Além de mim
Então não é palavra fácil,
uma construção finita, espiral mental da complexidade, duvidosa, não fala de filosofia, arma midiática, nada de inspiração.
É sobra de um roteiro esquisito, um filme comercial sem cor.
É algo de fazer as coisas, de mover-se com muita gente, põe-se a girar nas cordas, seus sinais cardeais, sem sentido nos versos, retorce os nervos de metal e amor líquido.
Por nada, afasta-se ao mesmo lugar, faz a sua mesma viagem diferente, na memória celular.
Pote de barro, presa e demônio, o mancar tristonho, o achar graça na goteira, a existência da guerra cínica, o ir sem fim da roldana, a praga biológica, o acima e o abaixo dos princípios, o frio seco do subordinado, o ar condicionado das secretarias, o buraco negro na economia.
Uma medida é feita na sombra, o saber sob o assoalho em um mundo assustado.
Podem bater na porta, comer pela borda, respirar fundo por um tubo, até o que não se espera chegar gorado, e quando acordar o canto dos inocentes, a raspa da trama, a mudança na regra no meio do jogo, usar a régua da sociedade do risco, a chama das iniquidades, a beira da impunidade, o tosco no imundo da política.
Quero que seja infernal na cama, o sentar à mesa da alma imoral, e ir ao sol de espirrar e as línguas de veneno. Vou subir até o manto do céu bordado por cometas.
Por notar a corrida do tempo em sua confusa espiral, o espaço espinhoso do ninho familiar se abrir, as marcas da pele, o salto da pulga prenha noiva, o trigo sem as abelhas, o orgulho caído dos novos, o que flutua do naufragar.
Vêem as folhas mortas, as luvas de nuvens, e as cores das escolas com marcas de chumbo e sangue.
Esses demônios tramam contra o novo, levam foices e martelos, tomam a forma do bem mas continuam distante do povo, sobem ricos nos altos muros, tem as armas que nunca enferrujam, crivam a esperança no centro do corpo dos outros.
Loucos, derramam o magma na carta, a que nunca assinaram, tantos são vazios de risos, instigam as agonias, desprezam coisas da sabedoria, ignoram o choro na alegria. Infectam-se da cólera.
Essa minúscula gente, adicta e elevadas na crítica, reclamam uma revolução infinda e invadem o planalto travestidos de togas.
Vagam nos labirintos das teorias, bebem nas taças dos golpes, empunham peças de pano tingidas de vermelho e se enrolam em velas flocadas com seus lábios acesos. No gritar da derrota vão visitar o santo emoldurado com hálito de hiena sarnenta.
Querem a dura hora da ditadura, o queimar do óleo do pneu no asfalto, contam os entes no supremo, no projeto de ego, arrotam empinando o nariz orientado para o abismo dos asnos.
O impulso dialético é negativo, a emoção que choca no real, a gravidade no prumo incerto, uma navegação por estrelas mortas, na escuridão do pensamento deserto.
É imprevisível o que transita na paisagem desse caos, páginas de ilegíveis letras, mil
cabeças completas de instintos imaturos, sem civilização, uma imaginação jogada pela janela.
Parecem clarinetes quando gritam, repuxam o branco da pele até a noite, frequentam a igreja usando máscaras rachadas, com a sujeira nas unhas trazida de navios, e fica estendida nas praias. Foro de crimes, antro de corruptos, instituto plantado na cidade, jogo baixo, carregam o pesadelo de um século.
Testam criar conceitos, engenharia que quebra arestas de pensamentos, infantaria que avança com seus corpos de inseto, pisando sobre coberturas de acácias.
Espero ler mais livros, ter soluços da vida ao escrever, fazer um café fresco, beber na caneca que deixo sobre a mesa, deixar na ponta do grafite a tese, ficar leve, ser índio, flexível como bolhas de sabão no banho sem pressa.
De manhã bate uma esperança, de estar no banco da praça, ter quinze minutos do pôr do sol, esperar o retorno de quem se ama.
Com o espírito que levanta ao paraíso acima da terra. Tem a mira certa na ponta da flecha.
Nela, gestos acompanham o conhecimento. Tem isso tudo, tem começos, os meio e tantos fins. O saber fazer da roda d'água, o freio ruim, o cheiro do pão de centeio, a força da palma da mão, o ir ladeira abaixo sem freio.
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