramago

Claro como água

Setembro 28, 2008 by José Saramago

Como sempre sucedeu, e há-de suceder sempre, a questão central de qualquer tipo de organização social humana, da qual todas as outras decorrem e para a qual todas acabam por concorrer, é a questão do poder, e o problema teórico e prático com que nos enfrentamos é identificar quem o detém, averiguar como chegou a ele, verificar o uso que dele faz, os meios de que serve e os fins a que aponta. Se a democracia fosse, de facto, o que com autêntica ou fingida ingenuidade continuamos a dizer que é, o governo do povo pelo povo e para o povo, qualquer debate sobre a questão do poder perderia muito do seu sentido, uma vez que, residindo o poder no povo, era ao povo que competiria a administração dele, e, sendo o povo a administrar o poder, está claro que só o deveria fazer para seu próprio bem e para sua própria felicidade, pois a isso o estaria obrigando aquilo a que chamo, sem nenhuma pretensão de rigor conceptual, a lei da conservação da vida. Ora, só um espírito perverso, panglossiano até ao cinismo, ousaria apregoar a felicidade de um mundo que, pelo contrário, ninguém deveria pretender que o aceitemos tal qual é, só pelo facto de ser, supostamente, o melhor dos mundos possíveis. É a própria e concreta situação do mundo chamado democrático, que se é verdade serem os povos governados, verdade é também que não o são por si mesmos nem para si mesmos. Não é em democracia que vivemos, mas sim numa plutocracia que deixou de ser local e próxima para tornar-se universal e inacessível.

Por definição, o poder democrático terá de ser sempre provisório e conjuntural, dependerá da estabilidade do voto, da flutuação das ideologias ou dos interesses de classe, e, como tal, pode ser entendido como um barómetro orgânico que vai registando as variações da vontade política da sociedade. Mas, ontem como hoje, e hoje com uma amplitude cada vez maior, abundam os casos de mudanças políticas aparentemente radicais que tiveram como efeito radicais mudanças de governo, mas a que não se seguiram as mudanças económicas, culturais e sociais radicais que o resultado do sufrágio havia prometido. Dizer hoje governo “socialista”, ou “social-democrata”, ou “conservador”, ou “liberal”, e chamar-lhe poder, é pretender nomear algo que em realidade não está onde parece, mas em um outro inalcançável lugar – o do poder económico e financeiro cujos contornos podemos perceber em filigrana, mas que invariavelmente se nos escapa quando tentamos chegar-lhe mais perto e inevitavelmente contra-ataca se tivermos a veleidade de querer reduzir ou regular o seu domínio, subordinando-o ao interesse geral. Por outras e mais claras palavras, digo que os povos não elegeram os seus governos para que eles os “levassem” ao Mercado, mas que é o Mercado que condiciona por todos os modos os governos para que lhe “levem” os povos. E se falo assim do Mercado é porque é ele, hoje, e mais que nunca em cada dia que passa, o instrumento por excelência do autêntico, único e insofismável poder, o poder económico e financeiro mundial, esse que não é democrático porque não o elegeu o povo, que não é democrático porque não é regido pelo povo, que finalmente não é democrático porque não visa a felicidade do povo.

O nosso antepassado das cavernas diria: “É água”. Nós, um pouco mais sábios, avisamos: “Sim, mas está contaminada”.

sábado, setembro 27, 2008

Por Cervantes

Salvador, Ba - 27/09/2008   01:00 AM
Obrigado Suzana, pela colaboração em traduzir esses dois poemas que tem neles muito de meus sonhos, e dou bis em homenagem ao "caçador de moinhos" Don Quixote de La Mancha. Beijo no coração,  Afranio.

Raíces y alas

Justo ahora sé las palabras que me huyen

Me atrevo a ser más fuerte a través de ellas, por fin

Pero me sobran pensamientos cortos enlazados

Letras trenzadas callan el silencio en mí.

 

Escribo sobre lo que me despedaza por dentro

Días y noches forjan sus dolores en un repente

Cuando ya no se espera es el amanecer que entra

Por la nueva ventana abierta y me cubre, soñoliento.

 

Cruzo puertas que ayer aún no existían

Mi camino es la orilla de una grave descobierta

Como un pez libre que presiente el desove

Salgo de las raíces y abro paso en lo que me libierta.

 

Más allá del miedo común al animal con instintos

Algo me protege de las piedras y de los espinos

Grito en el aire girando ligero en un carrusel de alegría

Y gano el don de posar como un pajarito. 


Pausa mayor

 En el Solar caía un sol de tintas.

Lo que restaba era una trilla del mar

Y sus ojos de barco navegado

anclaban en una pausa del muelle,

sacando el horizonte de su lugar.

 

Sombras de Goya traspasaban

el pecho femenino torneado por la tarde.

Era roja la fuente de los sentidos,

el cielo y el suelo tomados de la mano,

hablaban algo para que fueran oídos.

 

Encontré una concha estampada en la arena,

bordes de sal en una trilla de estrellas

ofreciendo luz al distante camino

de modelos recortados de retratos,

llevados por la marea en pedazitos.


sexta-feira, setembro 26, 2008

Ao grupo "ex-eco"

Amiga Lavínia, tudo bem? Boa tarde. E também aos demais debatedores desse tema tão atual e importante para todos, eco, ex-eco, não eco e cidadãos do mundo!

Primeiro quero saber dessa coluna que o Cesar Benjamin escreve, onde, qual o endereço (URL)?

Segundo, tem nenhum mistério os propósitos dos defensores do capitalismo (financeiro) em sua fase que agonia (ou agoniza) a todos nesse nosso velho e novo mundo. Um amigo repetia pra mim em seus ataques de ansiedade diante da situação de apatia e ignorância de certos intelectuais que se autodenominavam marxistas (vemos hoje que muitos nem leram o primeiro capítulo do "O Capital", ou nem terminaram o prefácio mesmo): "entre os capitalistas não existe contradição, mas sim contrariedades".

Os episódios recentes demonstram apenas o processo de "conta gotas" (Tavares) em que a crise vem sendo postergada, administrada. É sabido que nenhum arauto desse sistema sabe exatamente aonde isso tudo vai dar, inclusive porque os paradigmas históricos, inclusive do "ecologismo", continuam a procurar associar à ofensiva destruidora contra os povos esses mesmos povos e suas organizações. A propalada "gestão da crise", a questão dos preços do petróleo e o desenvolvimento dos biocombustíveis, a questão da água (o OURO AZUL, essencial À VIDA na Terra) e sua exportação através do comércio de grãos para a UE e EUA, vejam que onde a fome tem presença marcante também falta o uso adequado desse bem ambiental (que o sistema capitalista transformou em um bem econômico). Tem um sentido fundamental toda a manobra dos governos imperialistas.

É de se questionar qualquer defesa desse quadro atual do capitalismo, se baseando em fundamentos caducos ou "renovadores" de um arcabouço teórico por demais testado e pouco criativo, que não engana mais ninguém (ou não?) em suas "repetições" e falsas crises de identidade. Fato é que estamos frente a um momento de sérias mudanças necessárias, não só de paradigmas relacionados ao que chamamos econômico na "teia da vida que não só humana" mas sobretudo quanto ao aspecto da preservação da vida em um sentido holístico, do "desenraizamento da emoção humana", do ser da terra, do ecossistema onde se insere o próprio homem.

Estamos no limiar de uma significativa ruptura de paradigmas, independente do que alguns se ache ou professem em suas "crenças" ou referências ideológicas.

O capitalismo já deu provas que tem limitações, e nos limita (a maioria da humanidade) a "sobreviver" como animais, seguindo as premissas darwinianas para "justificar a existência da concorrência e fazer da economia de mercado uma lei natural". Lembrando Engels: "Darwin não sabia que amarga sátira da humanidade, e especialmente de seus concidadãos, ele escrevia quando demonstrava que a livre concorrência, a luta pela vida, celebrada pelos economistas como a mais alta conquista da história, era o estado normal do reino animal".

Um abraço cordial,

Afranio Campos

terça-feira, setembro 23, 2008

Gaia ou Pacha Mama

Encontro com a sabedoria mapuche Por Leonardo Boff    -   21/9/2008 02:08:00


Hoje se enfrentam dois olhares contraditórios com referência à Terra. Um, a vê como um grande objeto, destituído de espírito, à disposição do ser humano que pode dispor de seus recursos como bem entender. Este olhar permitiu o projeto técnico-científico de conquista e dominação da Terra, que está na base do atual aquecimento global. O outro, a considera como um super organismo vivo, a Gaia dos modernos ou a Pacha Mama dos povos originários andinos. Ela se auto-regula e articula todos os seus componentes de forma que se faz a permanente produtora e reprodutora de todo o tipo de vida.

Este segundo olhar, foi o dominante na história da humanidade e foi responsável pelo equilíbrio que se estabeleceu entre a satisfação das necessidades humanas e a manutenção do capital natural em sua integridade e vitalidade. Hoje cresce a consciência de que o primeiro olhar – da dominação e devastação – precisa ser limitado e superado, pois, do contrario, pode provocar imenso desastre no sistema da vida. A Terra seguramente continuará, mas talvez sem a nossa presença. Daí a urgência de revisitar os portadores do primeiro olhar — da Terra como Grande Mãe e Casa Comum — pois eles são portadores de uma sabedoria que nos falta e de formas de relação para com a natureza que nos poderá salvar. Então nos encontramos com os povos originários, os indígenas que, segundo dados da ONU, são mais de cem milhões no mundo inteiro, distribuídos em quase todos os países, como no extremo Norte com os sami (esquimós) ou no extremo Sul, com os mapuche.

Em setembro do corrente ano pude me entreter longamente com os mapuche que vivem na Patagônia argentina e chilena. São muitos, somente no sul do Chile mais de quinhentos mil. Vivem nestas regiões andinas há cerca de 15 mil anos. Resistiram a todas as conquistas. Quase foram exterminados, no lado argentino, pelo feroz general Roca e, no lado chileno, são muito discriminados. Aos que hoje ocupam terras que eram suas, se aplicam as leis contra os terroristas da constituição de Pinochet. 

Falando com seus lideres (lonko) e sábios (machis), logo salta à vista a extraordinária cosmologia que elaboraram. Tudo é pensado em quatro termos. Segundo C. G. Jung, o número quatro constitui um dos arquétipos centrais da totalidade. Sentem-se tão vinculados à Terra que se chamam “mapu-che”: seres (che) que são um com a Terra (mapu). Por isso se sentem água, pedra, flor, montanhas, insetos, sol, lua, todos irmanados entre si. Aprenderam a decodificar e compreender o idioma da Mãe Terra (Ñeku Mapu): o soprar do vento, o pio do pássaro, o farfalhar das folhas, o movimentos das águas e principalmente os estados do sol e da lua. Em tudo sabem tirar lições. Seu ideal maior é viver e alimentar profunda harmonia com todos os elementos, com as energias positivas e negativas e com o céu e com a terra. Sentem-se os cuidadores da natureza. A comunidade sobe ao morro mais alto. Toda a terra que avista até se encontrar com o céu, é-lhe designada para cuidar. Perturbam-se quando outros não mapuche penetram estas terras para introduzir cultivos, pois entendem que assim se torna mais difícil cumprir a sua missão de cuidar.

Desenvolveram sofisticados métodos de cura. Toda doença representa uma quebra do equilíbrio com as energias da Terra e do universo. A cura implica reconstituir este equilíbrio, de sorte que o enfermo se sinta novamente inserido no todo. Os mapuche são orgulhosos de seu conhecimento. Não aceitam que seja considerado folclore ou visão ancestral. Insistem em dizer que é um saber tão sério e importante como o nosso científico, apenas diferente. Na busca de regeneração da Terra eles podem nos inspirar.


Leonardo Boff é autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística. Em 1984, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro "Igreja: Carisma e Poder", foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa da Fé, ex Santo Ofício, no Vaticano. Em 1985, foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso" e deposto de todas as suas funções editoriais e de magistério no campo religioso. Dada a pressão mundial sobre o Vaticano, a pena foi suspensa em 1986, podendo retomar algumas de suas atividades. Em 1992, sendo de novo ameaçado com uma segunda punição pelas autoridades de Roma, renunciou às suas atividades de padre e se auto-promoveu ao estado leigo. E-mail: lboff@leonardoboff.com  Site: www.leonardoboff.com

segunda-feira, setembro 22, 2008

Fragmentos da Infância

Areias de Açúcar


Praia espuma raso largo afago

Garoto calado risco espirro

Bruma dunas brancas sorrisos

Nuvens bolas pardais limo

Áspero chão concha carrapicho

Dentes purrão algodão germe

Criança esguia badogue febre

 

Vidro linha arraia salto pó afã

Lugar mar abundante Carapeba

Trilhos rua mangue pucumã

Calçada portão assovio cavaco

Breve curvas irmãos bocas pão

Lembranças caranguejo pai linho

Meteoro mãe leite lar corrupio

 

Solidão espera brincadeira céu

Estudos tardes avós doces jantar

Borboletas jasmim gravetos pés

Areia formigas flamboyan chapéu

Cuscuz milho mungunzá amendoim

Pedras palha barro mesa grãos

Bananas maçãs abelhas capim

 

Periquitos ovos girinos veneno

Assum preto morro canto riacho

Lagoa pintos redes mato flores

Vaga-lumes urtigas carneiros

Porcos gatos galinhas enxada

Dores mundo cão mamonas tatus

Sertão andu vendaval início nada


Cumeeira cajús mamoeiro pavão

Teatro vida espelho coração trem 

Margem carroça fifó vitrola rio 

Oito anos castigo armas Leopoldina

Viagem avião partida Maceió pavio

Trapiche anjos raízes serpentina

Fogo amores ar água terra confins


sábado, setembro 20, 2008

Falso paradigma

"Só os canalhas é que falam que estão apaixonados"

Certa tarde, Horácio parecia preso em sua cadeira giratória buscando no Google informações muito complexas para uma simples leitura vespertina, daí como se quisesse se desprender delas se voltou para a sua esquerda, numa intenção ficando de frente para sua amiga de pesquisa provocando-a com perguntas sobre as mudanças nos paradigmas do relacionamento entre as pessoas. Numa conversa despretensiosa foi esmiuçando suas idéias e instigando a jovem de vinte e quatro anos a responder sobre o que pensava sobre os relacionamentos de seus conhecidos, ou melhor, dos garotos e das garotas do seu tempo. Horácio considerou para si mesmo, sem comentar, que muitos “jovens” com a mesma idade "dobrada" dele, também passaram a agir tal qual eles, os jovens da turma da sua amiga.

O interessante nesse diálogo é que Horácio esperava não parasse por ali, o que trouxe uma inusitada curiosidade mergulhando os dois numa troca de impressões, para ele, de como os jovens “aprendizes” de estratégias e jogos de conquistas agiam realmente para serem felizes? Para ela, de como se acham preparados para os relacionamentos e o conhecimento dos seus novos parceiros.

Nessa fase emocionante o que impressiona é que tudo está acontecendo num passar de olhos rápidos, o raio-x do interesse se dá como numa caçada absolutamente racional, pretensamente planejada, a “pegada” não caminha voa, e a rapidez do desinteresse pelos parceiros da mesma forma. Os processos deflagrados misturam tudo, o que é percepção se dobra ao instinto, e todos se encontram num caldeirão de êxtase que chega às raias do que parece impossível, sem dúvida nenhuma fazendo um “dinossauro” como ele, Horácio, mais um “deliquente de meia idade”, se sentir subitamente “inocente”, frente a velocidade alucinante como as coisas acontecem.

O interesse em uma relação com o outro, sem a presença dos tabus, valores, padrões e limitações de gerações anteriores abriu novas possibilidades de criativas relações (pegante, ficante, amaciante, beijante, etc), e as meninas incorporaram com maestria o que os rapazes já faziam há tempos. Uma amiga coleciona uns cinco namorados, ela ressaltou. Na cabeça de Horácio tudo passou a ter um sentido, o mostrar-se sincero nas emoções, dizer-se apaixonado, se tornou uma coisa perigosa demais no jogo da conquista, do “querer ter” sem medida, o interesse pelo outro vai até o limite do mistério, do prazer anônimo, alguma revelação essencial, do interior, da emoção pura, do sentimento verdadeiro pode acabar todo o encantamento, o entusiasmo hormonal é delicado e sutil, pode não sobrar nada para dar continuidade a pretendidas descobertas do que o outro possa se tornar na sua fantasia, o desejo introduz a todos por uma enorme “selva de epiléticos” da lei que impede qualquer vacilo sentimental. Ser romântico é como se apresentar nu na porta do outro, ser “bobinha” é apenas uma tática excitante, mas sem ser desinteressante para quem não pretende se sentir “preso” ao outro real, separado da couraça, dos cinturões que amarram a boca do coração. Falar que está apaixonado é fatal. A fila anda. Só os canalhas falam isso. Dar flores é cair no lugar comum. Pode ser um truque!

A “grande ilusão” se aquece com ou sem a luz do sol. Os paradigmas mudaram nessa seara, e Horácio procura entender. O que não quer dizer que ninguém mais se perceba, mesmo sem querer, andar nas nuvens, nos braços da desenraizada emoção humana, se entregando a uma “paixão de lagartixa”, parando num vendedor de flores, longe disso, na vida essas loucuras ainda acontece.

sexta-feira, setembro 19, 2008

Lugar

Chegamos sempre ao lugar que nos esperam. [Livro dos Intinerários]
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quarta-feira, setembro 17, 2008

Repetições

Nosso Padrão

Já pensou que mudar de padrão ou se mudar de padrão é também mudar de relacionamentos? Falo de qualificar, ter qualidade de vida, alterar sua rotina com mulher, marido, namorada, namorado, filhos, irmãos, parentes, amigos, conhecidos, encontrar outras maneiras de dizer o sim ou o não, fazer diferente, “dar-se” às coisas, "deixar-se" simplemente, de outro jeito, ao invés daquele que normalmente você não se sentiria “preparado” em sair da sua zona de conforto. Feche o tempo se preciso, mas sem esquecer do sentimento, do respeito ao outro, coisa da maior importância em qualquer situação das relações entre as pessoas, penso eu.

Hoje amanheceu um dia anormal, o que não é incomum para mim, porque logo ao refletir sobre esse assunto constatei que algumas coisas podiam estar se repetindo e podia nem me dá conta da mesmice ou do cacoete fermentado pela vida, da minha, ou melhor, desse tão cantado e decantado “padrão” muitas vezes camuflado em nós mesmos, encoberto, menos para o outro que nos enxerga, demonstrando interesse por nós, que de fora mantém com você uma conversa, interage e “responde” a você, igualmente a outros "outros" que no passado também lhe respondeu igualmente, como se existisse uma marca, um risco de giz a ser seguido em sua direção, um repeteco de respostas, de feedbacks, seja lá o que for respostas ao que você desperta ou dispara com suas ações, comportamentos e questões, ao que você é ou sugere de “padrão” normalmente. Não se surpreenda ao abrir os olhos e ver acontecendo as mesmas coisas que importunam a você todos os dias, hora sim hora não, coisas essas que vira e mexe aparecem “sem mais porquês” (embora haja), um troço, uma droga que te incomoda, te enche, te farta na dose, e vai te empurrando para o dejavú nem uma nem duas, mas muito mais vezes. É de se perceber mesmo! Pense nisso. Tem haver com o foco sobre o interesse, os abusos, a irritação, as manias, os amores mal resolvidos, as atividades chatas, o trabalho que te faz mal, a falta de grana, o desemprego continuado, o desempenho sexual, as brigas no trânsito, a rotina em casa, a pressa aloprada, a dor no estômago, a hipocondria, a disritmia, o desamor, a falta de compaixão, o problema no coração, a crise de nervos, o estresse, o câncer. O começo e o fim do dia, de novo, repense, no novo.

Pelo que me toca, acredito que existam sim, algumas coisas que mesmo reconhecendo como um padrão surgem de maneira que nos fazem bem, ajudam, acompanham nossa caminhada nos trazendo o que chamaríamos de “sorte”, embora seja apenas nosso momento de realização da combinação do nosso preparo com a oportunidade que nos chega, e que não se perca qualquer oportunidade de vivênciar experiências se houver algum prazer de vivê-la.

Certamente os padrões nos expõe, nos perseguem, mas, como tudo é possível em se querendo (“querer é poder”) ainda acabamos - ou começamos -  fazendo diferente. Que mudemos os padrões para outros que sejam melhores.

terça-feira, setembro 16, 2008

nying je

Ética significa a ilimitada responsabilidade por tudo o que existe e vive. [Albert Schweitzer]

segunda-feira, setembro 15, 2008

Litost

O que é a "litost"

----Litost é uma palavra tcheca intraduzível em outras línguas. Sua primeira sílaba, que se pronuncia de maneira longa e acentuada, lembra o lamento de um cachorro abandonado. Para o sentido da palavra, procuro inutilmente um equivalente em outras línguas, embora eu tenha dificuldade de imaginar que se possa compreender a alma humana sem ela.
----Vou dar um exemplo: o estudante tomava banho com sua amiga, também estudante, no rio. A moça era esportiva, mas nadava muito mal. Não sabia respirar embaixo d'água, nadava devagar, a cabeça nervosamente levantada acima da superfície. A estudante estava tão irracionalmente apaixonada por ele e era tão delicada que nadava quase tão devagar quanto ele. Mas como o horário de banho estava quase na hora de acabar, ela quiz dar por um instante livre curso a seu instinto esportivo e dirigiu-se à margem oposta num crawl rápido. O estudante fez um esforço para nadar mais depressa, mas engoliu água. Sentiu-se diminuído, desmascarado na sua inferioridade física, e sentiu a litost. Lembrou-se de sua infância doentia, sem exercícios físicos e sem amigos, sob o olhar excessivamente afetuoso da mãe e ficou desesperado consigo mesmo e com a vida. Ao voltarem para casa por um caminho campestre, os dois se conservaram calados. Ferido e humilhado, ele sentia um irresistível desejo de bater nela. "O que está acontecendo com você?", perguntou ela, e ele a censurou: ela sabia muito bem que havia correntes perto da outra margem, ele a tinha proibido de nadar naquele lado, porque ela corria o risco de se afogar - e deu-lhe um tapa no rosto. A moça começou a chorar e, diante das lágrimas em seu rosto, ele sentiu pena dela, tomou-a nos braços e sua litost se dissipou.
----Ou então um outro acontecimento da infância do estudante: seus pais lhe fizeram tomar lições de violino. Ele não era muito dotado, e o professor o interrompia com uma voz fria e insuportável censuranado-lhe os erros. Ele se sentia humilhado e tinha vontade de chorar. Mas, em vez de esforçar-se para tocar de maneira correta e não cometer erros, eis que ele se enganava deliberadamente; a voz do professor ficava ainda mais insuportável e dura, e ele mergulhava cada vez mais na sua litost.
----Então o que é a litost?
----A litost é um estado atormentador nascido do espetáculo de nossa própria miséria repentinamente descoberta.
----Entre os remédios habituais contra nossa própria miséria, há o amor. Pois aquele que é amado de maneira absoluta não pode se sentir miserável. Todas as fraquezas são resgatadas pelo olhar mágico do amor, sob o qual mesmo um nado desajeitado, com a cabeça fora da superfície da água, pode tornar-se sedutor.
(...)
----Aquele que possui uma experiência profunda da imperfeicão própria do homem está relativamente a salvo dos choques da litost. O espetáculo da sua própria miséria é para ele uma coisa banal e sem interesse. A litost é, portanto, própria da idade da inexperiência. É um dos ornamentos da juventude.

-trecho do "O livro do riso e do esquecimento", livro de Milan Kundera. Círculo do Livro, São Paulo, 1978.

sábado, setembro 13, 2008

Oh música!

Todos somos ouvintes de música, bem ou mal, boa ou não.  Na lista abaixo estão alguns músicos que fazem um som muito legal de se ouvir, boa música que infelizmente o rádio e a tv raramente divulga. Para quem gosta e navega diariamente na internet é só usar o endereço http://www.lastfm.com.br/listen e depois no campo Comece a ouvir a rádio Last.fm informe o nome do artista que deseja e "manda ver" clicando no botão tocar, pronto, vai rolar música até você se fartar... beba dessa fonte é "água" da boa! Bye.

A Lista
______________________
Jeff Lorber
Chuck Loeb
Kenny Burrell
Jeff Golub
Richard Eliot
Joe Pass
David Sanborn
Joe Henderson
Wynton Marsales
Nick Collonne
Joyce Cooling
Pat Metheny Group
Nicolas Payton
Jack McBean
Lee Ritenour
Sonny Stitt
Barney Kessel
Hank Mobley
Dexter Gordon
Yellowjackets
Fourplay
Brian Culbertson
Acoustic Alchemy
Bob James
John Coltrane
Stanley Jordan
Wes Montgomery
John Scofield
_________________________

sexta-feira, setembro 12, 2008

Zero a zero

Que seja 1 a 1

Um convite de Maria me levou a uma seresta beneficente no quartel de Amaralina, era noite de lua e vento na beira do mar coberta por uma fria brisa praieira. O lugar tem uma beleza convidativa à contemplação. A última vez que estive lá foi em um casamento realizado com muita pompa e honras de dois amigos da biodança, Nilton e Cacilda, o evento foi memorável. 

Bem, a minha noite na seresta me lembrou de uma época em que junto com amigos da faculdade íamos a Baixa dos Sapateiros dançar e observar os dançarinos numa gafieira do Clube da Guarda Civil, a música era levada pela orquestra do saudoso maestro Vivaldo Conceição. Nós chegávamos no clube por volta da meia noite, o clima era de set de ensaio artístico, encontrávamos artistas como Jards Macalé (bebi da sua cerveja), gente da escola de teatro da UFBa, populares e universitários de várias tribos ideológicas e políticas. Todos atores de uma peça que parecia estar seguindo um texto e direção de Nelson Rodrigues. 

Nosso transporte era em um carmaguia (ops! era um dkvêzinho) azul claro de uso coletivo do grupo de amigos que freqüentava o lugar, outra Maria, Maria Etiene, amiga dessas empreitadas era quem conservava o “carro velho” que parava vez ou outra para troca de um pneu ou pela falta de combustível. Um belo dia na Bahia, alguns “bichos”  do grupo e eu arriscamos viajar até Feira de Santana para ver uma corrida de jegue numa avenida de lá, que um amigo filmaria, isso foi uma verdadeira aventura... o volante do carrinho tremia ao pisar fundo, nem chegava aos oitenta quilômetros hora no marcador e até parecia uma batedeira ambulante, mas chegamos todos sãos e a salvo de um imprevisto no asfalto da BR Salvador-Feira. Tempo bom! 

Voltando a seresta no quartel, uma oportunidade dessas revela como o pessoal se solta mostrando suas performances ocasionais, os vários ritmos de som no teclado e tipos de dança (bolero, forró, lambada, e por aí vai...), ajudaram a formar uma grande roda energizada pelo calor humano que em movimento convidava aos que ficavam parados olhando, com palmas e muita criatividade, mais a sensualidade do requebrado empurrava muita alegria no salão da gente de toda idade e emoção. Me joguei no clima, numa noite inesperadamente gratificante que propiciou um aprendizado que me trouxe muita satisfação pela companhia da amiga Maria e pela sensação de que dançar pode combinar com algumas coisas que não estamos acostumados a observar e perceber no prazer da companhia do outro.

Na verdade senti na pele que querer estar de bem com a vida e feliz pode ser uma opção menos dolorosa do que parece, ou seja, ainda que seja uma “dança sem beijo” o prazer de dançar a vida é “bótimo”! E que não se jogue fora a água da bacia junto com a criança pelo fato de ficar no zero a zero. Prá quem quer sair do stand alone é só dar uma paradinha na Borracharia. Que seja 1 a 1.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Brotou

olhos d’água

raios do coração brilham no olhar feminino

anéis nas retinas giram fios de ouro e âmbar

quatro mãos gravitam pelos dedos em voltas

uma emoção nos abre em sorriso e lágrima

em segundos cabe nossa luz em um abraço

lembranças bordam sonhos com linha dupla

 

bem que desejamos caminhar no ritmo da terra

e o tempo não fazer parte da essência das coisas

saber mais do outro ao ver de novo a sua dança

na busca do encontro vibrar a vida que avança

outra vez ensaiar lado a lado em uma música

sem esquecer de deixar um recado no até logo

interior e casca ainda unidos por uma teia lúdica

karman e darma cobram só o que importa agora

terça-feira, setembro 09, 2008

Escrever para viver

ZERO HORA - Matéria do dia 22 de Agosto

Escrever para viver
Estréia “Nome Próprio”, de Murilo Salles, filme vencedor do Festival de Gramado

Poucos filmes brasileiros ganharam tanto destaque no Estado nos últimos anos quanto Nome Próprio. Seja pela participação da escritora gaúcha Clarah Averbuck no projeto do diretor Murilo Salles, pela impressionante atuação de Leandra Leal, pela polêmica estratégia de lançamento do filme, a disputa e a surpreendente vitória no Festival de Gramado.

Todos estes temas renderam assunto. Muito falado, o longa pode a partir de hoje também ser visto em duas salas da Capital: Unibanco Arteplex 1 e Arcoíris Rua da Praia1.

Realizado em vídeo digital e com orçamento modesto (R$ 1,2 milhão), Nome Próprio é a imersão de Salles em um universo que, segundo ele, ainda não tem sua importância reconhecida pelo cinema brasileiro.

– Queria abordar essa geração que se relaciona e conhece o mundo pela internet – diz Salles. – Não se pode ignorar fatos como o Brasil ter o maior número de usuários do Orkut no mundo.

Diante da proposta, o caminho de Salles inevitavelmente cruzou com o de Clarah, escritora pioneira no uso da internet no Brasil para divulgar seus textos. A partir de relatos confessionais da autora em blogs e também em livros, o diretor apresenta como protagonista Camila (Leandra), jovem que chega a São Paulo aspirando ser escritora e se lança em uma ciranda de excessos – amorosos, emocionais e etílicos –, transformando essa intensidade autodestrutiva, e algo amoral, em um constante fluxo narrativo no teclado de seu computador. Camila não sabe se escreve para viver ou vive para escrever.

– Conheci os textos da Clarah antes de começar a filmar. Quando cheguei ao set sabia muito de cada cena, daquele universo – lembra Leandra, que destaca a liberdade que obteve do diretor para contribuir na construção da personagem, que lhe valeu um aclamado Kikito de melhor atriz em Gramado.

Murilo completa:

– Um filme que com essa intensidade só pode ser feito quando existe total intimidade e cumplicidade no set.

Ao mesmo tempo em que comemora a vitória em Gramado, Salles lamenta o fato de Nome Próprio ter sido recusado em vários festivais internacionais

– É um filme moderno, urbano, que vai contra a imagem que as curadorias estrangeiras têm do Brasil. Elas apreciam mais temas como miséria e violência. Temos de fugir desse coitadismo no cinema brasileiro.

1 - Efeito Kikito

Entre os seis longas nacionais em competição no Festival de Gramado, Nome Próprio era favorito apenas ao prêmio de atriz para Leandra Leal. O Kikito de melhor filme surpreendeu o próprio Murilo Salles. O diretor espera que a visibilidade e os prêmios conquistados na Serra despertem o interesse do público onde o longa estréia hoje (Porto Alegre e Florianópolis) e nas próximas semanas (Curitiba e Salvador). O efeito Kikito já fez o filme voltar a cartaz em Brasília. Nome Próprio soma 25,4 mil espectadores.

2 - É ou não é?

O roteiro de Nome Próprio é inspirado em textos da escritora gaúcha Clarah Averbuck, publicados nos livros Máquina de Pinball e Vida de Gato, além de relatos dela em seus blogs. Desde o lançamento do filme, Clarah insiste que a personagem de Leandra Leal, apesar de ter pontos em comum com sua trajetória, não é ela. A escritora e Murilo Salles costumam contrapor um ao outro sobre o grau de semelhança entre Clarah e Camila. O roteiro conta com textos da filósofa Viviane Mosé. Para pôr fim, ou mais lenha, na discussão, Murilo diz: “A Camila sou eu”.

3 - Boca a boca

O lançamento de Nome Próprio no centro do país, em 18 de julho, contou com uma estratégia de guerrilha na divulgação. Murilo Salles lançou uma campanha viral pela internet, na qual criticava o atual modelo de distribuição no Brasil e apelava para que o filme fosse visto no primeiro fim de semana em cartaz. Esperava ele que a propaganda boca a boca garantisse uma segunda semana de exibição:

– Ninguém queria estrear junto com o Batman. Fiz um lançamento pequeno em meio à ocupação. Achava que teria só 5 mil espectadores. Só posso comemorar.


MARCELO PERRONE

Times Topic

Monday, September 8, 2008
Oil and Gasoline

Christopher Furlong/Getty Images


In 1999, the price of oil hovered around $16 a barrel. By 2008, it had crossed the $100 a barrel mark. The reasons for the surge ranged from the relentless growth of the economies of China and India to widespread instability in oil-producing regions, including Iraq and Nigeria's delta region. Triple-digit oil prices have redrawn the economic and political map of the world, challenging some old notions of power. Oil-rich nations are enjoying historic gains and opportunities, while major importers — including China and India, home to a third of the world's population — confront rising economic and social costs.

Managing this new order is fast becoming a central problem of global politics. Countries that need oil are clawing at each other to lock up scarce supplies, and are willing to deal with any government, no matter how unsavory, to do it.

In many poor nations with oil, the proceeds are being lost to corruption, depriving these countries of their best hope for development. And oil is fueling gargantuan investment funds run by foreign governments, which some in the West see as a new threat.

Countries like Russia, Venezuela and Iran are flush with rising oil revenues, a change reflected in newly aggressive foreign policies. But some unexpected countries are reaping benefits, as well as costs, from higher prices. Consider Germany. Although it imports virtually all its oil, it has prospered from extensive trade with a booming Russia and the Middle East. German exports to Russia grew 128 percent from 2001 to 2006.

In the United States, as already high gas prices rose even higher in the spring of 2008, the issue cropped up in the presidential campaign, with Senators John McCain and Hillary Clinton calling for a federal gas tax holiday during the peak summer driving months. And driving habits began to change, as sales of small cars jumped and mass transit systems across the country reported a sharp increase in riders. — May 13, 2008

domingo, setembro 07, 2008

Presente de grego

Os gregos não faziam obituários, quando alguém morria faziam uma pergunta:

- viveu a vida com paixão?

Ao tirar esse texto da lembrança de um filme que assisti anos atrás parei repentinamente e sentei na fina camada de orvalho que cobria a grama da praça a duas quadras de onde moro. Numa posição da ioga, sem me importar em molhar ou sujar a calça respirei calmamente e pude ver que ignorava uma noite literalmente estrelada. Reparei nas estrelas que montavam as constelações com seus nomes especiais (veja Cassiopéia) que passava uma luz peneirada, ainda que subisse a fumaça da cidade, mas aquele céu estava quarado por elas, brilhantes suspensos. Um pensamento estalado me veio interromper na minha admiração pelo tesouro celeste, como quem é arrebatado de uma distração. Outros também estariam contemplando essa noite como eu estava, simplesmente vibrando com cada piscadela do universo perolado, nada de tempo só espaço infinito,  alguém morreria de paixão súbita como eu? Diante daquele milagre. Um minuto passou longamente até o barulho do trânsito voltar trepidando alterando o cenário que desabou com o tráfego pesado e engarrafado, me aproximando do movimento de todos que passando nem se importavam com o céu porque no asfalto tinha de caminhar rápido para atravessar a faixa de pedestre antes do sinal abrir. A vida continuava sem paixão.

na Last.fm

Julieta Venegas 

Julieta Venegas (Long Beach, Califórnia, 24 de novembro de 1970) é uma cantora mexicana. Nascida na nos Estados Unidos, Julieta cresceu e viveu toda sua infância em Tijuana (México), onde começou seus estudos musicais. Sua primeira turnê foi com o grupo Chantaje que combinava o Ska e o Reggae. (ler mais)

Anja Garbarek

Anja Garbarek nasceu em Oslo em 1970 e é filha unica do conceituado compositor e saxofonista Jan Garbarek. O seu primeiro álbum ''Velkommen Inn'' foi lançado em 1992 seguindo-se em 1996 ''Balloon Mood'' com a participação dos Massive Attack e Bjork. Após a sua mudança para Londres, edita em 2001 ''Smiling&Waving'' para a Virgin Records com a participação de artistas como Mark Hollis e Robert Wyatt dos Talk Talk, entre outros. (ler mais)

Recado

Vou como o rio ser mar...

Somos

Sábios e Dementes

Quando um dia sequer sem ameaças, 
Se dor e fome ainda morrem no corpo? 
Mais caminhos demonstram violências 
E ainda impunes se entrelaçam.

As mesmas promessas arrastam-se 
Anos a fio cortando no osso
Sem panacéias que satisfaçam, 
É navalha o mais provido esboço.

Mesquinharias, ambições e lucros 
Impedem as necessidades da gente
Propiciam as cicatrizes nos sonhos, 
Assim como as repetições dementes.

Folias insanas, más políticas, bravatas 
Nos queima a todos através dos anos
Suja-se o bom gosto das almas 
Que ainda acreditam nos planos.

A hora de consertos nos chega e se vai 
Pelos filhos que tateiam esperanças, 
Mas de vendas manchadas por dias e noites 
Até se acudir no balanço das mudanças.

Ainda pisamos no olho da água doce, 
O mineral com vigor ainda borbulha 
Espelho da natureza sem rancor se derrama 
E nos alimenta com manancial ternura.

Vale ainda os valores da sabedoria 
Em cascatas reviradas por letras e danças, 
Numa verdade com gosto de ruptura 
Que no peito do ser humano se balança.

Via Moderna

Água em grãos

por MARCELO LEITE   [FOLHA 1/10/06] 

Quanto pesa uma tonelada de soja exportada? Quem fizer a pergunta a Lester Brown, cérebro por trás da bíblia ambiental “Estado do Mundo”, arrisca ouvir uma resposta heterodoxa. Ele diria, provavelmente: mil toneladas -de água.Há quem abomine Lester Brown por sua capacidade de manejar estatísticas em favor da causa ambiental. É o alvo preferido de Bjorn Lomborg, autor do best-seller “O Ambientalista Cético”, escrito para desconstruir cifras verdes. Mas Brown tem um mérito invejável: formular metáforas que simplificam assuntos intricados e abreviam sua compreensão.”

Exportar água na forma de grãos”, por exemplo. A figura se encontra no livro “Plan B 2.0″, que dedica um capítulo à escassez de água no mundo. Nele Brown explica que países como a China estão sacando a descoberto nas suas reservas do líquido, acima da capacidade natural de repô-las.

A agricultura consome 69% da água doce utilizada no mundo. Se for preciso poupá-la, eis aí um bom setor por onde começar. Para produzir uma unidade de peso de grãos, informa Brown, gastam-se mil de água. Ao diminuir sua produção de soja e importá-la do Brasil, a China na realidade está importando água.

Tudo bem, dirá o cabeça-de-planilha, de olho na balança comercial. O Brasil tem água de sobra. Pode muito bem desperdiçar o recurso por um bom punhado de dólares. A erosão dos solos, o desmatamento do cerrado e da Amazônia e o assoreamento dos rios vão de troco.

É a opção preferencial pelas commodities, enquanto a China nos inunda com bens industrializados.

Mas não, dirá o companheiro instalado em Brasília, o agronegócio vai exportar produtos beneficiados, como álcool de cana e biodiesel de soja, mamona, dendê etc. Com tanta água e terra para devastar, o país já entra como peso pesado no ringue bilionário dos biocombustíveis.

Melhor pôr as barbas de molho. De um ponto de vista energético, a obtenção de biocombustíveis de vegetais ainda pode ser considerada primitiva. A maior parte da biomassa, celulose, não contribui com nada para a composição dos substitutos renováveis dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão, gás natural).

Os precursores de Brown, de Thomas R. Malthus a Paul R. Ehrlich, erraram algumas previsões por subestimar a tecnologia. Se ela conseguir aumentar a eficiência da conversão de plantas em combustível, capturando a energia química da celulose hoje desperdiçada, o Brasil pode acabar dependurado na brocha. E o cabo da brocha, infestado de cupins.

Bem, não exatamente de cupins, mas de enzimas que esses insetos empregam para digerir a madeira. Foi nos intestinos do bicho que a empresa Diversa, da Califórnia, encontrou inspiração para criar um coquetel de catalisadores da hoje ineficiente produção de etanol a partir do milho.

Os resultados ainda são módicos, mas mais gente trabalha na mesma linha. Tentam extrair lições de eficiência energética das entranhas de bactérias e outros germes. (Enquanto isso, luminares da biotecnologia brasileira se contentam em servir de garotos-propaganda da soja transgênica.)

Craig Venter, o visionário do projeto genoma privado, foi um dos primeiros a perceber de onde o vento do futuro vai soprar. Um de seus hobbies atuais é seqüenciar o DNA de microrganismos por atacado, atrás de genes envolvidos na conversão de energia (a grande especialidade da vida).

Quantas toneladas de água pesará um grama de enzimas ou bactérias, daqui a dez anos? 

quarta-feira, setembro 03, 2008

O computador

Da geração internet 

Encontrei com uma amiga representante autentica da geração que teve a mesma adolescência da internet, e numa conversa sobre amenidades caiu na idéia um tema muito atual,  o uso do computador no dia a dia, para estudos, trabalho, na busca de informação, para email, blogs, podcasts, e as usuais mensagens, scraps, chat etc e tal; então, inesperadamente ela disparou uma frase que me pareceu muito expressiva, vindo da parte de quem passa naturalmente boa parte das horas de sua vida debruçando-se rotineiramente sobre o teclado de uma máquina que o homem “soprou” e "ganhou vida". Alguns lidam criativamente, produtivamente, outros tantos viciosamente, com o que tornou-se praticamente um intercomunicador imprescindível, uma “companhia” concreta para inúmeros internautas, uma verdadeira ponte virtual de relacionamentos entre pessoas e entre pessoas e objetos digitais. 

As palavras dela: "usar outro computador que não o meu é igual a dormir fora de casa, é como mudar de namorado".

Sorri e gravei no meu interesse o significado essencial dessa colocação frente as minhas divagações quanto ao que representa na realidade, o computador pessoal, em um mundo digital que se construiu e que se desenvolve aceleradamente. Para os milhões de usuários e a cada hora mais e mais novos donos desse "objeto pessoal", meio para muitos e fim para outros muitos, integrador, inclusivo se bem utilizado, útil e presente de ponto a ponto, na teia do nosso cotidiano, principalmente dessa geração e das próximas.

O que dirá um jovem do final do século XXI sobre o computador?

terça-feira, setembro 02, 2008

Convite

Com prazer

Quer me conhecer?
Acorde o sol comigo
Saiba de umas manias
Ouça os meus suspiros
Solte a minha língua

Quer me conhecer?
Beije a minha nuca
O que for permitido
Mas ajuste a sua mira
Antes do amanhecer

Faço uma poesia sutil
Desenho outro sorriso
Lembre daquela data
Ainda guardo a minha
Vida que te quero ter

More comigo um dia
Coma da mesma semente
Beba o vinho escolhido
Prá começar de novo
Chegue até a minha rua

Abrace todo o meu corpo
O mundo ainda é pequeno
Ande de encontro a mim
Te acompanho até o fim
Aonde e como for sendo

Se por acaso se perder
Siga até achar o anel
De um jeito diferente
Escrevendo contratempos
Que ainda será prazer

na tela ou dvd

  • 12 Horas até o Amanhecer
  • 1408
  • 1922
  • 21 Gramas
  • 30 Minutos ou Menos
  • 8 Minutos
  • A Árvore da Vida
  • A Bússola de Ouro
  • A Chave Mestra
  • A Cura
  • A Endemoniada
  • A Espada e o Dragão
  • A Fita Branca
  • A Força de Um Sorriso
  • A Grande Ilusão
  • A Idade da Reflexão
  • A Ilha do Medo
  • A Intérprete
  • A Invenção de Hugo Cabret
  • A Janela Secreta
  • A Lista
  • A Lista de Schindler
  • A Livraria
  • A Loucura do Rei George
  • A Partida
  • A Pele
  • A Pele do Desejo
  • A Poeira do Tempo
  • A Praia
  • A Prostituta e a Baleia
  • A Prova
  • A Rainha
  • A Razão de Meu Afeto
  • A Ressaca
  • A Revelação
  • A Sombra e a Escuridão
  • A Suprema Felicidade
  • A Tempestade
  • A Trilha
  • A Troca
  • A Última Ceia
  • A Vantagem de Ser Invisível
  • A Vida de Gale
  • A Vida dos Outros
  • A Vida em uma Noite
  • A Vida Que Segue
  • Adaptation
  • Africa dos Meus Sonhos
  • Ágora
  • Alice Não Mora Mais Aqui
  • Amarcord
  • Amargo Pesadelo
  • Amigas com Dinheiro
  • Amor e outras drogas
  • Amores Possíveis
  • Ano Bissexto
  • Antes do Anoitecer
  • Antes que o Diabo Saiba que Voce está Morto
  • Apenas uma vez
  • Apocalipto
  • Arkansas
  • As Horas
  • As Idades de Lulu
  • As Invasões Bárbaras
  • Às Segundas ao Sol
  • Assassinato em Gosford Park
  • Ausência de Malícia
  • Australia
  • Avatar
  • Babel
  • Bastardos Inglórios
  • Battlestar Galactica
  • Bird Box
  • Biutiful
  • Bom Dia Vietnan
  • Boneco de Neve
  • Brasil Despedaçado
  • Budapeste
  • Butch Cassidy and the Sundance Kid
  • Caçada Final
  • Caçador de Recompensa
  • Cão de Briga
  • Carne Trêmula
  • Casablanca
  • Chamas da vingança
  • Chocolate
  • Circle
  • Cirkus Columbia
  • Close
  • Closer
  • Código 46
  • Coincidências do Amor
  • Coisas Belas e Sujas
  • Colateral
  • Com os Olhos Bem Fechados
  • Comer, Rezar, Amar
  • Como Enlouquecer Seu Chefe
  • Condessa de Sangue
  • Conduta de Risco
  • Contragolpe
  • Cópias De Volta À Vida
  • Coração Selvagem
  • Corre Lola Corre
  • Crash - no Limite
  • Crime de Amor
  • Dança com Lobos
  • Déjà Vu
  • Desert Flower
  • Destacamento Blood
  • Deus e o Diabo na Terra do Sol
  • Dia de Treinamento
  • Diamante 13
  • Diamante de Sangue
  • Diário de Motocicleta
  • Diário de uma Paixão
  • Disputa em Família
  • Dizem por Aí...
  • Django
  • Dois Papas
  • Dois Vendedores Numa Fria
  • Dr. Jivago
  • Duplicidade
  • Durante a Tormenta
  • Eduardo Mãos de Tesoura
  • Ele não está tão a fim de você
  • Em Nome do Jogo
  • Encontrando Forrester
  • Ensaio sobre a Cegueira
  • Entre Dois Amores
  • Entre o Céu e o Inferno
  • Escritores da Liberdade
  • Esperando um Milagre
  • Estrada para a Perdição
  • Excalibur
  • Fay Grim
  • Filhos da Liberdade
  • Flores de Aço
  • Flores do Outro Mundo
  • Fogo Contra Fogo
  • Fora de Rumo
  • Fuso Horário do Amor
  • Game of Thrones
  • Garota da Vitrine
  • Gata em Teto de Zinco Quente
  • Gigolo Americano
  • Goethe
  • Gran Torino
  • Guerra ao Terror
  • Guerrilha Sem Face
  • Hair
  • Hannah And Her Sisters
  • Henry's Crime
  • Hidden Life
  • História de Um Casamento
  • Horizonte Profundo
  • Hors de Prix (Amar não tem preço)
  • I Am Mother
  • Inferno na Torre
  • Invasores
  • Irmão Sol Irmã Lua
  • Jamón, Jamón
  • Janela Indiscreta
  • Jesus Cristo Superstar
  • Jogo Limpo
  • Jogos Patrióticos
  • Juno
  • King Kong
  • La Dolce Vitta
  • La Piel que Habito
  • Ladrões de Bicicleta
  • Land of the Blind
  • Las 13 Rosas
  • Latitude Zero
  • Lavanderia
  • Le Divorce (À Francesa)
  • Leningrado
  • Letra e Música
  • Lost Zweig
  • Lucy
  • Mar Adentro
  • Marco Zero
  • Marley e Eu
  • Maudie Sua Vida e Sua Arte
  • Meia Noite em Paris
  • Memórias de uma Gueixa
  • Menina de Ouro
  • Meninos não Choram
  • Milagre em Sta Anna
  • Mistério na Vila
  • Morangos Silvestres
  • Morto ao Chegar
  • Mudo
  • Muito Mais Que Um Crime
  • Negócio de Família
  • Nina
  • Ninguém Sabe Que Estou Aqui
  • Nossas Noites
  • Nosso Tipo de Mulher
  • Nothing Like the Holidays
  • Nove Rainhas
  • O Amante Bilingue
  • O Americano
  • O Americano Tranquilo
  • O Amor Acontece
  • O Amor Não Tira Férias
  • O Amor nos Tempos do Cólera
  • O Amor Pede Passagem
  • O Artista
  • O Caçador de Pipas
  • O Céu que nos Protege
  • O Círculo
  • O Circulo Vermelho
  • O Clã das Adagas Voadoras
  • O Concerto
  • O Contador
  • O Contador de Histórias
  • O Corte
  • O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante
  • O Curioso Caso de Benjamin Button
  • O Destino Bate a Sua Porta
  • O Dia em que A Terra Parou
  • O Diabo de Cada Dia
  • O Dilema das Redes
  • O Dossiê de Odessa
  • O Escritor Fantasma
  • O Fabuloso Destino de Amelie Poulan
  • O Feitiço da Lua
  • O Fim da Escuridão
  • O Fugitivo
  • O Gangster
  • O Gladiador
  • O Grande Golpe
  • O Guerreiro Genghis Khan
  • O Homem de Lugar Nenhum
  • O Iluminado
  • O Ilusionista
  • O Impossível
  • O Irlandês
  • O Jardineiro Fiel
  • O Leitor
  • O Livro de Eli
  • O Menino do Pijama Listrado
  • O Mestre da Vida
  • O Mínimo Para Viver
  • O Nome da Rosa
  • O Paciente Inglês
  • O Pagamento
  • O Pagamento Final
  • O Piano
  • O Poço
  • O Poder e a Lei
  • O Porteiro
  • O Preço da Coragem
  • O Protetor
  • O Que é Isso, Companheiro?
  • O Solista
  • O Som do Coração (August Rush)
  • O Tempo e Horas
  • O Troco
  • O Último Vôo
  • O Visitante
  • Old Guard
  • Olhos de Serpente
  • Onde a Terra Acaba
  • Onde os Fracos Não Têm Vez
  • Operação Fronteira
  • Operação Valquíria
  • Os Agentes do Destino
  • Os Esquecidos
  • Os Falsários
  • Os homens que não amavam as mulheres
  • Os Outros
  • Os Românticos
  • Os Tres Dias do Condor
  • Ovos de Ouro
  • P.S. Eu te Amo
  • Pão Preto
  • Parejas
  • Partoral Americana
  • Password, uma mirada en la oscuridad
  • Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
  • Perdita Durango
  • Platoon
  • Poetas da Liberdade
  • Polar
  • Por Quem os Sinos Dobram
  • Por Um Sentido na Vida
  • Quantum of Solace
  • Queime depois de Ler
  • Quero Ficar com Polly
  • Razão e Sensibilidade
  • Rebeldia Indomável
  • Rock Star
  • Ronin
  • Salvador Puig Antich
  • Saneamento Básico
  • Sangue Negro
  • Scoop O Grande Furo
  • Sem Destino
  • Sem Medo de Morrer
  • Sem Reservas
  • Sem Saída
  • Separados pelo Casamento
  • Sete Vidas
  • Sexo, Mentiras e Vídeo Tapes
  • Silence
  • Slumdog Millionaire
  • Sobre Meninos e Lobos
  • Solas
  • Sombras de Goya
  • Spread
  • Sultões do Sul
  • Super 8
  • Tacones Lejanos
  • Taxi Driver
  • Terapia do Amor
  • Terra em Transe
  • Território Restrito
  • The Bourne Supremacy
  • The Bourne Ultimatum
  • The Post
  • Tinha que Ser Você
  • Todo Poderoso
  • Toi Moi Les Autres
  • Tomates Verdes Fritos
  • Tootsie
  • Torrente, o Braço Errado da Lei
  • Trama Internacional
  • Tudo Sobre Minha Mãe
  • Últimas Ordens
  • Um Bom Ano
  • Um Homem de Sorte
  • Um Lugar Chamado Brick Lane
  • Um Segredo Entre Nós
  • Uma Vida Iluminada
  • Valente
  • Vanila Sky
  • Veludo Azul
  • Vestida para Matar
  • Viagem do Coração
  • Vicky Cristina Barcelona
  • Vida Bandida
  • Voando para Casa
  • Volver
  • Wachtman
  • Zabriskie Point